Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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Ataque em Londres: mais um atentado que não aconteceu, por Wilson Ferreira

por Wilson Ferreira

Mais um atentado, desta vez em Londres com atropelamento em série de civis e invasão dos jardins do Parlamento Britânico por um homem armado com duas facas. O local é ao mesmo tempo icônico e sincrônico: escolhido pelos roteiristas para as cenas mais espetaculares do filme “V de Vingança”, cuja famosa máscara foi inspirada em Guy Fawkes, líder da “Conspiração da Pólvora” no século XVII – considerada a primeira “False Flag” da História, que pretendia mandar pelos ares o rei junto com o Parlamento como parte de uma propaganda de guerra. Novamente o ataque revela as mesmas recorrências e anomalias dos atentados desde o ataque ao WTC em 2001: a execução final do vilão, o “lobo solitário”, as conclusões rápidas da mídia e da polícia e a “coincidência” de 72 horas antes do ataque exercícios antiterror foram realizados no rio Tâmisa, com lanchas rápidas, resgatando hipotéticas vítimas civis. Assim como aconteceu no atentado “real”. Mais uma vez, o atentado “não aconteceu”: foi uma forma de meta-terrorismo para irradiação midiática.

“Detenha os suspeitos de sempre!”, ordenava o chefe de polícia capitão Renault aos guardas depois que seu amigo Rick (Humphrey Bogart) baleou mortalmente o nazista Major Strasser, permitindo que o avião com os fugitivos da resistência, Ilsa e Victor Laslo, partisse. Era a cena final do filme Casablanca (1942), famosa pela renuncia do amor de Rick (“… e nós sempre teremos Paris…”) por Ilsa, em troca da vitória da Resistência.

Essa cínica ordem do capitão Renault (tributária da tradicional visão de mundo corrosiva do Filme Noir) é emblemática por representar a crônica cotidiana das histórias policiais na qual a verdade revelada é sempre aquela mais cômoda aos interesses dos protagonistas.

Com o passar das décadas essa busca pelos “suspeitos de sempre” foi muito além da crônica policial – transformou-se em negócio de Estado, nos intrincados jogos geopolíticos que evoluiriam da guerra para a luta contra o terrorismo internacional.

“Casablanca”: “Detenha os suspeitos de sempre”

Mas o princípio continua o mesmo: “detenha os suspeitos de sempre”. O que resultou na concretização de um script com poucas variações, mas de qualquer maneira atraente para a grande mídia pela sua plasticidade, iconismo, timing, senso de oportunidade a criação de um terrorismo autoconsciente das coincidências, lacunas e sincronismos – o que chamamos de meta-terrorismo.

No mundo acadêmico, pesquisadores como Umberto Eco, Jean Baudrillard e Daniel Boorstin pressentiram essa crescente hegemonia da ficção sobre a realidade, de eventos auto-conscientes e trágicos se sobrepondo aos eventos espontâneos e fatais. Respectivamente, conceituaram esses episódios como “eventos-encenação”, “não-acontecimentos” e “pseudo-eventos”. 

Já entre os analistas geopolíticos e conspiracionistas os termos são mais diretos: “Falsa Bandeira” (False Flag) e “Trabalho Interno” (Inside Job).

Mais uma vez, esse script de poucas variações se repete no incidente em Londres: um homem espalhou terror na região de Westminster e arredores do Parlamento Britânico – primeiro atropelando vários pedestres e, depois do carro bater nas grades do Parlamento, atacar com duas facas agentes de segurança da casa parlamentar. Até ser executado a tiros, deixando um rastro de cinco mortos e outras 40 pessoas feridas.

E lá dentro do parlamento estava a Primeira-Ministra Theresa May na sessão semanal de perguntas à chefe de governo. Como não poderia deixar de ser, o tema era o polêmico Brexit. E mais um detalhe: advogados do ex-presidente Lula também estavam no Parlamento, à convite, para expor abusos e violações na Operação Lava Jato.

Porém, o script atual da guerra ao terrorismo tem uma pequena variação em relação a Casablanca: o suspeito de sempre (noticiado de início como um “asiático” para, depois, em closes fotográficos, vermos um icônico rosto muçulmano com a típica barba salafista) agora não é mais preso, mas executado como resposta policial a ações de resistência. 

Mais uma vez, um episódio com anomalias, recorrências e sincronismos:

(a) O vilão morre no final

É a síndrome de “mortos não falam”. Se um evento terrorista fosse real e as autoridades determinadas a eliminar essa ameaça ao Ocidente, policiais fariam todo possível para capturar o terrorista vivo para interrogá-lo e, com possíveis delações, desbaratar a rede terrorista internacional. Mas o que acompanhamos é absurdamente contrário: os supostos terroristas são abatidos como cães raivosos, sem nenhuma tentativa de salvar suas vidas numa clara suspeita de estarmos acompanhando a eliminação de arquivos vivos. 

No caso particular do recente atentado em Londres, não seria difícil treinados agentes de segurança neutralizarem um homem armado apenas com duas facas.

(b) Lobos solitários e conhecidos

Como sempre, os terroristas são apresentados como alguém que agiu isoladamente. No caso do atentado de Londres, alguém já conhecido e investigado pelo MI5 (Serviço Britânico de Informações), mas,  que segundo a premiê britânica, “era uma figura secundária e não fazia parte do atual cenário da inteligência” – ooops! Acho que ocorreu um pequeno deslize do MI5…

E mais: para Theresa May, a ação solitária de alguém supostamente tão pouco importante, pode ter “se inspirado no terrorismo internacional”. Nas entrelinhas, May sugeriu um evento “copycat” – efeito de imitação no qual o psiquismo vulnerável de sociopatas, psicóticos, suicidas etc. são influenciados pelos eventos midiatizados – sobre isso clique aqui.

De fato, o “atentado” ocorreu exatamente no dia em que se fazia um ano dos ataques de homens-bomba em Bruxelas, matando 35 pessoas. Assim como o mês da morte do nascimento de Hitler (abril) costuma inspirar ataques como Massacre de Columbine (1999, EUA) ou à escola em Barcelona (Instituto Joan Fuster) em 2015.

O curioso é a ambiguidade sempre presente na descrição do suposto terrorista: alguma coisa entre um solitário sociopata e desequilibrado ou um ardiloso agente do ISIS que planejou tudo meticulosamente com apoio logístico do terrorismo internacional.

(c) Conclusões rápidas

O que nos conduz ao item (c): apesar dessa descrição ambígua, em questão de minutos a grande mídia e a polícia qualificam o incidente rapidamente como “ataque terrorista”, com todas as conotações dos “suspeitos de sempre” – muçulmanos sujos, feios e malvados; a ameaça ao Parlamento Britânico, um símbolo da democracia Ocidental; o terrorista frio e calculista e assim por diante.

Como sempre, a grande mídia opta rapidamente pela versão que confirma sua pauta interna subliminar. Assim como no acidente aéreo do ministro Teori Zavascki em Paraty: mesmo com as investigações apenas começando, rapidamente uma massa de elegantes infográficos comprovavam uma triste fatalidade meteorológica – aliás, a quantas andam as investigações da Aeronáutica e Polícia Federal, esquecidas por jornalistas e políticos?

(d) Por que treinamentos antiterror antecedem atentados?

Uma curiosa recorrência para incendiar a imaginação conspiratória: como sempre, dias antes (às vezes no mesmo dia, como no atentado à casa de show Bataclan em Paris) registram-se exercícios de treinamento antiterror nos quais são simulados ataques e socorro a vítimas civis.

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Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

9 Comentários

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  1. Alguém ainda acredita nessas

    Alguém ainda acredita nessas estórias?? Impossível se solidarizar com tamanha patranha.

    O ocidente rico já está no campo do ridículo em termos de convencimento que AL Qaeda, ISIS e mercenários terroristas não são financiados e treinados pelo próprio ocidente para derubar regimes mundo afora.

    Vivemos um guerra mundial, via proxies. E isso é um fato. E a crise do capitalismo aumentou o canibalismo ocidental e a aceleração de um neocolonialismo. África e América Latina são as regiões mais vulneráveis. O Brasil é um pato gigante bobo.

    Inside Job, False Flag, Deep Sate e perseguição a blogues são realidades já discutidas abertamente nos EUA e no mundo. Tudo isso mostra que o que era teoria da conspiração virou fato consumado e caminhamos para algo muito pior.

    O ocidente rico nunca foi tão audacioso, frente a ausência de forças contrárias.

     

    1. atentado em Londres

      Como argumentar factualmente em prol das teorias conspiratórias? Sem essas argumentações temos um conjunto de inferencias que podem ou nao ser verdadeiras… COm isso, ao inve´s de constribuir coma formação de opinião, termina por confundi-la ainda mais…

  2. Muito estranho: o que Lula fazia na cena do crime em Londres…

    Muito estranho: o que Lula fazia na cena do crime em Londres…

    …, mesmo que através de seus advogados? Hummmm…

    Vai que é tua, Moro.

  3. “Nos dois últimos anos, a

    “Nos dois últimos anos, a Europa sofreu centenas de ataques islamitas. Tradução: mais de 300 mortos, mais de 800 feridos. O que permite concluir que, mesmo para cabeças em avançado estado de putrefacção, começa a existir a arrepiante possibilidade de que podia – e ainda pode – ser com elas.”

    http://www.cmjornal.pt/opiniao/colunistas/joao-pereira-coutinho/detalhe/perder-a-piada?ref=HP_opiniao

    Sempre que a Europa sofre um atentado, existe uma espécie de reflexo gastrocólico que produz as pérolas conhecidas. Podem ser apelos lancinantes para ninguém ceder à ‘islamofobia’; pode ser uma sessão de autoflagelação pelos crimes do Ocidente (desde as Cruzadas); ou então uma mistura de ‘condenação’ e ‘compreensão’. Os criminosos e as suas vítimas não passam de um detalhe. Curiosamente, ainda não encontrei estas pérolas depois de Westminster. O que se compreende. Nos dois últimos anos, a Europa sofreu centenas de ataques islamitas. Tradução: mais de 300 mortos, mais de 800 feridos. O que permite concluir que, mesmo para cabeças em avançado estado de putrefacção, começa a existir a arrepiante possibilidade de que podia – e ainda pode – ser com elas. E ninguém quer ficar mal na foto se o azar tirar o retrato. Bons tempos, esses, em que o terrorismo era só uma promoção de carreira.

    Ler mais em: http://www.cmjornal.pt/opiniao/colunistas/joao-pereira-coutinho/detalhe/perder-a-piada?ref=HP_opiniaoSempre que a Europa sofre um atentado, existe uma espécie de reflexo gastrocólico que produz as pérolas conhecidas. Podem ser apelos lancinantes para ninguém ceder à ‘islamofobia’; pode ser uma sessão de autoflagelação pelos crimes do Ocidente (desde as Cruzadas); ou então uma mistura de ‘condenação’ e ‘compreensão’. Os criminosos e as suas vítimas não passam de um detalhe. Curiosamente, ainda não encontrei estas pérolas depois de Westminster. O que se compreende. Nos dois últimos anos, a Europa sofreu centenas de ataques islamitas. Tradução: mais de 300 mortos, mais de 800 feridos. O que permite concluir que, mesmo para cabeças em avançado estado de putrefacção, começa a existir a arrepiante possibilidade de que podia – e ainda pode – ser com elas. E ninguém quer ficar mal na foto se o azar tirar o retrato. Bons tempos, esses, em que o terrorismo era só uma promoção de carreira.

    Ler mais em: http://www.cmjornal.pt/opiniao/colunistas/joao-pereira-coutinho/detalhe/perder-a-piada?ref=HP_opiniaoSempre que a Europa sofre um atentado, existe uma espécie de reflexo gastrocólico que produz as pérolas conhecidas. Podem ser apelos lancinantes para ninguém ceder à ‘islamofobia’; pode ser uma sessão de autoflagelação pelos crimes do Ocidente (desde as Cruzadas); ou então uma mistura de ‘condenação’ e ‘compreensão’. Os criminosos e as suas vítimas não passam de um detalhe. Curiosamente, ainda não encontrei estas pérolas depois de Westminster. O que se compreende. Nos dois últimos anos, a Europa sofreu centenas de ataques islamitas. Tradução: mais de 300 mortos, mais de 800 feridos. O que permite concluir que, mesmo para cabeças em avançado estado de putrefacção, começa a existir a arrepiante possibilidade de que podia – e ainda pode – ser com elas. E ninguém quer ficar mal na foto se o azar tirar o retrato. Bons tempos, esses, em que o terrorismo era só uma promoção de carreira.

    Ler mais em: http://www.cmjornal.pt/opiniao/colunistas/joao-pereira-coutinho/detalhe/perder-a-piada?ref=HP_opiniao

  4. Asiático

    Perdão, mas o sujeito era, etnicamente, asiático. Ou o Paquistão fica  porventura na África, Oceania?

    Parei de ler aí.

    Os  britânicos se referem, corretamente, aos Indianos, chineses  e uzbeques também como  asiáticos. Os israelis, porém, não.

    1. Perdão, mas o texto não opõe

      Perdão, mas o texto não opõe “asiático” a “muçulmano”.

      Apenas indica a ordem cronológica da caracterização do autor do atentado, primeiramente “asiático” – mais genérica – e, posteriormente, “muçulmano” – mais específica.

      É pena que tenha parado de ler aí.

      Agiu exatamente da forma que “eles” querem.

  5. Mais um excelente texto

    Mais um excelente texto “pós-mentira” do Wilson, elucidando mais um evento pós-verdade nestes tempos lobotomizados…

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