Fernando Horta
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A Estética do fascismo, por Fernando Horta

A Estética do fascismo

por Fernando Horta

Os regimes fascistas e nazistas foram os primeiros a entenderem a importância dos meios de comunicação de massa para a política. No final dos anos 20 e início dos anos 30, o rádio se constituía na grande novidade da tecnologia transformada em produto pelo capitalismo. O rádio, paulatinamente, diminuía de tamanho físico e se tornava um aparelho fundamental na vida das pessoas, em tempos de paz e, mais importante ainda, em tempos de guerra.

O nazismo foi ainda mais além, reconhecendo, na segunda metade dos anos 30, a importância da comunicação, em todas as suas áreas. Hitler e Goebbels, por exemplo, conceberam a necessidade de uma comunicação efetiva, que transmitisse mais do que apenas o texto ou a narração. Contrataram a cineasta alemã Leni Riefenstahl porque, diziam eles, precisavam “aliar a arte à política”. Eis o ponto. Riefenstahl criou uma estética para representar o nazismo. Uma estética embebida em sentidos políticos e sociais que são replicados até os dias de hoje.

Walter Benjamim, estudando o fenômeno, afirmou que o cinema tinha sido “apropriado” pelo fascismo. A construção das massas como participantes pelo poder fascista se dá no sentido estético. Tão somente. É nos filmes, na retratação das festas nacionais, nos momentos políticos fabricados para consumo artístico que o fascismo se encontra com o povo. Este encontro tem sempre um sentido simbólico e estético que, nas palavras de Benjamim, captura “a aspiração por novas condições sociais” que as massas têm e a usa em benefício de uma “minoria de proprietários”.

O Führer tinha receio de que o nazismo fosse visto e compreendido como uma ideologia de ódio e guerra. A violência só poderia ser aceita, numa Europa que recém havia saído de uma guerra mundial (1914-1918), se ela tivesse um fim superior. Esta finalidade deveria ser entendida como imperativa, ética, boa e coletivamente significativa. O “povo” (volk em alemão) cumpriu este papel. Claro que o povo tinha que ser diminuído. Nem todos poderiam ser povo. As perseguições à todas as minorias éticas, aos homossexuais e aos dissidentes religiosos fizeram uma depuração do povo. A elitização da ideia de povo já estava constante na teoria da supremacia do ariano (alemão).

Trabalhar a comunicação sobre este “povo”, de forma mítica (criando uma história de superioridade) e estética (através da representação das lideranças como emergidas do “povo”), não era só uma questão lateral. O cerne da estética fascista é representar-se sempre como justo, e coletivamente bom. Várias são as estratégias para alcançar a “Força pela Alegria” (Kraft durch Freude), desde o aumento de festas e feriados nacionais, até a representação das lideranças sempre de forma sóbria, limpa e populares. O nazismo inventou o “João Trabalhador”. E o fez de forma consciente, eis que Hitler, no livro Mein Kampf, afirma que o objetivo central é brigar com os “vermelhos” pelo sentido dos termos “trabalhador”, “revolução” e “socialismo”.

As representações em imagens dos líderes fascistas obedeciam sempre ao mesmo padrão. Câmera posicionada abaixo do indivíduo, cores sóbrias e um jogo de luz e sombra que faziam a estética representar perfeitamente o discurso: um líder austero, superior e iluminado. A disputa de significados vinha sempre carregada contra os movimentos de esquerda. O fascismo é, antes de tudo, anti. Apresentava-se como uma solução viável ao capitalismo financeiro predatório (no contexto da crise de 29) através da exaltação da força do capitalismo nacional. Apresentava-se como uma alternativa à luta de classes, preconizada pelos socialistas e comunistas, através da noção de “todo”, de “pátria” e de “volk”. O povo é uno e indivisível. Para os fascistas, não há luta de classes, isto é uma invenção da esquerda para destruir a pátria.

A beleza do corpo, o belo como padrão estético das lideranças, foram explorados em todas as suas esferas, desde fotos até filmes. O filme de Riefenstahl sobre as Olimpíadas de 1938 (Olympia) tem como principal personagem o belo. O fascismo alimentava o estereótipo da perfeição não apenas esteticamente, mas como uma busca política. Hugo Boss foi o designer de todos os uniformes nazistas. A monstruosidade linda e bem vestida. Daquilo que é belo e uno surge ser também bom e correto. A estética fascista configurava a exata ideia da superioridade que o regime construía na cabeça de seus seguidores.

Não é difícil encontrar no Brasil atual a mesma estética. Líderes sóbrios, plano de foto inferior ao fotografado, cores neutras. O belo como predomínio do sentido, a austeridade da imagem que não guarda rasgos de cores, formas ou texturas. O jogo de luz e sombra a destacar a qualidade estética e transmuta-la em sentido social. A retórica acompanha a valsa com a estética. O líder anti luta de classes que vai unir o “povo” e fazê-lo trabalhar. Que cria, inova e faz renascer a ideia de país. Que “trabalha” e surge fisicamente em diversos papeis, aproximando-se esteticamente daquilo que não é.

Cria-se o anti.

Em qualquer banca, perto de você.

Fernando Horta

Somos pela educação. Somos pela democracia e mais importante Somos e sempre seremos Lula.

17 Comentários

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  1. AQUI não HÁ estética COISA

    AQUI não HÁ estética COISA NENHUMA ..AQUI predomina a VULGARIDADE

    AQUI golpistas testaram a “força do povo” e “os líderes das massas”

    Como todos se mostraram MANSOS e DESINDORMADOS diante das truculências e ILEGALIDADES  ..os POUCOS ratos DEITARAM E ROLARAM

    Deitaram e rolaram no Supremo, em todo Judiciário  ..no Legislativo, por todo Congressom, com ou sem IBOPE

    No mais ?! No mais é aquilo, alguns “heróis” que conseguiram através da “ovada” resgatar-nos um minimo da seriedade

    OLHA, estar incerido dentro da massa composta dum POVO FROUXO, juventude ALIENADA e de líderes de esquerdas BRAVATEIROS e CASCATEIROS, é uma merda, viu !!!

    Enquanto isso todo dia são duzias de ofensas partidas desta ESCUMALHA golpista  ..e nas ruas, nada

    ..e depois tem historiador que ainda não entende a passividade dos servos, escravos, judeus e toda sorte de oprimidos  ..confesso, nem eu

    1. O nazifascismo está por aqui

      Como estudante da história (não sou formado em História), entendo que o povo da nossa época (século XXI), não tem consciência básica de querer, de lutar para conseguir. Se essa mesma sociedade vivesse há 500/600 anos, nada de mudança haveria acontecido no mundo. Tudo o que se lê sobre humanismo, sobre renascentismo e grandes reformas só se deu porque o povo entendeu que tudo o que havia no mundo estava errado e precisava de mudança. E era uma consciência bastante coletiva. Sem a mudança iedológica coletiva o mundo não muda. Tem sociedade que acha que como nasceu vendo que carro tem mais direito do que gente, ela nunca se questiona (coletivamente) se isso é correto? E assim nada muda.

    1. Há três anos, na antiga

      Há três anos, na antiga agência do Citibank na Tijuca, RJ, num dia de verão com sol de 40ºC vi um morador de rua que dormia no interior desse recinto, aproveitando o ar condicionado. Nunca fui cliente desse banco, mas fiz questão de entrar na agência e fazer um registro fotográfico do que vi. Tenho na cabeça o texto de duas crônicas que vou escrever a respeito.

      Episódios como esses dizem muito sobre o que é o sistema capitalista, às vezes de forma mais franca e direta do que longos textos acadêmicos.

  2. Edward Louis Bernays

    Errado. Os primeiros a perceberem foram Edward Louis Bernays e seu companheiro Lippmann. Goebbels era aprendiz. Pesquisem sobre esses caras. Tão espertos que ninguém sabe da existência deles.

    1. Seu garçon, faça o favor de me trazer depressa…

      É. Esse artigo parece conversa de botequim, de intelectual tomando cerveja e arrotando sapiência.

      O nazi-fascismo “entendeu” a importância e “se apropriou” do fenômeno estético? Ou foi a agenda da modernidade artística que conformou um ambiente cultural em que a “estética” não podia ser desprezada, ou, ao menos, as novas expressões estéticas (o que inclui o cinema)?

      Não foi essa mesma agenda da modernidade artística que propugnava a estética como construtura e estruturadora da vida? Que tal nosso pretensioso autor dar uma lidinha no clássico “Quando o moderno não era um estilo e sim uma causa”, do arquiteto Anatole Kopp.

      Mas, pera lá, quer dizer que nunca a estética e o poder antes andaram juntos? Vá dizer isso para o Império Britânico! Vá dizer isso até mesmo para o curto período histórico napoleônico, que deixou um estilo muito visível e reconhecível! Ou então, se alguém quiser mesmo chutar o pau da barraca, vá dizer isso para o Egito faraônico!

      Ah, sim o estilo específico!… Mas, vem cá, em quê as marcas de estilo apontadas pelo nosso autor diferem das marcas do realismo socialista?

      Sério! Conversa de botequime esse artigo.

      1. Os termos são do historiador

        Os termos são do historiador alemão Walter Benjamin, que estudou o fenômeno em primeira mão na Europa. Só lembrando que Benjamin é reconhecido pelos estudos sobre estética, arte na Europa dos séculos XIX e início do XX. Lecionou na Universidade de Munique, depois na de Bern e recebeu seu doutorado cum laude em 1919. Seria interessante tomar uma cerveja num botequim com ele …

  3. a….

    Eleições, plebiscitos, referendos obrigatórios com voto facultativo. Em cédulas de papel em urnas de papelão a um custo infímo. Como fazem todos os países desenvolvidos e de população rica, alfabetizada e socialmente representada. Aqui a calamidade, a extorsão, o engôdo, a ditadura, a alta Corte do Estado é sustentado por Tribunais Eleitorais ( e outros tribunais) que nada servem a não ser manter uma Elite Parasitária ao custo de mais de 500.000.000,00 Quinhentos milhões de reais por eleição em urna eletrônica.   

  4. Ovos voam

    É. O povo está calmo, mas alguns ovos começam a ganhar popularidade. De ovo em ovo o povo vai protestando contra canalhas e golpistas. Calmaria nos mares do mundo sempre anunciaram tempestade. Por aqui parece que a perplexidade inicial do povo, da esquerda, começa a se esvair para acumular forças. No nazismo e no fascismo começou assim. Demorou algum tempo, pois organização demora, mas a reação veio organizada por toda parte pelos membros da resistência. Nada acontece da noite para o dia, apenas, os golpes, pois acompanhados de força bruta seja na política, seja na justiça, seja nas empresas, seja nas ruas.

  5. fascismo

    Li o livro “historia do fascismo italiano” de Frederico Chabod, edição Arcadia (Portugal). Muito interessante  e atual. 

    Esta tudo lá explicado.

    Não tenho duvidas que parte da burguesia e pequena burguesia abracaria a causa. Os memos temores o mesmo comportamento. 

  6. Extraordinário

    Sempre uma análise precisa e contundente do grande professor Fernando Horta!!

    Que Deus (eleitores) nos proteja do fascismo e do “João Trabalhador”!!!

  7. Muito bom Fernando,

    Muito bom Fernando, conseguistes colocar com simplicidade e objetividade pontos do nazifascismo que mostram o quanto está presente na direita que hoje vampiriza o planeta.

  8. Do TEXTO … ” O nazismo

    Do TEXTO … ” O nazismo inventou o “João Trabalhador”. “, sim, tambem … “Cria-se o anti.”,  depois do episodio de Salvador na Bahia em 07-08-2017, o “joão trabalhador” vai INVENTAR o ANTI-OVO NA CARA … !!!

  9. Bom dia Fernando Horta..
    Gostaria de ter acesso a esse texto “a Estética do Fascismo”, por estou precisando usalo no trabalho de conclusão de curso. Como faço para ter acesso na intergra ao texto?

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