Os Argonautas

Sugestão de Vânia

Navegar é preciso 

Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:   
“Navegar é preciso;  viver não é preciso”. 

Quero para mim o espírito desta frase,   
transformada a forma para a casar como eu sou: 

Viver não é necessário;  o que é necessário é criar.  
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.  
Só quero torná-la grande,   
ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a minha alma a lenha desse fogo. 

Só quero torná-la de toda a humanidade;   
ainda que para isso tenha de a perder como minha.  
Cada vez mais assim penso. 

Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue   
o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir  
para a evolução da humanidade. 

É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.  

Fernando Pessoa

 

 

 
 
 
 

 

O Barco
Meu coração não aguenta
Tanta tormenta, alegria
Meu coração não contenta
O dia, o marco, meu coração
O porto, não!

Navegar é preciso
Viver não é preciso

O Barco
Noite no teu, tão bonito
Sorriso solto perdido
Horizonte, madrugada
O riso, o arco da madrugada
O porto, nada!

Navegar é preciso
Viver não é preciso

O Barco!
O automóvel brilhante
O trilho solto, o barulho
Do meu dente em tua veia
O sangue, o charco, barulho lento
O porto, silêncio… 

 

Maria Bethania

https://www.youtube.com/watch?v=_fUMBH9j__E]

 

Elis Regina

 

Caetano Veloso

[video:https://www.youtube.com/watch?v=WaVXY5bAHV4

 

Viver não é preciso .

 

 

Redação

13 Comentários

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  1. navegar é preciso,viver não é

    navegar é preciso,viver não é exato….

    demorei vinte anos para  sacar esse lance, aí já era tarde, como dizia 

    o poeta em sua elegia da vida…

    fernando pessoa é genio por esses detalhes linguísticos etc e tal…

    viver não é preciso, a vida não funcona como ponteiros de relógio, mesmo

    que sejam relógios caríssimos e suiços…

    ótimo texto e parabens´ns pela bela postagem.

    curto muito essa turma boa que posta coisas da cultura nesrte blog,

    certamente um dos maiores atrativos,

  2. Interessante,

    Pois eu pensava que o “preciso” dos nevegadores de antes era no sentido de “exatidão”, “certeza”; a “vida”, ou seja, “viver”, não era “exato”, era “impreciso” no sentido de não se saber o amanhã. Era o “grito de guerra dos generais para convencer a tropa”! Na hipótese, convencer os marujos de antanho a se lançar ao mar: “navegar é preciso; viver não é preciso”!

    1. José Robson

      Acho que cabem as duas interpretações. Eu, particularmente, fico com aquela que significa que viver não é exato. Viver é impreciso. 

      Ainda bem!

      1. Vânia,

        O sentido original, desde de o início das navegações, era esse mesmo: navegar é preciso, não no sentido da “necessidade”, mas da “exatidão”, da “certeza”, em contraposição à, digamos, “aleatoriedade” da vida: “pode embarcar que você volta” (paradoxalmente, como se a aventura de se lançar ao mar não estivesse no contexto maior compreendido como “viver”!).

        Mas, aí, o poeta – sempre o poeta – veio e disse:

        “Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:   
        ‘Navegar é preciso; viver não é preciso’. ” 

        E, então, ponderou:

        “Quero para mim o espírito desta frase,  
        transformada a forma para a casar como eu sou”: 

        E completou – digo completou porque, para mim, é o quanto basta:

        “Viver não é necessário; o que é necessário é criar.  
        Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.  
        Só quero torná-la grande, ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a minha alma a lenha desse fogo”. 

        Há, aí, penso, uma espécie de “conectividade” com o sentido primeiro que motivava a “frase gloriosa” no tanto que o poeta, digamos, “inspirou-se” para, não construir, mas revelar sua realidade – ou, para alguns, sua “alma”!

        Tudo faz sentido – já disse alguém.

         

  3. Navegar é preciso; viver, não
    Estas palavras costumam ser citadas em relação a um dever imperioso, mais importante do que a própria vida.
    O compositor brasileiro Caetano Veloso fez delas o refrão de uma canção intitulada “Os Argonautas”.Antes de Caetano, o poeta português Fernando Pessoa delas se utilizara em um trecho de “Palavras de pórtico”: “Navegadores antigos tinham uma fase gloriosa: ‘Navegar é preciso; viver não é preciso’. Quero para mim o espírito desta frase, transformada a forma para a casar com o que eu sou: Viver não é necessário; o que é necessário é criar”.Porque antes, muito antes de Fernando Pessoa, o filósofo e prosador grego Plutarco, em sua “Vida de Pompeu”, tinha escrito: Navigare necesse (est), vivere non necesse, “Navegar é preciso; viver, não”.Era a tradução latina das palavras gregas pronunciadas por Pompeu em resposta aos marinheiros que o queriam dissuadir de embarcar durante uma tempestade.  http://blogdopg.blogspot.com.br/2008/11/navegar-preciso-viver-no.html

  4. Essa bela canção é de um dos

    Essa bela canção é de um dos melhores ábuns de Caetano Veloso, o último que gravou antes de partir para o exílio. Claro que isso lhe concede mais uma capa de sentido, digamos, mais contextual… Rogério Duprat, o genial produtor tropicalista, viajou à Bahia para gravar vozes e violões de Caetano, pois ele e Gil estavam confinados lá, após a prisão. Os arranjos orquestrais,  instrumentação de fado e a eletrônica (as guitarras maravilhosas de Lanny Gordin), mixagem, tudo foi feito depois em SP, por Duprat, pois os baianos só poderiam sair do confinamento na Bahia para o exílio. Aliás, muitas outras canções também se relacionam à partida e à viagem de exílio: “Irene”, “The Empty Boat”, “Marinheiro só”, “Lost In The Paradise”, etc, além de “Os Argonautas”.

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=Qr2yfajwGz0%5D

     

    1. Um dos melhores álbuns de Caetano

      Concordo plenamente. Escutei esse álbum tal qual um mantra durante meu ”exílio” na Bahia. Não à toa postei algumas das músicas que você citou, além desta agora, “Cambalache” há poucos dias, e “Lost in the paradise”, quando ainda estava por lá…  

      Outro trabalho maravilhoso do Caetano, igualmente presente, foi “Caetano Veloso 1968 (67?)”

      Uma das músicas:

      Eles

      [video:https://www.youtube.com/watch?v=CgfP9cCCjao%5D

      Em volta da mesa
      Longe do quintal
      A vida começa
      No ponto final
      Eles têm certeza
      Do bem e do mal
      Falam com franqueza do bem e do mal
      Crêem na existência do bem e do mal
      O porão da América
      O bem e o mal
      Só dizem o que dizem
      O bem e o mal
      Alegres ou tristes
      São todos felizes durante o Natal
      O bem e o mal
      Têm medo da maçã
      A sombra do arvoredo
      O dia de amanhã
      Eis que eles sabem o dia de amanhã
      Eles sempre falam num dia de amanhã
      Eles têm cuidado com o dia de amanhã
      Eles cantam os hinos no dia de amanhã
      Eles tomam bonde no dia de amanhã
      Eles amam os filhos no dia de amanhã
      Tomam táxi no dia de amanhã
      É que eles têm medo do dia de amanhã
      Eles aconselham o dia de amanhã
      Eles desde já querem ter guardado
      Todo o seu passado no dia de amanhã
      Não preferem São Paulo, nem o Rio de Janeiro
      Apenas tem medo de morrer sem dinheiro
      Eles choram sábados pelo ano inteiro
      E há só um galo em cada galinheiro
      E mais vale aquele que acorda cedo
      E farinha pouca, meu pirão primeiro
      E na mesma boca senti o mesmo beijo
      E não há amor como o primeiro amor
      Como primeiro amor
      Que é puro e verdadeiro
      E não há segredo
      E a vida é assim mesmo
      E pior a emenda do que o soneto
      Está sempre à esquerda a porta do banheiro
      E certa gente se conhece no cheiro
      Em volta da mesa
      Longe da maçã
      Durante o natal
      Eles guardam dinheiro
      O bem e o mal

      Pro dia de amanhã
      Que maravilhoso país o nosso, onde se pode contratar
      quarenta músicos para tocar um uníssono
      (Miles Davis, durante uma gravação)

      Álbum compelto:

      [video:https://www.youtube.com/watch?v=JDp6bgnG_8%5D

       

       

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