Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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Fantasma do Gnosticismo ronda CERN: para pesquisadores Universo não deveria existir!, por Wilson Ferreira

por Wilson Ferreira

Quanto mais a Ciência se distancia do antigo modelo mecanicista de Universo, curiosamente mais se aproxima da antiga Cosmogênese do Gnosticismo e da mitologia grega na qual mesmo o poderoso Zeus estava submetido às leis do Senhor do Tempo – Cronos. Pesquisadores do CERN perplexos afirmam: o Universo não deveria existir! Sem conseguirem encontrar assimetria entre matéria e anti-matéria, os pesquisadores atestam que o Universo deveria ter se auto-aniquilado no segundo seguinte à Criação após o Big Bang. Ao mesmo tempo, cientistas do Instituto Max Planck na Alemanha chagaram a dados relativos à energia interna de um buraco negro que inesperadamente confirmam a hipótese do Universo Holográfico – em algum lugar nos limites do Universo existiu uma superfície 2D que “codificou” toda a informação que descreve a nossa realidade 3D + Tempo. A improbabilidade do Universo seria mais uma evidência do cosmos ser uma simulação finita? 

O leitor deve já ter ouvido falar no filme Fenda no Tempo (1995), adaptação para a TV de Tom Holland do livro de Stephen King chamando “The Langoliers”: um grupo de dez passageiros em um voo de Los Angeles a Boston acorda e descobre que os outros passageiros e tripulação desapareceram, não sabem mais para onde estão voando e não têm mais qualquer contato nem visual e nem de rádio com o solo.

Acabam pousando em um aeroporto vazio e sentem-se como os últimos sobreviventes da Terra. Para mais tarde descobrirem que estão em um limbo interdimensional em alguma fração do tecido do tempo entre o passado e o futuro. E devem fugir dali, antes de serem devorados por monstros do Tempo vindos do passado – dessa forma o Tempo anda para frente, num fluxo em que o presente é devorado por monstros para se tornar passado. O Tempo consome a si mesmo – desculpe pelos spoilers, mas será por uma boa causa…

Duas notícias de recentes descobertas no campo da microfísica e astrofísica parecem sugerir algo análogo a essa misteriosa narrativa de Stephen King. 

 

Um Universo improvável

Pesquisadores do CERN, na Suíça, fizeram recentemente medidas mais precisas da força magnética de prótons e antiprótons e descobriram que eram exatamente as mesmas. Apenas com sinais trocados de carga positiva e negativa. Matéria e antimatéria seriam simétricas!

Os pesquisadores usaram uma câmera antimatéria para armazenamento e uma “armadilha Penning” (um recipiente cilíndrico que captura partículas carregadas), mantendo a antimatéria extremamente fria por 405 dias, tempo suficiente para fazer as medidas do momento magnético. E a medida em magnéton nuclear (μN) foi de -2,7928473441. A exata medida do próton, mudando a penas o sinal negativo.

Para o físico Christian Smorra do Symmetry Experimental Baryon-Antibaryon do CERN, isso significa que o Universo NÃO deveria existir, colocando em xeque o modelo cosmológico do Big Bang: se a explosão primordial criou quantidades iguais de matéria e antimatéria, tudo deveria ter se aniquilado mutuamente. Então, por que ainda continuamos aqui?

Perplexo, Smorra afirma: “tem que existir alguma assimetria, em algum lugar. Simplesmente não entendemos onde está a diferença entre matéria e antimatéria que justifique a existência do Universo” – clique aqui     

Muitos começaram a especular que essa descoberta corrobora com a hipótese do Universo como um gigantesco holograma ou as teses do filósofo Nick Bostrom ou de Rich Terrile da NASA de que o universo seria uma gigantesca simulação computacional – sobre isso clique aqui.

 

Buracos negros holográficos

Principalmente depois dessa outra notícia: cálculos da energia interna de um buraco negro bateram com a hipótese do Universo holográfico.

Publicado na revista Physic Review Letters em 2016 com o título “Horizon Entropy from Quantum Gravity Condensates” (Daniele Oriti, Daniele Pranzetti e Lorenzo Sidoni do Max Planck Institute for Gravitational Physics da Alemanha e Scuola Internazionale Superiore di Studi Avanzati, Itália), por meio de simulações computacionais de alta precisão, os pesquisadores calcularam a energia interna de um buraco negro e a energia interna de um cosmo sem gravidade (que é parte fundamental do modelo de Maldacena de Universo Holográfico). Os dois cálculos bateram.

Em outras palavras, ao usarem a gravidade quântica, os cientistas construíram um modelo de buracos negros cujos cálculos indicaram que esses misteriosos objetos podem ser hologramas! Isso significa que, embora se acredite que os buracos negros tenham três dimensões, eles podem ser projeções bidimensionais.

Um holograma é uma imagem de três dimensões impressa num suporte de duas dimensões. Falar que o Universo é holográfico, não significa evidentemente que somos todos desenhos animados vivendo em um mundo sem profundidade.

Bem diferente disso, significa que toda a “informação” que compõe e descreve a nossa realidade 3D, além do tempo, está contida em uma superfície 2D nos limites desse Universo.

 

“Imagine que tudo que você vê, sente e ouve em três dimensões (e a sua percepção do tempo), de fato emana de um campo plano bidimensional. A ideia é semelhante à dos hologramas comuns, onde uma imagem tridimensional é codificada em uma superfície bidimensional, como no holograma em um cartão de crédito. No entanto, neste caso, todo o universo está codificado!” explica o professor Kostas Skenderis, da Universidade de Southampton, no Reino Unido.

Universo holográfico, Relatividade e Quanta 

Essa hipótese foi corroborada com análises recentes do micro-ondas de fundo cósmico – a “radiação cósmica de fundo” tida pela teoria do Big Bang como um eco remanescente da explosão primordial. 

A equipe liderada por Skenderis fez um mapa dessa radiação de fundo, cujo resultado foi a conciliação da Relatividade Geral de Einstein com a Teoria Quântica – o Universo teria passado por uma “Fase Holográfica” na qual essa superfície 2D foi “codificada” e o espaço e tempo ainda não estavam bem definidos – e onde se aplicavam as teorias de campo quântico. Mais tarde, passou para a fase geométrica (a imagem em 3D + Tempo) que pode ser descrita pelas equações de Einstein.  

E nessa fase “geométrica” atual do Universo, podemos encontrar a “assinatura” fractal desse gigantesco holograma: as “cordas” (modelo físico onde a partícula como base da física é substituída pela noção de “cordas”: blocos fundamentais extensos e unidimensionais) e os pixels do universo.

 

Cosmogênese Gnóstica na Física atual?

Este Cinegnose vem acompanhando nos últimos anos como as recentes descobertas experimentais e hipóteses formuladas por matemáticos, filósofos e físicos cada vez mais fazem lembrar a cosmogênese narrada pela mitologia gnóstica: o cosmos material como a criação de uma falsa divindade conhecida como Demiurgo –  um Universo que tentou emular a Plenitude (Pleroma) mas que resultou em algo paródico e imperfeito – regido pela entropia, caos e destruição.

>>>>>Continue lendo no Cinegnose>>>>>>>

Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

11 Comentários

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  1. Colapso explicacional

    “Para o físico Christian Smorra do Symmetry Experimental Baryon-Antibaryon do CERN, isso significa que o Universo NÃO deveria existir, colocando em xeque o modelo cosmológico do Big Bang: se a explosão primordial criou quantidades iguais de matéria e antimatéria, tudo deveria ter se aniquilado mutuamente. Então, por que ainda continuamos aqui?”:

    A questao eh bem bobinha, francamente.  A antimateria JA ESTA incluida na materia, sempre muito, muito abaixo do atomo.

    No anti-codigo SE temos um exemplo de anti simetria, Wilson, lembre se que 1 vai pra esquerda e 0 vai pra direita:

    0  nao se aplica

    1  nao se aplica

    10  =  EE

    11  =  EE

    100  =  EE

    101  =  ESS

    110  =  EEE

    111  =  EEE

    1000  =  EEEE

    1001  =  ESSS

    1010  =  ESSE

    1011  =  ESSS

    1100  =  EEEE

    1101  =  EESS

    1110  =  EEEE

    1111  =  EEEE

    Onde a simetria esta severamente quebrada em relacao ao codigo SE.  Voce chega aa conclusao que “ao fim da eternidade” o codigo SE fica escrito…  ao contrario!

    Isso vale como exemplo?  Vale.  Posso fazer exatamente a mesma coisa com o codigo primo, agora em um plano pra voce ver de onde veio o valor negativo:

    1111111111…

    1010101010…

    1101101101…

    1010101010…

    11111011110…

    1000101000…

    1111110111…

    1010101010…

    1101101101…

    1010001010…

    So que a multimplicacao de todos os primos no proprio codigo primo eh igual aa raiz quadrada de menos 1.

    Reescrevendo a mesma coisa, exceto dobrada;  ao invez de um quarto de plano, um meio plano:

    1010001010

    1101101101…

    1010101010…

    1111110111…

    1000101000…

    11111011110…

    11111011110…

    1010101010…

    1101101101…

    1010101010…

    1111111111…

    1000000000000000000000…

    1111111111…

    1010101010…

    1101101101…

    1010101010…

    11111011110…

    1000101000…

    1111110111…

    1010101010…

    1101101101…

    1010001010…

    Onde a linha “1000000000000000000000…” ja aparece no codigo primo original mas somente na diagonal, onde ela denota uma mudanca de direcao.  (Tecnicamente, esse eh o codigo pro zero tambem, isso eh, 0 tambem tem um unico 1 porque espaco vazio eh materia.  No entanto, ele tambem significa a raiz quadrada de menos 1.  Eh ele que muda o sinal do codigo escrito ao contrario.  So que eh facil provar que o codigo primo “ao fim da eternidade…  termina exatamente como voce o ve acima, isso eh, “ao fim da eternidade, o codigo so fica ao contrario -escrito de baixo pra cima, passa pela multiplicacao de todos os primos e…  comeca de novo!

    Portanto, a anti materia existe sim.  ABAIXO do atomo.  Nao acima dele.  E ela ja esta incluida na propria definicao dos atomos.

    A todo colapso explicacional, la esta a anti materia em forma infima.  Quanto mais perto do “fim da infinidade” voce chegar, mais anti materia vai te cercar e de forma cada vez mais completa.

    Por sinal, voce notou que todo colapso explicacional da lunatica divide dois “mundos” geometricos exatamente simetricos?  So que Lunatica nao eh protonica…  eh neutronica.  Eh o neutron que isola a materia de seus infimos e dismantelados antis, e o faz por ser exata e precisamente simetrico.

    Portanto, a anti materia esta ABAIXO do atomo (diga se proton), muito, muito, MUITO abaixo do atomo.  E nenhuma dela esta faltando, ao contrario do que te disseram os cientistas.

    (Colapso explicacional eh quando voce acha que ja chegou ao “fim da infinidade” suficientemente, sem no entanto descobrir que ja chegou ao meio dela.)

    Sorry about the solipsism.  Eu nunca ajo de outra maneira, ajo?

    1. “lembre se que 1 vai pra

      “lembre se que 1 vai pra esquerda e 0 vai pra direita”:

      Puta que pariu!  Tinha uma piada excelente no codigo SE como eu o apresentei aqui varias vezes.  Ninguem notou ate hoje!!!  Eh que o “estupido” eram os esquerdistas.  O “estupido” era eu!

      Ninguem pescou!!!

      A gente desiste de falar em descobertas, viu?

  2. Paradoxo antigo

    A idéia que o bigbang teria gerado quantidades iguais de matéria e antimatéria é bem antiga. Não sei dizer quando foi formulada, mas tenho certeza de já ter lido sobre isso há muitos anos.

    Lembro também de que a explicação para o suposto paradoxo da existência do nosso universo, composto por matéria, foi a de que, embora a simetria entre matéria e antimatéria tivesse ocorrido, uma infinitésima variação em favor de uma delas já teria sido suficiente para que da aniquilação mútua entre as duas houvesse suficiente matéria para a constituição do nosso universo.

    Não tenho elementos para sustentar ou contrapor a explicação. Observo, apenas, que nada disso me parece novidade.

     

    1. “embora a simetria entre

      “embora a simetria entre matéria e antimatéria tivesse ocorrido, uma infinitésima variação em favor de uma delas já teria sido suficiente para que da aniquilação mútua entre as duas houvesse suficiente matéria para a constituição do nosso universo”:

      Essa explicacao eh uma mera suposicao, Galileu, e esta errada.  Nao existe anti materia acima do atomo pelas razoes explicadas abaixo por mim.  Pode ser um pouco confuso mas eu sei exatamente o que estou falando.  Antimateria so tem detalhes “zoomabeis” quando esta montada, mas ela nao tem condicoes de se montar acima do atomo e so adquire detalhes cada vez mais intricados quando voce examina tudo que esta abaixo do atomo.

      A resolucao da anti materia eh reversamente proporcional aa da materia.

      1. (Reversamente proporcional

        (Reversamente proporcional ATE O MEIO da infinidade, nao “ao”, pois o “meio da infinidade” ja eh colapso explicacional.)

  3. Caro Wilson.  Li o paper dos

    Caro Wilson.  Li o paper dos italianos no Physical Review Letters de 2016. É um trabalho altamente técnico que se fundamenta na Gravitação Quantizada por Anéis de Carlo Rovelli, Abhay Ashtekar e Lee Smolin entre outros, com o apoio de técnicas de fluxo de grupos (grupos de transformação algébricos) e o uso subsequente da entropia de emaranhamento de Von Newmann. Em linhas gerais o trabalho obtém, via métodos ab initio, a entropia no horizonte de eventos de um buraco negro sem a utilização dos métodos semi-clássicos de Bekenstein, Hawking na década de setenta. Parece um importante avanço, entretanto, não me sinto qualificado para detetar eventuais erros que nem os revisores encontraram…É preciso esperar que vários cientistas citem o trabalho para que ele seja incorporado aos marcos fundamentais do avanço científico. Parece abrir uma porta para a conexão com a conjectura de Maldacena, obtida por outro caminho (quantização via super cordas). A hipótese de o Universo, como um todo, estar contido em um buraco negro, decorre da própria Relatividade Geral (pois só observamos objetos que se distanciam até a velocidade da luz) e isto implicaria todas as propriedades daquele.

    Quanto à simetria quase perfeita partícula anti-partícula, é um resultado experimental. Esta coloca mais um dilema no processo de criação (?) do Universo, pois ninguém surgiu com um modelo do que separou as partículas de suas parceiras, ou o que deu um sumiço nessas últimas. O mistério ficou mais denso…

    Não acredito que nossa ciência atual será completamente válida daqui a algumas centenas de anos, que dirá milhares ou milhões…A ciência é uma linguagem e como tal um construto social inserido na evolução histórica da humanidade. Ela é neutra em relação aos propósitos ou não da criação do Universo. Ela só faz perguntas sobre significados e não sobre significantes. No máximo teremos evidências do tipo “smoking gun” sobre o criador e a criação. Ela tanto apoia os que tem fé, quanto os que não a tem. Para mim as evidências oriundas do emaranhamento global de objetos (quânticos) apontam para um Universo que é um TODO.

    Acho que um tema interessante de Sci Fi seria que perguntas faremos nós daqui há quinhentos anos, como Giordano Bruno fez no mesmo tempo atrás. Será que conseguiríamos sequer imaginar que perguntas podem estar fazendo civilizações muito a nossa frente?

    1. Ja passei dessa fase, Mariano!

      “A hipótese de o Universo, como um todo, estar contido em um buraco negro, decorre da própria Relatividade Geral (pois só observamos objetos que se distanciam até a velocidade da luz) e isto implicaria todas as propriedades daquele”:

      Primeiro “Deus” era o sol, depois era uma carruagem de fogo, depois era um cavaleiro, depois era um nao sei que, depois era um relojoeiro, depois era um computador, depois era…  um buraco negro?

      “Deus” ainda esta vivendo no Big Bang.  Pelo menos eu vivo!  Todos nos vivemos, o Big Bang ainda nao acabou!

      Nao tou disposto a aceitar um downgrade para mero buraco negro.

       

       

      Por sinal, Wilson:  o CERN ja tem fotos de varias “particulas” sub quark que pertencem a anti materia e nao aa materia, e ninguem sabe o que elas sao -elas nao tem nem sequer definicao.  Eh elas que provam que eu estou certo e o resto do mundo, errado.

      Pena que eu nao sou fisico.

    2. Quem sabe o universo ou

      Quem sabe o universo ou vários universos não seriam o próprio Deus, o corpo de Deus, e como pertencemos a uma partílcula desse universo seríamos um pedacinho desse Deus. Um pedacinho do corpo de Deus?

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