Enviado por antonio francisco
Assassinado em 02 de novembro de 1975 em Óstia, Itália.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Pier_Paolo_Pasolini
“Em seus trabalhos, Pasolini demonstrou uma versatilidade cultural única e extraordinária, que serviu para transformá-lo numa figura controversa. Embora seu trabalho continue a gerar polêmica e controvérsia até hoje, enquanto Pasolini ainda era vivo, seus trabalhos foram tidos como obras de arte segundo muitos pensadores da Cultura italiana.
O crítico literário estadunidense Harold Bloom considera Pasolini o maior poeta europeu e a maior voz da poesia do século XX.”
Escritor e Cineasta polêmico e premiado.
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saudades de uma epoca
A idade tornamos melancolicos. Mas tenho razões para ter saudades do tempo que se podia ver Pasolini, Visconti, Fellini, nouvelle vogue, comedias inteligentes italianas, Bunuel, Renoir e outros que tais.
Comos o cinema decaiu, o capitalismo dá as cartas e criamos um cinema infantiloide.
O pior é que nem nos canais fechados passa.
“Considero o consumismo como
“Considero o consumismo como uma forma de fascismo pior que a versão clássica” – frase emblemática de Pasolini dita em entrevista um dia antes de sua morte.
Em fins da década de 60 e inicio da década de 70 o grande e visionário artista se mostrava angustiado com a volta do fascismo. Um intelectual corajoso, ético, inquieto e contestador que transformou cinema em arte. Grandes tempos em que um artista não se fazia pelo marketing (ou no caso do Brasil por rendição) mas por sua intelectualidade.
O motivo de sua morte é até hoje motivo de controvérsia. Em 1995 o diretor italiano Marco Tullio Giordana lançou o documentário “Pasolini, Um Delito Italiano”, no qual apresenta a tese de que o assassinato de Pasolini foi um crime político encomendado pela direita italiana que desejava silenciá-lo.
Aos intelectuais e/ou cineastas fascistas brasileiros fica o exemplo da obra de Pasolini: brilhante, visionária e atual depois de decorrido mais de meio século.
Ou, como disse o Mario Quintana:
Poeminha do Contra
Todos esses que aí estão
atravancando o meu caminho
Eles passarão
Eu passarinho
“A graça brutal”
Antes de se tornar cineasta extraordinário, bem jovem, Pasolini já era poeta, romancista, crítico e militante político importante. Só agora sua poesia foi traduzida no Brasil, pela Cosac Naify. Há um belo e longo poema dele, escrito quando de uma viagem que fez ao Brasil, em plena ditadura, “Hierarquia”, que termina assim:
“Ó Brasil, minha desgraçada pátria,
devotada sem escolha à felicidade
(de tudo o dinheiro e a carne são donos
enquanto tu és assim tão poético)
dentro de cada habitante teu, meu concidadão,
existe um anjo que não sabe de nada,
sempre debruçado sobre seu sexo,
e, velho ou jovem, se apressa
a pegar em armas e lutar,
indiferentemente, pelo fascismo ou pela liberdade –
Ó Brasil, minha terra natal, onde
as velhas lutas – bem ou mal, já vencidas –
para nós, velhos, voltam a fazer sentido –
respondendo à graça dos delinqüentes ou dos soldados
à graça brutal.”
A visão de Pasolini…
…destoa da do Homem Cordial, descrito por Sergio Buarque de Hollanda. Há, sim, que esteja disposto à luta e às armas, hoje, principalmente os facistas. Mas o que parece majoritário, na minha opinião, é a caracteristica aludida por Joaquim Nabuco : “A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil. Ela espalhou por nossas vastas solidões uma grande suavidade…”
Algumas poesias já haviam sido publicadas no BRasil em Ali dos olhos Azuis (2006), constituido de uma coletânea de contos, novelas, roteiros. Eis um deles, do filme A Ricota:
Eu sou uma força do Passado.
Só na tradição está o meu amor.
Venho das ruínas, das igrejas,
Dos retábulos, das aldeias
Abandonadas sobre os Apeninos e os Pré-alpes
Onde viveram os irmãos.
Percorro a Tuscolana como um doido,
Pela Ápia como um cão sem dono.
Tanto contemplo o crepúsculo, a aurora
Sobre Roma, sobre a Ciociaria, sobre o mundo
Como os primeiros actos da Pós-memória
A que assisto, por privilégio censitário
Da orla extrema de qualquer idade
Sepulta. Monstruoso quem é nascido
De vísceras de mulher morta.
E eu, feto adulto, cirando,
O mais moderno de todos os modernos,
Procurando irmãos que o não são mais.
[video:https://www.youtube.com/watch?v=IymuQSWgQ6o%5D
Pasolini é grande…
… como escritor, poeta, semiólogo e cineasta. Homem afinado com os problemas conteporãneos, problematizou entre outras coisas a apermanência do facismo, a realidade e o submundo da casse menos favorecida, o mundo do consumo e a indústria cultural.
Quanto a ser o maior poeta do sec. XX, segundo o Harold Bloom, é outra história…