Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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Curta da Semana: “El Empleo” – o emprego que te espera no futuro, por Wilson Ferreira

por Wilson Ferreira

Com mais de 100 prêmios na sua trajetória em festivais, o curta de animação argentino “El Empleo” (2008) é uma produção bem oportuna para os tempos atuais em que vivemos onde o melhor remédio prescrito para a crise econômica e o desemprego são eufemismos como “terceirização”, “empreendedorismo” etc. O curta é o paroxismo da situação atual: para gerar emprego uma sociedade parece consumir a si mesma –  pessoas começam a assumir a função de objetos cotidianos em “inovadoras” formas de “prestação de serviço”: a mulher-cabide, o homem-abajur e assim por diante. Um curta surreal e tragicômico, mas que dá muito no que pensar. Curta sugerido pelo nosso leitor A.Lex.

Em tempos de crise econômica, desemprego e, o que é pior, tempos nos quais o remédio prescrito para todos os males é a chamada “flexibilização do trabalho” (terceirização, “jornadas intermitentes”, empreendedorismo etc.) assistir ao curta argentino El Empleo (O Emprego, 2008), de Santiago Grasso e Patricio Plaza, é oportuno. Não é exatamente tranquilizador, mas dá muito no que pensar.

O curta já arrematou 102 prêmios e faz uma crítica sobre o destino do trabalho sob o Capitalismo de uma forma inteligente e sucinta nos seus sete minutos. Ao contrário de muitas produções sobre o mesmo tema que se perdem no cunho ideológico do protesto, El Empleo tem uma narrativa fluida, simples que acaba prendendo nossa atenção, mas sem perder o engajamento político e poético.

A reflexão direta que o curta faz sobre as relações de trabalho na atualidade vai muito além da visão tradicional cujo ícone é Charlie Chaplin em Tempos Modernos: a alienação do trabalhador na linha de montagem industrial, os movimentos repetitivos, o esgotamento físico e nervoso etc.

Capitalismo Cognitivo

A reflexão de Chaplin naquele filme clássico era dos tempos do capitalismo industrial, das relações tradicionais entre Capital e Trabalho marcadas pela exploração da chamada, em termos marxistas, “mais-valia” seja absoluta (exploração pelo alongamento de horas de trabalho) ou relativa (a intensidade do trabalho no mesmo número de horas).

El Empleo já está em outro cenário de transfiguração do capitalismo – o chamado “Capitalismo Cognitivo” do trabalho precarizado no qual o desemprego é o outro lado da moeda do trabalho. Condenados a serem “empreendedores de si mesmos”, os antigos trabalhadores terão que precarizar cada vez mais seus ofícios. A “criatividade” e “inovação” para buscar novos nichos de ofertas de serviços convergirá para formas inéditas de precarização e jornadas absurdas de trabalho.

O Curta

O curta nos apresenta uma sociedade que, para criar novos “empregos”, canibaliza-se em absurdas ofertas novas de serviços: seres humanos ocupam o lugar de objetos como novos e surreais serviços – cabides de roupas, carros, abajur, sinal de trânsito, capachos (aqui um tragicômico trocadilho das relações de poder no trabalho) etc.

O curioso é que essa reflexão crítica radical só poderia vir de uma produção audiovisual feita num país como a Argentina, cuja economia vive eternamente em crise desde os tempos do peronismo, ditadura militar, as experiências neoliberais dos anos 1990. a precarização dos serviços públicos pelas privatizações e a atual fase de mais crise econômica, desemprego e greves gerais de protesto.

Argentina ainda possui resistente cultura de influência europeia que enfrenta heroicamente a americanização midiática (bem diferente do Brasil que rapidamente capitulou à hollywoodinização das produções da TV Globo), cujas ideias de “inovação”, “modernização”, “flexibilização” são sempre consideradas como intrinsecamente boas – obscurecendo a verdadeira natureza de eufemismos ideológicos para dourar a pílula da crescente brutalização do cotidiano.

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Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

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