Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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A ingenuidade semiótica das suásticas brasileiras, por Wilson Ferreira

 

Era o que faltava! Em meio a atual atmosfera politicamente pesada de polarização e intolerância, eis que suásticas começam a se espalhar não só em cartazes de grupelhos neofascistas, mas agora também em instituições que deveriam trazer a esperança civilizatória em meio à barbárie: escolas públicas e universidades. Cheios de boas intenções (conscientizar, debater e denunciar), estudantes desfilam com suásticas e um estande de uma feira universitária transforma-se num bizarro parque temático nazista com prisioneiros judeus com camisas listradas com a estrela de Davi e alunas felizes e elegantes em seus uniformes da SS e braçadeiras com a indefectível suástica, posando para selfies. Nas suas ingenuidades semióticas, falam que as suásticas são apenas “expositivas”, com as melhores intenções pedagógicas,  como se as imagens pudessem ser neutras e apenas ilustrativas. Sem saberem, estão manipulando cepas de ícones-índices de alto poder viral com efeitos imprevisíveis em redes sociais e opinião pública.

Como se já não bastasse a pesada atmosfera atual de polarização que domina a opinião pública no País, de forma surpreendente o setor educacional (que deveria ser uma referência civilizatória em meio à barbárie) dá também sua contribuição à turbulência política, de forma ingênua e desajeitada.

Em um desfile promovido pela Prefeitura da cidade de Taboão da Serra, para comemorar o Dia da Independência, alunos representando uma escola municipal traziam nas mãos suásticas nazistas para representar os Jogos Olímpicos de 1936 em Berlim. O tema do desfile era “Olimpíadas” (alusão aos jogos olímpicos que serão disputados no Brasil no próximo ano) e para cada escola foi sorteada uma edição das Olimpíadas.

Em nota, a secretaria de educação do município justificou que a suástica teve apenas um “teor de representação de fatos históricos ocorridos na Alemanha”.

Das boas intenções ao inferno

De Taboão da Serra para a cidade de Bauru. Pouco tempo depois das pichações racistas com desenhos de suásticas nazistas no campus da Unesp com dizeres como “A Unesp está cheia de macacos” e “as mulheres negras fedem”, a USC (Universidade Sagrado Coração) promoveu a semana da Feira das Profissões 2015 onde mais uma vez suásticas foram expostas por uma instituição de ensino.

A feira da USC chamou a atenção ao apresentar os estudantes de História utilizando bandeiras com a suásticas e felizes alunos trajando o uniforme da SS e outros com a vestimenta dos prisioneiros judeus em campos de concentração, listrada e com a estrela de Davi – o que transformou o estande do curso de História da universidade em um mórbido parque temático nazista.

Repleto de boas intenções, a resposta da USC à polêmica falava que o estande era “expositivo” e que o propósito das imagens era “ensinar, conscientizar e abrir espaço para debates” e a “importância da Democracia, da Justiça e da Igualdade”.

Na prática, o resultado foram inacreditáveis selfies que se espalharam na redes sociais de estudantes alegres, felizes, sorridentes, confortáveis e elegantes em seus uniformes da SS e empunhando braçadeiras com a suástica. É inegável que houve alguma contradição entre forma e conteúdo, intenções e resultado.

O que há em comum nos episódios de Taboão da Serra e Bauru é uma concepção semioticamente ingênua de que as imagens podem ser meramente ilustrativas, como se existisse um grau zero da representação – as imagens como simples decalques da realidade.

Tabu e idolatria das imagens

Em toda História, a imagem nunca foi neutra: ela pode fascinar e exigir ser tocada (a chamada “imagem-índice”), pode inspirar somente prazer como na arte (“imagem-ícone”) ou ainda produzir distanciamento e reflexão – “imagem-símbolo”. 

Por isso a imagem foi motivo de tabu e idolatria: das advertências do Velho Testamento bíblico sobre a idolatria por imagens à utilização propagandística da Igreja Católica com seus vitrais e afrescos com “imagens-índices” que produziam fascínio e temor.

Os designers do III Reich certamente compreendiam isso ao pegarem um símbolo esotérico (a “swastika”, na Índia associado ao “auspicioso”, Buda, ou a Ganesh, divindade da sabedoria) e converter em um ícone – com sua forma invertida, ganhou dinamismo com a nova apresentação em sinistrogira: como se girasse em sentido anti-horário. 

Qualquer símbolo transformado em ícone ganha força viral de disseminação. Isso porque a imagem jamais é neutra (“ilustrativa” ou “expositiva”) – ela tem a força da intenção. Imagem é propaganda. 

Os “déficits da imagem”

Para a Semiótica, quatro “déficits” impediriam a imagem de atingir essa suposta neutralidade ou representação objetiva da realidade:

a) A imagem ignora o enunciado negativo. Toda imagem é afirmativa, auto-suficiente e completa. É impossível negar um objeto por meio da apresentação da sua imagem em uma proibição, um programa ou um projeto. Dessa maneira, como conscientizar sobre os horrores do nazismo expondo publicamente a suástica e uniformes? Como proibir mostrando publicamente o que é negado?

 
Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

25 Comentários

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    1. Richard Wagner não era nazista

      Wagner não era nazista e certamente não tem responsabilidade sobre as preferências musicais que alguns daqueles monstros tinham… A suástica é símbolo do horror absoluto e, como tal, deve ser banida sim – no mínimo por uma questão didática.

      1. Wagner utilizava intensamente a mitologia nórdica e alemã.

        Wagner utilizava intensamente a mitologia nórdica e alemã, e como o movimento nazista tinha um viés fortemente associado a volta do passado germânico, Wagner foi adotado pelo IIIº Reich.

        A única coisa que se sabe politicamente de Wagner é que ele era ANARQUISTA e permaneceu exilado da Alemanha por 10 anos devido a isto.

        O problema é que ele no fim da vida conheceu Nietzsche e devido a este e a admiração de Hitler pelas obras de Wagner levaram a ele a pecha de Nazista. Wagner morreu em 1883, logo não podia ter ligação com o nazismo, seimplesnte porque este ainda não existia.

        1.  
          Mas onde eu escrevi que R.

           

          Mas onde eu escrevi que R. Wagner era nazista? O fato histórico é que assim como a suástica, a música de Wagner foi usada pelos nazistas como símbolo do 3º Reich. 

          Obs.: Na Enciclopédia Barsa, verbete WAGNER, Otto Maria Carpeaux cita que o compositor alemão era anti-semita. 

           

           

  1. To falando que estamos

    To falando que estamos vivendo a época dos fantasmas, dos mortos-vivos. Jovens são instruidos a odiar, a matar pelos moros, pelos datenas, rezendes e tais. A burrice foi bombada pela imprensa  e famílias imbecilizadas pela propineira. Não temos mais seres humanos, mas robôs totalmente dominados pela insanidade. Não sabem nada, não entendem nada, não enxergam nada além de uma tela velhaca, apodrecida, apenas sabem que querem estar nessa tela, querendo ser “modelos” nessa tela ensanguentada. Os fantasmas da inquisição estão assombrando nosso país. A imbecilização, a desinformação é o que identifica essa época da insanidade e cria esses fantasmas, esses mortos-vivos.

  2. Não são ingênuos

    Não há ingenuidade semiótica: movimentos nazistas e fascistas estão se espalhando rapidamente pelo Brasil (e pelo mundo), especialmente nas universidades ENTRE PROFESSORES E ALUNOS. Em caso de dúvida, dê uma pesquisada pela internet…. Um exemplo é a página de facebook “UFSC” (contração de Universidade Federal de Santa Catarina). Lá a elegia do fascismo, do nazismo, racismo, xenofobia, antifeminismo e ódio são a tônica – e embora seja uma “página aberta”, a maioria de seus frequentadores são de alunos, professores e funcionários da UFSC. Os promotores destes eventos “educacionais”, assim como as felizes moçoilas e moçoilos estão conscientemente fazendo apologia do nazismo, disto não tenho dúvidas, pois a pergunta insiste em uma resposta: havia necessidade de “uniformes nazistas elegantes” e de tanta alegria?

  3. Há todo um passado anterior a Hitler.

    Além da uso como símbolo nazista a uso da suástica tem origem anterior ao próprio partido Nazista. Heinrich Schliemann o arqueólogo, que descobriu Tróia atribuiu erroneamente a suástica como um símbolo específico indo-europeu, o que foi demonstrado mais tarde como completamente falso.

    Como as teorias rascistas da formação do chamado povo ariano sustentava que estes eram os descendentes diretos de uma etnia que migra do oriente para a europa e que os nórdicos e alemães representavam a linhagem “pura” deste povo (que deveria herdar o mundo!), a suástica leva já no fim do século XIX e início do século XX um sentido claro tanto de rascismo como de antissemitismo. Logo o símbolo não só representa o nazismo, mas anteriormente serviu para conceitos de “raça ariana pura”, “antissemitismo” (num aspecto mais amplo, considerando que todos os povos semitas contapunham a “raça ariana”.

    Em resumo, a suástica apesar de origens anteriores aos conceitos propagados na europa do norte nos séculos XIX e XX, é carregada de um simbolismo extremamente virulento.

  4. Não acho que seja

    Não acho que seja ingenuidade, mas pura burrice mesmo. Cérebros de ervilha. Na era da imagem, do espetáculo e internetês qualquer coisa vira meme, coisas importantes viram trivialidades.

  5. Excelente como sempre Wilson.

    Excelente como sempre Wilson. Um signo que tem seu significado esvaziado e seu significante tornado fetiche propaga ignorância e desinformação.

    E num contexto como o atual é mais lenha na fogueira. Num momento em que junta-se pichações afirmando que “mulher negra fede” com selfies de moças loiras bonitas (e cheirosas) com uniforme da SS, isso misturado vira propaganda nazista. Eugenia em estado puro.

    A unversidade deveria passar o filme “Arquitetura de destruição” como dever de casa para os estudentes. Aqui tem suástica a torto e a direito. E também moças arianas saudáveis. Mas a arte do diretor faz o significado desses signos explodir na tela. 

    1. É claro que há uma

      É claro que há uma diferença.

       

      Os comunistas derrotaram os nazistas no século passado.

       

      E derrotarão você neste século.

       

      Vista sua suástica e empunhe sua pistola… os mísseis Katyusha já estão apontados para você idiota. Ha, ha, ha…

    2. Os comunista não criaram o fornos crematórios

      Até onde saiba, os comunistas criaram na Rússia, campos de concentração para os oponentes políticos e outras minorias. Matavam, como todo campo de concentração, mas a metodologia era diferente.

      Os nazistas, criaram uma política governamental para assassinar toda a população de judeus, assinar é uma palavra de pouca expressão para o que ocorreu, algo que vai além da palavra diabólico As pessoas, seja lá quem fosse, constado que era judeu; crianças, mulheres, idosos, homens… foi judeu, seu fim era indubitavelmente os fornos crematórios, acessos dia e noite, queimando todos judeus que chegavam em trens superlotados por toda europa. Assasinatos em massa jamais visto.

      É isso que essas pessoas ingenuinamente colocam nos braços, o símbolo da política de um assassinato, industrializado por mentes doentias, jamais visto na História da Humanidade. E a maior vergonha para o povo alemão e para a humanidade. Não se deve ostentar algo que é vergonhoso, ingenuinamente.

        1. Subprodutos dos EUA

          O Pol-Pot e o Khmer Vermelho são produtos da “guerra” do Vietnã, filhotes dos EUA, assim como o é o estado islâmico hoje. Você sabe o que foi a “guerra” do Vietnã, como ela começou e como ela terminou? Dá uma estudada…

      1. Os comunistas mataram 10

        Os comunistas mataram 10 vezes mais seres humanos que o nazismo, quem ainda defende estes regimes são psicopatas ou mal informados. Isso não quer dizer que o nazismo é menos ruim ou melhor, apenas que o comunismo é tão perverso quanto o nazismo.

        Paises do leste europeu proibem tanto a suástica como a foice e martelo.

        Não vejo diferença alguma entre um nazista e um comunista ambos querem matar, fuzilar, em nome da sua ideologia.

        Não sei se os comunistas criaram fornos de cremação, mas se são da mesma  indole devem ter criado.

        1. Vocês deveriam exemplificar melhor

          Não basta somente falar que mataram 10x mais, é preciso saber-se fundamentar.

          Quando se fala em comunista, vocês querem imputar isso ao PT? Que não é comunista.

          Mas é que vocês são, a espelho dos golpistas de 64, querem se amuletar em chamar quem esta no governo e 

          tem políticas sociais de comunistas. Querendo enganar as pessoas.

          Se os comunistas mataram 10x que os nazistas, e daí? vocês querem dizer que o PT vai matar? 

          por que vocês querem que eles sejam comunistas ou gritá-los que são corruptos.

          E a mesma ladainha que fizeram com João Goulart e jogaram e atrasaram o Brasil por décadas.

          Os tempos são outros.

          Nazista, é uma coisa, comunista é outra. Mas todo nazista é facista.

    3. leia o texto com calma

      Releia o texto com calma.

      Ele ensina.

      Ensina que imagem uma vez exposta, sempre afirma o que ela representam.

      Portanto é impossível expor a suástica e fingir negá-la.

      Já o comunismo, para ser chamado de regime homicida, só mesmo pela aritmética torta e malandra de gente da ultra direita, que contabiliza como vítimas dos regimes comunistas os que o defenderamm, os que foram mortos na tortura da direita, aqueles que que os agrediram e depois soma junto famélicos advindo de colheitas falhadas em função do caos que as guerras de agressão capitalista geraram. 

      Não se tem notícia de uma guerra para levar “o comunismo” a povos que não o tenham escolhido, como por exemplo foram recentemente as invasões do Iraque, da Líbia e da Síria.

      As exposições da suástica são portanto, disfaçardíssimas, clandestinas até, sob desculpas oblíquas, sob pretextos disfarçados.

      As exposições da foice e do martelo são orgulhosas, legais e civis. Coisa de gente que não se omite, não se esconde e se orgulha do que pensa.

       

  6. Estudante de Historia sabe oq/ foi o nazismo. Pelo menos deveria

    Tudo isso é terrivel. Tinha a ilusão, com a chegada dos anos 2000, que agora “a coisa iria”. Ainda tem proposta de lei na Câmara para piorar ainda mais a situação, onde professores não devem mais ler certos autores e temas. Eh para, segundo o deputado propositor, “evitar ideologias desde cedo”. O bom para eles deve ser a discriminação desde jovem. Onde tudo isso vai parar……

  7. Só um detalhe, de vital

    Só um detalhe, de vital importância, apesar de erros quanto ao posicionamento das astes as suáticas do desfile tem origem islâmica. tibetana, asteca e maltesa. Somente a do centro representa o nazismo, ainda sim questionável, pois o nazismo utilizou-a em diagonal. Um uso desnecessário e ignorante, mas é bom saber a origem dos símbolos antes de emitir uma opinião.

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