É necessário comemorar um Dia do Homem?

Recebi ontem um educado pedido de um dos meus leitores (“Aê, seu panaca comunista, quero ver se tem coragem de…”) para que escrevesse algo sobre o Dia do Homem no Brasil, comemorado neste 15 de julho.

Antes de mais nada, devo confessar que não fazia a mínima idéia da existência de tal data. Até porque, como todos sabemos, hoje também é o aniversário da primeira conquista de Jerusalém pelos cruzados, da adoção da Marseillaise como hino francês, da criação da primeira unidade do Alcoólicos Anônimos e, é claro, da fundação do glorioso Uberaba Sport Club.

E de início estranhei, acostumado à importância histórica do 8 de março, dia simbólico de resistência feminina contra os nossos desmandos (e dia de despejar comerciais de TV para comprar cosméticos e afins). Celebrar um dia de orgulho gay faz sentido, de orgulho hétero não muito (com exceção do que pensam fanáticos religiosos e desocupados em geral), pois o segundo grupo – detentor do poder – não sofre a opressão que o sofre primeiro no momento de se afirmar como possuidor de direitos. Pelo contrário, a opressão parte dele. O homem precisa de uma data sendo que já puxou para si todo o calendário?

Uma das principais justificativas para o Dia do Homem (que internacionalmente é celebrado em 19 de novembro) é boa, contudo: alertar para os riscos à nossa saúde. Lembremos que o sentimento de invencibilidade masculino encurta a vida (“Eu sou fodão! Nada me atinge!”) e o orgulho de macho besta (“Prefiro morrer do que deixar alguém enfiar o dedo onde não é bem-vindo!”) leva mais cedo à sepultura. Então, campanhas nesse sentido nunca são demais e, por esse viés, a data faz sentido.

Mas também há um componente deste dia que diz respeito a promover uma relação justa entre gêneros. Dessa forma, a data torna-se momento de reflexão sobre o que temos feito para encurtar as distâncias entre os direitos das mulheres no papel e o que elas conseguem realmente conquistar na prática após transpor as barreiras impostas por nós.

Da adoção do nome de família do companheiro (escrevi um texto sobre isso nesta semana e choveram mensagens de gente que passou pelo constrangimento de mudar seus nomes para não gerar um crise), passando por não sofrer violência sexual num vagão de trem, vestir-se como quiser sem ser chamada de vadia, ganhar a mesma remuneração que o homem ao exercer função equivalente até ter autonomia para decidir o que fazer com seu próprio corpo.

Muitas mulheres são vítimas de violência doméstica, enfrentam jornadas triplas (trabalhadora, mãe e esposa), não têm a mesma liberdade que os meninos quando pequenas – que dirá conduzir livremente sua vida, pressionadas não só por pais e companheiros ignorantes mas também por uma sociedade que vive com um pé no futuro e o corpo no passado. A qual todos nós pertencemos e, portanto, somos atores da perpetuação de suas bizarrices. Discutimos muito sobre as mudanças estruturais pelas quais o país tem que passar, citando saúde, educação, transporte, segurança, mas esquecemos dos problemas ligados aos grupos que sofrem com o desrespeito aos seus direitos fundamentais. Que não conhecem classe social, cor ou idade. Como as mulheres que são maioria – e minoria.

Mas alguém pode reclamar: Pô, japa, mas é Dia do Homem ou Dia da Mulher? Considerando que o causador de determinado problema também pode ser parte da solução, eu é que pergunto: faz diferença?

http://bit.ly/pSsnNG


Redação

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