O Al Capone do Cáucaso, por Jota A. Botelho

O Al Capone do Cáucaso, por Jota A. Botelho

Dizem que a ocasião faz o ladrão, mas não aqui no Brasil onde a arte de roubar sempre foi uma constante. E dois grandes artistas como os camaradas Al e Iosif (mais tarde conhecido como Josef) ficariam escandalizados com os nossos verdadeiros gatunos. ‘É o nosso ramo, camarada Stalin, mas como ali, impossível’, diria Scarface, apelido atribuído de forma carinhosa a Al Capone, depois das navalhadas que recebeu na face esquerda. ‘E ninguém vai preso, camarada Al. Nem por sonegação de impostos’, completaria Koba, o apelido íntimo de Stalin, com um risinho maroto nos lábios escondido pelo cachimbo e um bigodão saliente, cujas faces eram marcadas pela varíola que teve na infância. ‘Aquilo foi uma injustiça, camarada. Onde já se viu declarar expropriação como renda, capisci?’, rebateria Capone com um largo sorriso e um charuto acesso no canto da boca.

Pois é, esses dois grandes ‘expropriadores’ – digamos assim – aterrorizaram as cidades de Chicago, nos EUA, e Tíflis ou Tbilisi, no Cáucaso, cada um a seu modo e por razões distintas. Um veio a se tornar o Rei de Chicago, e o outro o novo Czar da Era Soviética, provando que o crime compensa, E MUITO, tanto aqui no Brasil quanto lá fora.

O EXPROPRIADOR DE CHICAGO


Al Capone: da revista Time a Inimigo Público nº. 1. No centro: passeando nas ruas de Chicago com seus CEO’s e MBA’s dos anos 1930.

Na cidade de Chicago, em plena era da lei seca, entre os anos de 1920 e 1930, enquanto o pessoal enchia a cara Al Capone enchia os bolsos. A fórmula era simples: depressão econômica mais porre mais resseca igual a alta lucratividade no contrabando de bebidas. Além de outras atividades divertidíssimas como a prostituição e a jogatina. De um dos bolsos também saíam propinas para políticos, mídias, juízes, promotores e policiais. Com isso a equação ficava clara e fechava a conta: poder econômico via corrupção generalizada mais poder político igual a gangsterismo. Alguma dúvida, camaradas? Veja no vídeo abaixo imagens de sua trajetória.

https://www.youtube.com/watch?v=nM1KQIRcGQ4 align:center]

O EXPROPRIADOR DO CÁUCASO


Reunião clandestina dos trabalhadores de Tbilisi realizada sob a liderança de Stalin.

Do outro lado, no Cáucaso, na cidade de Tbilisi, o georgiano russificado Josef (ou um de seus vários codinomes) agitava as massas e, no intervalo, roubava bancos em nome da revolução que viria ocorrer dez anos mais tarde, em 1917.

O HOMEM DE AÇO

Iosif Vissarionovich Dzhugashvili (mais tarde conhecido como Josef Stalin) nasceu numa pequena aldeia na cidade georgiana de Góri. Filho de uma família pobre, seu pai era sapateiro e alcoólatra, e a mãe costureira e bastante religiosa. Aos sete anos de idade, contraiu varíola, doença que deixou seu rosto marcado, fora outros acidentes físicos. Enviado pela mãe ao seminário em Tiflis (hoje Tbilisi), a capital da Geórgia, para estudar com o objetivo de tornar-se sacerdote, mas o jovem Stalin nunca completou sua educação e foi expulso, sendo atraído para os ativos círculos revolucionários da cidade. Stalin acabou se tornando um grande agitador revolucionário, participando da doutrinação dos trabalhadores da região, organizando greves e sabotagens, sobretudo depois que entrou para o partido bolchevista quando assumiu sua liderança no Cáucaso. Foi preso em diversas ocasiões, e planejou o assalto ao Banco Imperial em Tbilisi, considerado por ele como uma ‘expropriação’  para sustentar a causa revolucionário, enquanto Lenin e demais dirigentes se encontravam exilado no exterior publicando artigos e analisando a situação revolucionária da classe trabalhadora russa. Com a sua ajuda financeira ganhou a simpatia de Lênin pela sua lealdade e firmeza com os ideais da revolução. (1/2)
Assista ao vídeo abaixo contendo uma minibiografia sobre Stalin. 

https://www.youtube.com/watch?v=oGjYwauqv18 align:center

O ASSALTO AO BANCO DE TBILISI


O jovem Stalin bem trajado como um ‘padrino’, a praça central de Tbilisi e o prontuário do camarada numa de suas inúmeras prisões.

O assalto ao banco de Tíflis, também conhecido como a expropriação da Praça de Erevã ocorreu em 26 de junho de 1907, na cidade de Tbilisi ou Tíflis, no Cáucaso, então parte do Império Russo. Um transporte bancário foi roubado pelos bolcheviques para financiar suas atividades revolucionárias. Os assaltantes atacaram uma diligência do banco, e policiais e militares, usando bombas e armas enquanto o veículo estava transportando dinheiro através da praça, entre o escritório de correios e a filial de Tíflis do Banco Estatal do Império Russo. No ataque morreram cerca de 40 a 50 pessoas e feriram outras tantas pelas  explosões das bombas e pelos disparos de armas. O banco estatal jamais calculou a quantia certa do assalto. A estimativa foi de aproximadamente 250 mil a 340 mil rublos, soma enorme naquele tempo (algo supostamente de cerca de 4 milhões de dólares, em valores atuais).

O assalto foi organizado por Stalin e executado por um grupo de revolucionários liderados pelo seu conterrâneo da cidade de Góri e colega de seminário, o ‘bandido’ e revolucionário bolchevique Simon Arshaki Ter-Petrosian (Kamo), de descendência armênia. Foi, de longe, o maior roubo inspirado pelos bolcheviques e causou grande comoção internacional e dentro dos partidos revolucionários de toda a Europa; entretanto foi dos menos lucrativos. O problema foi que o dinheiro vivo estava em notas de alto valor, que eram especialmente marcadas, ou seus números de séries conhecidos pela polícia. No cômputo final o custo foi muito alto. Lenin distanciou-se publicamente de qualquer ligação com o assalto. Como era o normal em todas as ‘expropriações’ anteriores, Stalin repassou parte do dinheiro roubado ao próprio Lenin, e ele ainda recebeu de Kamo outra parcela do  assalto em Genebra.  

[video:https://www.youtube.com/watch?v=-iP08TWoVHQ align:center

O ‘BANDIDO’ REVOLUCIONÁRIO


Os camaradas Koba (Josef Stalin) e Kamo (Simon Ter-Petrosian, o bandido revolucionário) e matéria publicada no The New York Times, de 27 de junho de 1907.

Kamo foi pego na Alemanha, logo após o assalto, mas evitou com sucesso um julgamento criminal fingindo insanidade por mais de três anos. Ele conseguiu escapar de sua enfermaria psiquiátrica, mas foi capturado dois anos depois ao planejar outro assalto. Kamo foi condenado à morte por seus crimes, incluindo o assalto de 1907, mas sua sentença foi comutada para prisão perpétua; foi libertado após a Revolução de 1917. Nenhum dos outros principais participantes ou organizadores do assalto foi levado a julgamento. Após sua morte, um túmulo e um monumento a Kamo foram erguidos perto da Praça de Erevã, nos Jardins Pushkin. Este monumento foi posteriormente removido, e os restos de Kamo foram movidos para outro lugar.

Sobre o assalto e a participação de Kamo, Krupskaya, mulher de Lenin, escreveu em suas memórias:
“Em julho de 1907, um ataque de expropriação foi feito na Praça Erevã, em Tiflis.  No auge da revolução, quando a luta contra a autocracia foi travada em uma frente estendida, os bolcheviques consideraram admissível tomar fundos czaristas fazendo incursões de expropriação. O dinheiro obtido no ataque de Tiflis foi entregue aos bolcheviques para fins revolucionários. Mas o dinheiro não poderia ser usado. Foi tudo em notas de 500 rublos, que tiveram que ser mudadas. Isso não poderia ser feito na Rússia, pois os bancos sempre tinham listas de números de notas em tais casos. Agora, quando a reação era desenfreada, era necessário providenciar fugas da prisão, onde o governo czarista tratava brutalmente os revolucionários. Para manter vivo o movimento, era necessário organizar fábricas de impressão ilegais, etc. O dinheiro era muito necessário. E assim um grupo de camaradas tentou mudar as notas de 500 rublos simultaneamente em várias cidades do exterior, poucos dias depois de nossa chegada. Zhitomirsky, um agente provocador, sabia disso e participou da organização da troca. Ninguém sabia na época que ele era espião e gozava de total confiança, embora já tivesse traído o camarada Kamo, que foi preso em Berlim com uma mala contendo dinamite. Kamo foi mantido em uma prisão alemã por um longo tempo e depois entregue às autoridades russas. Zhitomirsky havia alertado a polícia sobre a tentativa de mudar as notas do rublo, e os envolvidos foram presos. Um membro do grupo de Zurique, Lett, foi preso em Estocolmo, e Olga Ravich, membro do grupo de Genebra, que havia retornado recentemente da Rússia, foi presa em Munique com Bogdassarian e Khojamirian”. (1 a 7)


Pôsteres da trilogia cinematográfica do também famoso bolchevique georgiano Kamo.

Simon ‘Kamo’ Ter-Petrosian ganhou uma trilogia cinematográfica que pode ser vista no youtube (sem legendas): 
Aqui-1 / Aqui-2 / Aqui-3

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Informações:
(1/2):

Biografia Josef Stalin/O joven Stalin      
(1 a 7):
Lenin: Um retrato íntimo/The New York Times&Notícia PDF/Stalin em dose dupla/Krupskaya/Biografia Kamo(Bolshevik)/Filmes de Kamo 
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Jota Botelho

4 Comentários

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  1. Putzzzz…

    Que comparação absurda e ridícula!…

    Motivações, inspirações e propósitos completamente antangônicas.

    Aposto que o autor é trotskista!…Só pode!…

  2. Nem por ironia é cabivel

    Nem por ironia é cabivel comparar um vulgar mafioso como Al Capone com um personagem da Historia do Seculo XX,

    é uma questão de dimensão, abstraido qualquer julgameto moral de um e outro.

    1. Nem sempre as ironias são felizes

      principalmente quando a graça envolve personagens tão desiguais e de dimensões históricas incomparáveis. Sempre considerei Stalin uma necessidade histórica russa, sobretudo na luta da civilização contra a barbárie nazista. Nesse sentido, penso que falhamos. E MUITO! A história nem sempre é uma santa virtuosa e fascinante se mal comparada, sendo assim, podemos torná-la numa prostituta das mais ordinárias. Obrigado pela crítica, meu caro André. 

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