As Carrancas do Velho Chico

Por jns

Carrancas do Velho Chico

No Vale do São Francisco, acredita-se que as Carrancas protegem os barqueiros e remeiros dos bichos do rio ou de acidentes e afogamentos, dando três gemidos quando há iminência de perigo.

  

Pelos registros existentes, as Carrancas são encontradas no Vale entre o final do século XIX até a primeira metade do século XX e tinham conotações místicas, indicando o perigo ou eram utilizadas como figura de decoração artística.

As Carrancas do São Francisco possuem características originais que as diferem das figuras de proa utilizadas em embarcações em outras partes do mundo.

O número reduzido de escultores, em contraste com o grande número de barcas que navegavam pelo Vale do São Francisco, no período de maior intensidade da comunicação fluvial, faziam das Carrancas um sinal de distinção entre os barqueiros.

A produção amplia-se no início do século XX, quando ocorreram sucessivos naufrágios, em face das corredeiras, das pontas de pedra do rio e à sobrecarga das embarcações.

Dizia-se que “a rapadura, de tanta barca afundada, chegava adoçar o rio…”.

As Carrancas são fruto da criação de uma cultura e de uma região isoladas do resto do país e ao, mesmo tempo, ligadas pelo Rio São Francisco, cujos artistas populares, a partir da ideia de esculpir uma figura de proa, criaram soluções plásticas próprias, de elevado conteúdo artístico e emocional, que provocam um verdadeiro impacto, despertando a sensibilidade e mesmo uma pertubação na contemplação desta mistura singular entre elementos naturais e humanos.

Atualmente as embarcações diminuíram consideravelmente sua importância enquanto meios de transporte e comércio e as carrancas já não são produzidas para enfeitar a proa das barcas. Mas continua re-existindo, na memória das populações ribeirinhas, o ambiente recente das embarcações, naufrágios, remeiros, carranqueiros e pescadores.

O fortalecimento das tradições, história, cultura e do imaginário popular são fundamentais para a afirmação da cultura brasileira.

Mestre Biquiba

“Foi o profissional de inteligência mais multiforme que existiu na Bacia do Rio Corrente. A natureza lhe permitiu viver mais de um século, a fim que desse vencimento à sua inesgotável capacidade inventiva, sempre em dia com a História e com a Cultura de seu povo.”

  

  

Carlos Drummond de Andrade

Centenário

Francisco Biquiba La Fuente Guarany

conjurou os seres malévolos das águas.

Com o poder de suas mãos meio espanholas,

meio índias, meio africanas,

totalmente brasileiras.

Das mãos de Guarany surdiram monstros

que colocados na proa dos barcos

protegiam os viajantes contra os terrores do rio.

Eram monstros benignos, conjunção de forças milenares

enlaçadas na mente de Guarany.

As águas purificaram-se, as viagens

tornaram-se festivas e violeiras.

E ninguém temia a morte, e o louvor da vida

era uma canção implícita no cedro das carrancas.

Os tempos são outros. Onde as carrancas?

Onde os barcos, as travessias melodiosas de antigamente?

O Rio São Francisco está sem mistério e poesia?

A poesia e o mistério pousaram

no rosto centenário de Francisco, irmão moreno

do santo de Assis, também ele miraculoso,

pelo poder das mãos calejadas e criadeiras.

Fonte:

http://ccarrancas.wordpress.com/

http://oficinafranciscodlafuenteguarany.blogspot.com.br/

Luis Nassif

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