O moralismo neoliberal e sua sombra, por Fábio de Oliveira Ribeiro

​O moralismo neoliberal e sua sombra, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Juristas, cientistas sociais e especialistas sérios afirmam que guerra às drogas provocou um efeito colateral terrível: a explosão da produção e do consumo de entorpecentes e um aumento exponencial da violência cotidiana, do encarceramento e da corrupção policial associadas àquela atividade criminosa. Entre o moralismo daqueles que combatem uma “guerra santa” e a sombra que ela projeta na sociedade é construído o abismo lucrativo explorado pelos hipócritas.

Uma pastora nomeada ministra por Jair Bolsonaro anunciou que doravante teremos um Brasil sem abortos. Os médicos que pretendem realizar ou realizam abortos ilegais certamente aplaudiram o discurso dela. O aumento da repressão estatal provocará uma significativa valorização dos serviços ilegais que eles prestam às mulheres de classe média e de classe alta.

Antes mesmo de tomar posse Jair Bolsonaro destruiu o Mais Médicos. Neste caso o efeito sombra será a reconstrução do mercado explorado pelos curandeiros, feiticeiros e pastores que oferecem curas milagrosas a um preço módico. Alguns deles certamente se disporão a realizar abortos nas mulheres de classe baixa utilizando agulhas de tricô benzidas ou ungidas. Muitas delas morrerão em virtude do uso objetos de perfurantes não esterilizados.  

O tema do combate implacável à corrupção (que ajudou a corromper os princípios constitucionais do Direito Penal para possibilitar a prisão de Lula e facilitar a eleição de um presidente neoliberal) virou fumaça no exato momento em que o Estadão noticiou a movimentação de dinheiro sujo (1,2 milhões de reais) pelo empregado de um dos membros do clã Bolsonaro. Até a mulher do presidente recebeu um “mimo” de 24 mil reais. Esse foi o preço que ela cobrou para chamar o marido de príncipe?

Suponho que os militares nomeados por Bolsonaro voltarão a fazer parte do seleto clube daqueles que enriquecem ilicitamente na política dizendo que a combatem a corrupção. A chave do cofre (ou melhor, do COAF) ficará nas mãos do ex-juiz federal que facilitou a carreira política de Jair Bolsonaro.

Coitado do Sérgio Moro. Tudo indica que o herói moralista da telenovela da Lava Jato acreditou que poderia manter sua armadura reluzente no Ministério da Justiça. Antes mesmo de tomar posse, porém, ele foi rebaixado de juiz federal a Consiglieri de um clã mafioso. Em breve Sérgio Moro terá que dar uma entrevista coletiva para perdoar o Capo Dei tutti Capi que o contratou. Ego absolvo te a peccatis tuis…

O hábito não faz o monge se tornar corrupto. Mas até mesmo um monge da Justiça Federal é “humano demasiadamente humano” como dizia Nietzsche e pode se acostumar e até gostar da corrupção ao viver num ambiente corrompido. Diariamente obrigado a perdoar vigaristas, ladrões, hipócritas e mafiosos na imprensa, Sérgio Moro ficará tentado a cobrar honorários extra-contratuais pelos serviços extra-oficiais que será obrigado a fazer?

 

Fábio de Oliveira Ribeiro

9 Comentários

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  1. Negócios…apenas isso..

    o  início  da  derrocada  do poderio da  igreja  católica começou  com  a  venda  das indulgências !

    A  história  sempre  se  repete  em  ciclos…Nada  se  cria  ou  se  perde,  apenas se  transforma!

    1. Posso citar pelo menos dois

      Posso citar pelo menos dois historiadores famosos que discordam da sua tese: H.-I Marrou e Paul Veyne.

       

      “…a realidade histórica, tal como a revela a experiência através de documentos, só nos fornece fenômenos singulares, irredutíveis um ao outro. Se é possível instaurar uma comparação entre alguns desses fenômenos, as analogias que se pode dessa maneira por em evidência só incidem sobre aspectos parciais, ficticiamente abstraídos pela análise mental, nunca sobre a própria realidade (encontramos, como a propósito da procura das ‘causas’, as consequencias que resultam da impossibilidade de proceder por meio da experimentação à constituição de sistemas fechados, isolando este ou aquele elemento do real). As observações de caráter pretensamente geral, que se procura fazer passar por ‘leis da história’, não passam de semelhanças parciais, relativas ao ponto de vista momentâneo sob o qual o olhar do historiador preferiu fixar tais aspectos do passado.” (Do conhecimento histórico, H.-I. Marrou, Martins Fontes, 4a. edição, 1975, p. 178/179)

      “A história – e um fato – presta-se mal a uma tipologia e quase nunca podemos descrever tipos bem caracterizados de revoluções ou de culturas como descrevemos uma variedade de insetos; mas, mesmo que fosse de outro modo e existisse uma variedade de guerra da qual se pudesse fazer uma descrição com muitas páginas, o historiador continuaria a contar os casos individuais pertencentes a essa espécie. Todavia, o imposto direto pode ser considerado como um tipo de imposto indireto também; o que é historicamente pertinente é que os Romanos não tinham imposto direto e quais foram os impostos estabelecidos pelo Diretório.

      Mas que individualiza os acontecimentos? Não é a sua diferença nos pormenores, a sua ‘matéria’, o que eles são em sí próprios, mas o fato de acontecerem, quer dizer, acontecerem num dado momento; a história não se repetirá nunca, mesmo que lhe aconteça repetir a mesma coisa. Se nos interessarmos por um acontecimento em si mesmo, fora do tempo, como por uma espécie de ornamento seria inútil como estetas do passado, deleitarmo-nos com o que ele teria de imitável, uma vez que o acontecimento não deixaria de ser um ‘modelo’ de historicidade, sem ligações no tempo. Duas passagens de João sem Terra não são um modelo de peregrinação que o historiador teria em duplicado, porque o historiador não consideraria indiferente que aquele príncipe, que já tivera tanto desgostos com a metodologia da história, tivesse tido a infelicidade suplementar de tornar a passar por onde tinha passado; ao anunciar-se a sua segunda passagem, ele não diria ‘eu conheço’, como faz o naturalista quando se lhe leva um inseto que já possui. O que não implica que o historiador não pense por conceitos, como toda a gente (ele fala corretamente em ‘passagem’), nem que a explicação histórica não deva recorrer a tipos, como o de ‘despotismo esclarecido’ (isto já foi sustentado). Isto significa simplesmente que a alma do historiador é a de um leitor de ‘faits-divers’; estes são sempre os mesmos e são sempre interessantes porque o cão que é atropelado neste dia não é aquele que foi na véspera, e mais naturalmente porque hoje não é a véspera.” (Como se escreve a história, Paul Veyne, edições 70, Liboa-Portugal, 1987, p. 18/19)

  2. Estamos prestes (atenção

    Estamos prestes (atenção gestapo, não confundir com o líder comunista) a testemunhar um tsunami de corrupção nos próximos meses. Mas a corrupção está longe de ser o pior. A incompetência, o amadorismo , o neoliberalismo e a entrega do comando do país aos interesses norte americanos deverá produzir um caos econômico e social que desembocará em um regime totalitário.

    1. Se tem um a coisa que eu

      Se tem um a coisa que eu aprendi é a seguinte: o pior quase sempre não acontece. O inesperado, porém, pode as vezes acontecer. O fracasso do governo Bolsonaro talvez crie as condições de possibilidade para algo muito melhor: a realização de outra eleição presidencial. 

      1. Simulacro de eleições

        Infelizmente não tenho esse otimismo de realizaçao de uma nova eleição presidencial. As eleições foram uma farsa e serão mantidas porque não foi o Haddad que foi eleito. 

        Se Bolsonaro cair, caira porque sua orbita de apoio o abandonara. Aquele twitter do bolso-filho ja antecipando uma conspiração contra o bolso-presidente indica que os militares estão a postos e eles têm medo. 

    2. “Estamos prestes a testemunhar nos próximos meses…”

      – “… um tsunami de corrupção… “

      – armas escalares e false flag extraterrestre planetária: https://youtu.be/PF4_afTzpZM

      – destruição do deep state pela Força Espacial: https://youtu.be/WVqTFNgHvk4

      – formação do exército patriota Q Army: https://youtu.be/bpDoQOMybHk

      Um ambiente de negócios muito tumultuado. Talvez “o dia em que a Terra parou”, quem sabe o que há pela frente. E ainda a manifestação cada dia mais sintonizada de Anonymous:

      [video:https://youtu.be/TiNv7qAMUdw%5D

       

  3. POIS É FÁBIO, O QUE VOCÊ ACHA DE FALARMOS DO QUE SE CALAM TODOS

    Você que é alguém experiente, capacitado (pelo menos seus textos mostram isso), acharia absurdo que muita gente começasse a falar da morte de Teori Zavaski.   Afinal, para mim aquilo não foi um acidente como muito rapidamente se concluiu.    Afinal, alguém tinha muito interesse em que Teori embarcasse pro inferno mais cedo.   Afinal, esse alguém bem pode ser quem levou puxão de orelha e pediu desculpas (admissão de culpa) quando Teori chamou de atitude criminosa a gravação e o vazamento ilegal da conversa telefônica entre Dilma e Luls.    Afinal esse alguém teria que continuar agindo criminosamente (descumprindo leis e normas, inclusive da magistratura) se quizesse condenar o Lula sem provas.   Afinal, o sumiço do Teori foi muito providencial…….muita sorte desse juizeco criminoso (conforme o chamaram dois ministros do STF) que bem pode ter-se tornado também assassino.      Sabe como é……dá-se um jeitinho no avião e BUM…….bEM, o Dalagnol nos ensinou que não é preciso ter provas, mas convicção sim……e tem gente com convicção de sobra de que o juizeco mandou dar sumiço no ministro………tem lógica, não têm………será que alguém jornalismo investigativo não poderia nos fazer o favor de ir fundo nesse assunto?       será que é bobagem muita gente falar disso?

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