Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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A Ponte Estaiada é uma bomba sincromística?, por Wilson Ferreira

“Estilingão”, “X” da Xuxa”, “X” dos analfabetos foram alguns dos apelidos recebidos pela Ponte Estaiada Otávio Frias de Oliveira quando inaugurada em 2008 na cidade de São Paulo. Certamente sintomas da perplexidade de uma estrutura em “X” equivalente a um prédio de 46 andares de onde saem estais que sustentam pistas sobrepostas em curva. Para além da funcionalidade viária, a ponte nasceu para ser emblemática, midiática e símbolo global. Para atingir essas funções ideológicas do “Soft-capitalismo” (midiático-financeiro), tornou-se um evento sincromístico: além dos feixes de estais, ela representa um feixe de simbolismos herméticos, esotéricos e matemáticos como a espiral de Fibonacci e o Homem Vitruviano de Leonardo da Vinci. Simbolismos que transformam a ponte numa celebração ritual de um Neo-Renascimento onde o mundo do mercado e dos negócios teria descoberto a beleza e simetria em meio ao caos. Seria a ponte uma bomba semiótica sincromística para diariamente fazer a apologia da Nova Ordem?

Inaugurada em 10 de maio de 2008, a Ponte Estaiada (como se convencionou chamar a ponte Otávio Frias de Oliveira) em São Paulo foi muito mais do que uma solução de engenharia com aplicação de técnicas inovadoras (pistas em curva que se sobrepõem presos por estais sustentados por um gigantesco mastro em “X”) para uma funcionalidade viária. 

Pela sua monumentalidade e imediata transformação em símbolo global, a ponte nasceu para ser ao mesmo tempo emblemática e midiática. Por emblemática quer dizer que a ponte é um objeto concreto representativo de ideias abstratas. E midiático porque não só transformou-se imediatamente em cartão postal e cenário de telejornais e filmes como Ensaio Sobre a Cegueira (Blindness, 2008) como acrescenta-se a isso o fato de que a ponte foi construída em um entorno onde estão localizados várias empresas multinacionais da área de comunicação como Vivo, Claro, Rede Globo e a Walt Disney Company do Brasil.

Seu skyline e monumentalidade demonstraram uma intencionalidade de criar a Nova São Paulo, um simulacro de cidade global, como aponta o livro de Luciana Cotrim, Ponte Estaiada: A Construção de Sentido para São Paulo, Estação das Letras e Cores. 

Por isso, sua natureza emblemática, midiática e intencionalmente global transformaram a Ponte Estaiada num evento sincromístico.

A hipótese sincromística

Filme “Ensaio Sobre a Cegueira”:
Ponte Estaiada já
nasceu midiática

Sincromisticismo é a hipótese proposta por pesquisadores como Alan Abdadessa (The Sync Book: Media and Mindscape) Christopher Knowles (Our Gods Wear Spandex), Jake Kotze e Loren Coleman (The Copycat Effect) que parte da noção teosófica de “forma-pensamento” e as noções junguianas de sincronicidade e arquétipo. O Sincromisticismo concebe as relações sociais como que imersas em um oceano de pensamentos que, por determinadas condições, sedimentam-se em egrégoras e arquétipos capazes de produzir “conexões significativas”.

Mais do que um feixe de estais que sustentam pistas que se cruzam sobrepostas, a Ponte Estaida é também um feixe de relações sincromísticas como veremos.

Sua infra-estrutura econômica está na sua proximidade com empresas do chamado soft-capitalismo: fundo de investimentos, bancos, serviços, telecomunicações e mídia.

Sua monumentalidade teve um primeiro propósito óbvio criticado por urbanistas e arquitetos na época: urbanisticamente seria inútil; seu único propósito seria a de dar uma nova visibilidade para a área, tornando-a a área mais empresarial e globalizada da cidade. Uma “espetaculosidade almejada pela prefeitura, que pretendia fazer da obra um chamariz para o mercado imobiliário”(FIX, Mariana. São Paulo, Cidade Global, 2009, p.41).

O modismo da ponte estaiada

Por que uma ponte estaiada? Por que o modismo de construções desse tipo de ponte como a Ponte Orestes Quércia na Marginal Tietê ou a Mário Covas na interligação Anchieta/Imigrantes na Baixada Santista?

A ponte estaiada tem uma relação sincromística com o Soft-Capitalismo. Enquanto as pontes tradicionais como em ferro-forjado, correntes metálicas, aços entrelaçados, viadutos de concreto armado transmitem a ideia de solidez, peso, permanência, duração, próprios do capitalismo da fase hardware (industrial de bens duráveis), as estaiadas materializam a concepção arquetípica do Soft-Capitalismo atual: fluidez, leveza, aerodinâmica – os próprios paradigmas da financeirização e rentismo onde “tudo que é sólido desmancha no ar”.

É o mesmo efeito dos prédios espelhados no entorno da Ponte Estaiada.

Esse novo paradigma soft do capitalismo (finanças, serviço, mídia) estimulou uma concepção messiânica e mística de si mesmo: desde os slogans escatológicos como “Fim da História” de Fukuyama ou “Estrada para o Futuro” de Bill Gates.

Dessa forma encontramos uma primeira evidência sincromística na Ponte Estaiada:  os estais que descem do gigantes mastro em “X” criam um efeito especial (um “formato eidético”, como aponta Luciana Cotrim no livro citado acima) para os motoristas como uma analogia de traços cruzados que ligam o céu à terra: o efeito de parecer que o mundo terreno e o celestial se uniriam por uma estrutura animada.

As hastes em “X” ainda sugerem a presença de uma gestualidade como braços levantados para o céu e pernas longas. É como se a ponte estivesse em posição de aclamação e regozijo rituais.

Matemática e Hermetismo

Mas essa prosopopéia (figura de linguagem que atribui características humanas a seres inanimados ou ideias abstratas) e messianismo místico sugerido pela forma eidética é reforçado por um outro caminho proposto pelo próprio engenheiro da ponte Catão Francisco Ribeiro: o projeto e cálculos da ponte tiveram uma relação com algumas teorias matemáticas e estudos relacionados à vida humana.

Para o projeto de uma ponte estaiada em curvas, Catão Ribeiro partiu da chamada “Espiral de Fibonacci”: sequência recursiva de números representada geometricamente pela união dos quartos de circunferência de todos os quadrados obtidos na sequência. Quando unidos, formam uma espiral. Assim como o Triângulo de Pascal (presente na concepção da ponte de forma triangular), triângulo numérico infinito formado por binômios de Newton.

Essas sequências recursivas de números estariam presentes nas configurações biológicas como o cone da alcachofra, galhos das árvores ou no desenrolar de uma samambaia. Em um evidente messianismo, os mercados financeiros buscam aplicar essas teorias recursivas nos negócios e análises de tendências: tentam mistificar os mercados com a máxima do Princípio da Correspondência do Hermetismo – o que está em cima é como está em baixo, e o que está em baixo é como está em cima.

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Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

7 Comentários

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  1. Para de viajar.
    A ponte foi
    Para de viajar.
    A ponte foi feita assim porque é mais barata por ser pré moldada.
    Não existe outro motivo que não seja o custo.

    1. Ao Leonidas a que é de Leonidas

      Sobreo autor do post:

      “Wilson Roberto Vieira Ferreira:

      Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.

      Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP.

      Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual.

      Pesquisador e escritor, autor de verbetes no “Dicionário de Comunicação” pela editora Paulus, organizado pelo Prof. Dr. Ciro Marcondes Filho e dos livros “O Caos Semiótico” e “Cinegnose” pela Editora Livrus.”

      E sobre o Leonidas?

      Vou usar seu modo usual de debate:

      Um proxeneta usuário de argumentos logicamente inconsistentes, então sem fundamentos e que usa como avatar uma foto acompanhado de uma mulher, típico signo dos inseguros.  rs

      Não sabe a que veio ao mundo, rs, como um adulto inseguro, rs, se resume a frases curtas de pouco alcance de debate mas alto poder falacioso, rs.

      Vai cuidar dessa mulher do seu lado que você ganha mais, rsrs

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