Pela primeira vez, empresa que colaborou com a ditadura é denunciada ao MPF

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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A partir do trabalho da Comissão da Verdade, a Volkswagem Brasil será acionada por crimes contra os direitos humanos

Jornal GGN – Pela primeira vez, uma empresa que colaborou com a ditadura militar será formalmente denunciada ao Ministério Público Federal. A Volkswagen Brasil será acionada por atentar contra os direitos humanos graças ao trabalho realizado a partir das investigações da Comissão Nacional da Verdade.

Segundo reportagem publicada pelo Diário do Grande ABC nesta terça-feira (22), há relatos de sequestro e tortura dentro da fábrica situada em São Bernardo do Campo (SP), região que deu origem ao PT, protagonista de inúmeras greves de trabalhadores. A violação aos direitos humanos ocorria, na grande maioria dos casos, por causa das posições políticas dos funcionários.

Segundo a reportagem, a denúncia protocolada hoje no MPF é assinada por um grupo formado a partir da encerrada Comissão Nacional da Verdade, e conta com a participação de entidades de trabalhadores e centrais sindicais. Elas apontam “cumplicidade” da Volkswagen Brasil com o regime militar. Sebastião Neto, representante do IIEP (Intercâmbio Informações Estudos e Pesquisas), uma das organizações que assinam a denúncia, afirmou que a ideia é gerar obrigatoriedade de reparação coletiva à sociedade, na forma de programas educativos ou monumentos em lembrança às vítimas da ditadura, por exemplo.

Documentos levantados no Arquivo Público do Estado mostram que a Volkswagen forneceu dados pessoais de empregados a agentes da ditadura. “No relatório aparece lista negra entregue ao Dops (Departamento Estadual de Ordem Política e Social) com nome de funcionários ligados ao Grande ABC. Os registros mostram seções de trabalho a que pertenciam, endereços de residências e funções. Tratam-se de trabalhadores considerados subversivos por conta, principalmente, de suas posições políticas. O rol circulava entre as empresas para evitar que eles fossem contratados”, publicou o jornal.

O jornal ressaltou que há poucos testemunhos das vítimas, uma vez que muitas já morreram. Mas ouviu dois casos: o do ex-deputado ferederal Expedito Soares, que trabalhou na Volks entre 1974 e 197. Ele disse que ficou quase 15 dias em cárcere privado na empresa devido à atuação de agentes infiltrados. Pelo relato, um coronel do Exército integrava equipe de atuação no departamento de vigilância da companhia.

“Fui sequestrado lá dentro. Ficava confinado o dia inteiro em uma sala, com dois seguranças na porta. Isso tudo porque liderei movimento de greve por melhores condições de trabalho. Havia tortura psicológica”, relembrou. Ele ainda disse que foi demitido sem o pagamento de direitos trabalhistas, e depois ficou mais de um ano desempregado, com dificuldade de retornar ao mercado de trabalho.

Já o ferramenteiro Lúcio Bellantani, filiado ao PCB, também sofreu com situação semelhante à de Expedito. “Em junho de 1972, ele foi capturado no local de trabalho e levado ao Dops para sessões de tortura e de acareação com outros trabalhadores a fim de identificá-los. Tudo isso com ‘colaboração e cooperação’ da Volks. O operário contou à comissão que chefe de seguranças da empresa o levou para o departamento pessoal e lá começou a ser ‘espancado’.”

A Volks ainda não se pronunciou sobre o assunto, de acordo com o DGABC.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

24 Comentários

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  1. É brincadeira, que tal

    É brincadeira, que tal acionar a Volkswagen no Tribunal Internacional de Crimes de Guerra de Nuremberg?

    Afinal o fundador da Volkswagen foi Adolf Hitler.

    Mas será que no pais BRASIL não há outras prioridades?

    1. Se tem outras prioridades, por quê?

      Se tem outras prioridades por que seu comentário está em um post sobre um assunto (em sua opinião) tão sem importância assim?

      Por que não priorizar os comentários e escrever em posts sobre as prioridades e não em um post sobre algo sem importância?

      Fica incoerente, a menos que a afirmação de que o assunto não é importante seja apenas para tentar minimizar gravidade de uma coisa que na verdade é importante.

      Sei lá… Pessoalmente acho importante conhecer a História para não repetí-la e acho uma vergonha para nosso País que os crimes praticados pela ditadura não tenham sido punidos.

      Mas imagino que se alguém realmente acha que é uma assunto sem importância não se daria ao trabalho de fazer um comentário no post.

  2. Que coisa mais ridícula.
    A

    Que coisa mais ridícula.

    A empresa hoje é grande empregadora e com a crise que passa o Páis ainda terá mais esse problema a resolver, sobre coisas que se passaram há mais de 40 anos.

    Esses procuradores realmente não tem a mínima noção da realidade.

    Vivem em mundo paralelo.

      1. Voce que deve ter

        Voce que deve ter bebido…

        Além do que colaborar é meio amplo né…Todos os funcionários públicos colaboraram com a ditadura então…

  3. Mais uma na conta da Dilma.

    Apesar de comemorar a denúncia e esperar uma condenação exemplar, creio que este novo fato será explorado pelos manipuladores do golpe, no sentido de imputar aos “bolivarianos tupiniquins”, este novo passo no caminho de perpetuação no poder. Afinal, segundo Gilmar Mendes, o PT acumula recursos extorquidos que o garantem até 2038.

    É uma pena, mas o PSDB que tem o bico grande e teve gente vítima do arbítrio, não vai querer se expor, apoiando a denúncia oferecida pelo MPF e dará um passo a mais à direita. 

  4. Volks

    Acho essa investigação relevante e necessária. Em nome da memória dos crimes do tempo da ditadura, que não foram poucos. Também como uma resposta aos analfabetos políticos que pedem a volta daqueles dias de opressão e arbítrio nas trevas.

    Ninguém está pedindo para fechar a Volks. Essa reparação nada afeta o mercado de trabalho, longe disso.

    Reparações como essa servem para esclarecer fatos passados, a opinião pública hoje, que não conheceu ou não se lembra do que se passou, tornam o país melhor. Não esquecer o nazismo certamente tem tornado a Alemanha um país melhor e mais democrático.

    Que venham outras.

          1. desconfiem de todo casarão abandonado…

            esquecidos pela história

            há gritos arranhados nas suas paredes mais profundas, cobertos apenas com tinta

  5. volks

    Estranho uma pessoa achar que a empresa que colaborou com a ditadura e prendeu em seu próprio local um empregado não deve ser processada. No Brasil as pessoas acham que tudo deve ser esquecido, até a morte de pessoas inocentes. São na verdade crápulas. A Volks acabou de confessar que enganou o consumidor americano, isto lhe custará muito caro. No Brasil nada é caro.

  6. A Volkswagen já está

    A Volkswagen já está embananada mundialmente com a questão de manipulação de emissões dos motores turbo-diesel em seus automóveis. Agora, mais essa!

  7. Fuscas e Kombis

    Não foi crime suficiente vender Fuscas e Kombis durante tanto tempo? A Kombi já estava na quinta geração na Alemanha, quando pararam de vendê-las aqui.

    Eu sequer cogito comprar um VW, pela maneira como trataram o consumidor brasileiro por tanto tempo.

  8. Boo Hooray

    Que coisa mais estúpida!

    Francamente!

    Eu não deveria perder o meu tempo com isso. Porém,  diante de tamanha estupidez,  não resisti.

    Lá vai.

    Ora, ora, ora, convenhamos!

    Tratando-se de  perpetuidade, planejamento estratético ( longo prazo) , continuidade etc,  o que vale mesmo  é presente!  O presente do futuro e não o futuro de presente. Tampouco, o futuro do passado.

    Isso mesmo!

    Ou melhor ainda:  no “futuro” , o “hoje” não vale nada!   Hoje, portanto,  será passado!

    Nesse sentido, se é para “garantir” o seu futuro detone  agora para garantir o seu futuro e o seu passado que, lá na frente, não interessará mais!

    Futuro é , portanto, presente com passado “amoral”. 

    Os fins justificam os meios!

    Essa é ainda melhor: Não deixe para amanhã o que você pode fazer hoje! Faça!

    E ainda, numa utilização estúpida da famosa frase, pode-se dizer:   “quem sabe faz na hora e não espera acontecer”…

    Porém, não se esqueça de pregar depois:

    Não adianta falar em passado. O passado já morreu! O passado não interessa. Prescreveu! 

    Mais ainda! Trata-se de um passado caduco! Caducou-se! Logo, é decadente! 

    A fila anda! E já andou!

    Afinal, homens de “seis milhões de dólares”, senadores biônicos por assim dizer, arremataram o passado, “anistiosamente”.

    O passado é per si, anacrônico, salvo, é claro, quando ele, o passado,  se refere à  “atemporalidade do homem. O seu caráter “natural”.

    Ora, e “natural” que os  interesses “de mercado”, via sistema de “preços”, bem como a “garantia” do direitos de propriedade, da segurança jurídica, dos contratos, das “regras”, e das “instituições” ( que interessam, é claro), num ambiente de MUITA COMPETIÇÃO,  possam seguir o seu caminho da “naturalidade”.

    Tradição? Ora, ora, ora,  não se esqueçam: a “história acabou”, dizem os “estoriadores”.

    Frisa-se! Fim da história! Comece agora!

    O que vale é o “livre mercado”!

    Mesmo que para isso haja  “restrições de liberdade”  em  “cárceres privados”!

    Curiosa e paradoxalmente, lembrem-se do passado! Mas,  só agora:

    é do seu egoísmo, sobretudo, com ganhos de escala( planta de uma fábrica de produçao em série taylorista-fordista) que traremos o “verdadeiro” Estado de coisas e  do bem estar social , bem como  a maior felicidade para os homens…(só para eles)

     

    Torturar? Boo.! Compaixão? Hooray…!

    Boo Hooray!

     

     

  9.  
    A Volkswagen do Brasil. Na

     

    A Volkswagen do Brasil. Na verdade, trata-se de uma montadora de restos de veículos vencidos, da fábrica alemã. Sei que até um coxinha é capaz de saber disso. Mesmo assim, insisto. O Carro Volkswagen ou viatura, como diz a PM,  foi concebido pelo  professor Fernando Henrique, ops, vixe mãe do céu, esse nunca fez porra nenhuma na vida.

    Me confundi, perdão.  Foi o Ferdinand Porsche, engenheiro automotivo austríaco, criador, por encomenda do governo Nazista de Adolf Hitler. O projetista do “carro do povo,” conforme ordem do bigodinho, portanto, sendo encomenda de ACM, digo, do Adolfinho, já nasceu de uma barriga torta, e, como diz o anexim popular, pau que nasce torto até a cinza é troncha. Vejam as trapaças dos caras na Alemanha. Imaginem do que são capazes de fazer no Brasil.

    Quiçá, quem sabe? Seja isso, por conta do carma.

    Orlando

  10.  
    A Volkswagen do Brasil. Na

     

    A Volkswagen do Brasil. Na verdade, trata-se de uma montadora de restos de veículos vencidos, da fábrica alemã. Sei que até um coxinha é capaz de saber disso. Mesmo assim, insisto. O Carro Volkswagen ou viatura, como diz a PM,  foi concebido pelo  professor Fernando Henrique, ops, vixe mãe do céu! Esse nunca fez porra nenhuma na vida, tirante uns livros pra engrossar currículo, coisa que ninguém tem notícia de um leitor sequer, tenha aberto um troço desses.

    Me confundi, perdão.  Foi o Ferdinand Porsche, engenheiro automotivo austríaco, criador, por encomenda do governo Nazista de Adolf Hitler. O projetista do “carro do povo,” conforme ordem do bigodinho, portanto, sendo encomenda de ACM, digo, do Adolfinho, já nasceu de uma barriga torta, e, como diz o anexim popular, pau que nasce torto até a cinza é troncha. Vejam as trapaças dos caras na Alemanha. Imaginem do que são capazes de fazer no Brasil.

    Quiçá, quem sabe? Seja isso, alguma forma de pedágio, por conta do carma.

    Orlando

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