Marighella sempre foi o inimigo, por Rogério Faria

Para Marighella, seus ideais de igualdade e justiça sempre foram mais valiosos que a própria vida. Por isso, ele sempre foi o inimigo.

Marighella sempre foi o inimigo, por Rogério Faria

Marighella é mais conhecido pela sua fama de inimigo público nº 1 da Ditadura Civil-Militar iniciada em 1964. No geral, é como esse personagem é amado e odiado. Mas sua personalidade combativa luta vem desde sempre.

Com 19 anos, ainda estudante, foi preso pela primeira vez por escrever um poema crítico para Juracy Magalhães, interventor no Governo da Bahia nomeado por Getúlio Vargas. Durante a juventude era reconhecido pelos colegas como uma figura contestadora.

Em 1936 ocorreu sua primeira prisão como militante comunista. Filiado ao Partido Comunista Brasileiro, com 24 anos, havia se mudado para o Rio de Janeiro.

Um ano antes, militares  da Aliança Nacional Libertadora, com participação do PCB, tentaram dar início à revolução. O levante se deu em várias partes do país, até ser reprimido pelo governo de Getúlio Vargas. O episódio ficou conhecido como Intentona Comunista. Como parte da reação estatal, foi decretado estado de sítio. Liberdades e garantias individuais liberais-democráticas foram suprimidas. Começou-se a caça aos comunistas. Estimava-se que o governo havia prendido 15 mil pessoas por motivos políticos.

Quem não estava encarcerado, sumiu. Isso jogou o PCB na clandestinidade e as responsabilidades do partido no colo de novatos como Carlos Marighella. O baiano sobrecarregou-se com atividades como produção e distribuição de material gráfico do núcleo central do PCB.

É nessa condição que, em 1º de maio de 1936, em meio às celebrações do Dia do Trabalhador, ele é preso pela polícia com material subversivo embaixo do braço: o jornal Classe Operária. A partir daí passa a ser torturado para revelar informações valiosas sobre paradeiro de comunistas da alta cúpula, os quais estavam escondidos desde o fracasso da revolução vermelha.

Esse acontecimento é fundamental para conhecer quem vem a ser o guerrilheiro. É a prova de fogo de Marighella, quando ele vai revelar sua tenacidade, argúcia e a lealdade com suas convicções. O suplício vai marcá-lo para o resto da vida. Nunca mais queria passar por aquilo novamente. Nos escritos “Se fores preso, camarada”, o militante vermelho relata como se deu essa prisão e deixa reflexões e conclusões sobre sua condição como comunista.

E é sobre esse episódio, com um consistente trabalho de pesquisa, que o desenhista Ricardo Sousa e eu criamos nossa história original Marighella #LIVRE, em financiamento coletivo no Catarse. Sob ataque cerrado nas redes sociais, que incluem até ameaça de morte, a campanha de financiamento da revista em quadrinhos, a qual contará com textos de Luis Nassif e Socialista Morena, vem avançando com sucesso, mas precisa da união de outros idealistas para uma vitória arrebatadora, e dobrar o número de páginas de quadrinhos.

Para Marighella, seus ideais de igualdade e justiça sempre foram mais valiosos que a própria vida. Por isso, ele sempre foi o inimigo. Sempre foi o terror. Marighella é uma ideia. E uma ideia aterroriza os poderosos, pois ela pode estar presa numa solitária ou ter sido executada há 50 anos, no dia 4 de novembro, na Paulista, mas ainda vive. Ainda inspira.

Redação

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