Crônica de domingo: O glorioso Clube dos 20 e as Olimpíadas Estudantis

A história aconteceu como eu vou lhes contar.

Na passagem do 1o para o 2o científico o Colégio Marista, de Poços de Caldas, o reitor, irmão Gonçalves Xavier decidiu acabar com o curso. Não conseguiu completar a cota mínima de 15 alunos e Marista não era de rasgar dinheiro.

O Gonça, como era tratado, era figura da minha de frente dos Maristas. Tinha passado pelo Colégio, antes que eu entrasse. Depois fez carreira na provincial da Ordem e agora voltava para substituir o irmão Lino Teódulo.

Quando fui me matricular, o Tenente – que trabalhava na seção de matrículas do Marista – alertou sobre o número 15. Nas férias, eu tinha conseguido um estágio no Diário de Poços, que meu pai negociou com o padre Trajano. Tratei logo de colocar a nota para acelerar as matrículas.

Não conseguimos. O Gonça cancelou o 2º científico e foi de classe em classe acusando um aluno de ter colocado uma nota no jornal que espantou os candidatos.

Fiquei indignado. Na época, a União Municipal dos Estudantes tinha dois programas de rádio: no sábado à noite, na rádio Difusora; no domingo de manhã, na rádio Cultura. Fui nos dois e descasquei a mandioca no irmão.

Quando sai do programa da Cultura e cheguei em casa encontrei minha mãe com olhos vermelhos de lágrimas de emoção. Achei que ia levar uma bronca por ter criticado o irmão. Mas ganhei o olhar coruja dela.

A festa durou pouco. Estávamos em pleno 1966. Na semana seguinte, o Gonça falou com o tenente Hélio que falou com as rádios e acabou com nossos programas.

Aí meu pai foi até São João da Boa Vista e falou com a dona Adélia, diretora do Instituto Educacional Coronel Cristiano Osório de Oliveira. E ela garantiu as matrículas para os deserdados do Marista, já que em Poços não havia outro curso científico, apenas o curso técnico em química do Pelicano.

E lá fomos nós todo dia de ônibus para São João. Éramos 20, alguns do 3º científico.

Chegou a época das Olímpiadas Estudantis, uma parceria da UMES com a Caldense e achei que, como poços-caldenses proscritos, tínhamos direito a participar.

Propus para o pessoal e criamos o glorioso Clube dos 20. Fui eleito presidente e incumbido de organizar a equipe.

Aproveitando certa flexibilidade dos estatutos tácitos das Olímpiadas, tratamos de enxertar com atletas são-joanenses. Na verdade, verdadeiramente falando, tínhamos apenas dois atletas: o Leon Wakalaviak (não deve ser assim que escreve, mas é o que eu lembro), bom de natação; e o Manual Machado de Moraes e o Rafael Sarti, medianos em atletismo.

Nós demais esportes, éramos decididamente fracos. Eu começara a praticar tênis de mesa, teve um tempo em que, junto com o Netinho, o Amilcar Carelli, fomos os melhores de Poços. Mas na época ainda não era.

Nos esportes coletivos, éramos um caos. Mas no basquete havia dois craques em São João, o pivô João Galinha e o armador Dito Seco. O João era o campeão dos três pontos (a cesta com a bala arremessada de fora do garrafão, embora naquela época não houvesse diferenciação de pontos). E o Dito, o campeão dos rebotes.

O primeiro jogo, contra os Padres Oblatos, foi um vexame. No intervalo, um dos padres me chamou no canto e pediu:

– PeloamordeDeus, peça para seus jogadores maneirarem um pouco, pois estão humilhando meus alunos.

Pedi e o João Galinho e Dito Seco contiveram o ímpeto de forma muito cavalheiresca.

O jogo seguinte era contra o Pelicano, o colégio da Maçonaria. Ali era pedreira. O time tinha, entre outros de que me lembro, o Toni, irmão do Boiadeiros, do Afonso Celso, do Paulo Ney e do Laurinho, que era bom atleta. Acho que também o Bertozzi.

O jogo estava para começar quando recebo um telefonema urgente. Eram nossos dois reforços são-joanenses, com o carro quebrado na Divisa. Pediram para eu enrolar que eles chegariam no máximo em uma hora.

Mas aí vem o grande mal dos campeões: a soberba. A minha, particularmente, não tinha nenhum pé na realidade, porque a qualidade do nosso time dependia exclusivamente dos dois são-Joanenses. Mas quis testar nosso potencial e aceitei começar o jogo sem eles.

Nem digo o que aconteceu porque a memória, em consideração aos grandes traumas que passamos na vida, tratou de espanar as lembranças daquela tragédia. Só me lembro que foi um baile só.

Mal terminou o jogo, chegaram os dois são-joanenses. Ao ver o placas e a qualidade do time adversário, o João até desabafou:

– Se tivéssemos chegado meia-noite hora antes, viraríamos esse jogo.

Nem falei nada sobre minha petulância imprudente para não levar uma bronca merecida.

Mesmo assim, terminamos em segundo lugar as Olimpíadas. Fomos bem colocados em natação, atletismo e tênis de mesa.

Mas nada compensou o vexame do último jogo de basquete.

Luis Nassif

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