Dominguinhos e os vaqueiros, por Bruno Garcia

Enviado por JNS

do Blog do Diretor

Os Vaqueiros, por Bruno Garcia

Estamos a caminho de Exu pra fazermos o plano de abertura. Temos uma equipe bastante grande para os meus padrões que sempre foram de equipes de no maximo 3 pessoas. Neste caso temos algo em torno de 10 pessoas viajando juntas.

A minha sensação é de sempre ter estado viajando num carro muito ágil que se precisa pode virar em segundos 180 graus.

Aqui não. Tudo envolve mais dinheiro, mais pessoas e me sinto num navio que só faz curvas longas e abertas.

De qualquer forma estamos já próximos a Serrita, no final de tarde, quando avistamos um grupo de vaqueiros parado na beira da estrada. Eu estou na caminhonete com Dominguinhos e o resto da equipe está numa Van.

Peço pra Domiguinhos parar e já saio com a câmera. O Rinaldo que está fotografando em super 16 sai rápido. O João Godoy também. Vejo que fica uma expectativa na cabeça dos vaqueiros, já cheios de cana na cabeça, se aquele homem parado é Dominguinhos.

Pergunto se eles o conhecem , um deles diz que conhece e pergunta a Dominguinhos se ele ainda toca sanfona.

São homens vestidos com gibão e toda a parafernália exigida por um vaqueiro pra tocar o gado na catinga inclemente. Estão chegando de uma missa do vaqueiro, mas não a famosa em homenagem a Raimundo Jacó. Outra. Temos a nítida sensação de estarmos vivendo em outro tempo. Estes sertanejos viveram totalmente isolados do resto do Brasil até meados da década de 30. São homens rudes, marcados pelo clima hostil e por um tipo de vida bastante difícil no meio da catinga. A catinga não se parece com nada que possamos ter visto nas nossas vidas de sulistas. É um mato seco, espinhoso e muito denso. Andar a pé na catinga é difícil e estes homens andam com seus cavalos a galope por espaços que inexistem, fazendo movimentos improváveis. Alguns se cortam , outros passam lisos. Um destes homens visivelmente tem uma liderança sobre os demais. É um corcunda, que no meio da catinga, eu fui ver tempos depois, é o próprio Corisco.

Este homem, repentinamente começa um aboio e todos nós permanecemos atônitos diante daquela cena que parecia estar saindo de plena idade média. Um outro, bastante embriagado responde ao aboio e os dois começam um diálogo musical falando do sertão, de Luiz Gonzaga, de Dominguinhos e da vida com uma voz que saía não se sabe de onde, com uma doçura incrível. Dominguinhos está observando com seu olhar tranqüilo. Estou gravando, O Rinaldo está filmando e todos tentam registrar o máximo possível daquele instante tão mágico. De repente ouço a sanfona de Dominguinhos. Ele havia pedido pra alguém busca-la no carro, põe seu chapéu de vaqueiro branco e começa a improvisar junto com o aboio.

Aos poucos a sanfona toma corpo e eu lá gravando aquilo tudo sem acreditar no que estava acontecendo. Numa felicidade de quem vê os milagres acontecerem. O milagre da música que conta tudo de um tempo sem nenhuma explicação.

Quem são aqueles homens?

E para eles, quem éramos nós?

Tanto faz. Nenhum deslumbramento, porque um homem desses jamais se deixa deslumbrar. Dominguinhos aos poucos se solta toca para eles, eles fumam e observam tranqüilos. Ao final todos tocam seus berrantes se despedindo, Dominguinhos fala “Fiquem com Deus”.

Voltamos para os nossos carros, agradecidos e partimos. Dominguinhos no carro comenta.. isso é a verdadeira arte. Nos encontramos e naturalmente tudo se fez… foi realmente inesquecível

https://www.youtube.com/watch?v=8QBgqVkBG6U width:700 height:394

Redação

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    1. Retratos da Vida

      Mayra Andrade, a lindeza de Cabo Verde

      Yamandú: “Dominguinhos é a pessoa, que tem a ligação mais direta, que eu conheço, com a Deusa Música.”

      Hamilton de Holanda + Dominguinhos + Yamandu Costa Mayra + Andrade + Djavan

      [video:http://youtu.be/jbiwC4LPWwA width:600 height:450]

      “Os ventos que às vezes tiram algo que amamos, são os mesmos que trazem algo que aprendemos a amar…

      Por isso não devemos chorar pelo que nos foi tirado e sim, aprender a amar o que nos foi dado, pois tudo aquilo que é realmente nosso, nunca se vai para sempre…”

      [video:http://youtu.be/kEvOON-4enU width:600 height:450]

    1. Isso é a verdadeira arte

       

      “O milagre da música que conta tudo de um tempo sem nenhuma explicação.”

      Por ser de lá/ Do sertão, lá do cerrado/ Lá do interior do mato/ Da caatinga e do roçado

      Com o Mestre Dominguinhos

      “Eu quase não sei de nada, sou como rês desgarrada, nessa multidão, boiada caminhando a esmo.”

      Temos a nítida sensação de estarmos vivendo em outro tempo. Estes sertanejos (…) são homens rudes, marcados pelo clima hostil e por um tipo de vida bastante difícil no meio da catinga.

      (…) repentinamente começa um aboio e todos nós permanecemos atônitos diante daquela cena que parecia estar saindo de plena idade média. Um outro, bastante embriagado responde ao aboio e os dois começam um diálogo musical falando do sertão, de Luiz Gonzaga, de Dominguinhos e da vida com uma voz que saía não se sabe de onde, com uma doçura incrível. Dominguinhos está observando com seu olhar tranqüilo. (…) o milagre da música que conta tudo de um tempo sem nenhuma explicação.

      Dominguinhos aos poucos se solta toca para eles, eles fumam e observam tranqüilos. Ao final todos tocam seus berrantes se despedindo, Dominguinhos fala “Fiquem com Deus”.

      Dominguinhos no carro comenta:

      “Isso é a verdadeira arte. Nos encontramos e naturalmente tudo se fez… foi realmente inesquecível.”

      [video:http://youtu.be/LV09kQlGxHU width:600 height:450]

      Créditos: Trecho do relato enviado por Bruno Garcia, com imagens publicadas no blog de Sérgio Roizenblit, o diretor do filme “O Milagre de Santa Luzia”, com inserção de vídeos do YouTube.

      Fonte: https://sergioroizenblit.wordpress.com/tag/dominguinhos/

      1. Homem

         

        Inútil definir este animal aflito.
        Nem palavras,
        nem cinzéis,
        nem acordes,
        nem pincéis
        são gargantas deste grito.

        Instalação MoMA Chuva quarto aleatória Internacional

        Universo em expansão.
        Pincelada de zarcão
        desde mais a menos infinito.

        António Gedeão

  1. Pajeú na 2ª Guerra Mundial

     

    Cabra da peste do sertão do Pajeú revela como botou Hitler prá correr

    Adolf Hitler: “Quando maior a mentira, maior é a chance de ela ser acreditada.”

    Mãe, conhece esse soldado

    de capacete amarelo

    e perreira avermelhada?

    Sou eu dando uma brigada

    num tal de Monte Castelo

    e o bode deu no cabrito.

    Já prendi tanto inimigo

    que só quem sabe sou eu

    Ontem, quase eu pego Hitler,

    mas o danado correu

    no momento que me viu

    Desapareceu, sumiu

    Mas, mãe, eu prometo a tu:

    quando eu pegá-lo indefeso

    Ele vai sentir o peso

    dum cabra do Pajeú

    Chuva em Pesqueira muda paisagem e anima agricultores

    Pra ninguém acreditar que é tudo mentira, o grande poeta Chico Pedrosa

    “cantou a pedra” e a “valentia” do enfezado caboclo pernambucano.

  2. Teddy Vieira

     

    Um dos Mais Brilhantes Compositores da Nossa Música Sertaneja

    Teddy Vieira, praticamente, “criou” a dupla Tião Carreiro e Pardinho em 1956, quando era o diretor da gravadora Columbia.

    Do Recanto Caipira | Sandra Cristina Peripato

    Sertanejo Raiz - Anos 50, ascensão da música Caipira nas rádios de todo Brasil

    Teddy Vieira, Anacleto Rosas Jr, Ado Benatti e Arlindo Pinto.

    Grande compositor e diretor artístico de gravadoras como a Columbia (depois CBS), Continental e Chantecler, que contribuiu, decisivamente, para a consolidação da carreira de muitos artistas sertanejos.

    Esta é a gravação original de Menino da Porteira, com Luizinho e Limeira e Teddy Vieira arrebentando na viola.

    [video:http://youtu.be/rXoJVTLSt7g width:600 height:450]

    Teddy Vieira de Azevedo nasceu em Itapetininga, interior do estado de São Paulo, em 23 de dezembro de 1922.

    Considerado um dos mais bem-sucedidos compositores caipiras. Ao terminar o curso primário, em sua cidade natal, transferiu-se para São Paulo.

    Aos 18 anos escrevia versos caipiras e em 1948 teve suas duas primeiras músicas gravadas, pela dupla Mineiro e Manduzinho: “Preto De Alma Branca” (com Lauripe Pedroso) e “João-De-Barro” (com Muibo Cury), em etiqueta particular. 

    [video:http://youtu.be/kdykuyrfqvc width:600 height:450]

    “João-de-Barro” teve inúmeras regravações, algumas de um grande sucesso (como a de Sérgio Reis, em 1974, pela RCA).

    O cururu “O Menino da Porteira” (de Teddy Vieira e Luizinho), um dos clássicos caipiras, foi gravado por Luizinho, Limeira e Zezinha em 1955 na RCA Víctor.

    Teddy consagrou-se como compositor com essa gravação.

    [video:http://youtu.be/k0d8u1XkuMw width:600 height:450]

    Teddy Vieira era subtenente do Exército, da Reserva, e nas horas vagas, compunha aquelas modas de viola, cururus, toadas e ritmos, que marcaram sua passagem por este mundo.

    Em 1956 Teddy Vieira passou a ser diretor-sertanejo da Colúmbia, depois CBS, criando então a dupla caipira Tião Carreiro e Pardinho, que obteve rápido sucesso com “Cavaleiros de Bom Jesus” (de Teddy Vieira, João Alves e Nhô Silva).

    [video:http://youtu.be/ysOTccAiPFQ width:600 height:450]

    No mesmo ano, Moreno e Moreninho gravaram na Colúmbia, o cururu “Treze de Maio” (de Teddy Vieira, Riachão e Riachinho).

    [video:http://youtu.be/48IdgHWEfeQ width:600 height:450]

    Ainda em 1956 lançou em discos a dupla Zico e Zéca, com composições que marcaram época, como “A Enxada e a Caneta” (parceria com Capitão Barduíno).

    [video:http://youtu.be/6reAkHjIZIE width:600 height:450]

    Em 1958 Teddy Vieira mudou para a Chantecler, com o cargo de assessor do diretor artístico da gravadora (que era o Palmeira). Em 1962, após a saída de Palmeira da Chantecler, Teddy trabalhava como assistente artístico.

    Contudo, não deixou de compor, e suas músicas continuavam sendo grandes sucessos.

    Em 1964, por exemplo, “Bandeireiro do Divino” (feita em parceria com Alves Lima), gravada por Tonico e Tinoco, foi um dos maiores sucessos da gravadora.

    [video:http://youtu.be/QmHmv5MRrFI width:600 height:450]

    Foi indiscutivelmente, em seu tempo, o maior nome da composição sertaneja.

    Até hoje, suas músicas são muito executadas e continuam fazendo sucesso, como é o caso de “O Menino da Porteira” e “João-de-Barro”.

    [video:http://youtu.be/hP1yY42u9u0 width:600 height:450]

    Em 1957 casou-se com América Risso e deste casamento nasceu seu único filho, Teddy Vieira de Azevedo Filho.

    Teddy Vieira era de Itapetininga, mas seu lugar preferido foi Buri, onde ia descansar e fazer suas caçadas e pescarias.

    E foi numa dessas viagens à Buri, que Teddy veio a perder a vida em 16 de dezembro de 1965 num trágico acidente automobilístico.

    Também vieram a perder a vida neste acidente o cantor Paulo Queiroz e os Irmãos Divino.

    Teddy Vieira colaborou decisivamente para o surgimento de muitos artistas sertanejos como Leôncio e Leonel, Zico e Zéca, Liu e Léu, Vieira e Vieirinha, Sulino e Marrueiro, Mineiro e Manduzinho, Zilo e Zalo, Waldomiro e Waldemar, entre outros.

    Leôncio e Leonel | Zico e Zéca

    liu_leu_01 

    Liu e Léu | Vieira e Vieirinha

    Sulino e Marrueiro  | Zilo e Zalo

    Mineiro_e_Manduzinho

    Mineiro e Manduzinho | Palmeira e Luizinho

     Tião Carreiro nasceu em Montes Claros no dia 13 de dezembro de 1934 e faleceu em São Paulo, 15 de outubro de 1993. Foi um cantor brasileiro de música Sertaneja de raiz; de modo que muitas duplas são influenciadas por sua música.

    Criado numa fazenda nos arredores de Araçatuba/SP, começou a tocar violão ainda pequeno, com 8 anos de idade, quando também já cuidava do arado e dos afazeres na roça.

    Aprendeu a tocar Viola na adolescência, praticamente sozinho, sem nunca ter tido um professor. Isto porque em 1950, com apenas 13 anos, Tião Carreiro trabalhava no Circo Giglio, onde já cantava em dupla com seu primo Waldomiro da dupla Palmeirinha e Coqueirinho.

    O dono do circo dizia que “dupla de violeiros tinha que tocar viola” enquanto que na época, Tião tocava violão. No mesmo ano, o mesmo circo apresentava em Araçatuba a dupla Tonico e Tinoco. E enquanto os irmãos estavam no hotel, Tinoco havia deixado sua viola no circo e Tião aproveitou para “decorar a afinação escondido”.

    Monumento “Menino da Porteira” em Ouro Fino, Minas Gerais.

    Créditos:

    As informações gerais foram recolhidas no Recanto Caipira, Saudade Sertaneja e Viola Viva entre outros, com imagens da Internet e inserção de vídeos do YouTube.

  3. Boiadeiro Errante

     

    Arte:

    Ivonaldo

    Uê boi
    Deixei Minas Gerais
    Com destino a Goiás, uê, uê, uê, boi

    Ivonaldo1

    Toque o berrante com capricho Zé Vicente
    Mostre para essa gente o clarim das Alterosas

    O meu cavalo corre mais que um pensamento
    Ele vem num passo lento porque ninguém me espera

    Deixa o meu gado passar vou cumprir com a minha sina
    Lá na baixada quero ouvir a siriema
    Pra lembrar de uma pequena que eu deixei lá em Minas

    Ela é culpada, uê, uê, uê, boi
    Eu viver nas estradas
    Uê boi
    Ela é culpada, uê, uê, uê, boi
    De eu viver nas estradas

    [video:http://youtu.be/Ry2Br7X03mE width:600 height:450]

  4. Pessoa

     

    É dia de o ficar

    Chove. É dia de Natal.
    Lá para o Norte é melhor:
    Há a neve que faz mal,
    E o frio que ainda é pior.

    sala de chuva no MoMA 10

    E toda a gente é contente
    Porque é dia de o ficar.
    Chove no Natal presente.
    Antes isso que nevar.

    North na chuva

    Pois apesar de ser esse
    O Natal da convenção,
    Quando o corpo me arrefece
    Tenho o frio e Natal não.

    sala de chuva no MoMA 12

    Deixo sentir a quem a quadra
    E o Natal a quem o fez,
    Pois se escrevo ainda outra quadra
    Fico gelado dos pés.

    Imagens:  The Museum of Modern Art, New York

    Rain Room | EXPO 1 at MoMA | 12/05/2013 – 28/07/2013

    http://random-international.com/exhibitions/rain-room-expo-1-at-moma/

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