Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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“Epic Fail”: quando o deserto do real implode os algoritmos das redes sociais, por Wilson Ferreira

por Wilson Ferreira

Greg Barth é um cineasta que em seus curtas e vídeo clips musicais combina, em estilo único, minimalismo com surrealismo. Premiado em 2014 no Festival de Cannes, no recente trabalho chamado “Epic Fail” (2017), Barth apresenta um honesto insight sobre como a atual tecnologia da informação distorce a realidade política e social por meio de verdadeiras realidades alternativas criadas pelos algoritmos das redes sociais. Lugares falsamente tranquilizadores porque filtram apenas aquilo que fortalece o que já pensamos. Em “Epic Fail” faz uma sátira disso ao imaginar um cenário no qual a paz mundial foi colocada em votação. Enquanto os comentaristas da TV têm um discurso pouco confiável como fake news, nas redes sociais reina a indiferença, aversão à política e a busca por mais “likes” e “seguidores”. Até o momento em que ocorre uma “Falha Épica”.

O cineasta suíço, e atualmente trabalhando em Londres, Greg Barth foi mais um daqueles que ficaram chocados não só com o Brexit como também com a vitória de Donald Trump na eleição presidencial dos EUA: “foi o ano que percebi o quão somos divididos como pessoas”, diz Barth explicando a premissa do seu mais recente curta metragem chamado Epic Fail (2017). 

Contando com um visual altamente estilizado e surreal com muitos adereços retro (há uma mistura de diferentes épocas – roupas e uma interface Mac dos anos 1980, carros dos anos 1960 combinados com smartphones), o curta figura como a política é discutida nas mídias sociais e o quão problemática é a percepção que os usuários nos ambientes digitais. 

“O algoritmo do Facebook e Google nos faz relacionar apenas com pares que ajudam a fortalecer nossas opiniões ao invés de desafiá-las. Por isso, meus círculos das redes sociais eram lugares falsamente tranquilizadores durante o período dos votos do Brexit e Trump”, disse Barth em uma entrevista. “Sem perceber, eu estava navegando em uma espécie de realidade alternativa on-line. Acho ao mesmo tempo horrível e fascinante”, finalizou.

Epic Fail ainda apresenta outros subtemas como as fake News (vemos um canal de notícias confuso e duvidoso), uma plataforma Smilebook que proíbe usuários de publicar postagens negativas, a compulsão de usuários em acumularem “likes” para crescerem nas redes sociais, a desconexão entre as notícias e os eleitores e entre a política e os jovens eleitores.

 

O Curta

Epic Fail descreve um cenário onde a paz mundial está submetida a votação pública em uma espécie de plebiscito global. Dependendo do resultado, dois líderes apertarão suas mãos ao vivo em uma transmissão diretamente da ONU, selando um inédito acordo internacional. 

Vemos uma transmissão de TV ao estilo Fox News duvidoso em sua confiabilidade. Ouvimos as vozes dos apresentadores Bob, Linda e Richard que acreditam que o resultado será facilmente a favor da paz mundial, enquanto observamos o score relacionado ao emoji do smile crescendo. Mas observamos millennials descontentes com a política, outro jogando basquete totalmente alienado com o evento histórico e um usuário mais interessado em conseguir aumentar o número de seguidores nas redes sociais.  

Somado ao visual retro-moderno e o colorido de fortes contrastes em tons cítricos, parece que estamos em uma espécie de realidade alternativa: jovens usuários e os comentaristas políticos da TV com seu tom ufanista e fake parecem o tempo inteiro desconectados da realidade.

Assistimos também manifestações de rua nas grandes capitais do planeta. A transmissão da TV parece se concentrar unicamente nos manifestantes favoráveis ao acordo da ONU, considerado como “histórico”.

 

O estilo dos comentaristas da transmissão televisiva é o mesmo dos canais de notícias conservadores com a técnica “clickbait” – termo pejorativo associado à caça por cliques para aumentar a receita de publicidade on-line por meio de manchetes sensacionalistas às custas da qualidade e precisão da informação.

Tudo parece que vai bem no mundo “amigável” dos jornalistas e redes sociais até que ocorre um “Epic Fail”. Algo assim como Donald Trump ter vencido as eleições presidenciais enquanto os comentaristas políticos da TV olhavam perplexos os números dos seus infográficos. Bem vindo ao deserto do real!

E nos créditos finais podemos acompanhar um making of  da produção e do tempo investido nos efeitos do curta, principalmente a impactante sequência final das centenas de emojis saindo da tela do computador e atingindo o rosto de um usuário.

O deserto do real e a “Falha Épica”

Epic Fail sugere uma visão irônica a respeito de como o avanço tecnológico em comunicação e informação paradoxalmente nos distancia cada vez mais do “deserto do real”.  Desde as reflexões de Umberto Eco sobre a perda da transparência da TV nos anos 1980 (a “Neotevê” era uma televisão que abdicara a pretensão de ser uma janela aberta para o mundo para falar apenas de si mesma – sobre isso clique aqui) até as discussões atuais sobre as Fake News, acompanhamos essa ironia na qual a expansão de canais e dispositivos de comunicação resultou em efeitos inversos: incomunicabilidade, desconexão e negação.

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Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

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