A poesia e a descrença

Por Luís Henrique Bueno

Gaza

Enquanto houver humanidade,
Uma dor será lembrada,
a do sangue inocente
impregnando tudo!
na superfície das coisas,
as almas dos homens.

Enquanto houver humanidade,
Haverá o semblante
da criança apavorada
correndo desorientada
Haverá a moça muçulmana
pronta para morrer mártir,
tão doce, tão jovem.

Haverá muitas gerações de gentes,
no porvir dos tempos,
Espero que estas
tenham mais fé,
do que a minha,
na humanidade.

PS.: Não sou arabe nem judeu, sou brasileiro

Por Daniel Giraldi

Parabéns pelas belas palavras Luís Henrique!

Motivado pelas suas, também deixo as minhas.

Ano Novo

Comungue com os bichos que lhe coçam
chagas abertas pela última bomba,
nessa guerra de sabe-se lá quem.

Olhe bem para o seu corpo magro,
de quem não se alimenta há uns três dias
e tire o barro das canelas finas.

Vá visitar com fé seu pobre filho
ferido na semana retrasada
e deseje paz ao paciente imóvel.

Engula suas lágrima de raiva
Do soldado covarde, vil algoz
De seus males secretos, silenciosos.

Estoure sua última champanhe:
Faça um brinde às ruínas dessa terra
De Deus, de todos nós e de ninguém.

Porque, afinal, é Ano-Novo!

Luis Nassif

23 Comentários

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  1. Parabéns pelas belas palavras
    Parabéns pelas belas palavras Luís Henrique!

    Motivado pelas suas, também deixo as minhas.

    Ano Novo

    Comungue com os bichos que lhe coçam
    chagas abertas pela última bomba,
    nessa guerra de sabe-se lá quem.

    Olhe bem para o seu corpo magro,
    de quem não se alimenta há uns três dias
    e tire o barro das canelas finas.

    Vá visitar com fé seu pobre filho
    ferido na semana retrasada
    e deseje paz ao paciente imóvel.

    Engula suas lágrima de raiva
    Do soldado covarde, vil algoz
    De seus males secretos, silenciosos.

    Estoure sua última champanhe:
    Faça um brinde às ruínas dessa terra
    De Deus, de todos nós e de ninguém.

    Porque, afinal, é Ano-Novo!

  2. Por Luís Henrique Bueno:
    Por Luís Henrique Bueno:

    Eu nunca briguei com vc?

    Tudo tem a primeira vez.

    O unico que tem direito adquirido de escrever errado neste blog,sou eu.

    E vc colocou um plural em ”’gente””?

  3. Do iG:
    … “Junto aos
    Do iG:
    … “Junto aos cadáveres, de acordo com a Cruz Vermelha, estavam quatro crianças apavoradas, muito fracas para conseguir levantar, sentadas ao lado dos corpo de suas mães.”

    Dá pra aguentar esta situação ? Isso pode continuar assim ?
    Que reação é esperada que tenhamos em relação ao estado de Israel ?

  4. Eu não estou no meu
    Eu não estou no meu aconchego.

    Então escrevo ouvindo novela( que horror)

    Aí ouço uma frase estupenda:

    ‘QUEM AMA DE VERDADE”

    Nem irei procurar o autor da novela.E muito menos o nome dela.

    ”QUEM AMA DE VERDADE’,’ A.C. já foi falado

    Além de ser um clichê opaco,pergunto:

    O que é amar de mentira?

    porque se está mentindo não está amando.

    E o índice de audiência dispara…

    E o índice da ignorância tbm…

    E 70 por cento apoiam Lula.

    Nada mais coerente.

  5. É uma tragédia provocada
    É uma tragédia provocada pelos proprios palestinos. Não há solução. A Fatah do Arafat era corrupta e incompetente. O Hamas é terrorista e irracional.
    O que esperar de um povo que não produz um prego e vive à custa da ajuda internacional?

  6. E agora trocaram o canal.
    E agora trocaram o canal.

    E estou ouvindo CHICO LANGUI.

    Ou seja,

    Trocaram de martírio.

    Mas a dor é a mesma.

    Na visão espiritualista,estou pagando Karmas.

    Na visão Evangélica,estou em provação.

    Na visão católica,estou sendo em penitência.

    Na visão de Testemunhas de Jeová,nem deveria estar ouvindo rádio ou Tv.

    quer saber?

    A partir de hoje sou Testemunha de Jeová.

    E nem sangue eu doou mais.

    Melhor assim.

    Isso porque vivo no Ocidente…

    Lá pelas outras bandas( partudários do ALCORÃO) estaria vendo um véu de uma MULHER( jamais o rosto)

    E estaria jogando umas trocentas bombas em ISRAEL.

    e GRITARIA:

    É GUERRA SANTA( já repararam quantas guerras santas existem por lá?)

    Um dia,eles irão guerrear por algo que não seja santo?

    O dia que os palestinos se converterem pro catolicismo,reinvindicarão a canonização.

    Eles já nasceram santos( O papa é que não sabe)

    1. “Na visão de Testemunhas de

      “Na visão de Testemunhas de Jeová,nem deveria estar ouvindo rádio ou Tv.”

      O problema maior não é a ignorancia. E presunção sobre o que se é ignorante.

  7. Peço até desculpas por
    Peço até desculpas por comentar um comentário do Romanelli, que não tem nada a ver com o show de horrores da carnificina, com codinome de guerra, que acontece em Gaza. É triste e revoltante.

    Mas essa história de o Cypriano, presidente do Bradesco, estar ansioso pela queda da taxa selic, na minha opinião, é para ele pagar menos pelo dinheiro que capta na praça e esticar o spread ad infinitum.

  8. Raphael
    Raphael Teixeira:

    “”Acreditem, está na Bíblia!””

    Ela foi modificada trocentas x.

    Os ”’apóstolos” ultrapassavam 200.E foram reduzidos a 4.

    A bíblia foi escrita,graças a CONSTANTINUS, 400 anos depois do acontecido( é verdade)

    E vc conhece aquela frase caipira?

    ”QUEM CONCHECE UM PONTO ACRESCENTA OUTRO PONTO”

    Vc já leu Minhas Vidas de Shirley MacLane?

    Vc já leu sobre as 10 pragas do Egito?

    Vc já leu o primeiro testamento?

    Vc já leu sobre Maria Madalena?

    Vc já leu sobre a virgindade de Maria?

    Vc sabia que Cristo foi declarado filho de DEUS por 4 votos?( numa votação cristã)

    Só há uma coisa inquestionável:

    AMAI O PRÓXIMO COMO A TI MESMO.

    E nem a Bíblia diz que é um dos 10 mandamentos.

    Ela se preocupou em ”ensinar”’ dois mandamentos sobre o adultério:Não cobiçar a mulher do próximo.Não adulterarás.

    Não é redundante?

    E o principal:Amai o próximo como a ti mesmo?Nada consta.

    E sobre os 7 pecados capitais?

    Qualquer padre ou crente pratica ,no mínimo,uns 4 deles.

    O própio Vaticano em si, já é uma luxúria.

    Tá na bíblia,é?

    Uh…..agora senti firmeza.

  9. Thomas Goroh parece seguir a
    Thomas Goroh parece seguir a mesma linha de raciocínio do Estado israelense….

    “Muitas crianças palestinas estão morrendo e quase nenhuma criança israelense foi morta. Por quê? Porque nós cuidamos das nossas crianças.” (Shimon Peres, presidente de Israel, em 6 de janeiro de 2009)

    A besta judaica está realmente solta! Mas isso já estava escrito pelos “profetas” em nome de um “deus”:

    “Ponde cada um de vós a espada a seu lado. Percorrei o acampamento e voltai, de portão a portão, e matai cada um o seu irmão, e cada um o seu próximo, e cada um o seu conhecido próximo”. “E os filhos de Levi passaram a fazer o que Moisés dissera, de modo que naquele dia caíram do povo cerca de três mil homens”. (Êxodo, 32:27-8)

    “E tens que consumir todos os povos que Jeová, teu Deus, te dá. Teu olho não deve ter dó deles”.( Deuteronômio 20)

    “…todo aquele que não procurar por Jeová, o Deus de Israel, seja jovem ou velho, homem ou mulher, deverá ser morto”.(II Crônicas 15:13)

    “Quem oferecer sacrifícios a quaisquer deuses, e não somente a Jeová, deverá ser completamente destruído”.( Êxodo 22:20)

    Acreditem, está na Bíblia!

  10. Por Daniel Giraldi:
    Por Daniel Giraldi:

    Uma briguinha com vc,tbm não seria nada mal.

    Preste atenção:

    ANO-NOVO( apenas na virada do ano)

    ano-novo são todos os dias.

    essa diferenciação de MAísculas e minísculas,aprendi com o Sarney.

    Pra alguma coisa ele tinha que servir,né?

  11. Hummmmm.. dia desses o de
    Hummmmm.. dia desses o de codinome Anarquista disse que era vizinho de porta de Serra, e que por isso punha a máo no fogo por ele: é honesto.

    Não entendi direito, mas emt odo caso, como o raciocinio da pessoa é tortuoso…
    Agora disse que aprendeu com o sarney.
    Antes deve ter sido com Janio Quadros, ou quem sabe, Plinio Salgado??
    Porque o do codinome parece bem Matusalem…

  12. Para Rafhael Teixeira,

    Fiz
    Para Rafhael Teixeira,

    Fiz um comentário pró-Israel. Esperava pauladas.
    Voce foi gentil. Não deu. Citou a Biblia. Respeito.
    Sou a favor de um Estado para os judeus, que já existe.
    Igualmente sou a favor de um Estado Palestino. Ele não existe por que?

  13. Raphael Teixeira, só um
    Raphael Teixeira, só um detalhe:

    Tanto o livro de Êxodos, Cronicas e Deuteronômio são do Velho Testamento.

    Algumas religiões cristãs acho que usam o velho testamento apenas como uma referência histórica. E o que vale para os cristãos é o Novo Testamento.

    Moises, Abraão, Isaac, etc são do Velho Testamento que é praticamente a Torá.
    É assim que entendo.
    Abraços

  14. Caros do blog

    É espantoso
    Caros do blog

    É espantoso que no século XXI um ranço tribal pré-bíblico esteja convulsionando também o terceiro milênio (frase já usada). Motivações dogmáticas são incompatíveis com a civilização moderna.

    Será que o mundo está diante de nova tirania contra a qual terá que se unir para se defender?

  15. Terríveis estes depoimentos:
    Terríveis estes depoimentos: o número de mortos e feridos é maior do que é reportado. Este homem diz que viu uma casa ser atingida e as pessoas serem mortas à medida que iam saindo das casas.

    http://globalvoicesonline.org/2009/01/08/palestine-in-gaza-we-are-subject-to-news-but-cannot-see-tvs/

    Egyptian-German Philip Rizk, who blogs at Tabula Gaza, reports a conversation he had with Dr Attalah Tarazi in Gaza:

    The numbers of death and injured reported in the media are far below reality as the media is not able to cover incidents as they unfold. I know of cases where homes were surrounded by the Israeli army and people inside gave themselves up and were shot anyway when they exited. […] We have witnessed weapons we have never seen before in our lives. Some explode in the sky and scatter bombs all over. Sporadically, I have smelt smells from some of the burns and wounds that I have never before witnessed […] May god protect us, may god have mercy on us

  16. Querida Julieta:
    Querida Julieta:

    Não conheço Sarney pessoalmente.

    Mas li isso escrito no dia 26 dezembro( coluna do Sarney)

    ANO VELHO , ano novo. De viver, vive-se com a invenção do tempo. Escrever sobre estas festas e estado de espírito é coisa difícil, a começar pela exigência dos gramáticos. Ano-Novo, com maiúscula e hífen, é o champanhe se abrindo, a festa da passagem. Já ano novo, tudo minúsculo, são todos os dias do novo ano. Por isso é correto dizer bom Ano-Novo e feliz ano novo.

    Se estiver interessada no restante:

    http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2612200806.htm

    Beijos proibidos pra vc.

  17. De Israel, Gideon Levy
    De Israel, Gideon Levy convida: “Vamos pensar na outra metade de nossa humanidade”
    Atualizado em 09 de janeiro de 2009 às 20:27 | Publicado em 09 de janeiro de 2009 às 20:13

    Corneteiro, à contra-mão

    Gideon Levy, no jornal israelense Haaretz, Telavive, 8/1/2009, 15h http://www.haaretz.com/hasen/pages/ShArt.jhtml?itemNo=105391

    Pode-se ir às fontes e citar Leo Tolstoy, por exemplo: “O patriotismo, na significação mais simples, mais clara e mais indubitável, nada é além de um meio para que os governantes obtenham o que ambicionam e alcancem seus desejos mais escusos; e para que os governados abdiquem da dignidade humana, da razão, da consciência e se auto-escravizem, sob o poder dos governantes. Os governantes sempre recomendam patriotismo aos governados. Patriotismo é escravidão.”

    E também: “Como se pode falar da racionalidade de homens que prometem qualquer coisa, inclusive matar, em assassinatos que os governos, isso é, alguns homens que chegam a algumas posições, comandarão?” Pode-se também recorrer a “o patriotismo é o último refúgio dos canalhas”. Mas há outra via: posso admitir que também sou patriota.

    Poderia citar um e-mail que recebi de Mahmut Mahmutoglu, da Turquia: “Você é uma das mais belas vozes que vejo ou ouço, de Israel … Hoje, depois de ler sua coluna, cheguei ter esperanças de paz e a crer que a humanidade prevalecerá.” Porque há também Robert, que escreve de Israel, e que comentou a mesma coluna com uma frase: “Não sou médico, mas esse cara é doente.” Ou o leitor George Radnay, um, dentre centenas, que escreveu de New York: “Exílio interno à moda russa. Deve ser instituído em Israel. Você e outros inimigos da raça humana devem ser exilados em Sderot. Sem poder fugir! Pregar o ódio, de bolso cheio e em poltrona estofada e com passaporte! Você deve ser preso em nome da decência e da paz.”

    A vasta maioria quer banir qualquer tipo de crítica, toda e qualquer manifestação de pensamento alternativo, de todos os sentimentos heréticos, sobretudo no que tenham a ver com essa guerra, a qual já estou cansado de amaldiçoar.

    Nessa guerra, em todas as guerras, um espírito do mal desce sobre os homens. Um colunista pressuposto iluminado descreve a horrenda coluna de fumaça que sobe de Gaza como “pintura espetacular”; o ministro da Defesa diz que as centenas de funerais em Gaza são demonstração das “realizações” de Israel; uma manchete enorme, “Feridos em Gaza” refere-se só a soldados israelenses feridos e vergonhosamente ignora os milhares de feridos palestinenses, cujas feridas não podem ser medicadas nos superlotados hospitais de Gaza; comentaristas objeto de lavagem cerebral festejam o imaginário sucesso da incursão; soldados objeto de lavagem cerebral pulam de arma na mão, na orgia do próximo combate, para matar, matar, para destruir homens e mulheres em massa, e provavelmente, deus nos guarde, para destruir-se também, eles mesmos, chacinar famílias inteiras, mulheres e crianças; apavorantes imagens idênticas ao que se viu em Darfur, do hospital Shifa, mostram crianças agonizando pelo chão; e a resposta patriótica é urrar: “Hurrah! Bem-feito! Hurrah! Glória ao país que faz tudo isso, essa barbárie.”

    Chora, meu país amado; esse não é o meu patriotismo. Mas meu patriotismo, ainda assim, é supremo patriotismo.

    De fato, a reação furiosa contra qualquer mínimo farrapo de crítica faz-me pensar que, talvez, alguns israelenses já saibam, no fundo de seus corações esterilizados, dessensibilizados, que algo terrível arde sob seus próprios pés, que uma vasta conflagração ameaça fazer explodir o grosso, denso, estupefaciente, paralisante, espesso, venenoso nevoeiro que os envolve.

    Que talvez não sejamos tão certos, tão bons como nos repetem que seríamos, da manhã à noite, talvez algo de horrendo esteja acontecendo ante os nossos olhos arregaladamente fechados. Se os israelenses tivessem tanta certeza da correção de sua causa, não seriam tão violentamente intolerantes, contra tudo e todos que tentam defender outra causa, outro ponto de vista.

    Esse é precisamente a hora para criticar; não há melhor hora do que essa. Essa é a hora das grandes perguntas, das perguntas radicais, das perguntas decisivas.

    Não perguntemos apenas se esse ou aquele outro movimento da guerra é certo ou errado, nem nos preocupemos apenas com estarmos ou não avançando “conforme planejado”. Temos também que perguntas se a própria idéia de nos ter posto nessa guerra é boa para os judeus, se é boa para Israel, e se o outro lado merece a desgraça que Israel lançou sobre ele.

    Sim, até nas guerras – e sobretudo nas guerras – é preciso pensar também no outro lado. Saber que “crianças do sul” não significa apenas as crianças de Sderot, mas também as crianças de Beit Hanun, cujo destino é imensuravelmente mais amargo.

    Nos encolher de vergonha e de culpa, à vista do Hospital Shifa não é traição: é sinal de que somos humanos. É sinal de que Israel conserva sua humanidade básica. É imperioso preocupar-se com o destino daquelas crianças, perguntar se é inevitável aquele sofrimento, se é justo, moral, legítimo. Perguntar se as coisas poderiam ter sido feitas de outro modo. Perguntar se não teria sido mais certo tentar outra linguagem, que não fosse a linguagem da violência, da força, que Israel invoca, sempre, rotineiramente, como a única linguagem que somos capazes de usar, a única que somos competentes para articular, como se nem soubéssemos que há outras.

    É hora de perguntar sobre a atitude moral de Israel. A hora é agora, é precisamente agora, nenhum momento seria mais adequado; lançar dúvidas sobre essa horrenda guerra, perguntar se é útil, não fechar os olhos para o sangue e a dor do outro lado da fronteira, lá, do outro lado, na outra metade da nossa mesma humanidade.

    O nosso tempo não pode ser tempo só de militarismo, só de uniformes e das fanfarras da guerra. O nosso tempo também é tempo de humanidade, de visão crítica, de compaixão. É tempo para uma imprensa que pensa, que critica, imprensa para seres humanos, não só tempo de imprensa insensível, cega, bestial. É tempo para uma imprensa que busque a verdade, não só e sempre um mesmo lado de propaganda e mentiras. Nosso tempo é precisamente o tempo de informar a opinião pública sobre os dois lados, sobre os dois lados da fronteira, por terrível que seja mostrar o outro lado das fronteiras de Israel, sem mentir, sem encobrir, sem varrer o horror (nosso horror) para baixo do tapete. Que os leitores façam o que queiram com a informação; que festejem ou que chorem sobre ela; mas que saibam o que está sendo feito em seu nome. Hoje, esse é o único papel que se pode esperar de jornalistas que tenham olhos na cara, cérebro no crânio e que, sobretudo, tenham alguma espécie de coração no peito.

    Gente que use todos os seus sentidos em tempos difíceis, não é gente menos patriótica do que os que fechem os olhos, obscureçam os sentidos, deixem que lhes lavem o cérebro. Quem mais for patriota hoje, em Israel, tem de dizer: “Basta!”

    Patriotismo? Quem sabe aferir quem mais ajuda e quem mais desgraça o Estado de Israel hoje? E unir-se ao coro dos cegos, dos imbecis? Mais ajuda ou mais desgraça Israel hoje? Ou, talvez, a melhor e maior contribuição que se possa oferecer à democracia e à imagem do Estado de Israel, hoje, seja levantar as questões, propor as perguntas mais duras, mais difíceis, hoje, precisamente nesses tempos? Será hora para silenciar, e esfrangalhar ainda mais a frágil democracia israelense, ou será hora de tentar salvá-la, de defender não só o direito de calar e concordar, mas, hoje, também o direito de gritar, discordando? O punhado de israelenses que lutam para salvar Israel serão, talvez, menos bons israelenses? Serão talvez menos preocupados com o destino do país, do que a maioria, que hoje já nada vê, se não for pela mira dos canhões?

    E desde quando alguma maioria seria garantia de justiça? Faltam exemplos na história de Israel? Na história moderna, na história antiga, na história universal ou na história de Israel, de casos em que a maioria esteve mortalmente errada, e a minoria, certa?

    Será que uma voz diferente, baixa, ocultada que seja, mas que ainda assim emerge de dentro dessa Israel escura da “maioria”, não poderá lançar alguma luz sobre Israel, mais para salvar Israel aos olhos da comunidade internacional, do que para ofender Israel? Um assovio na escuridão sempre é um assovio, um sinal de vida, quando a escuridão que desceu sobre Israel nada é, se comparada à escuridão que Israel fez descer sobre Gaza.

    A hora é hoje, para perguntar as perguntas que – ninguém duvide – serão perguntadas depois, então, é claro, desgraçadamente tarde demais. E quem é o traidor? Quem decidiu em nosso nome que fazer essa guerra seria patriotismo, ou quem diga que fazer essa guerra é trair Israel? Só seriam patriotas os militares, os nacionalistas, os chauvinistas que, sim, há em Israel? Só esses? Só eles? Terão alguma franquia proprietária, sobre o patriotismo? Ou, talvez, serão patriotas os judeus norte-americanos da extrema-direita? Aqueles que entram em delírio orgiástico cada vez que Israel põe-se a matar e destruir? Quem decide sobre patriotismo? Não será o caso de ver que o terrível dano que Israel está sofrendo, por causa dessa guerra, é, esse sim, a maior de todas as traições?

    Já cobri outras guerras. No inverno de 1993, vi Sarajevo sitiada e vi lá o que nunca havia visto em Israel. Até que começou a guerra de Gaza. Nunca conseguirei esquecer uma velha, bósnia, escavando a terra com os dedos, à procura de alguma raiz para comer. Não esquecerei o pânico, nas ruas, para escapar dos tiros, a bomba que destruir o mercado, a música que vinha de um rádio velho, numa noite de nuvens pesadas, de dentro da escuridão, em plena cidade sitiada: “La ultima noche.” A última noite. No verão passado cobri a guerra da Georgia, vi refugiados correndo, com seus miseráveis pertences, tentando encontrar algum abrigo, qualquer abrigo, os olhos duros, cheios de medo e de ódio. Naquelas duas guerras senti-me distante, afastado, dessensibilizado, como correspondente de guerra que vive de uma guerra para a outra, para outra. Naquelas guerras, não éramos cúmplices, nem eu era cúmplice, nem meus filhos eram cúmplices, nem os amigos dos meus filhos eram cúmplices de um crime.

    Então, foi fácil, para mim, emocionalmente e relativamente fácil, naquele caso, cobrir a guerra, escrever sobre ela. Hoje e aqui, não. Hoje e aqui se trava a minha guerra, nossa guerra, guerra pela qual todos os israelenses somos responsáveis, e pela qual todos somos culpados.

    Indispensável, inadiável, para todos os israelenses fazer ouvir a nossa voz, uma voz diferente, “alucinatória”, talvez, para ouvidos dessensibilizados, insensíveis, voz que soa como “traição”, de “ódio aos judeus”. Uma voz diferente. Uma voz que diz “Não!” a essa guerra. É mais do que direito meu, direito nosso; é nosso absoluto dever em relação ao Estado ao qual estamos tão visceralmente ligados. Vai-se ver, somos nós, sou eu, o canalha patriota.

  18. Meu xará Anarquista

    Apesar
    Meu xará Anarquista

    Apesar de saber que poderei ser acusada de arrogância, até com alguma razao, mas você nao acha que está exagerando no direito de dizer besteiras? Repito o que outro comentarista já disse: anarquista de direita é dose!
    Desculpe-me, mas você está extrapolando, e desperta a indignação dos outros, sobretudo de outras pessoas para quem o título de anarquista nao deveria ser desqualificado desse jeito.

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