quinta, 18 de abril de 2024

Que porra é essa “ministro”!!!, por Edson Machado Monteiro

Mas Ministro, se V. Exa. estava mesmo se referindo ao Banco do Brasil, com toda certeza o despropósito e a vulgaridade com que tratou o tema não se coadunam com a liturgia do cargo que ocupa

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Que porra é essa “ministro”!!!

por Edson Machado Monteiro

O jornal O Globo publicou, em 15 de maio último, a informação de que, em uma reunião ministerial realizada no Palácio do Planalto no dia 22 de abril de 2020, o Ministro da Economia, Sr. Paulo Guedes, teria afirmado que é preciso “vender logo a porra do BB”.

Como o conteúdo do vídeo gravado nessa reunião está sob segredo da justiça e seu inteiro teor possivelmente nunca será trazido a público, fiquei em dúvida sobre que “BB” V. Exa. estaria falando. De repente, pode ser um código de comunicação utilizado no governo ou, quem sabe, a senha de algum projeto em andamento em seu cabuloso ministério.

Mas Ministro, se V. Exa. estava mesmo se referindo ao Banco do Brasil, com toda certeza o despropósito e a vulgaridade com que tratou o tema não se coadunam com a liturgia do cargo que ocupa, pois estaria referindo-se a uma empresa de valor e relevantes serviços prestados à sociedade brasileira, com mais de 200 anos de existência. Talvez o melhor e mais rentável ativo do portfólio que administra, como “chefe” do Tesouro Nacional, acionista controlador do Banco do Brasil.

E isso, para mim, não é novidade. V. Exa. é um “posto Ipiranga” com origem no mercado financeiro, sócio de banco de investimento que vivia mamando nas tetas dos fundos de pensão nas décadas de 1980 e 1990, exceto nas da PREVI, que, em 1993, rompeu o relacionamento espúrio com diversos agentes do mercado financeiro, entre eles o banco do qual V. Exa. era sócio, para constituir o que é hoje o patrimônio saudável da maior entidade fechada de previdência privada abaixo da linha do Equador.

A reforma bancária de 1964 favoreceu o surgimento de grandes conglomerados financeiros, com ampla atuação no mercado, e impôs amarras à atuação do BB, impedindo-o de operar em frentes emergentes e rentáveis, como nas áreas de mercados de capitais, seguros, previdência e cartões, levando-o, ao longo dos anos, a definhar e perder a representatividade que tinha no mercado.

Somente a partir de 1995 foi que o BB, com o apoio de seus acionistas, sobretudo o Tesouro Nacional, venceu as amarras e também se transformou em um conglomerado financeiro, após efetuar ajustes estruturais e sanear seus ativos, com vultosos investimentos em tecnologia, no desenvolvimento de pessoas e em novas frentes de negócios, passando a atuar de maneira competitiva em todos os ramos do mercado financeiro e de capitais, no Brasil e no exterior.

De lá para cá, Ministro, são mais de 20 anos de lucros sucessivos e crescentes, com profissionalismo e elevada eficiência operacional, apesar das restrições que enfrenta uma sociedade de economia mista para atuar em mercados competitivos. Mas o BB superou tudo isso, com expressivo crescimento em todos os ramos de negócios, distribuindo vultosos dividendos no período, sobretudo ao acionista controlador, além impostos gerados para os cofres da União e da excelência dos serviços entregues à sociedade.

E sabe por que, Ministro? Porque o BB inovou em parcerias, investiu e formou gente competente, comprometida com o desenvolvimento de negócios em prol da sociedade brasileira. Além disso, retomou uma das características mais marcantes de sua história: voltou a ser celeiro de profissionais de excelência, muitos dos quais assediados e recrutados por grandes empresas nacionais e multinacionais dos mais diversos ramos de atividade.

E a história se repete, Ministro! Por ingerência do controlador, a atual direção do BB vai dando consequência à estratégia irresponsável de fatiar um banco moderno, competitivo e lucrativo, vendendo isoladamente as subsidiárias que dão contorno e complementam a atuação do conglomerado BB nos diversos segmentos de mercado. Ao final desse processo restará sim um “elefante branco”, igual àquele de antes das reformas iniciadas em 1995, sem capacidade de gerar resultados, pois os negócios mais rentáveis foram “vendidos” sabe-se lá para quem e com que grau de transparência. Ai talvez seja mesmo a hora de “vender logo a porra do BB”, pois será uma empresa sem competitividade e que não atende mais as expectativas de seus clientes e acionistas.

Isso é cruel e leviano, Ministro! A irresponsabilidade chega às raias do absurdo, do inacreditável. Representa um descompromisso com os investidores e com a sociedade brasileira, pois dilapida o patrimônio do povo e desintegra um negócio que está funcionando de maneira harmônica e lucrativa há décadas. É claro que é um desmonte planejado, possivelmente combinado com os competidores, com amplos interesses em adquirir ou retomar “shares” que lhes foram tirados pela contundente atuação do BB nas últimas duas décadas.

Afinal Ministro, que porra é essa? É bom lembrar que a privatização do BB depende de autorização do Legislativo. E lá, os representantes do povo terão que enfrentar esses fatos históricos e os valores que o BB representa para o País, além de “abrir mão” do papel que desempenha no campo social e cultural, na execução de políticas econômicas anticíclicas, no financiamento da produção nacional, principalmente do agronegócio, e na prestação de serviços a milhões de brasileiros.

Edson Machado Monteiro, economista, ex-Diretor da PREVI e ex-Vice Presidente do Banco do Brasil.

Redação

4 Comentários

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  1. “Liturgia do cargo”? Paulo Guedes?! O status de Guedes é “capitalista infiltrado na administração pública”, tudo o que fez, faz e fará será sempre a favor de empresários privados, nunca a favor do estado. Pelo contrário, tudo o que puder fazer para esfacelar, desmontar, precarizar e sucatear o estado quanto ao atendimento democrático, fará. Deixará os cofres públicos apenas para atender empresários privados. E não se pense que estamos falando de pequeno ou médio empreendedor brasileiro, o que Guedes puder entregar às mega-empresas baseadas no dólar, entregará. O pequeno e o médio empreendedores brasileiros vão para o beleléu junto com os trabalhadores, como tem sido em todos os países desde que há capitalismo, de uns 200 ou pouco mais anos para cá. Se alguém tiver um exemplo do contrário, que o traga.

  2. Os capitalistas não compram empresas públicas deficitárias. Logo, é justamente porque o Banco do Brasil vem obtendo, há mais de 20 anos, lucros sucessivos e crescentes, com profissionalismo e elevada eficiência operacional, apesar das restrições que enfrenta uma sociedade de economia mista para atuar em mercados competitivos, que o Paulo Jegues quer vender logo essa porra.

    Se o BB fosse privado e deficitário, eles tentariam torná-lo um banco público.

  3. O Banco do Brasil quase faliu na era FHC, por má-gestão e favorecimentos aos bancos privados.A maçonaria infiltrou-se em toda a estrutura do BB, juntamente com toda a sua incompetência administrativa. O governo de Lula pôs ordem na casa e a política financeira anticíclica, a partir de 2008, foi capitaneada pela instituição e pela CEF. Os bancos privados não quiseram participar do programa de recuperação econômica daquela época difícil. O BB ganhou espaço e credibilidade da população, sendo reconhecido como necessário e útil à nação brasileira. Seu crescimento despertou a ira e a inveja dos banqueiros privados, que querem para eles todas as partes da divisão dos negócios financeiros. Vender uma “jóias da coroa” a preços vis é crime! Esse mesmo crime, que já foi cometido com outras estatais brasileiras no governo de FHC. A história tem que ser impedida de ser repetida. Chega de doações do patrimônio público aos privados!

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