Ademario

A RETRIBUIÇÃO

Verão de 1995. Todos já estão no avião que vai do Rio para Buenos Aires, com escala em Montevideo. O comandante anuncia que há um problema e que devemos voltar para a sala de espera.

Depois de 1/2 hora, decido tirar o violão do estojo, para passar o tempo com minha esposa (namorada então). Um senhor argentino e seu filho se aproximam, param para escutar e puxam conversa. O pai toca piano, o filho está aprendendo violão. Mais tarde chegam a mãe e a irmã e nem vemos as duas horas de espera passarem, até que o alto-falante anuncia que finalmente devemos voltar para o avião.

O avião pousa em Montevideo e depois continuará para Buenos Aires. Já caminhamos para a saída, quando o pai nos pára e passa um papel com o telefone deles.
– Vocês não vão para Buenos Aires depois? Então liguem para a gente quando forem para lá.

Montevideo é linda, como sempre. Meus amigos uruguaios fazem Teresa se sentir uma princesa, e vamos a La Paloma, Punta del Este e na casa de praia deles, em Pinar. E Buenos Aires? Será que aqueles argentinos que conhecemos poderiam indicar um hotel legal? Em Buenos Aires, é a primeira visita, minha e de Teresa.

Eles podem e querem nos pegar de carro no porto, depois da travessia no Buquebus (aerobarco). Quando chegarmos, eles vão nos falar dos hotéis. Estranho… Mas tudo bem.

Alguns dias depois de ligarmos, desembarcamos em Buenos Aires e lá estão os pais, com 8 cartões de hotéis que, aparentemente, eles viram um por um, pois descrevem como é cada hotel. Escolhemos um bem no centro, perto da Casa Rosada, da Calle Florida e do Metrô. Ainda é o mesmo hotel em que ficamos, sempre que vamos a Buenos Aires.

Ao chegarmos lá de carro, o pai vai conosco até o quarto, vê se aprovamos, volta ao lobby e ainda barganha o preço com o dono do hotel. Depois ele diz “Vamos passear!”. Mas e o hotel? E nossas malas ainda no carro? Ele argumenta que já são 3 da tarde, a diária já está contando mesmo e que podemos tirar as malas na volta.

Voltamos ao hotel depois das 9 da tarde (o sol estava se pondo nos longos dias do verão portenho), depois de vermos meia Buenos Aires. E eles querem saber que dia podemos jantar na casa deles. Jantar? Eu olho para Teresa e falamos em dois dias depois. Não estamos entendendo nada.

Eles vêm nos apanhar às 8 da tarde. Nós só voltamos ao hotel às 3 da manhã, depois de comer, tocar violão, ouvir o piano do pai e tomar muito vinho na festa com umas 20 pessoas, que havia na casa deles em nossa homenagem!

Quando eles vão nos levar de volta ao porto, para voltarmos para Montevideo, eu e Teresa não temos palavras para agradecer tanta hospitalidade.

-Não precisa agradecer. Sempre que fomos ao Brasil fomos tratados com tanto carinho, que nos sentíamos na obrigação de retribuir. Quando vimos vocês no saguão, tão simpáticos e tocando violão, nós que gostamos tanto de música… Resolvemos retribuir através de vocês.

E depois dizem que os argentinos não são simpáticos…

Ademário Iris da Silva Junior

Luis Nassif

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