Setembro amarelo e a relevância em falar sobre o suicídio, por Matê da Luz

por Matê da Luz

Alguns meses vêm sendo coloridos para conscientização da população acerca de temas relevantes e comuns, e Setembro é a vez de falar em suicídio.

“Ah, mas que tema pesado.” Mais pesado ainda, te garanto, é o fardo que as pessoas com tendências suicídas carregam. Primeiro porque “é feio” pensar em suicídio, mais ainda falar sobre ele. Segundo porque, no final das contas, o suicida é uma pessoa que esqueceu o sentido de compartilhar. 

Você sabia que o Brasil é o oitavo país do mundo com maior índice de mortes assim? Pois é, acho que está mais do que na hora de abrandar a abordagem da temática e falar sobre ela.

Este é um ponto de vista individual, compartilhado em algumas linhas terapêuticas que têm como premissa o dividir para curar e, ao meu ver, tem eficácia na prevenção de sentimentos de não-pertencimento, revalorização do indivíduo e possível resgate de auto-estima e equilíbrio, pilares fundamentais para querer viver. O falar sobre acalma, além de promover uma troca onde a pessoa com tendências desgostosas tem a oportunidade de se sentir válida, ouvida, encorajada a vasculhar seus escombros e recomeçar, de novo e de novo, quantas vezes forem necessárias. 

Todo suicida é alguém que carrega uma sensação teoricamente inexplicável de “não adianta continuar”. O desequilíbrio psíquico leva ao desequilíbrio químico e, na grande maioria dos casos, o amparo de medicamentos regulados e acompanhados por um psiquiatra são fundamentais, além da terapia convencional, esta que atua na dissolução dos nós e, quem sabe promova laços com a própria existência. 

O Conselho Federal de Medicina – CFM – distribui gratuitamente a cartilha “Suicídio: informando para prevenir”, que contém, dentre outras informações, abordagem para identificação e conduta idela para o possível suicida, além de um capítulo inteiro sobre a responsabilidade e prevenção além do sistema de saúde, que diz respeito à participação ativa da família no processo pró-vida. 

Algumas insitituições bastante confiáveis também promovem ações especiais durante todo o mês de Setembro, chamando a atenção da sociedade para o tema e nos convidando a dialogar sobre o tema fora da pauta de psiquiatria e psicologia, trazendo para mais perto de nós a empatia para com estas pessoas que, muito mais do que vez ou outra, têm enorme necessidade de serem ouvidas, escutadas e reinseridas. 

Vale a leitura, o interesse, a participação nas ações, para que este seja mais um tema que saia da lista de tabus e passe a ser tratado como passivo de cura, o que, ao meu ver, só é possível quando olhado sob os olhos da expressão. 

Mariana A. Nassif

3 Comentários

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  1. PAULA FONTENELLE
    O tabu do

    PAULA FONTENELLE

    O tabu do suicídio

    No dia 10 de janeiro de 2005, acordei com um susto. Do outro lado da linha, minha irmã mal conseguia falar. Chorava muito, mas não demorei para decifrar suas palavras engasgadas: nosso pai havia tirado a própria vida horas antes, e a família, como é natural, estava em choque.

    Naquele dia, dei início, sem saber, a um caminho sem volta, o de combater o tabu que acompanha a morte voluntária. Um silêncio que destrói porque cerceia a reflexão, sufoca a dor e, pior, impede a prevenção.

    Dizer que fomos surpreendidos não seria verdade. Meses antes, eu o havia procurado, preocupada, pois achava que estava deprimido. Mas meu pai era do tipo durão, e admitir fragilidade era difícil para ele.

    Mesmo assim, procurou um psiquiatra, recebeu diagnóstico de depressão e foi medicado, mas nunca seguiu o tratamento como deveria. Mais de 90% dos suicídios estão associados a um transtorno mental identificado, embora sem acompanhamento correto.

    Muitos de nós temos a ilusão de que o tema é algo distante de nossa realidade. Não é. A Organização Mundial da Saúde estima que cerca de 800 mil pessoas morram dessa forma anualmente. O suicídio já é a segunda causa de morte em jovens com idade entre 15 e 29 anos.

    O problema é que esse assunto é doloroso, indigesto. Quem precisa de ajuda não a procura, quem vivencia o luto não tem com quem conversar.

    Na família, cada um de nós reagiu a seu modo. Pairavam sobre todos as perguntas que perseguem quem já passou por uma perda dessa: Por que comigo? Por que ele desistiu? Como não enxerguei os sinais? O que poderia ter feito para evitar?

    Outro ponto comum são as fases do luto. De início, vem o choque. Depois, e não necessariamente nessa ordem, dor, vergonha, raiva e culpa.

    Minha busca pessoal foi pelo conhecimento. Eu queria, acima de tudo, entender o que leva um ser humano a desistir da vida. Logo aprendi que essa ideia é um equívoco.

    A pessoa não quer morrer, e sim sair de uma situação de extrema dor. No Brasil, vivenciamos um caso recente no Rio de Janeiro, quando um pai, supostamente, matou sua mulher e pulou da varanda com os filhos. Especula-se que o tenha feito porque estava com dificuldades financeiras. Nunca é tão simples.

    As estatísticas mostram que o suicídio é consequência de um quadro complexo que pode incluir vários fatores de risco, entre eles o uso de substâncias químicas (incluindo o álcool), eventos traumáticos e transtornos mentais não tratados.

    O que pode fazer toda a diferença na prevenção é identificar os sinais. Alguns são característicos de quem pensa em tirar a própria vida e servem como alerta máximo. A pessoa se desfaz de objetos, organiza as finanças, ameaça verbalmente que irá se matar, para de fazer planos e se despede dos mais próximos.

    Um dia antes de sua morte, papai foi à casa de minha irmã e ela sentiu que se tratava de uma despedida. Ele estava pensativo, os lábios tremiam, não queria ir embora. Quando saiu de lá, ela me ligou, tinha medo do que poderia acontecer. Mas não deu tempo de evitar o pior.

    Sábado, dia 10, será o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. Convido você a enfrentar o medo e o estigma que cerca o assunto. Se achar que existe alguém vulnerável próximo a você, faça duas perguntas simples: Onde dói? O que posso fazer para ajudá-lo? De coração aberto, sem preconceitos. Nunca julguei meu pai. A dor dele era imensa e só a ele pertencia.

    PAULA FONTENELLE, jornalista, é autora do livro “Suicídio: o Futuro Interrompido” (Geração Editorial)

  2. pesquisa

    Caros

    Há uma grande pesquisa sobre os negócios da morte no Brasil desenvolvida na Face/UFMG (ainda federal e gratuita) e financiada pelo CNPq sendo realizada pelo doutorando Oscar Lima (Cepead).

  3. Na minha opinião, o suicídio

    Na minha opinião, o suicídio é um fato normal—pra lá de normal.

    Suicida, na maioria das vezes, não pede ajuda.

    Ele quer se desligar do nundo e ponto final.

    E há os suicidas curiosos: Tipo , o que existe depois da morte ?Se equivocam os que pensam que o suicida é apenas pela dor.

    Há suicidas curiosos e que sofrem de ansiedade.

      Enfim, o assunto é infinito.

     

     

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