Brecht e a queima do café no Brasil, por Jota A. Botelho


Cartão postal em alemão mostra uma cena da queima do café em Santos (Kaffeeverbrennung in Brasilien). Ao lado, cartaz nos EUA com o subtítulo da tradução inglesa ‘Whither Germany?’ e o nome do teatro da Filadélfia de sua exibição (ca. 1933)

Brecht e a queima do café no Brasil

por Jota A. Botelho

O filme Kuhle Wampe oder Wem gehört die Welt, ou simplesmente Kuhle Wampe, mostrado nos EUA como Whither Germany? e intitulado no Brasil como A Quem Pertence o Mundo?, teve suas cenas finais dirigidas por Bertolt Brecht onde ele mostra um debate político entre os passageiros de um trem sobre a queima do café ocorrida no Brasil nos anos 1930, bem como a situação econômica da Alemanha e o futuro político do mundo, sendo finalizada com uma canção de luta e esperanças entoada pelos trabalhadores desempregados numa Berlim mergulhada no caos da Grande Depressão. Estas cenas, por mostrarem vários grupos sociais distintos, podem ser interpretadas como uma síntese da sociedade alemã da época, ainda bastante dividida quanto às suas posições políticas, antes de cair de vez no colo dos nazistas. 

https://www.youtube.com/watch?v=fjN6JmSmihQ align:center
BERTOLT BRECHT E O FILME KUHLE WAMPE (Alemanha, 1932)


Fotogramas do filme Kuhle Wampe.

      O filme foi quase todo ele dirigido pelo búlgaro Slatan Dudow, que estudou a montagem de Eisenstein, baseado em roteiro original co-escrito por Bertolt Brecht, música de Hanns Eisler, e com o impacto realçado pela fotografia em preto e branco de Gunther Krampf. 

     Kuhle Wampelançado em 1932,  foi o primeiro – e último –  filme alemão do período a expressar um ponto de vista abertamente comunista no último ano da República de Weimar. Milhares de esquerdistas se ofereceram como extras para as cenas de multidão.

     O filme conta a história de uma família berlinense de desempregados que, em vez de voltar-se para o nazismo, encontra conforto ao unir-se com outros cidadãos sem trabalho na periferia da cidade, onde encontra esperanças participando de um festival de esportes patrocinado por sindicalistas radicais.

     A história começa com o desesperado irmão de Anni, que não consegue encontrar emprego e é pressionado por seu pai Franz Bönke, que também está desempregado. Ele se suicida e logo sua família é despejada do apartamento por falta de pagamento do aluguel. O namorado de Anni, Fritz, os ajuda a mudar para o campo de férias Kuhle Wampe, que se transformou em acampamento de sem-tetos nos arredores de Berlim. Quando Anni fica grávida, Fritz promete se casar com ela, mas cancela o compromisso na festa de casamento. Anni então aborta e volta para Berlim, onde ela encontra trabalho com outros jovens numa associação que promove esportes.

    Kuhle Wampe ou A Quem Pertence o Mundo? mostra a difícil vida da classe trabalhadora numa Berlim na época da Grande Depressão, evitada no Brasil por Getúlio Vargas, com a Revolução de 30, que propiciou a mudança da política econômica, sobretudo pela queima do café para estabilizar seu preço no mercado internacional. Ainda assim, a plutocracia paulista tentou derrubá-lo em 1932, pelo conjunto de transformações introduzidas no seu governo praticamente tirando o país da roça. Esse provincianismo antinacional e golpista da casa-grande paulista permanece até os nossos dias. É impressionante a vulgaridade e o blefe desses patrimonialistas que propaga aos quatro ventos a importância do trabalho na realização pessoal e é contra o TRABALHISMO. Justamente aqueles que defendem verdadeiramente a valorização do trabalho. 

   Quanto ao filme, aqui ele é mostrado com apenas 68:36 minutos, mas de acordo com informações do IMDb, a versão original tem 80 minutos de duração, enquanto que a versão alemã censurada tem 76 minutos, e a versão americana de 71 minutos. Portanto, vê-se que o filme foi mutilado em quase uma sexta parte de sua duração.

    Naturalmente, o filme foi banido com a ascensão de Hitler ao poder em 1933, por insultar o III Reich, não sem antes ter sido censurado pelos religiosos, em 1932, por causa das cenas de seminudez. É uma pena que Kuhle Wampe tenha se tornado apenas uma nota de rodapé para a história do cinema, pois em nenhum outro filme a teoria estética e política de Brecht foi tão bem dramatizada e iluminada. 

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Fontes:
Harvard Film Archive / IMDb / Texto de A. F. Ramos – Bertolt Brecht e o cinema alemão dos anos 1920   
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Jota Botelho

2 Comentários

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  1. Brecht….

    Nada como um dia após o outro. A Verdade vos libertará. Nada como ler a Esquerdopatia Tupiniquim, para defender sua ideologia arcaica e apodrecida,  defendendo um Ditador tomando o poder de forma ilegítima com o uso de armas, matando estudantes, cidadãos e urnas democráticas que levavam o país à transformação social produzida a partir da industrialização, universidades e economia paulista, que foi interrompida há quase 1 século e nunca mais chegou ao Brasil. Getúlio Vargas e  Esquerdopatas explicam muito do nosso país. Com um Imposto Sindcal Obrigatório, o tal Ditador comprou por quase 1 século, o silêncio de Sindicatos. Quem se vende mostra que não tem valor algum, mas explica muito deste Brasil de 2017.   

    1. Eu também odeio o G. Vargas, pois ele acabou com o Integralismo.

      Se o Ditador Getúlio Vargas não tivesse derrotado o Integralismo, o Plínio Salgado teria tornado o Brasil uma nação tão moderna quanto a Alemanha ou a Itália.

      O Getúlio Vargas foi um atraso para o Brasil.

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