Um lugar onde as meninas têm medo de ir ao banheiro na escola, por Matê da Luz

Por Matê da Luz

Boquiaberta, li a matéria na BBC que retrata o triste cenário na Nicarágua, um dos lugares onde o machismo atua livre e culturalmente de forma forte e constante. 

“Polyana, abra os olhos: o pior sempre pode existir”. Ok, constatação aceita, continuo embasbacada que qualquer sociedade no atual momento do mundo faça vista grossa para meninos – e homens – que tratam a mulher como objeto. Como se não fôssemos humanas, como se não tivessemos o direito de pertencer ao todo, como se fosse difícil a simples e natural tarefa de existir. 

Esta semana estive em uma palestra do rabino Nilton Bonder (cadê pessoal falando da catequização por meio dos meus post? Aqui tem de tudo, de macumba à cabala, vem!). O tema do encontro, que aconteceu na Unibes, em São Paulo, era auto-estima – e auto-estima tem muito a ver com esta sensação de “ok, posso ser eu”. Um dos pontos fortes abordados por ele foi a questão da sensação de sermos piores ou melhores e, ainda, sermos menos. Define o rabino, embasado pela história bíblica e por todo seu background de evolução do indivíduo – leia os livros dele, especialmente A Alma Imoral, baita livro! – que quando uma pessoa se considera pior (do que outra, do que si mesma) ainda existe a confguração mental de uma possível melhora, ou seja, resumindo bastante, esta pessoa está possibilitada a pertencer, mesmo que não em sua melhor forma. 

Agora, quando uma pessoa se sente menos, existe toda uma temática inerente ao não merecimento que a desclassifica como fazendo parte seja lá do que for – de uma família, de uma sociedade, de uma cultura. Mulheres que batalham em prol da igualdade de gênero mundo afora têm em comum algo desta sensação de não pertencimento, de não merecimento. O feminismo não se trata apenas de “sou mulher, quero fazer igual aos homens”. É um assunto que trata, nas raízes mais profudnas do ser, da possibilidade de que uma escolha que não é individual, definida geneticamente, à princípio, ser exercida, simplesmente. 

Imagine você acordar todo santo dia e pensar”que droga, sou mulher, vou sofrer e tenho que me adaptar”. As raivas e mágoas e traumas que esta condição acumulam chegam a ser irreversíveis psicologicamente falando e, então, perpetuam culturas de fêmeas que se tratam com tamanha menos valia e, por sua vez, submetem-se ao machismo já amplamente aceito, difundido e praticado. 

Na matéria citada, as meninas, de oito anos aproximadamente, esclarecem que não vão ao banheiro da escola, segurando as necessidades, para evitar que os meninos as filmem, observem ou apedrejem. Tudo sob a vista grossa dos professores, que não tomam atitude nenhuma, já que elas são apenas meninas, futuras mulheres. Dentre tantos outros pontos, a seriedade desta situação considera uma lacuna de desenvolvimento intelectual e básico, criando um ambiente absurdamente hostil para estas meninas/mulheres desde a infância. 

Minha opinião pessoal é a de que algumas destas meninas serão, possivelmente, fortes candidatas a atuar em prol do feminismo como projeto concreto, implementado por motivos de sobrevivência da espécie, inclusive. Mas, você sabe, sou Polyana e acabo por enxergar possibilidades bonitas onde existe a lama. Que Deus, Alá, Oxalá e os Budas permitam que continue assim, caso contrário enlouquecer-hey num mundo desses.

Link para a matéria na BBC aqui

Mariana A. Nassif

2 Comentários

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  1. Pessoal q protesta contra pregaçao religiosa no Blog presente!

    Nao sou contra só para uma religiao específica… Agora, reconheci seu direito de postar. Mas, se fala, deve ser capaz de ouvir respostas. E deixar de se fazer de vítima, a web nao é colégio para donzel@s onde nao se pode criticar.

  2. Visão deformada

    “Os professores não veem porque usam outros banheiros e também porque há uma naturalização do assunto. Além disso, os meninos sentem desde cedo que podem se apropriar do corpo das mulheres”, diz a matéria da BBC. 

    Não entenderam nada. Morei na Nicarágua, e o retratado não tem nada de excepcional, nem ali nem alhures. O que os meninos sentem desde cedo se chama curiosidade, desejo, atração pelo sexo oposto. Somente a visão profundamente distorcida pelos dogmas feministas pode querer transformar isso em “sentimento de posse”. Non hanno capito niente!

     

     

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