Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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Curta da Semana: “Action Man: Battlefield Casualties ” – o que acontece depois da guerra?

Por Wilson Ferreira

Crianças brincam com armas e games de computadores militares. Toda essa fetichização das armas e poder impede crianças e adultos de pensarem numa coisa: o que acontece depois da guerra, quando o nosso herói volta para casa? O curta retro-trash “Action Man: Battlefield Casualties ” (2015) propõe um novo brinquedo para as crianças. O herói Action Man convivendo com traumas psíquicos, cadeiras de roda, amputações e paralisia – e eventualmente tentando se matar com os acessórios que vem junto com o kit. A série de curtas, como fosse composta de comerciais de TV do estilo anos 80 (quem não se lembra dos bonecos “Falcon” e “Comandos Em Ação”?), é uma ação de veteranos da OTAN contra o alistamento de menores de idade pelas Forças Armadas da Grã-Bretanha, único país da Europa a alistar jovens de 16 anos. “Action Man” é mais uma deliciosa amostra do impagável humor negro inglês.

De armas de brinquedos a games de computador de guerra, as crianças reproduzem nos jogos o mundo violento dos adultos. Mas elas veem apenas um lado da coisa: a excitação, a adrenalina do jogo, o poder que uma arma dá quando você a tem em suas mãos. Mas os jogos de guerra não brincam no outro lado, nas consequências: traumas psíquicos, ferimentos, incapacidade física, amputações, paralisia etc.

Muito do fascínio dos jovens pelos por carreiras militares ou policiais vem dessa promoção sobre o fetiche do poder e jogo nas guerras e armas. 

Mas na Grã-Bretanha parece ser mais sério: é o único estado na Europa onde o serviço militar alista jovens de 16 anos, política criticada pelo Comitê da ONU sobre os Direitos da Criança.

Uma organização chamada Veteranos Pela Paz (Veterans For Peace –VFP), formada por militares aposentados dos serviços pela OTAN após atuar em cenários de conflito como Afeganistão e Irã, está exigindo mudanças junto ao Ministério da Defesa.

Por isso a VFP está lançando uma série de curtas metragens de humor negro (nada mais britânico) satirizando as consequências de uma guerra em bonecos Action Man, um brinquedo real disponível no mercado para as crianças.

A série chama-se Action Man: Battlefield Casualties (2015) dirigida por Price James.  Aqui vemos três episódios, cada um em situações traumáticas pós-campo de batalha para Action Man.

PTSD Action Man onde o herói tenta bloquear seus traumas psíquicos em sua vida cotidiana com substâncias ilícitas. Eventualmente tenta se matar enforcado!

Paralysed Action Man onde “as pernas realmente não funcionam, sua espinha foi quebrada por um inimigo. Action Man está aleijado e com uma dor constante!”.

E o Dead Action Man com seu corpo feito em pedaços por uma bomba onde a criança terá que identificar quais os pedaços que pertencem ao corpo do herói. Depois de recolhidos, serão colocados em um saco para ser enviado de volta para a pátria… ou ser enterrado em qualquer lugar – uma pequena pá vem como acessório.

Aliás, Action Man vem acompanhado de diversos acessórios como muletas, corda para a criança enforcar o Action Man, garrafinhas para o herói se embebedar e cartões de crédito para o desesperado herói desfilar as carreiras de cocaína, cadeira de rodas…

Ainda mais hilário é o seu estilo retro-trash dos anúncios de TV dos anos 80, como se estivesse em um intervalo comercial de TV. Lembra os velhos comerciais do Falcon, “o herói de verdade” ou do “Comandos Em Ação”. 

Action Man: Casulties Battlefield faz parte da seleção de curtas do festival SXSW desse ano em Austin, Texas. O curta foi exibido na Inglaterra em restrito circuito exatamente no Dia das Forças Armadas, no ano passado.

O curta resultou numa franquia onde os bonecos satíricos Action Man podem ser adquiridos por colecionadores amantes da estética retro-trash – veja no site da VFP, clique aqui.

Walter Benjamin e os brinquedos

Cinegnose já abordou esse tema do brinquedo e violência em uma postagem sobre o “Roma Tático Blindado”, praticamente uma réplica dos “caveirões” do BOPE do Rio de Janeiro – sobre isso clique aqui.

>>>>>Continue lendo no Cinegnose>>>>>>>

Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

2 Comentários

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  1. Sensacional

    A gente é fruto do meio e do tempo. Então, não dá para fugir disso quando falamos da infância. O Action Man foi um dos meus brinquedos preferidos quando era menino. Ele era um produto licenciado da Hasbro norte-americana (G.I.Joe) pela britânica Palitoy. Era extremamente detalhado (levando-se em consideração a época – década de 1960), mas o que mais chamava a atenção para mim eram os minicatálogos que vinham com o boneco e/ou os equipamentos. Ainda não assisti ao documentário, mas as fotos que ilustram esta matéria imitam direitinho as fotos dos catálogos, além das caixas onde vinham os bonecos.

    Eram horas e horas imaginando os mais diversos cenários (a maioria de guerra, mas muitos envolvendo operações de resgate de civis). Alguns anos depois, na década de 1970, a Estrela licenciou esse boneco, que aqui se chamou Falcon. Também tive um (ou dois) Falcon(s). Lembro que brincava sozinho ou com amiguinhos durante horas sem jamais me entediar. Não precisava de TV, não existiam videogames, computadores nem tablets. Quer dizer, era tudo o que toda a criança faz, usar os elementos que têm às mãos e uma boa dose de imaginação.

    Uma coisa que achava fascinante no Action Man era que a data de fabricação vinha estampada na parte de baixo das costas, e o meu era um ano mais velho do que eu! Outra, também interessante era que as articulações internas eram feitas com elásticos de tecido branco, mas que, nos locais onde se prendiam a peças metálicas, acabaram ficando enferrujados (a gente colocava o boneco até debaixo d’água – havia, inclusive, equipamento de mergulho). O Falcon, por ser mais moderno, usava articulações internas de borracha, o que evitava a ferrugem.

    Sei que o tema é mais sério, mas, no meio desta guerra que estamos vivendo, é importante a gente poder relaxar um pouco e lembrar da infância.

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