Morre o compositor Barbeirinho do Jacarezinho, um “produto do morro”, por Augusto Diniz

Barbeirinho do Jacarezinho

Morre o compositor Barbeirinho do Jacarezinho, um “produto do morro”

por Augusto Diniz

O compositor Barbeirinho do Jacarezinho morreu neste domingo (17/12), aos 67 anos, após sofrer um acidente doméstico, batendo fortemente a cabeça, e permanecer dois dias com morte cerebral. O cantor Bezerra da Silva costumava se autodefinir como “produto do morro”. Pois Barbeirinho, que foi um dos que abastecerem Bezerra da Silva com músicas irônicas que ressaltavam a discrepância da exclusão social no País, é também um produto desse morro.

Nascido e criado no complexo do Jacarezinho, na Zona Norte do Rio, onde esteve até a morte, Carlos Roberto Ferreira César, apelidado de Barbeirinho por que era filho de barbeiro, conheceu a fundo a realidade da favela. Um tipo de compositor que Bezerra da Silva chamava de “verdadeiros cronistas da sociedade”.

A primeira música gravada de Barbeirinho foi “Apertar o cinto” (com interpretação de Bezerra da Silva), uma relação ao termo utilizado pelo então presidente militar João Figueiredo para promover mais um arrocho na população. Diz um dos versos da composição: “Há muito tempo que não como carne isso lá no meu barraco já virou tabu / chego na cozinha destampo a panela e dou graças a Deus quando tem angu / tem muito bacana fazendo regime emagrecendo somente por vaidade / mas essa minha magreza falo com franqueza é necessidade.

Foi com frases contrapondo a vida difícil do morro com o asfalto que as composições de Barbeirinho ganharam o público. Bezerra da Silva gravou outros sambas de Barbeirinho, como “Sequestraram minha sobra” (com Rode e Sarabanda) e “Sua cabeça não passa na porta” – nesse caso, composições de humor negro, mas ainda na linha da crônica cotidiana.

Barbeirinho teve músicas gravadas por Arlindo Cruz, Almir Guineto, Dudu Nobre e Zeca Pagodinho. A primeira música de Barbeirinho gravada por Zeca foi “Fiquei amarrado na sua blusinha” (dele com Rode). Segundo o compositor, ele estava com o cantor num bar no Buraco do Lacerda, no Jacarezinho, quando chegou uma menina com ousada roupa. A composição saiu ali desse momento casual.

Zeca Pagodinho veio a gravar outras músicas de Barbeirinho, sendo duas delas em pareceria com Luiz Grande e Marquinhos Diniz, que foram um estrondoso sucesso: “Dona esponja” e “Caviar”. Os três compositores chegaram a criar um grupo, o Trio Calafrio, e lançaram um CD em 2003, repleto de sambas-crônica.

O cantor e compositor Marquinhos Diniz, filho de Mestre Monarco, lamentou a morte do parceiro se dizendo nas redes sociais “numa saudades desses caras que não tem tamanho” – Luiz Grande, seu outro parceiro, faleceu também este ano, em julho.

Barbeirinho foi um nome importante no samba pela ligação que fazia da realidade da favela com as classes mais abastadas, além de sempre ressaltar que como compositor continuava levando uma vida difícil. Deixou 10 filhos. Barbeirinho era presidente da Unidos do Jacarezinho, que desfila hoje na Série B do carnaval carioca.

Redação

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