Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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A Ilusão do Discurso da Ética

Punir os excessos do mal, mas não eliminar a causa. Esse é o destino da Ética no discurso pós-moderno repleto de palavras mágicas como “responsabilidade”, “transparência”, “sinceridade” etc. De ciência da moral que buscava as bases racionais da Verdade e do Bem, hoje a Ética é absorvida pelo subjetivismo, relativismo e fragmentação. Talvez seja o motivo pelo qual a permissividade da sociedade de consumo convive com o espírito da vigilância hiper-moralista.

 Se há uma coisa que o Gnosticismo enquanto método de análise de uma realidade (seja cinematográfica – como no caso desse blog – seja política ou econômica) nos ensina é saber diferenciar entre uma análise ontológica e uma análise moralista. Toda análise moralista pretende combater os excessos do mal, mas não eliminar a causa. Parte do princípio de que esses excessos se originam em comportamentos e motivações corrompidas puramente individuais. Diferente disso, uma análise ontológica vai à radicalidade ao ver o mal não nos excessos, mas na própria estrutura que confina os indivíduos.

Esse parece ser o destino da palavra “Ética” na sociedade contemporânea: decair para o campo do julgamento moralizador,  do relativismo e do subjetivismo.

“Conscientização” e “Ética” são palavras repetidas como um mantra para a solução de todos os problemas na sociedade. Poluição, trânsito, violência, intolerância, crises financeiras, especulação, corrupção etc., parece que todos os problemas clamam pela necessidade de que os indivíduos conscientizem-se das implicações éticas dos seus atos. O bem comum, o outro, a própria sociedade necessitam de que todos tomem consciência de palavras mágicas como “responsabilidade”, “sustentabilidade”, “transparência”, “sinceridade” e assim por diante nas ações em todos os setores de relações humanas.

Nunca se falou tanto em Ética. Da ciência geral da moral na Filosofia, ela acabou se fragmentando em diversas éticas: ética profissional, ética religiosa, ética ambiental, ética conjugal, ética nos negócios e assim em diante. Se um setor da práxis social apresentar alguma prática que cause injúria ou prejuízo a algumas das partes, reivindica-se um comportamento “ético”.

Em Aristóteles a Ética buscava a

fundamentação racional da busca do

Belo, da Verdade e do Bem

Em busca da fundamentação para o bom modo de viver humano em busca do Belo, da Verdade e do Bem, a Ética nas suas origens aristotélicas buscava refletir como o homem deveria se portar no meio social. Se a moral possui um caráter obrigatório em torno de tabus, tradição e cotidiano, a Ética buscava um caráter reflexivo. Isso significa que buscava, através da convicção e inteligência (e não mais pela obediência), um conjunto de valores objetivos para toda a práxis humana.

Mas o que testemunhamos hoje é a fragmentação da reflexão da Ética, como se cada setor da sociedade, relativamente aos seus objetos e diferentes agentes, necessitasse de um estudo ético especializado.

Além dessa fragmentação, o que chama a atenção é o subjetivismo da ética pós-moderna. Categorias psicológicas ou intimistas são usadas para julgar relações sociais, papéis e estruturas cuja natureza é ontológica, isto é, têm uma dinâmica interna que independe da personalidade do indivíduo que ocupe a posição.

Por exemplo, analisar a atual crise dos mercados financeiros como o resultado da ganância, ambição, compulsão e luxúria dos agentes econômicos é reduzir estruturas da economia política a categorias psicológicas ou de caráter. O resultado são análises moralistas que distinguem os “bad guys” dos “good guys”, exigindo-se regulamentações e freios éticos. Documentários como o premiado “Trabalho Interno” (Inside Job, 2010) e as denúncias do documentarista Michel Moore vão por essa linha (veja links abaixo).

Da mesma forma, reivindicar leis rígidas, fim da impunidade ou projetos de “conscientização” e “educação” para combater a violência no trânsito é inócuo por reduzir todos os problemas ao excesso e falhas de caráter do indivíduo numa sociedade que celebra e glamoriza a velocidade (veja links abaixo).

 
Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

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