Solidariedade, por Samira Castro

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Solidariedade
 
por Samira Castro
 
Solidariedade. É esse substantivo feminino, cuja definição do português formal diz ser abstrato, que  nutre de maneira concreta os militantes acampados na Praça Murilo Borges, no Centro de Fortaleza, em frente à sede da Justiça Federal no Ceará, desde o dia 11 de abril. Naquela quarta-feira, no raiar do dia, integrantes das frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo instalaram o “Acampamento do Povo Cearense por Lula Livre: a Resistência somos nós”. Barracas de lona, redes, colchonetes e muita esperança se aglomeraram e fizeram morada na praça que tem nome de general, mas que é do povo, literalmente sem medo de lutar.
 
Pelo local, já passaram mais de 1.500 pessoas, entre as que efetivamente dormem e as que ficam durante o dia, envolvidas nas dezenas de atividades realizadas. Crianças, jovens, adultos e idosos ali se unem em um sentimento: o de liberdade para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Preso político vítima do golpe jurídico-midiático-parlamentar de 2016, Lula é aquele trabalhador do MST, do MAB, do MTST, aquele jovem do Levante Popular da Juventude, da Juventude PT, da UJS, da Kizomba, aquela moça da Marcha Mundial das Mulheres, a senhora das Mulheres do Ceará com Dilma, o sindicalista da CUT, da CTB, do Sindicato dos Bancários, o político do PT, do PCdoB, do PSOL, do PCB.

 
Lula ali na praça é muita gente, dezenas de movimentos, centenas de pessoas, conhecidas e anônimas. E é o Lula do coração da dona Inês de Castro, profissional liberal que tirou do bolso o dinheiro da semana para doar alimentos ao acampamento. “Doei porque acredito em Lula. Sei como é injusta sua prisão e apoio essa iniciativa pela sua liberdade”, diz ela, compreendendo que a cozinha é o coração da ocupação. Por dia, são servidas três refeições: café, almoço e janta – aquelas que Lula falou que, se todo brasileiro tivesse acesso, ele já se daria por satisfeito em seu governo. São mais de 500 quilos de alimentos diários que chegam da solidariedade do povo cearense.
 
Lula é também José Vieira, agricultor do Assentamento Piaba, que saiu de Santa Quitéria, a 221km da Capital, para integrar o acampamento, desde sábado à noite. “É só por capricho do juiz Sérgio Moro e da burguesia que prenderam nosso presidente Lula. Então, a gente pede pra justiça que solte Lula porque ele foi um presidente do povo, do pobre. E se acharam que prendendo Lula iam prender a gente, não conseguiram”, disse o assentado. Porque ideias e sonhos não se deixam aprisionar.
 
Se o corpo está guarnecido, a alma também celebra essa unidade de gente que quer Lula livre. Por isso, música e atividades lúdicas seguem firmes nessa resistência de meio fio e de banco de praça. Chegando ao seu sétimo dia, o acampamento recebeu dezenas de artistas. Gente generosa que animou a hora do almoço – já cantada por Belchior – o entardecer e o cair da noite, fazendo chuva ou fazendo sol. Bandas, trios, cantoras, cantores que falaram ao coração do povo a melodia democrática. E o Lula, de ideia, virou repente, verso, canção.
 
Da Feira Cultural da Reforma Agrária, passando pelo ato Marielle Vive, Lula Livre, das cartinhas e dos bordados para o Lula, das aulas públicas sobre o golpe, a prisão do ex-presidente e seus impactos políticos, a mídia, a criminalização dos movimentos sociais, a estátua do general Murilo Borges a tudo assiste se desenrolando ali, na sua cara de bronze velha e feia, ornamentada com nariz de palhaço. E Lula vai cravando na história do povo cearense mais um capítulo de resistência. Porque na terra de Dragão do Mar e da luta de Bárbara de Alencar, o povo não foge da peleja por um Brasil justo e democrático.
 
Samira Castro, de Fortaleza
Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

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