Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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Na série “Colony” uma invasão alienígena demasiado humana, por Wilson Ferreira

por Wilson Ferreira

Disponível no Netflix, a série “Colony” (2016-) subverte de diversas maneiras a típica história de invasão alienígena: os humanos podem ser tão amorais e cruéis quanto os aliens e também não há uma metrópole distópica, sombria e em ruínas, mas uma Los Angeles ensolarada sob um persistente céu azul. Mas principalmente, os invasores não criam guerras de extermínio com suas naves ou máquinas monstruosas, como em clássicos do gênero. Apenas exploram as principais fraquezas humanas por meio de ferramentas que a própria humanidade criou para subjugar as fraquezas de outros seres humanos: meios de comunicação, religião, ensino e propaganda que arrancam o pior de nós – ambição, traição, ganância, egoísmo e desejo por poder. Eles não são mais “aliens”: agora são “RAPs” ou “hospedeiros”. Invasores “low profile” que apenas jogam os homens uns contra os outros, tirando seu lucro disso. Uma invasão “demasiado humana”, assim como nas atuais Guerra Híbridas nas quais o poder global invade países conquistando corações e mentes.

Por que nos filmes sci-fi os aliens (sejam eles monstros ou invasões organizadas por inteligências superiores) que tentam invadir a Terra são sempre derrotados? Desde Terra versus Discos Voadores (1953), aliens são derrotados depois de encontrarem um planeta unido em torno da alta tecnologia e liderança dos EUA. Isso quando não são destruídos pelos microorganismos do nosso meio ambiente, como em Guerra dos Mundos. 

Com exceção dos filmes em que seres de outro planeta chegam até aqui em missões pacifistas (mesmo o pacífico ET do Spielberg teve que de confrontar com as conspirações científicas da NASA), as civilizações extraterrestres beligerantes parecem sempre nos subestimar: entram em nosso mundo em uma verdadeira blitzkrieg, mas acabam sendo surpreendidos com a inteligência, coragem e mobilização coletiva humanas.

De A Invasão dos Discos Voadores (Earth Vs. The Flying Saucers, 1956) a Independence Day (1996), sempre há um subtexto patriótico (o contexto da Guerra Fria e os aliens como a metáfora da ameaça comunista) ou de apologia à Globalização como no filme de 1996 – claro, uma nova ordem mundial liderado pela NASA.

Mas a série Netflix Colony (2016-) subverte a típica narrativa sobre aliens invasores. Uma invasão extraterrestre sem frotas de discos voadores ou naves-mães sobrevoando as grande cidades e enfrentando exércitos e Força Aérea. Os alienígenas agora são “RAPs” ou também conhecidos como “hospedeiros”. Sua invasão passou a ser conhecida como “A Chegada” e nada mais fizeram do que aproveitar a estrutura política pré-existente de dominação do homem pelo próprio homem.

Mais inteligentes, os “RAPs” transformaram a invasão em um fato consumado, converteram as grandes cidades em “colônias” cercadas por muros de 100 metros de altura e subornaram autoridades com aquilo que é bem familiar para os humanos: poder, luxo, prestígio e ambição.

Paradoxalmente, os seres humanos deixam de ser a espécie dominante na Terra por meios das próprias armas que por séculos a elite humana subjugou, dominou e explorou a humanidade. 

 

Dessa forma, a série Colony assume a forma de uma metáfora dos tempos atuais: de uma lado, os muros onipresentes em cada episódio que se tornaram ícones do momento político da Era Trump; e do outro, um sintoma dos tempos das guerras híbridas que atualmente expandem a ordem mundial da Globalização: a invasão de países não mais por tropas ou bombas jogadas por aviões-caça. Mas agora por estratégias semióticas de exploração dos meios de comunicação, religião e propaganda.

E a exploração das fraquezas da natureza humana tão diversas como o medo e a vaidade.

A série

Atualmente nove em cada dez séries começam da maneira como Colony iniciou no primeiro episódio da primeira temporada: começamos em plena ação sem sabermos os antecedentes que fizeram a narrativa chegar naquele ponto. 

Vemos Will Bowman (Josh Holloway da série Lost) em sua rotina familiar despedindo-se da família para mais um dia de trabalho. Sabemos que ele está tentando escapar de Los Angeles através de um gigantesco muro que cerca a cidade. Ele tenta encontrar seu filho chamado Charlie que está em algum lugar em Santa Mônica, fora dos limites do muro. Tenta escapar clandestino em um caminhão para atravessar a fronteira fortemente vigiada e militarizada. 

 

Até que uma bomba colocada por terroristas das forças de Resistência explode, para depois Will ser levado sob custódia dos “capacetes vermelhos”, uma força militar humana (a chamada “Força de Segurança Nacional”) que colabora com os “hospedeiros” ou “RAPs” – algum tipo de invasores alienígenas que no dia conhecido como “A Chegada” transformaram a cidade em uma “Colônia”, cercada posteriormente por um gigantesco muro.

Descobrimos que no passado Will foi um soldado e depois um agente do FBI especializado em rastrear e capturar criminosos. Snyder (Peter Jacobson – o governador colaborador dos RAPs) convence Will a colaborar com as forças policiais locais: rastrear os membros da Resistência, principalmente um suposto líder chamado “Gerônimo”.

Em troca, ele e sua família terão uma série de regalias (proteção, dinheiro, carro e itens prosaicos como vinhos, chocolate e outros alimentos numa cidade cujos estoques estão racionados e sob constantes toques de recolher – sob a ameaçadora vigilância de centenas de drones que eventualmente matam suspeitos.

De volta para casa, Will revela para sua esposa Katie (Sarah Wayne Callies) que seu novo trabalho forçado é a única maneira para conhecer por dentro a máquina repressiva dos colaboradores dos “Hospedeiros” para encontrar um meio de atravessar o muro da Colônia para buscar o filho, perdido no momento do traumático evento da “Chegada”.

Ao longos dos episódios das temporadas, o espectador vai aos poucos entendendo o que foi “A Chegada” e os propósitos da sofisticada forma de dominação e exploração dos alienígenas.

 

Will e Katie tentam desesperadamente dar uma vida normal aos seus outros filhos e manter a família unida. Porém, Katie guarda um segredo: paralelo a suas atividades de dona de casa e de tentar tocar o seu próprio negócio (um bar chamado “Yonk”), ela colabora com guerrilheiros da Resistência. Com a entrada do marido na força policial, Katie torna-se a informante dos passos das investigações dos colaboracionistas.

Começa por parte de Katie um jogo de espionagem e de agente duplo, enquanto Will cada vez mais desconfia que há alguém infiltrado na polícia. Sem saber que o informante está mais próximo do que imagina.

Los Angeles anti-distópica

A narrativa de Colony também tráz outra novidade em narrativas sobre distopias e invasões aliens: o cenário não é mais o de uma grande metrópole escura, chuvosa, com prédios e becos em ruínas ocupada por uma massa humana sombria e desesperada.  Mas uma Los Angeles ensolarada, na qual as pessoas tentam manter as suas rotinas normais. 

Carros foram proibidos (somente as forças repressivas e autoridades podem se locomover em autos), restando à população o saudável hábito de andar de bicicleta ou usar o transporte público. Paradoxalmente, Los Angeles se transformou numa metrópole ao mesmo tempo bucólica e ameaçadora, com os onipresentes drones e “capacetes vermelhos” vigiando e prendendo suspeitos.

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Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

1 Comentário

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  1. Juan José Campanella

    Primeiros episódios dirigidos pelo argentino Juan José Campanella de “O Segredo dos Seus Olhos”. Vou dar uma olhada.

    Corrigindo apenas um detalhe: não é uma série da Netflix, mas da USA Network.

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