Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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Nos labirintos da Nova Idade Média com Umberto Eco, por Wilson Ferreira

Por Wilson Ferreira

Falecido aos 84 anos nessa sexta-feira em Milão, Umberto Eco criou um projeto inédito: o encontro da Semiótica com o Medievalismo. Especialista em Idade Média, Eco  afirmava que procurava encontrar aspectos medievais no presente. O que levou a criar o seu projeto semiótico em uma simples definição: “é a disciplina que, a princípio, estuda tudo aquilo que possa ser usado para mentir”. Por isso, o frade detetive do livro/filme “O Nome da Rosa” tornou-se a síntese daquilo que Umberto Eco buscou em toda vida: leitores críticos que conseguissem escapar dos labirintos medievais das interpretações que fingem ser verdades e que apenas replicam “autorictas”. Eco testemunhou no final a criação da nova versão desse labirinto – a Internet. E alertou a necessidade de um novo leitor crítico que encontrasse uma nova saída desse labirinto: a Teoria da Filtragem. 

A Idade Média sempre foi uma constante obsessão para o chamado “mago de Bolonha”. Embora Umberto Eco escrevesse com a mesma desenvoltura temas tão diversos desde tratados de estética medieval, ensaios sobre histórias em quadrinhos e cultura de massas, passando pelos fenômenos da significação na Semiótica e linguística e chegando à ficção ao se tornar romancista de sucesso mundial com livros como O Nome da Rosa e O Pêndulo de Foucault, seus conhecimentos de medievalista sempre serviram como uma lente através da qual analisava qualquer tema.

O blog Cinegnose conheceu Umberto Eco a partir do seu livro Viagens na Irrealidade Cotidiana onde o texto “Televisão: A Transparência Perdida” e seus conceitos de Paleotevê e Neotevê são preciosas ferramentas para dissecar a atual irrealidade midiática. 

Umberto Eco dizia que sua preocupação constante era ver aspectos medievais em coisas que aparentemente eram modernas. Nesse livro isso fica explícito no texto “A Nova Idade Média” – na irrealidade cotidiana a televisão deixaria de ser uma janela aberta para o mundo na medida em que falaria apenas de si mesma em um labirinto de metalinguagem e eventos-encenação.

Fechadas nas suas casas e inseguras com o mundo lá fora, as pessoas veriam apenas TV tentando se conectar com a transparência perdida do mundo, mas apenas se fechariam cada vez mais como estivessem em castelos medievais fortificados, amedrontadas com as hordas bárbaras nômades.

A epifania da estrutura ausente

Seja estudando a estética medieval de Tomás de Aquino, a cultura de massas, a Semiótica ou as chamadas “ciências banidas” (ocultismo, sociedades secretas, mesmerismo, esoterismo e magia), Eco preocupava-se em entender a sensibilidade de nossa época baseada na perda da integridade, da globalidade, da troca da sistemacidade ordenada pela instabilidade, polidimensionalidade, mutabilidade – uma cultura que expressa a catástrofe, teoria do caos, estruturas dissipativas, relatividade, fragmentações quânticas. Aquilo que Eco chamava de “epifania da estrutura ausente” que nos ensinaria algo sobre o mundo.

Uma sensibilidade que um outro autor italiano, Omar Calabrese, chamava de “sensibilidade neobarroca”. Umberto Eco via nessa sensibilidade uma espécie de labirinto medieval (diferente do labirinto clássico grego onde o fio de lã Ariadne é a solução para achar o caminho de volta), um labirinto maneirista como múltiplas ramificações de uma árvore. Onde nos perdemos nas múltiplas interpretações e tiramos prazer disso. O prazer em se perder e abandonar as noções de verdade, fidelidade ou originalidade.

Obra Aberta

Eco fez seu doutorado na década de 1950 fazendo um leitura da estética medieval em São Tomas de Aquino onde a obra de arte e o belo são analisado pela “sensibilidade da época”, marcada pela luz e transcendência num mundo fugaz e frágil. 

Nos anos 1960 Eco publicou Obra Aberta, coletânea de artigos sobre poética da arte contemporânea. Sua obsessão pela Idade Média paradoxalmente o levou a arte de vanguarda onde o objeto artístico se abre a múltiplas leituras ou interpretações pelo receptor – obras de arte ambíguas e auto-reflexivas. Assim como Dante construiu a Divina Comédia antecipou certas possibilidades de leituras, no entanto a obra deveria apontar para um sentido unívoco.

Essa tensão entre fidelidade e liberdade interpretativa exigiria um leitor crítico que se diferenciaria do ingênuo – apesar da ambiguidade e liberdade, a arte exigiria uma competência para fruição estética.

Apocalípticos e Integrados

 Isso levou Eco à discussão sobre a cultura de massas no livro Apocalípticos e Integrados: examina o fenômeno da cultura de massas procurando mediar as posições entre os frankfurtianos que acreditavam que a indústria cultural levaria à alienação e dominação (os “apocalípticos”) e os funcionalistas norte-americanos que ela favoreceria a democratização do saber (os “integrados”). 

Eco faz um exercício interpretativo e vê validades nos argumentos de ambos os lados. Parece haver nesse livro uma linha de continuidade com Obra Aberta: também a própria cultura de massas cria ambiguidade e auto-reflexividade – ela pode ser ao mesmo tempo condenada e valorizada.

Guerrilhas Semiológicas

Essa ambiguidade do produto da indústria cultural de Apocalípticos e Integrados somada a necessidade da existência de um leitor crítico leva Eco a escrever o pequeno texto chamado Guerrilhas Semiológicas em 1967. Nesse manifesto de política midiático, Eco vislumbrava a possibilidade de organização educativa conseguir fazer um determinado público discutir a mensagem que está recebendo da TV e inverter o seu significado. Ou mostrar que a mensagem pode ser interpretada de diversos modos. Para Eco, pouco importava dominar a fonte da informação: era necessário criar guerrilhas semiológicas de “porta em porta” para inverter o sentido das significações e desarmar as ideologias.

Essas possibilidades de interpretações infinitas das “obras abertas” o fez mergulhar na crítica ao estruturalismo e na aproximação da Semiótica a partir de 1968 com A Estrutura Ausente. A partir desse livro derivariam todas as outras obras nos anos 1970: As Formas e os Conteúdos (1971), O Signo (1973) e depois a obra mais bem elaborada sobre o tema: Tratado de Semiótica Geral (1975).

No lugar do valor ontológico de estruturas e da referencialidade do signo, Umberto Eco vai preferir estudar a noção de interpretante em Peirce e o processo de semiose como contínua produção de sentido – Eco abandona a noção de signo (como algo que está para algo), enfraquece a ideia de correspondência, e passa a se debruçar na ideia de semiose como um processo virtualmente infinito de interpretações e produção de novos significados.

Semiótica e a mentira

Diante da “falácia referencial” dos linguistas, Eco vai definir a Semiótica como “a disciplina que, a princípio, estuda tudo que possa ser usado para mentir” (Tratado Geral de Semiótica, p.8).

Haveriam no mundo diferentes interpretações ou “verdades semióticas”, o que torna o estudante semiótico um detetive tal como o frade Guilherme de Bascerville do seu livro O Nome da Rosa. Um detetive que não busca o sentido último dos signo, mas denuncia como as interpretações podem se fazer passar como verdade única – como fossem juízo de fato e não um juízo semiótico, ou seja, uma significação social entre outras.

 

Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

6 Comentários

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  1. ecos

    “Para Eco, pouco importava dominar a fonte da informação: era necessário criar guerrilhas semiológicas de “porta em porta” para inverter o sentido das significações e desarmar as ideologias.”

    Parece-me que, até certo ponto, a Internet é campo para essa guerrilha. O problema é que guerrilha tem de todos os matizes ideológicos.

    Ou seja, a atividade guerrilheira não é necessariamente progressista – seja lá o que “progressista” queira dizer.

    Sem falar que a guerrilha pode sofrer toda sorte de infiltração.

  2. essa ideia de que a pessoa

    essa ideia de que a pessoa seria um detetive filtrando verdsdes

    para desmascarar mentiras é altamente estimulante…

    todos burburinhos, filtrantes da selva de infamias que nos rodeiam…

  3. Acho q a visao d Eco sobre “referencialidade” é + complexa q iss

    Seria longo de desenvolver aqui. Mas Eco nem assume a referencialidade estrita, no sentido de um mundo inequívoco, só passível de uma representaçao — o que nao concordo que seja uma posiçao de linguistas, mas sim de uma dada linha de Filosofia da Linguagem anterior a Wittegenstein — nem se manteve na posiçao de que o mundo nao põe limites à liberdade que a linguagem tem de interpretá-lo, mais próxima de seus primeiros escritos. Assume a posiçao expressa na metáfora do mundo como carcaça, que pode ser cortada de várias formas mas que tem “raias” de corte preferencial, direçao de fibras e nervuras que propõem certos cortes e quase impedem outros — metáfora de que ele usa em Kant e o Ornitorrinco. Quase todo esse livro é sobre a questao da categorizaçao e seus problemas, é muito legal.

    Especificamente sobre a questao da ligaçao de um símbolo com um “referente” (mas que implica numa interpretaçao do que seria esse referente, que é visto sob uma luz específica pela categorizaçao que se faz dele) amo a discussao que ele traz em O Nome da Rosa entre os 2 freis, quando o frei mais velho avisa ao mais novo para nao estar tao confiante em levar uma donzela a uma floresta em que haja um unicórnio (que, em A Estrutura Ausente, era o exemplo dado para um significado sem referente), pois Marco Polo havia visto um unicórnio em suas viagens, mas era negro e de pele rugosa (o rinoceronte como inspiraçao última da idéia de um unicórnio, genial). Ele volta a esse tema em Kant e o Ornitorrinco, em que discute a opçao de Marco Polo entre criar uma categoria nova para um novo fenômeno observado (no caso, um rinoceronte) ou usar a categoria de unicórnio, já existente, mas ao mesmo tempo mudando a categoria (que foi a escolha dele, ampliando bastante a noçao de unicórnio, rs). E o problema que a necessidade de decisao semelhante impôs aos primeiros biólogos que tentaram classificar um ornitorrinco. Inclusive tratando especificamente de que aspectos do real observado nao  podiam deixar de ser considerados na categorizaçao (as “raias” do mundo se impondo…) É muito legal.

  4. Umberto Eco bem que merecia uma tag

     

    Wilson Ferreira,

    Um texto que me foi enriquecedor e em que me pude aperfeiçoar pelo acréscimo do comentário de Anarquista Lúcida também muito útil, enviado segunda-feira, 22/02/2016 às 17:19.

    Deixo aqui o comentário que enviei segunda-feira, 22/02/2016 às 00:56, para Leonardo Sakamoto, junto ao post “Umberto Eco: A morte e a “legião de imbecis” nas redes sociais, por Leonardo Sakamoto” de sábado, 20/02/2016 às 18:58, aqui no blog de Luis Nassif e com texto de Leonardo Sakamoto.

    Menciono meu comentário não tanto pelo comentário em si, mas pelos links que eu indiquei no comentário e a maioria relacionada à notícias sobre a morte de Umberto Eco. Dentre os links eu incluo o que permite o acesso ao post “Umberto Eco, sobre a memória” de domingo, 21/02/2016 às 13:37, também aqui no blog de Luis Nassif com a indicação de Gilberto Cruvinel para o vídeo de Umberto Eco sobre a memória e que foi indicado em um segundo comentário de Anarquista Lúcida  enviado segunda-feira, 22/02/2016 às 17:16, aqui neste post “Nos labirintos da Nova Idade Média com Umberto Eco, por Wilson Ferreira” de segunda-feira, 22/020/2016 às 20:25.

    O endereço do post “Umberto Eco: A morte e a “legião de imbecis” nas redes sociais, por Leonardo Sakamoto” é:

    https://jornalggn.com.br/noticia/umberto-eco-a-morte-e-a-%E2%80%9Clegiao-de-imbecis%E2%80%9D-nas-redes-sociais-por-leonardo-sakamoto

    E agora segue o meu comentário para Leonardo Sakamoto:

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    “Leonardo Sakamoto,

    Antes de comentar deixo algumas referências a posts recentes aqui no blog de Luis Nassif repercutindo a morte de Umberto Eco. Primeiro para o post “Umberto Eco, sobre a memória” de domingo, 21/02/2016 às 13:37, em que, por sugestão de Gilberto Cruvinel, é apresentado um vídeo dirigido por Davide Ferraro em que Umberto Eco fala sobre a memória. O post “Umberto Eco, sobre a memória” pode ser visto no seguinte endereço:

    https://jornalggn.com.br/blog/gilberto-cruvinel/umberto-eco-sobre-a-memoria

    Um pouco antes houve o post “E lá se foi o Eco, por Orlando” de também domingo, 21/02/2016 às 11:46, publicado aqui no blog de Luis Nassif contendo uma charge em que alguém grita por Umberto e não se escuta o Eco de autoria de Orlando. O post “E lá se foi o Eco, por Orlando” pode ser visto no seguinte endereço:

    https://jornalggn.com.br/noticia/e-la-se-foi-o-eco-por-orlando

    E há o post “Morre Umberto Eco” de sábado, 20/02/2016 às 07:12, com a notícia da morte de Umberto Eco com reprodução da matéria na Folha de S. Paulo com o título “Morre escritor italiano Umberto Eco, autor de ‘O Nome da Rosa’, aos 84”. O post “Morre Umberto Eco” e que traz ainda alguns comentários fazendo referência ao livro “Número Zero” lançado em 2015 e contendo uma crítica ao mau jornalismo e à manipulação dos fatos, pode ser visto no seguinte endereço:

    https://jornalggn.com.br/noticia/morre-umberto-eco

    E quanto ao seu texto eu diria que o Zé Chico, em comentário enviado sábado, 20/02/2016 às 21:13, já disse algo que eu queria dizer aqui neste post. Resumindo, Umberto Eco é autoridade, mas nem todo argumento de autoridade é correto, ou traz a verdade definitiva.

    Sobre isso trago um comentário meu enviado para o post “Livraço: “Relembrando o que escrevi”, de Fernando Henrique Cardoso” de 09/07/2010, no blog de Na Prática a Teoria é Outra, ou NPTO ou Celso Rocha de Barros. O blog de Na Prática a Teoria é Outra está em hibernação desde 2010, embora ainda se possam fazer comentários nos velhos posts do blog. O post “Livraço: “Relembrando o que escrevi”, de Fernando Henrique Cardoso” pode ser visto no seguinte endereço:

    http://napraticaateoriaeoutra.org/?p=6448#idc-cover

    E o comentário meu que eu gostaria de trazer aqui é o seguinte:

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    “Amiano (#22) (09/07/2010 às 06:15 pm),

    Há uma tese que a direita incorporou de bom grado que é a do filósofo Harry G. Frakfurt no livro “Sobre falar merda”. Para o filósofo, tudo que nós estamos falando sobre assunto que não entendemos é falar merda. E isso seria pior que a mentira (Para isso ele usa a taxonomia da mentira de Santo Agostinho filósofo da idade média).

    Eu prefiro Montaigne (En vérité, le mentir est un maudit vice. Nous ne sommes hommes et ne nous tenons les uns aux autres que par la parole. . . .), um filósofo mais próximo do meu tempo, pois ainda sou da antiga, mas não é o caso. O caso é que a direita aceitou essas idéias de Harry G. Frakfurt porque elas prestam aquilo que a direita sabe melhor fazer: interditar o debate. No meu comentário (#10) de 09/07/2010 às 02:59 am, eu remeto para o post “O adeus a Samuel Huntington” de 30/12/2008 às 05h03 no antigo blog do Pedro Doria em que eu transcrevo um trecho de um artigo de Marcelo Coelho publicada na Folha de S. Paulo de 05/04/2006 em que ele corrige a minha memória sobre um episódio envolvendo Cláudio Lembo, FHC e Samuel Huntington, exatamente porque FHC no episódio tenta interditar o debate. FHC não é da direita, mas tem essa índole como muitos na esquerda também têm de acreditar que o processo democrático pode ser apreendido no seu todo por especialistas e só esses poderiam falar sobre o processo.

    Enfim, não compreendem que a democracia é exatamente um processo executado por leigos e que não existe um ser superior ou um especialista que possa dizer para cada caso concreto qual o interesse maior da nação (Ou o interesse nacional de que FHC fala em um dos textos). Assim, todos estamos falando merda, mas que é evidentemente muito melhor do que mentir. Pelo menos na democracia. Em um modelo científico, talvez o falar merda fosse realmente errado.”

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    Então creio que onde não há o conceito definitivo emitido pela ciência, não se pode interditar o debate mesmo que ele seja feito por não especialistas. Aliás, no mundo político o debate é feito basicamente por não especialistas.

    E aproveito também para deixar um link para o post “A solidão disfarçada das redes sociais” de quarta-feira, 07/01/2015 às 14:35, aqui no blog de Luis Nassif em que por sugestão de Nickname é trazido a entrevista de Dominique Wolton concedida ao repórter Marcos Flamínio Peres da Folha de S. Paulo. O endereço do post “A solidão disfarçada das redes sociais” é:

    https://jornalggn.com.br/noticia/a-solidao-disfarcada-das-redes-sociais

    Eu enviei um comentário para Nickname na quarta-feira, 07/01/20158 às 20:00, em que eu deixo outros links que abordam algumas características que a internet está adquirido. Venho de certo modo sempre polarizando e polemizando com as opiniões de Luis Nassif sobre a internet, pois vejo com muita crítica a grande expectativa que se põe na internet. De certo modo faço essa crítica também na expectativa que Luis Nassif punha nas manifestações de junho de 2013.

    A crítica que eu faço a internet não me impossibilita de também ter expectativas. Vejo sempre a possibilidade de se ter milhares de I. F. Stone, um jornalista americano que possuía um jornal semanal e que teve muito destaque nos Estados Unidos com reportagem investigativas de alta qualidade na década de 60 e 70. Talvez assim, os milhares de I. F. Stone possam ter uma participação mais intensa e mais difusa nas sociedades que eles aparecerem do que teve I. F. Stone quando fazia as reportagens investigativas dele naquela época.

    É claro que I. F. Stone não se compara com as legiões de imbecis de que fala Umberto Eco, mas ele também não seria o suprassumo do conhecimento, ou a opinião suprema da autoridade. Enquanto o conhecimento não for definitivo não há como, a menos pela ausência de lógica, desqualificar o argumento do imbecil.”

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    E aproveito para abordar um argumento discutido de dois modos distintos no comentário de Anarquista Lúcida para Gilberto Cruvinel e no comentário do próprio Gilberto Cruvinel que ele utiliza para responder a um comentário de Fábio de Oliveira Ribeiro, lá no post “Umberto Eco, sobre a memória”. Observo que o comentário de Anarquista Lúcida foi enviado domingo, 21/02/2016 às 17:33, o de Fábio de Oliveira Ribeiro foi enviado domingo, 21/02/2016 às 15:19, e a resposta de Gilberto Cruvinel junto ao comentário de Fábio de Oliveira Ribeiro foi enviada domingo, 21/02/2016 às 15:33.

    O argumento que eu quero abordar relaciona com a resposta do frei mais velho para a pergunta do frei mais jovem sobre como os simples fazem para escolher sua heresia e que Anarquista Lúcida retirou do livro “O Nome da Rosa”.  Na resposta o frei mais velho diz na forma como Anarquista Lúcida escreveu: “Os simples seguem a heresia que passa pela aldeia deles”.

    E o argumento também relaciona com  a resposta de Gilberto Cruvinel para Fábio de Oliveira Ribeiro sobre a questão da memória sendo mutilada pelos meios de comunicação (Pela imprensa, nos dizeres de Fábio de Oliveira Ribeiro). Segundo Gilberto Cruvinel, “[a] imprensa deixou de ser fonte fidedigna dos fatos. Na verdade, lutou contra eles e criou uma realidade paralela”.

    O meu argumento é que a imprensa é formada ou deformada pelas heresias dos simples. Não é a heresia da imprensa que passa pela aldeia dos simples. Antes é a heresia da aldeia dos simples que passa pela imprensa. Os jornalistas escolheram as heresias que passaram pelas aldeias deles e as divulgam. O êxito é maior quanto mais próximo for a heresia do mensageiro, da mensagem e do receptor.

    Nesse sentido, eu volto a chamar atenção para um post que eu venho frequentemente mencionando aqui no blog de Luis Nassif. Trata-se do post “A cegueira branca do Estado e o gigante iluminado” de quinta-feira, 20/06/2013 às 15:10, aqui no blog de Luis Nassif e consistindo da reprodução de artigo com o mesmo título de autoria de Rafael Araújo, professor da Escola de Sociologia e Política de São Paulo e da PUC-SP e que pode ser visto no seguinte endereço:

    https://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/a-cegueira-branca-do-estado-e-o-gigante-iluminado

    No quinto parágrafo do post “A cegueira branca do Estado e o gigante iluminado”, o professor Rafael Araújo faz a seguinte indagação:

    “Se todo o público que consome notícia pensa dessa forma rasa, como esperar que a velha mídia se comporte de outra maneira?”

    A idéia de que é a mídia que faz a cabeça do cidadão comum é, em meu entendimento uma concepção falha da realidade. Lá em tempos imemoriais gravou-se na cultura popular uma percepção que se irradia com facilidade sempre que alguém tenha mais habilidade para a vocalizar e a difundir.

    Clever Mendes de Oliveira

    BH, 22/02/2016

  5. Para mim, a obra de Umberto

    Para mim, a obra de Umberto Eco, pode ser comparada à obra de arte, na qual “a tensão entre fidelidade e liberdade interpretativa exige um leitor crítico que se diferencia do ingênuo – apesar da ambiguidade e liberdade, a arte exige uma competência para a fruição estética.”, do sentido unívoco, e verdadeiro conhecimento.

    Muito esclarecedor, o presente texto. Aqui tem outro, com outro ponto de vista, sobre O Nome da Rosa: http://www.conjur.com.br/2013-abr-28/embargos-culturais-nome-rosa-mostra-igreja-dominada-intrigas.

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