Transformaram o caso do Instituto Royal em uma nova Escola Base

Por Jaime Balbino

Comentários ao post “Especialista diz que é possível parar com os testes em animais

Nassif,

Neste caso dos beagles do Instituto Royal temos muita propaganda dos ativistas afimando coisas falsas, como se fossem a mais pura verdade, em textos travestidos de reportagem e dando status de “especialista” a meros militantes da causa.

O fato de alguém ser “professor de matemática da Unicamp” ou “especialista de uma entidade de proteção aos animais” não o qualifica mais do que qualquer outra pessoa para afirmar categoricamente qualquer coisa, como desmerecer pessoas e decretar a falta de necessidade dos testes com animais.

Digo, sem medo de errar, que já transformaram esse caso do Instituto Royal em uma nova Escola Base.

Peço que dê a palavra para alguém que realmente trabalha com isso e tem uma posição moderada, sem esse maniqueísmo para atrair os leigos.

Abaixo, um texto de um biólogo escrito em janeiro de 2012. Creio que seja o mais esclarecedor que existe. 

O autor fez uma atuaização no mês passado para incluir dúvidas sobre o Instituto Royal.

Sobre os Testes em Animais Realizados pela Indústria Cosmética

****

Nassif,

Depois de ler esse cardiologista e ativista “brincando de ser especialista”, vamos falar sério?
 
Em 2010, a União Europeia montou um comitê científico para analisar alternativas aos testes com animais. Ao contrário dos convidados a falar pelos ativistas em reportagens cheias de utopias, estes eram realmente ESPECIALISTAS. Esse grupo colaborou para embasar a lei que levou ao fim quase completo dos testes para cosméticos na Europa, em vigor desde março deste ano (no Brasil tais testes para cosméticos já não são legalmente feitos desde 2009 pelo menos, apesar da propaganda contrária dos nossos ativistas locais).
 
Eles produziram um longo relatório onde preveem, com base no desenvolvimento futuro da ciência, quando e de que maneira os testes com animais podem ser substituídos. Eles listam 4 tipos de testes com animais que são necessários e para os quais não há substituição:
 
– Exposição prolongada a agente tóxico: sem substituto previsto;
– Sensibilidade: preveem um substituto até 2020;
– Câncer: sem qualquer previsão;
– Toxicologia: com muito esforço substitutos podem surgir em até 7 anos.
 
O relatório completo (em PDF) pode ser acessado aqui.
 
Acho um desserviço esse tipo de notícia criada por ecoativistas que no título conseguem nomear qualquer pessoa como “especialista”, sem que de fato tenha qualquer coisa a ver com o campo sob pretenciosa análise. Isso enfraquece o debate com argumentos falaciosos, levando a discussão  para o sempre falso manequeísmo “bem x mau”. No caso, querem nos fazer crer que realmente há alternativas imediatas aos testes com animais e, portanto, tal prática hoje só existe por puro sadismo.
 
O entrevistado tem curso superior (é cardiologista) e é “especialista” mesmo em um tipo de “ecoativismo” num instituto criado para sua causa. Ele não é um pesquisador de uma área que realmente precise considerar diretamente os testes com animais, portanto ele não está de fato envolvido com os procedimentos aceitos e os dilemas éticos para fazer uma análise crítica verdadeira sobre o assunto. Sua opinião tende a ser tão profunda quanto a minha ou a do Nassif, passando ao largo do que um Especialista de Verdade poderia oferecer.
 
Se ele fosse um pesquisador ou empresário que procura desenvolver métodos alternativos e quisesse promover suas patentes ou produtos que substituem com eficácia os testes com animais, teríamos alguém com legitimidade para ser considerado “especialista”, com críticas factuais e limites claros de atuação. Sem o ufanismo dos ativistas que acham que basta querer para encerrar de vez tais testes.
Redação

3 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Opinião de leigo , aqui é ciência?

    O sr. Balbino se manifestou livremente reduzindo a todos os que defendem direitos animais como meros maniqueístas, falsos “especialistas”, “ecoativistas” (ele quis dizer terroristas) e teve direito a um link “científico” de primeira página no GGN.  Embora ele tenha o direito à opinião, tratar seu texto com esse status confere um caráter superior, quando na verdade se trata apenas de alguém que não se importa com o sofrimento de seres “inferiores”. Que dizer da comparação com a Escola de Base!?

  2. Regresso à Idade da Pedra

    Vão usar apenas tecidos, como por exemplo um pedaço de fígado? Até quero ver como serão testadas a ação das drogas no corpo como um todo, os sintomas, etc. Por causa de fundamentalistos burros como esses destes ecoativistas é que em alguns paises, como por exemplo aqueles cuja lei é a sharia, a ciência foi praticamente abolida. O Instituto Royal já foi fechado, qual será o próximo, o Fiocruz? No lugar da ciência, que tantos serviços já foram prestados à humanidade, na hora em que foram acometidos por um câncer, recorram à Santa Luisa Mel

  3. Sim, novo caso Escola Base

    E assim como a Escola Base, o Instituto Royal não suportou a ira dos “donos da verdade” e fechou as portas, quando estiverem com câncer liguem para a Luisa Mel, ela deve ter algum remédio:

     

    Comentado postado por Gilberto Cruvinel:

     

    Menos de 1 mês após invasão, Instituto Royal encerra atividades em SP

     

     

    do Portal Terra – 06 de Novembro de 2013 – 13p9 – atualizado às 15p0

     

     Instituto Royal anunciou nesta quarta-feira que decidiu interromper definitivamente as atividades de pesquisas animais realizadas em seu laboratório de São Roque, no interior de São Paulo, menos de um mês após ser invadido por ativistas que acusam a instituição de maus-tratos. Segundo o instituto, a decisão levou em conta “as elevadas e irreparáveis perdas” decorrentes da invasão, além do clima de insegurança criado desde então.

    “Tendo em vista as elevadas e irreparáveis perdas e os danos sofridos em decorrência da invasão realizada no último dia 18 – com a perda de quase todo o plantel de animais e de aproximadamente uma década de pesquisas -, bem como a persistente instabilidade e a crise de segurança que colocam em risco permanente a integridade física e moral de seus colaboradores, os associados concluíram que está irremediavelmente comprometida a atuação do Instituto Royal para dar continuidade à realização pesquisa científica e testes mediante utilização de animais. Por este motivo, o instituto decidiu encerrar suas atividades na unidade de São Roque”, anunciou a direção do Royal.

    saiba mais

    Falsos policiais usam caso dos beagles para assaltar casa em São RoqueParticipante da invasão do Instituto Royal, Luisa Mell filiou-se ao PMDBSP: com acordo entre polícia e OAB, beagles devolvidos irão para ONGsEm audiência na Câmara, advogado do Instituto Royal nega maus-tratos a cãesResgate de beagles é ‘momento histórico’, diz Luisa Mell a deputados

    De acordo com o Instituto Royal, o encerramento das atividades levará à demissão de funcionários, que já foram comunicados da decisão. “A decisão, por ora, não afetará a unidade Genotox, de Porto Alegre (RS), onde não se faz experimentação animal”, completou o instituto, que também manterá em funcionamento o Comitê de Ética, “formado por colaboradores do laboratório, que conta com veterinários, biólogos e membros da Sociedade Protetora dos Animais, conforme a legislação vigente”.

     

    Os animais remanescentes no instituto continuarão recebendo “tratamento e destinação adequados”, garante a instituição, que lamentou a interrupção de pesquisas com testes pré-clínicos para o desenvolvimento de medicamentos para o tratamento de doenças como câncer, diabetes, hipertensão, epilepsia, entre outros. “Com essa decisão, interrompe-se o trabalho do único instituto laboratorial do Brasil capacitado e regulamentado para exercer este tipo de pesquisa. A partir de agora, qualquer empresa interessada na realização de testes para registro de medicamento será obrigada a realizar suas pesquisas fora do País, até que outro laboratório seja credenciado pelo Concea (Conselho Nacional de Controle e Experimentação Animal) para essa atividade”, cita o instituto.

     

    Segundo a direção do Royal, a invasão ao laboratório foi resultado de dois fatores complementares: “as inverdades disseminadas de forma irresponsável – e por vezes oportunista – associadas à falta de informação pré-existente”. “Uma sociedade organizada e civilizada não pode aceitar que a pesquisa científica seja constrangida por grupos de opinião que preferem o uso da força e da violência em detrimento das vias institucionais e democráticas para travar debates”, critica a instituição.

     

    “O ambiente de insegurança gerou – e continuará gerando – prejuízos para a ciência brasileira, na medida em que não assegura aos cientistas um ambiente institucional adequado para o desenvolvimento de pesquisas cujo objetivo, em última análise, é o de salvar vidas. A consequência deste cenário de hostilidade é o desestímulo à fixação e permanência das melhores mentes científicas em nosso País”, diz o instituto em nota. “O prejuízo causado ao Instituto Royal não é mensurável. Mas é certo que o Brasil inteiro perde muito com este episódio, lamentavelmente”, conclui.

     

    http://s1.trrsf.com/update-1383235833/fe/atm/3/core/_img/lin-dotted.png); color: rgb(151, 142, 129) !important; line-height: 25px; font-weight: bold; background-position: 0px 100%; background-repeat: repeat no-repeat;”>SP: polícia investiga invasão a instituto e denúncias de maus-tratos a cães

     

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador