Por Mayara Amaral, pelas vidas das mulheres na música e no mundo

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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do Catarinas

Pela Memória de Mayara Amaral, pelas vidas das mulheres na música e no mundo: #NenhumaAMenos

É com profundo pesar que nós, da Rede Sonora – músicas e feminismos, escrevemos esse texto pela memória de Mayara Amaral, violonista, pesquisadora e professora de música. Escrevemos pelas vidas das mulheres na música e no mundo todo. Lamentavelmente Mayara Amaral, 27 anos, foi brutalmente assassinada, na noite da última segunda-feira (26), em Campo Grande/MS, em um crime que contou com a participação central de outro músico – um baterista que já tinha tocado e trabalhado com Mayara e que de acordo com as notícias locais, tinha um relacionamento com ela. [1]

À família e às/aos amigas/os e conhecidas/os de Mayara, expressamos nossos sentimentos e nossa solidariedade. À essas pessoas pedimos desculpas e licença para falar do que aconteceu com Mayara nesse texto que chega em um momento tão grave e de tão indizível dor. Para vocês, nesse momento, dedicamos nossa total e irrestrita solidariedade, nosso apoio e nossas condolências – estamos com vocês.

Nós, mulheres da Rede Sonora – músicas e feminismos, criada em abril de 2015, [2], escrevemos esse texto movidas por nosso compromisso e vontade de honrar a memória e a vida de Mayara Amaral, homenageando e reconhecendo sua trajetória e suas contribuições para a música, mesmo que postumamente.

Foto: arquivo pessoal

Mayara Amaral era violonista, formada pelo curso de música da UFMS (Universidade Federal do Mato Grosso do Sul), onde também foi professora. Em Campo Grande ela havia integrado o quarteto Pétalas de Pixe, formado apenas por mulheres e dedicado à produção de pop-rock regional. Sua dissertação de mestrado em Música pela UFG (Universidade Federal de Goiás), “A mulher compositora e o violão na década de 1970: vertentes analíticas e contextualização histórico-­estilística”, defendida recentemente, é fruto de sua pesquisa sobre obras de compositoras brasileiras para violão compostas na década de 1970.

Mayara tinha dois trabalhos aprovados para o XXVII Congresso da Anppom (Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música) [3], o maior congresso da Área de Música no Brasil, que acontecerá na Unicamp no fim de agosto, e havia comemorado a aprovação de seus trabalhos neste congresso. Ela iria apresentar a comunicação de seu artigo “Aspectos idiomáticos do Estudo n. 1 para violão de Esther Scliar”, em co-autoria com Eduardo Meirinhos, como pesquisadora, e, iria fazer sua apresentar artística “A mulher compositora e o violão na década de 1970”, como violonista.

Ela era uma dedicada intérprete, pesquisadora e professora em formação, começando a ser reconhecida por suas/eus pares, desenvolvendo importantes e inéditas contribuições para a música e para a pesquisa brasileira.

Entendemos que o que aconteceu com Mayara Amaral diz respeito à todas/os/es nós na música, e atinge infelizmente à todas as pessoas da música, sem exceção. O que aconteceu com ela é uma tragédia pessoal para quem era próximo dela, e por isso queremos nos solidarizar à Mayara, à família e amigos/as dela, com ações em defesa da memória dela.

Mas, o assassinato de Mayara é também uma tragédia coletiva, o que nos leva a ver a necessidade de visibilizar essa notícia, endossando a denúncia do crime que ceifou sua vida – mais um que aumenta as estatísticas de nosso país. O último Atlas da Violência do Brasil, de 2014, [4], apontava que 13 mulheres são assassinadas por dia no Brasil. O estado do Mato Grosso do Sul já era, então, um dos 8 estados brasileiros com taxa de mortalidade por homicídio de mulheres que estavam acima da média nacional (4,6) por grupo de 100 mil mulheres: a taxa desse estado já era de (6,4) em 2014. Segundo o Atlas, “Embora esses dados sejam alarmantes, o debate em torno da violência contra a mulher por vezes fica invisibilizado diante dos ainda maiores números da violência letal entre homens, ou mesmo pela resistência em reconhecer este tema como um problema de política pública.”

Foto: arquivo pessoal

Como mulheres da música, pensamos que também são importantes e urgentes, em especial nesse momento, ações que possam ajudar a alertar e conscientizar os mundos da música (assim como o mundo em geral) sobre os riscos aos quais mulheres estão expostas na música, assim como na nossa sociedade em geral; sobre as diversas violências contra as mulheres; e, sobre a necessidade de ações de prevenção – de educação, formação e conscientização – para que isso não se repita com mais nenhuma mulher, seja de onde ela for, onde lá ela estiver.

Todas/os/es nós precisamos, enfim, darmos o primeiro passo para que isso seja possível, e o primeiro passo é vencer a “resistência em reconhecer este tema como um problema de política pública.”

Nós, mulheres da Rede Sonora – músicas e feminismos, manifestamos aqui nosso repúdio ao crime brutal que tirou a vida de Mayara Amaral.

Mayara saiu de sua casa na última segunda-feira para ir a um ensaio e não mais voltou. Mayara era uma de nós, mulheres na música, mulheres no mundo. O que aconteceu com ela podia ter acontecido com qualquer uma de nós. Por Mayara, #NenhumaAMenos!

Rede Sonora – músicas e feminismos.

Links:

[1] Mayara foi morta em motel e depois jogada no Inferninho, diz polícia: https://www.campograndenews.com.br/cidades/capital/mayara-foi-morta-em-motel-e-depois-jogada-no-inferninho-diz-policia

Baterista e comparsa mataram Mayara a marteladas em motel para roubar carro: http://www.midiamax.com.br/policia/baterista-comparsa-mataram-mayara-marteladas-motel-rouba-la-348729

 [2] Rede Sonora – músicas e feminismos:  http://www.sonora.me/

 [3] Anppom: http://www.anppom.com.br/

[4] Atlas da Violência 2016:  http://www.compromissoeatitude.org.br/wp-content/uploads/2016/03/atlas_da_violencia_2016_finalizado.pdf

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

3 Comentários

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  1. Comentário.

    Isto demonstra que mulheres podem ser vítimas, todas.

    Incluindo as de classe média.

    Que nem sempre se importam com as de baixo.

  2. Assassinato feminista

    Este assassinato “machista” foi por motivado pelo desejo de roubar um automóvel. O artigo, ridículo demais. Idelologia cega, nada mais. 

     

    1. O luto de quem escreve o

      O luto de quem escreve o artigo deveria inspirar-te um respeito mínimo. Um crime acontecido após um encontro íntimo (supondo que o mesmo tenha acontecido, uma vez que somente temos a versao do suposto assassino) nao pode ser considerado meramente como latrocínio. A polícia usualmente nao tem interesse em indagar além do mínimo nos crimes contra as mulheres. Nota-se claramente na segunda reportagem que a política já quer terminar o período investigativo. Além de ter o respeito que voce indevidamente faltou, temos que ser vigilantes para os motivos do crime sejam intensamente investigados.

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