No décimo aniversário do Cinegnose, o Top 10 dos filmes gnósticos de 2019, por Wilson Ferreira

São filmes PsicoGnósticos, TecnoGnósticos, CosmoGnósticos e CronoGnósticos. 

por Wilson Ferreira


Esse é um aniversário especial: o Cinegnose completa nesse mês uma década no ar! Foram dez anos de evolução em três fases bem distintas – primeiro, como um site sobre Gnosticismo (filmes e filosofia gnósticas); segundo, como um site Gnóstico (desenvolvendo um “olhar gnóstico” sobre cultura, mídia, cinema e audiovisual); e na fase atual, um olhar gnóstico mais amplo se estendendo para os aspectos políticos da comunicação e crítica midiática. Fase atual e controvertida cuja atmosfera de polarização no País atingiu em cheio o Cinegnose, com a perda de muitos leitores que questionaram a “politização” de um blog sobre cinema. Comemorando essa primeira década, o Cinegnose apresenta o Top 10 dos melhores filmes gnósticos que passaram pelo radar do blog em 2019. São filmes PsicoGnósticos, TecnoGnósticos, CosmoGnósticos e CronoGnósticos. 


Nesse mês o Cinegnose completa dez anos de intensas atividades. Como os leitores mais antigos sabem, esse blog surgiu como um dos subprodutos (assim como os livros “Cinegnose” e “O Caos Semiótico”) da dissertação de mestrado desse humilde blogueiro sobre a presença de elementos simbólicos, iconográficos, narrativos e temáticos gnósticos no mainstream das produções hollywoodianas, de 1995 a 2005.

Para aqueles novos visitantes, entende-se por Gnosticismo o conjunto de seitas sincréticas, surgidas no início da Era Cristã (sec. II e III DC), que combinavam neoplatonismo, hermetismo e influências orientais como sufismo e budismo para interpretar de maneira mística a missão de Cristo nesse planeta.

A descoberta em 1945 dos textos gnósticos do século IV em Nag Hammadi (Egito) repercutiu na cultura pop do século XX, começando pela literatura, HQs, passando pelo cinema cult até chegar às produções comerciais hollywoodianas no final do século – mitos gnósticos como o do Demiurgo, a Alma Decaída, o Salvador, o Feminino Divino, entre outros, passam a figurar de diversas maneiras através de protagonistas e simbologias – sobre a mitologia gnóstica clique aqui.

Nesses dez anos, o Cinegnose passou por três fases bem definidas: a primeira, composta por análises fílmicas como ponto de partida para desenvolver pontos filosóficos do Gnosticismo. Uma linha editorial “sobre Gnosticismo”.

Na segunda fase o blog partiu para a linha “gnóstica”: não apenas focar “filmes gnósticos” ou “temas gnósticos”, mas construir um olhar gnóstico (uma metodologia) para estabelecer uma crítica à indústria do entretenimento e a cultura contemporânea para além do cinema: TV, audiovisual, Moda, Jornalismo, Publicidade, Semiótica e fatos do noticiário.

                   Um modelo de pensamento inspirado em nomes como Jean Baudrillard e Theodor Adorno, pensadores assumidamente influenciados pela filosofia gnóstica com quatro princípios básicos: a análise ontológica, o princípio dos eventos irônicos, o princípio sincromístico e o princípio do sintoma (clique aqui).

Baudrillard e Adorno: a presença do Gnosticismo nas Ciências Sociais

A polêmica das “bombas semióticas”

Mas a terceira fase foi a mais, digamos assim, “polêmica”: o início da série sobre as “bombas semióticas” numa série de 51 postagens entre 2013 e 2016: a análise de uma complexa ação semiótica (retórica, linguística, semiológica etc.) da grande mídia num contexto político brasileiro dominado pelo geopolítica dos EUA. E que culminou no impeachment de 2016 – clique aqui.

Essa fase foi crucial porque, certamente, fez esse Cinegnose perder muitos leitores na atmosfera de polarização política que passou a dominar o País em crise.

E o que isso tem a ver com Gnosticismo? Para aqueles que confundem Gnosticismo com religião, deve ter causado estranheza essa filosofia editorial. E para outros que achavam que o gnosticismo no cinema e audiovisual era nada mais do que uma conspiração satânica de Hollywood (ao lado das conspirações que escondem “verdades” como a terra plana, p.ex.), simplesmente abandonaram o blog. Não sem antes nos acusar de “petralhas”, para dizer o mínimo…

   Da estrita análise e mapeamento dos filmes gnósticos, hoje o Cinegnose estende seus temas à crítica midiática, jornalística, cultura, filosofica e semiótica, permeada pela política no sentido mais amplo. Afinal, se para o Gnosticismo o mundo é uma ilusão perpetrada por um Demiurgo que criou esse cosmos para aprisionar nossos espíritos, nada melhor do que seguir a intuição do roteirista Andrew Niccol no filme Show de Truman (1998) – se pensarmos a realidade como o gigantesco set de um reality show televisivo, então o melhor caminho para entender a mídia, a indústria do entretenimento e toda a engenharia social que molda nossas percepções é o Gnosticismo.

Para comemorarmos essa primeira década do Cinegnose, vamos fazer uma lista dos dez melhores filmes gnósticos que passaram aqui pelo blog em 2019. Como sempre, classificamos os filmes dentro das cinco categorias dos filmes gnósticos que criamos para classificar a variedade das abordagens fílmicas: CosmoGnóstico, TecnoGnóstico, PsicoGnóstico, AstroGnóstico e CronoGnóstico – sobre essas categorias, clique aqui.

1 . No filme “Apóstolo” o assassinato e a mentira fundam seitas e religiões

quarta-feira, janeiro 30, 2019   Categoria: CosmoGnóstico

 

 

Há um “modus operandi” na fundação de seitas e religiões: um assassinato que se transforma no sofrimento necessário do mártir; e a mentira decorrente dessa narrativa. Em consequência, o Sagrado mistura-se com o profano, e o Divino com a violência. Como é possível emergir amor e compaixão nesse modelo psíquico doentio? Essa é a questão principal do filme Apóstolo (Apostle, 2018). Um jovem ex-religioso, descrente de tudo após um passado traumático, tem a missão de resgatar sua irmã, raptada por uma estranha seita reclusa em uma ilha. Ele se infiltra entre os seguidores de um profeta enlouquecido, mas estranhamente não consegue determinar, afinal, o quê aquela seita adora.

Há um tema cosmológico gnóstico: Se o poeta William Blake dizia que a Natureza é uma obra diabólica, da mesma forma o Gnosticismo descreve esse cosmos como uma maquinação de um Demiurgo que nos aprisiona por um simples motivo: extrair de cada um de nós a “Luz” que coloca em movimento o próprio sistema que nos prende – o próprio cosmos. Leia aqui a análise.

2. A conspiranoia pop gnóstica em “Under The Silver Lake”

domingo, janeiro 13, 2019 – Categoria: PsicoGnóstico

 

 

A cultura pop nada mais representaria do que o abismo geracional entre jovens e adultos? Por trás de cada gesto de revolta seja grunge, punk ou gótico estaria um adulto vigilante através de mensagens criptografadas em músicas? As vertiginosas alusões de “conspiranoia” pop em Under The Silver Lake (2018) conferem uma nova abordagem do tema da paranoia no cinema. Um jovem desocupado tenta investigar o mistério do desaparecimento de sua vizinha para mergulhar no submundo das subcelebridades aspirantes a atores e atrizes em Hollywood e na subcultura de HQs e fanzines que tentam construir uma Teoria Unificada das conspirações.

Outro tema gnóstico: a paranoia como um estado alterado de consciência que nos faz enxergar além das ilusões. Tudo está conectado. Essa ideia não parece nada original e já foi exaustivamente explorada pelo cinema paranoico e esquizo. Mas a novidade de Under the Silver Lake é no final do fio da meada descobrirmos que o plug está fora da tomada… Leia aqui a análise

3 – A nova sensibilidade gnóstica do horror no filme “Ghost Stories”

sexta-feira, janeiro 25, 2019 – Categoria: PsicoGnóstico

Desde a Era Vitoriana, quando os fenômenos paranormais (mesas girantes, fantasmas, fotografias de ectoplasmas etc.) entraram em cena na cultura Ocidental, as explicações sobre esses eventos sempre estiveram sintonizadas com o “zeitgeist” de cada época. Na virada de século, as tentativas de explicações científicas deram lugar à mistura de fé com espiritualidade. Nesse cenário, a sensibilidade gnóstica começa a se esgueirar pelos filmes de terror, um gênero que sempre foi canônico.

Uma abordagem PsicoGnóstica da paranormalidade, na qual a mente pode ser a nossa principal prisão. Leia aqui a análise.

Redação

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