Na mídia, o velho morreu e o novo ainda não nasceu, por Luis Nassif

A Internet arrebentou com tudo, arrebanhando publicidade nacional, classificados e customizando seus anúncios para que acompanhassem os leitores para onde eles fosse.

Ocorre um processo curioso na mídia norte-americana, com algum reflexo sobre a brasileira.

A década de 90 marcou a última etapa do jornalismo impresso. No Brasil e nos Estados Unidos, nunca os grupos jornalísticos ganharam tanto.

Essa abundância levou a uma despreocupação com as mudanças que vinham a caminho, no rastro das novas mídias. Rapidamente, o modelo de negócio tradicional da mídia entrou em parafuso. Consistia em uma fórmula simples. A publicidade nacional – produtos de consumo – ficava com as redes de rádio e televisão e com veículos de alcance nacional. Os veículos regionais disputavam o mercado de classificados e do comércio loca.

A Internet arrebentou com tudo, arrebanhando publicidade nacional, classificados e customizando seus anúncios para que acompanhassem os leitores para onde eles fosse.

Ao mesmo tempo, a crise das democracia gerou um período de entorpecimento das redações. O extraordinário poder financeiro e ideológico dos grupos financeiros entorpeceram o jornalismo, fazendo com que perdesse o pulso do que acontecia no mundo real.

No caso do Brasil, resultou na implantação de um jornalismo de ódio, que fez com que a mídia perdesse o papel de mediadora de debates e passasse a atuar pesadamente em defesa dos negócios da privatização, inclusive comandando o impeachment de uma presidente da República.

Nos EUA, crises sucessivas mostraram o esgotamento da retórica de mercado, ampliou-se o fosso social, mas as redações entraram em parafuso. De um lado, com a ampliação da crise dos veículos. De outro, com a incapacidade de raciocinar sobre o novo normal e de captar as novas expectativas da opinião pública.

Lá e aqui, os abusos do trumpismo e do bolsonarismo, mais episódios bombásticos – como o assassinato de negros pela polícia – trouxeram à tona novas ondas a impulsionar a opinião pública, especialmente um esgotamento em relação ao discurso de ódio praticadona última década e uma indignação em relação à violência institucionalizada.

É nesse quadro que se processam as mudanças nos comandos das principais redações dos jornais americanos.

Hoje em dia, a questão da sucessão do comando afeta o The Washington Post, New York Times, Los Angeles Times, Reuters, Wired, Vox, Huffpost. Ouvido pelo The Washington Post, John Harris, fundador do influente Politico, sintetizou o momento: “Quando a indústria da mídia de notícias estava mais estável, era mais fácil fazer uma transição ordenada”. Mas em um momento de “fluxo extraordinário” para a mídia, “acho que você está vendo todas essas organizações de notícias enfrentando uma demanda por uma nova liderança que é muito diferente do que enfrentariam há 10 ou 20 anos”.

O primeiro grande problema foi a perda da atração do jornalismo, depois que a crise impôs duros cortes às redações e aos salários. Os jornalistas mais promissores abandonaram o jornalismo.

O grande choque, identificado por Norman Peralstine, que acaba de deixar o cargo de diretor executivo do Los Angeles Times, é que os movimentos de protesto em 2020 migraram da rua para as redações. Demandas como igualdade de gênero, de raça, conquistaram a opinião pública midiática. Mas as redações continuam impenetráveis às políticas de inclusão.

Em outubro passado, o Media Guild of the West, que representa jornalistas do Los Angeles Times, instou a empresa a buscar candidatos de fora da redação, mais sensíveis às novas perspectivas.

Nikki Usher, professora associada da Universidade de Illinois que estuda a indústria de notícias, disse que os jornais precisam começar a procurar locais não tradicionais – podcasts, startups digitais, rádio ou televisão. “Pessoas que subiram a escada de uma organização de notícias e ganharam certos prêmios – esse é realmente um modelo de sucesso de contratação. Mas, resumidamente, as organizações de notícias são bastiões da branquidade e não houve muito movimento [há muito tempo]. ”

No Brasil o problema é mais grave. A pesada guerra cultural imposta pelos grupos de mídia, a partir de 2005, embotaram a criatividade e a iniciativa dos jornalistas. Criou-se uma nova geração trabalhando em cima de limites muito estreitos para o desenvolvimento de sua personalidade jornalística. Enfrentar opiniões estabelecidas se tornou arriscado. A garantir de uma carreira nas redações acabou condicionada à obediência cega a manuais tácitos de opinião, que acabam pasteurizando e simplificando a opinião ao nível de slogans rasos sobre temas complexos.

À mídia brasileira cabe o mote de Gramsci: o velho morreu e o novo está longe de nascer. O que se tem é uma proliferação de blogs, jornais alternativos, influenciadores, cada qual atuando para sua própria bolha, sem criar massa crítica capaz de mudar o status quo.

Luis Nassif

4 Comentários

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  1. No Brasil o problema é mais grave. A pesada guerra cultural imposta pelos grupos de mídia, a partir de 2005″

    “A partir de 2005”?!

    Aí….

    Um pequeno exemplo: quem viu o que foi feito com o Brizola aqui no Rio, desde o começo dos anos 80, não tem razão alguma pra de surpreender. Quero ver alguém tirar da cabeça da maior parte da população a ideia de que Direitos Humanos são pra “proteger vagabundo”.

    Não adianta fingir, a coalizao, o conluio de “liberais” e fascistas é ORGANICO. Enquanto TEIMAREM em amputar os meios de comunicação dos modelos de analise politica e social, já era, a democracia vai estar sempre um passo atrás.

  2. No Brasil o problema é mais grave. A pesada guerra cultural imposta pelos grupos de mídia, a partir de 2005″

    “A partir de 2005”?!

    Aí….

    Um pequeno exemplo: quem viu o que foi feito com o Brizola aqui no Rio, desde o começo dos anos 80, não tem razão alguma pra se surpreender. Quero ver alguém tirar da cabeça da maior parte da população a ideia de que Direitos Humanos são pra “proteger vagabundo”…

    Não adianta fingir, a coalizao, o conluio de “liberais” e fascistas é ORGANICO. Enquanto TEIMAREM em amputar os meios de comunicação dos modelos de analise politica e social, já era, a democracia vai estar sempre um passo atrás.

  3. Luis Nassif pra mim o melhor e mais completo jornalista em atividade. Precisamos muitos “Luises Nassifs” nas redações dos jornais brasileiros. Vida longa ao GGN e GGNTV !!!

  4. Ás vezes não sei se é sério o discurso nas Matérias apresentadas pela Mídia Brasileira. Neste Veículo também. Comparar o Brasil com EUA? Parafraseando a Mulher de Trump no divórcio, se havia ficado com raiva? “- Não fiquei com raiva. Fiquei com tudo !!” A Imprensa NorteAmericana não é a Brasileira. Ela ficou com tudo !! Parem de ser tão diminutos nas suas observações. A INTERNET NORTEAMERICANA ficou com tudo. Grupos de Capital e Desenvolvimento Tecnológico fizeram o que estão fazendo naquele país há mais de 1 século. Reinventando Produtos. Reinventando Mercados. Reinventando Verdades. Reinventando a História. Reinventando Empregos. Reinventando O Capitalismo, Reinventando o Capital. Reinventando Empresas. Qual Setor foi engolido por estas Novas Empresas e Novas Plataformas Industriais? A IBM?!! Algum Jovem sabe quem foi a IBM? A Imprensa NorteAmericana ficará onde sempre esteve. Nas mãos norteamericanas. A IMPRENSA BRASILEIRA, primeiramente destruída pelo Lacaio Censurador da Imprensa Marron e Manchetes Chapa Branca do Ditador Fascista, um tal Assis Chateaubriand, abrirá num segundo momento a continuidade da desgraça e destruição das Estruturas Nacionais Brasileiras como a Imprensa, doando este Setor Estratégico para AT&T NorteAmericana via Grupo Globo com a criação da Rede Globo de Televisão, a partir de outro Lacaio do Fascista, num tal Governo Juscelino Kubitscheck, entre os anos de 1950/60. A desgraça se segue até as PRIVATARIAS do Setor de Telecomunicações produzida pelo pária FHC na década de 1990. Caminho aberto para mais um século dos Interesses NorteAmericanos ditando suas verdades dentro do Brasil, através de INTERNET. A partir de MIAMI/USA. Adivinhem NorteAmericana. Alguém escreveu por aqui: Plataforma Neutra !!! É Surreal !! Mais ou menos como esta Matéria !!! Vamos seguir com estes 91 anos até quando? Até quando Anão Diplomático? Até quando Gigante Adormecido? Os Grupos de Mídia, sabedores desta realidade e multibilionários com este Crime de Lesa-Pátria dos anos de 1990, trataram de providenciar seus Testamentos e Partilhas entre Herdeiros (que moram TODOS NOS EUA) e deixar Armários Vazios, Esqueletos, Funcionários sem Indenizações e Bilhões e bilhões de Reais em Impostos sem serem pagos. A verdadeira história de Civitta’s, Fria’s, Marinho’s, Mesquita’s,…Basta visitar a Sede destas Empresas !!! Pobre país rico. É de vomitar !!! A conta mais pesada das Privatarias de Tucanos e Petistas dos anos de 1990, começa a ser cobrada. 1 Século da Indústria do Atraso e da Miséria. Cabeça que tornou-se em rabo. Mas de muito fácil explicação.

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