Mudam os tempos, e hoje em dia se sabe, em tempo real, as transformações que ocorrem no mundo. Nos anos 20 o mundo também atravessava um processo de transformações profundas. O sistema educacional nem de longe tinha condições de acompanhar o que ocorria. É nesse quadro que o “Tesouro da Juventude” cumpriu papel essencial na formação de gerações e gerações de brasileiros, dos anos 20 aos anos 70, não apenas trazendo novidades tecnológicas, como descobertas científicas, novos hábitos, novos conceitos..
Aprendi a ler no Thesouro da Juventude, assim mesmo com “th”, da W. M. Jackson Editores, edição de 1925, com prefácio de Clóvis Bevilacqua. Era de meu avô Issa. Contava os minutos para chegar à farmácia do meu pai, subir as escadas externas que davam no andar de cima, onde morava vovô. Corria para a estante, tirava um volume, abria no chão forrado por um cobertor, e ficava de bruços devorando as páginas e as ilustrações a bico de pena.
Na “Introducção”. Clóvis Bevilacqua indicava a obra para “meninos, adolescentes e homens do povo que teem sede de saber”. Os editores definiam-no como uma enciclopédia popular, “um livro acerca de tudo para todos e especialmente para os jovens”.
Eram 18 volumes, todos contendo uma seqüência de temas. A primeira gravura do primeiro tomo era uma pintura do sistema solar, com astros de todos os tamanhos e trens se lançando ao espaço para alcançá-los. Um trem expresso, correndo a 1.600 km por minuto poderia dar a volta ao mundo em menos de vinte dias, dizia o texto. Mas levariam 177 anos para chegar ao sol.
De cara, éramos apresentados à nossa insignificância, passeando por todas as lições de “O Livro da Terra”. Em seguida, se entrava em “O Livro da Natureza”, que tratava especificamente da vida nos animais e das plantas. Uma página colorida, finamente ilustrada, mostrava “os seres mais interessantes da terra”, dos conhecidos, águia, gaivota, gavião, leopardo, aos menos votados sariguéa, python, maçarico e buccinum.
Depois, pelo “O Livro de Nossa Vida”, destinado a desvendar a maravilha da humanidade. Havia “O Livro do Novo Mundo”, que tratava desde os homens primitivos, até à construção da América, e “O Livro do Velho Mundo”, falando das antigas civilizações, com amplo relato sobre a China, sobre o seu isolamento que tirou-lhe a noção de progresso, e de como, pouco a pouco, voltava a se abrir para o mundo.
Em um período de grandes inovações, as invenções eram tratadas no capítulo “Cousas que Devemos Saber” e as curiosidades em “O Livro dos Porquês”.
Meu tema predileto eram os “Homens e Mulheres Célebres, Nobres Vidas, Nobres Feitos”. Marco Pólo inaugurava o primeiro tomo da coleção. Depois, abordava-se a criação da famosa Escola de Sagres em Portugal, e os navegadores portugueses.
Menos épico, mais infantil, era “O Livro dos Contos”, estreando com “Sindbad o Marinheiro”, e um bico de pena magnífico mostrando “A Ave Gigantesca e o Homem do Mar”.
Uma parte que não me interessava muito, dada minha invencível falta de habilidade para trabalhos manuais era o “Cousas que Podemos Fazer”, que ensinava desde a fazer uma caixa de madeira até a cortar o cordel mágico.
E aí se entrava em outro dos meus temas prediletos, “O Livro das Bellas Acções, Heroes e Heroínas do Mundo”. A primeira história era “Irmãs pelo Sangue e pelo Heroísmo”, narrando um capítulo familiar da resistência portuguesa contra a invasão espanhola no século 17. Depois, “O Sacrifício do Padre Damien”, um belga que partiu para as Ilhas dos Mares do Sul para cuidar de leprosos.
Voltava-se para a literatura, com “O Livro da Poesia, o Bello Mundo dos Poetas”, com “O Gigante Adamastor”, trecho dos Lusíadas. Depois, a “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias, uma das paixões da minha infância. E “Manhã em Petrópolis”, de um certo José Maria Amaral, que “se não é dos maiores poetas brasileiros, ocupa um lugar muito honroso na nossa história literária”. Acho que houve alguma proteção em sua inclusão.
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Adoravamos essa coleçao, eu e
Adoravamos essa coleçao, eu e meus 6 irmãos .
Ate hoje ela esta conosco.
Apesar dos meus 33 anos de
Apesar dos meus 33 anos de vida a minha infância foi também marcada pelo Thesouro da Juventude, tenho esses livros até hoje, longe de mim mas estão lá. Os meus foram editados em Portugal (não vendo, não troco nem dou).
Relembrando alguns textos hoje eu percebo um pouco de racismo em alguns textos mas como fonte primária de cultura do século XIX eles cumpriram o seu papel por alimentar as fantasias de uma criança relativamente solitária com seus contos medievais e a cultura de outros povos (em um livro o yogurt é tratado como uma coisa étnica). Eu posso estar enganado mas lá também eu li que a televisão não tinha futuro e que o homem nunca pisaria na lua.
Li seu artigo e sem
Li seu artigo e sem comentários,CHOREI!!Passou-se por minha memória todas as páginas do meu “TESOURO DA JUVENTUDE”que ganhei no meu aniversario de 7/9/62.Minha mãe era muito rigida,eu não podia muito ir para a rua,então o meu “TESOURO” foi meu companheiro de VIAGENS E SONHOS E CONHECIMENTO”CHOREI DE NOVO!!!!!!!!!!!!!
Cresci também “imerso” nas
Cresci também “imerso” nas páginas do “lendário” O Thesouro da Juventude, bem como em outras publicações nascidas no final dos anos 60 e início dos 70 (pelo menos aqui no Brasil): Conhecer e Barsa. Ambas amigas de muitas pesquisas escolares.
Devo a todas elas grande parte de meu conhecimento geral.
Ai que saudades que eu tenho
Ai que saudades que eu tenho da aurora de minha vida….
Minha mãe não se conforma até
Minha mãe não se conforma até hoje com o fato de haver sumido um volume da coleção.
Eu me divertia mesmo era com OS TRÓPICOS, já que podia copiar, rabiscar, sem levar bronca e umas palmadas.
Nassif,
Caramba Nassif !
Nassif,
Caramba Nassif ! Voce tirou do meu baú uma cena que eu já havia muito esquecido …
Nassif,
Ótima rememoração.
Nassif,
Ótima rememoração. Aconteceu-me quase o mesmo. Era já “O Tesouro da Juventude” na edição de 1950 e também pertencia ao meu avô. E a secção “Coisas que podemos fazer” também não me serviu de muito. Por outro lado, lembro-me perfeitamente de “As Aventuras do Barão de Münchhausen”, com todas aquelas ilustrações absurdas (a do cavalo partido ao meio, por exemplo, com a água que bebia esvaindo-se devido à falta da parte de trás. Salvo o ar às vezes meio rococó do estilo (claro que não sabia o que era “rococó”, mas notava um excesso de tons solenes), pergunto: por que não se lança algo parecido hoje em dia? Pelo que sei dos meus sobrinhos e dos filhos dos meus amigos, iriam adorar, pois, apesar da Internet, Play Station etc., conteúdo continua a atrair a atenção e o interesse das crianças. a) Joaquim Dantas.
Nassif
Depois de um certo
Nassif
Depois de um certo tempo, percebemos que o Tesouro da Juventuda, além de um livro que qualquer jovem dos anos 60, ou melhor, um a cada dez, curioso pesquisou, marca uma época em que o descobrir significava muito. A década de 60 foi cheia disso. Tinha Júlio Verne no lvro, David Niven no cinema e A volta Ao Mundo Em 80 dias sedimentada em duas formas. Malba Tahan com seu Homem Que Calculava não mostrava só as curiosidades da matemática, mas nos alertava para falha na interpretação das proporções. Mas fomos incompetentes para frear toda essa avalanche que separou nossos filhos disso tudo. Assim:
O homem da rua
Fica só por teimosia
Não encontra companhia
Mas pra casa não vai não
Em casa a moda ja mudou
Que a moda muda
A roda é triste, a roda é muda
Em volta lá da televisão…
(Chico Buarque)
Por mais chato que pareçamos aos filhos numa época, mais tarde nos procuram para deixar algo a deixar aos deles. Sempre dá tempo de recomeçar.
Uma das maiores fontes de
Uma das maiores fontes de prazer da minha infância e adolescência, o “Tesouro da Juventude” (no meu caso, já escrito sem o “Th”) me ajudou a construir um “eu-curioso” que até hoje vive em busca de fontes culturais que a ele se igualem.
Atualmente, na Internet (fonte imensa de informações), faltam critérios (como a clareza da linguagem e a coesão e coerência entre as idéias apresentadas) que, na maioria dos casos me tiram o “prazer” de participar de universos paralelos através da leitura.
Hoje, aos quarenta anos de infância (risos), tive o prazer de ler sua crônica e viajar no tempo. No meu tempo… rebuscando os meus tesouros…
Para finalizar, digo que ainda mantenho minha coleção, exceto pelo volume três que, só Deus deve saber onde foi parar.
Um abraço.
Ainda tenho os 18 volumes
Ainda tenho os 18 volumes dessa coleção notável. Mas eu me lembro de outra, se não me engano “Tesouro Juvenil”, apenas de contos, que minha mãe doou para uma biblioteca escolar. Me lembro de “Expedição aos martírios”, “3 garotos em férias no Rio Tietê”, “O máscara de ferro”, “A guerra de Canudos”, “Plácido de Castro”, e outras. Estou atrás dela para comprá-la…
Meu pai Chico Neto, um
Meu pai Chico Neto, um intelectual perdido nas brenhas do sertão pernambucano do Araripe, tinha a coleção completa. Tempo de criança. No meu Ouricuri, a energia de motor funcionava das 18 às 22 horas. Para continuar a leitura, a gente tinha o candeeiro (candeia, lamparina, para outras regiões do Brasil).
Claro que o Thesouro da Juventude tinha lá seu eurocentrismo, racismo e discriminação entre povos e nações fora da Europa. Mas era leitura estimulante. Depois descobri Monteiro Lobato, e ficava sem entender a cultura tupiniquim com Branca de Neve e congêneres. Depois veio o cinema americanizando minha geração.
Já no Recife, e com tanta anti-cultura nacional, influenciado por colegas do colégio caprichava na leitura de autores norte-americanos e procurava aumentar o vocábulo do gringo, para ser garçom nos Estados Unidos, e depois voltar com grana e casar.
Mas, a leitura de Monteiro Lobato me acordava sobre as coisas do Brasil e a frase do embaixador Graça Aranha (“O Brasil é um deserto de homens”) mexia com meu sentimento de brasilidade.
Aí veio a geração coca-cola do Caetano Veloso e a juventude ficou sem o tesouro para questionarmos e projetarmos esta Republiqueta de Banana no concerto de globalização.
Obrigada por trazer à minha
Obrigada por trazer à minha tarde de domingo, uma das mais belas recordações da minha infância.
Foi nesta coleção que aprendi
Foi nesta coleção que aprendi e tomei gosto pela leitura. Até hoje me sirvo de seus ensinamentos.
Ricardo
Por outro lado, a editora
Por outro lado, a editora Jackson,mateve até a exaustão os direito sobre Machado de Assis,até a sua extinção.Quer dizer: uma geração enriquecida pelo “Thesouro”, e empobrecida pelo seu boicote..
Meu drama com minhas de 8 e 7
Meu drama com minhas de 8 e 7 anos. Já prometi até DVD das Rebeldes se elas lessem ao menos dois capítulos de algum livro do Lobato ou o Tesouro. Até agora, nada.
Nassif,
Tenho 22 anos, e na
Nassif,
Tenho 22 anos, e na minha infância pude contar com uma grande coleção de livros do meu pai, dentre os quais os 18 volumes do Thesouro da Juventude. Eu adorava lê-los , e realmente, minha parte preferida era o “Livro dos Contos”. Obrigada por trazer de volta uma lembrança que me é tão cara! Ótimo texto!
Interessante o texto. Sou
Interessante o texto. Sou também um dos que foram apresentados ao gosto pela leitura nas obras da enciclopedia Thesouro da Juventude. Lembro que aos 12 anos comecei a gostar de ler foleando as fábulas constantes num capitulo desta enciclopedia. Muitas das pesquisas de história solicitadas pelos professores do ensino publico eram compilações desta importante enciclopedia. Gostosas lembranças que certamente não poderão se repetir nestes tempos de internet, mas isto é outra historia. Um abraço.
Nassif, o Thesouro faz parte
Nassif, o Thesouro faz parte das minhas doces recordações de infância… Foi em suas páginas que aprendi palavras de nossa língua que assombravam meus professores quando as usava em minhas “composições”…
Também adorava o Livro dos contos e dos Homens e Mulheres Célebres, do Velho Mundo… bem, gostava de tudo, até do “Cousas que podemos fazer”!!!! Quanto essa enciclopédia enriqueceu minha cultura pessoal!
Não consigo imaginar os jovens de hoje em dia lendo, e com prazer, por exemplo, o “Livro das Bellas Acções”… Seria um deboche só, infelizmente…
Um abraço!
Desculpe-me a chatice, mas me
Desculpe-me a chatice, mas me chamou atenção a velocidade do trem que se lança ao espaço e o tempo que ele levaria para dar a volta na terra. Não li os Thesouros da Juventude, mas li quase tudo do Júlio Verne, inclusive a Volta ao Mundo em 80 Dias. Aí me ocorreu o seguinte: oitenta dias no século XIX e com um trem expresso a uma velocidade de 1.600Km/min, demoraria 20 dias? Alguma coisa está errada…
Vamos as contas, afinal de contas, também li Malba Tahan e o seu O Homem que Calculava (lembro que lia e relia aquela conta dos camelos…): raio da terra (de cabeça, pode estar errado) mais ou menos 6.400Km; circunferência = 2 x Pi x 6400 = ~ 40.000Km. Logo o tempo para dar a volta na terra é de aproximadamente 40.000/1600 = 25 minutos!
Um abraço!
DIANTE DE SEUS C OMENTÁRIOS
DIANTE DE SEUS C OMENTÁRIOS ACERCA DESSE VERDADEIRO TESOURO QUE ME FAZ RECORDAR, SAUDOSO, DE MEU QUERIDO PAI, QUE TAMBÉM BEBEU NAS FONTES DESSA FONTE DE SABERES, QUERO DIZER QUE PUDE, TAMBÉM, CURTIR, EM PEQUENA PARCELA, DESSE MARAVILHOSO MUNDO DO SABER. TUDO ISSO É MUITO GRATIFICANTE.
PAZ,
MARCUS
Pois é Nassif aqui tem mais
Pois é Nassif aqui tem mais um que bebeu nessa fonte. Comecei a gostar de bichos, (dinossauros principalmente) lendo o Tesouro da Juventude (“O livro dos Animais”, se não me engano), coleção deixada por meu falecido tio, no final dos anos 50. Era realmente um tesouro. Um tesouro para a mente dos adolescentes que liam aquelas deliciosas páginas salpicadas com gravuras simples mais vivazes. A cabeça dos jovens vislumbrava cenas, além das gravuras, dada a riqueza dos textos. Hoje, infelizmente, o gosto pela leitura está acabando. Os jovens querem mais é ver imagens, e não imaginar.
VAI AÍ O NOSSO TESOURO DA
VAI AÍ O NOSSO TESOURO DA JUVENTUDE, E DOS BEATLES DE SANTA TERESA, A LIVERPOOL MINEIRA, a saber milton, os borges (Lô, marcio, telo, etc) márcio, beto, tavinho, toninho, murilo, wagner fernando, tavito, e todo clube da esquina.
Tesouro da Juventude
Composição: Tavinho Moura e Murilo Antunes
A pedalar
Camisa aberta no peito
Passeio macio
Levo na bicicleta
O meu tesouro da juventude
Passo roubando fruta de feira
Passo a puxar meu estilingue
Vai pedra certeira no poste
Passa um veterano
E já cansado
Herói de guerra
Grito: Lá vem a bomba!
E meu tesouro me leva
Pelas ruas de Santa Teresa
A pedalar
Encontro amigo do peito
Sentado na esquina
Pula, pega garupa
Segura o bonde ladeira acima
Ganha o meu tesouro da juventude
Ainda que a cidade anoiteça
Ou desapareça
Piso no pedal do sonho
E a vida ganha mais alegria
Ganha o meu tesouro da juventude
Que foi em Pedra Azul
E em toda parte
Onde tive o que sou