Clichês suíços revisitados por “Mix & Remix”

Do Swissinfo.ch

Philippe Becquelin, um caricaturista suíço

Agora ele acabar de publicar um livro intitulado “Gags” e também de ilustrar “Imagem da Suíça”, um livro sério sobre os clichês da Suíça.

Por Isabelle Eichenberger, swissinfo.ch

 

“Na Suíça fazemos relógios, chocolate…” “e dinheiro!…”

Re: Fora de Pauta

 

 

O humorista e caricaturista Philippe Becquelin publica seu trabalho no semanário “L’Hebdo” e na televisão.

Agora ele acabar de publicar um livro intitulado “Gags” e também de ilustrar “Imagem da Suíça”, um livro sério sobre os clichês da Suíça.

 

“Parece que a gente se entedia na Suíça”. “Não, nós votamos o tempo todo”. Dois personagens desenhados em linhas simples com grandes narizes, um trajando uma boina e o pão tipo “baguette” e outro com uma manta vermelha como uma bandeira. Um diálogo sucinto, mas que compreende tudo. A Suíça tediosa, a democracia direta, a ilha no meio da Europa, uma certa displicência atribuída aos vizinhos franceses: uma série de clichés, mas tão verdadeiros que as pessoas se identificam com eles. Isso tudo resulta no “Mix & Remix”, o pseudônimo do autor.
 
Ele também coloca outras coisas no papel: um chalé com um porão e, abaixo dele, um abrigo antiatômico e ainda mais abaixo…o porão do abrigo. São poucas linhas que dizem mais sobre os famosos abrigos de construção obrigatória para os construtores e proprietários nesse país, onde tudo é previsto, inclusive também o imprevisível.

 

“Assim que há o lado humano o trabalho fica mais fácil” 

Helvetia, Winkelried, Guilherme Tell, Heidi, a flor edelvais, os bancos, a precisão, o fondue, a neutralidade, o chalé, o falso chalé que na realidade é um bunker militar: esses são os temas tratados no “A imagem da Suíça”, título do livro que acaba de ser publicado pelo sociólogo Gianni Haver no selo “LEP-Références”. Trata-se de uma coleção que trata de forma didática da história, geografia e instituições políticas da Suíça, mas também com uma certa irreverência através das caricaturas de Mix & Remix.
 
O autor explica à swissinfo.ch: “É o décimo livro que estou fazendo nessa coleção um pouco mais séria. Cada vez é um grande trabalho, pois tenho de fazer uma centena de desenhos. Mas este último era um pouco mais fácil, especialmente pelo fato do tema ser um pouco mais leve…”
 
E Becquelin ainda acrescenta: “Os suíços são os primeiros a falar da sua imagem e não sei se seria possível de fazer um livro sobre outro país que não tivesse tantos clichés como o nosso.”
 
Ele só lia o conteúdo do livro à medida que ia trabalhando. Assim que a caricatura ideal era encontrada, o autor passava à página seguinte. “Eu procuro muito mais a piada do que me instruir”. Uma centena de desenhos foi produzida em apenas três dias. Dificuldades? “Temas onde não há nada de humano, como a raclette ou o fondue, são menos engraçados do que o general Guisan durante a guerra. Assim que há algo de humano a coisa fica mais fácil!”
 
Mas o caricaturista também se destaca em conceitos abstratos. Por exemplo, a neutralidade representada por uma avestruz que esconde sua cabeça na areia. “Eu não sei se é ou não justo, mas com certeza é um pouco satírico ou chocante. Eu não tenho mensagem a transmitir. Tenho uma ideia que me faz rir, mas poderia ter tido outra.”

 

Revista em quadrinhos 

“Mix &Remix” não é um contador de histórias e confessa que teria dificuldades para encontrar tempo para realizar uma história em quadrinho. “Para isso seria necessário desenvolver uma história do início ao fim. Isso me custaria muito, pois prefiro ser mais breve. Estou mais na passagem do que na história. Além disso, não creio que tenha histórias para contar.”
 
Talvez por isso ele prefira se destacar no programa televisivo político “Infrarouge”, da TV da Suíça francófona, onde desenha no momento e ao vivo. “Tenho dificuldade para dizer de onde vêm minhas ideias. Eu começo a desenhar e tudo vem por si só”. Se o caricaturista não é um contador de histórias, ele ainda é mais discreto quando precisa falar de si próprio.
 
E, portanto com sua sobriedade – o desenho não “é primordial”, mas “se mantém pelo texto”, que é sempre curto, mas bem trabalhado. Uma nova prova do seu estilo está no livro “Gags”, o 16° volume publicado na editora Buchet/Castel (França) e com prefácio de Siné.”

 

Philippe Becquelin

Philippe Becquelin (Léa Lund)

Nem à direita ou à esquerda 

Há muito tempo “Mix & Remix” desenha semanalmente uma página na revista “L’Hebdo”, além de colaborar com várias publicações francesas. Porém ele se considera neutro. “Eu nunca me envolvo. Tudo me interessa e, ao mesmo tempo, nada. Sou um pouco desligado das coisas e também politicamente. Faço caricaturas de esquerda e de direita, contrariamente a muitos humoristas que tendem mais à esquerda. Para mim, trabalhar para um jornal não significa forçosamente adotar suas opiniões.”
 
E a censura? Alguns desenhos seriam dificilmente publicados na França. A revista humorística francesa Siné Hebdo confessa que já censurou “Mix & Remix”. Um problema que não existe na Suíça, onde os problemas de sociedade são menos sensíveis como ele mesmo opina. “Meu único problema no Hebdo é que nunca fui censurado. Talvez eu mesmo me censure, mas não penso nisso de forma geral. Isso significa que nunca faço provocações por si só e que não sou agressivo com as pessoas.”
 
O humorista também protege sua inspiração. Ele tenta se manter atualizado, “mas menos do que a maior parte das pessoas”. Também diz: “Não fico no mundo da lua, mas não perco muito tempo seguindo a atualidade. Eu revelo grandes temas, nomes de pessoas, mas prefiro manter minha cabeça fresca.”
 
A dificuldade é que “continuar fazendo um bom trabalho”. “Eu devo evitar a pressão, pois quando isso ocorre acabo desenhando pior. A usura é difícil a evitar, pois os desenhos são quase sempre os mesmos quando os temas sempre retornam, especialmente no caso do programa no Infrarouge”, conclui Mix & Remix. 

Adaptação: Alexander Thoele

Luis Nassif

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