Carta ao pai
Pai,
Sua luta final também foi exemplar.
Apesar da conjuntura adversa, você soube manter a dignidade. Mostrou a todos nós a importância da vida. E consumiu seus últimos momentos nos ensinando a ser mais perseverantes, generosos, presentes, serenos e inteligentes.
Lembro-me sempre de sua indignação diante de tanto horror esculpido no mundo diariamente. Sobram alienados. Mas sua reação sempre destoava dos insensíveis que estão no planeta como se fossem autômatos.
Os aproveitadores ficarão felizes com sua partida. Talvez por acreditarem que o sistema de injustiças e hipocrisias sociais alimentados por eles agora tenha um opositor gabaritado a menos.
Não compreenderão jamais, pai, que sua determinação e seu empenho em posicionar-se contra esse modelo produziu muito mais oponentes. Quiçá essa nova safra seja tão boa quanto a sua.
Você sabe, pai, que contou na vida com uma companheira singular, generosa, presente! Na reta derradeira, então, ela excedeu em tudo o que se pode esperar de uma esposa. O que nos faz entender que nós temos muitas possibilidades. Mas é preciso estar presente, doar-se quando necessário. Porque às vezes não haverá outra oportunidade.
Os transtornos em seu percurso pareciam multiplicar-se sem trégua. Com fibra e energia redobradas, você respondia às intempéries da vida.
Hoje também sou pai. E reconheço muitas semelhanças.
Quem aprendeu pode aproveitar.
Quem quiser aprender pode perguntar.
Quem não entendeu, calma, ainda tem tempo. Observe o que há de mais relevante na vida. Aí estará pronto para aprender a viver com amor, generosidade e compaixão. Nunca é tarde.
Com carinho.
Agenor Bevilacqua Sobrinho
PS. Experiência das mais delicadas e prazerosas. Não tem manual e aprendemos a pilotar em pleno voo. Às vezes, acertamos, não é mesmo?
Que todos saibamos ser bons pais. Obrigado e grande abraço!
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