Rabino diz que associar Holocausto à esquerda é falsificar história

Após visitar Museu do Holocausto, em Jerusalém, Bolsonaro e Ernesto Araújo insistem em afastar Nazismo de movimentos de extrema-direita. "O Holocausto foi um produto do nazi-fascismo, movimentos da extrema-direita europeia", responde rabino

Jornal GGN – “O Holocausto foi um produto do nazi-fascismo, movimentos da extrema-direita europeia. Dizer que a Shoá [Holocausto] foi criada pela esquerda é falsificar a história”, disse o rabino da Congregação Israelita Paulista, Michel Schlesinger, em entrevista à Folha de S.Paulo.

“A extrema-esquerda também produziu catástrofes abomináveis, mas o assassinato de seis milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial não foi uma delas”, prosseguiu o rabino que também é representante da Confederação Israelita do Brasil para o diálogo inter-religioso.

Leia também: Revisionismo histórico por governo foi o que alimentou nazismo, dizem Judeus pela Democracia

O assunto veio à tona após reiteradas manifestações do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, afirmando que o regime Nazista está no espectro político da esquerda.

“Muitas vezes, a associação do nazismo com a direita foi usada para denegrir movimentos que são considerados de direita e que não têm nada a ver com o nazismo”, disse o chanceler também em entrevista à Folha.

Araújo integra a comitiva do presidente Jair Bolsonaro que visita Israel desde domingo (31) e retorna nesta quarta-feira (03). O ministro chegou a afirmar, em Jerusalém, ontem (02), que existe uma nova vertente de pesquisadores que vê semelhanças entre o movimento nazista e a extrema esquerda e sugeriu que as pessoas “estudem”.

Perguntado sobre a questão, o presidente Jair Bolsonaro também concordou com seu ministro. “Não há dúvida. Partido Socialista… Como é que é? Da Alemanha. Partido Nacional Socialista da Alemanha”, disse o presidente.

Bolsonaro foi eleito apoiado no espectro político da extrema direita. Em 2016, o então deputado federal causou polêmica ao justificar seu voto “pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff”, homem que comandava as sessões de tortura e morte, durante a ditadura militar brasileira, que perseguiu pessoas ligadas a partidos de esquerda ou apenas progressistas.

“Um dono de centro de pesquisas falou que, depois daquele voto meu, não mais me elegeria sequer para vereador. Aconteceu exatamente o contrário”, comentou Bolsonaro também na terça-feira (02) durante um discurso concedido em um encontro com membros da comunidade brasileira em Israel, no hotel King Davi, em Jerusalém.

Tanto Bolsonaro quanto Ernesto Araújo visitaram na cidade o Museu do Holocausto. A instituição afirma que o nazismo foi um movimento que nasceu de grupos radicais de direita.

Reprodução/Museu Yad Yashem
Trecho no site do museu Yad Vashem dizendo que o Partido Nazista surgiu como uma reação às ameaças do comunismo na Alemanha entre a Primeira e Segunda grandes guerras.

Sobre a confusão manobrada por grupos de extrema-direita de que o partido liderado por Hitler era de esquerda, por causa do nome da sigla, Izidoro Blikstein, professor de Linguística e Semiótica da USP e especialista em análise do discurso nazista e totalitário respondeu, disse em entrevista à BBC News Brasil:

“Me parece que isso é uma grande ignorância da História e de como as coisas aconteceram. O que é fundamental aí é o termo ‘nacional’, não o termo ‘socialista’. Essa é a linha de força fundamental do nazismo – a defesa daquilo que é nacional e ‘próprio dos alemães’. Aí entra a chamada teoria do arianismo”.

A história também registra que, além de 6,2 milhões de judeus, os Nazistas perseguiram e mataram ciganos, homossexuais, pessoas com deficiência e opositores políticos, em sua maioria comunistas e socialistas.

Leia também: Nazismo foi um movimento de direita, diz museu do Holocausto visitado por Bolsonaro e Ernesto Araújo

Redação

3 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. “Eu avisei”: Ruralistas perdem mercado e paciência com Bolsonaro
    “Chega! Chegamos ao limite! Não dá mais! Acabou a paciência!”. Esta foi a fala de Alceu Moreira, presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, em reação ao Twitter onde Flávio Bolsonaro insulta o Hamas. O Brasil é o principal exportador de proteína halal para os árabes e os pecuaristas estão ameaçados de perder este mercado por conta da política externa anti-nacionalista, amadorista e anti-pragmática de Bolsonaro. Por ignorância, pecuaristas apoiaram Bolsonaro e agora estão tendo de se desdobrar para não perder não somente o mercado áraba, como também o mercado chinês e, inclusive, o nacional, dada a propensão do governo em abrir o mercado agropecuário para EUA e Europa. Claro está que os ruralistas estão ou mal assessorados econômica, política e ideologicamente. Se tivessem sido avisados de que o liberalismo extremo que defenderam como projeto de governo e a ideologia sabuja de Bolsonaro e seus sectos se voltariam contra eles mesmos, provavelmente, não teriam cometido o equívoco de o apoiar, nem de apoiar o Golpe de 2016 que tirou do poder um governo favorável aos seus interesses. Mas, se seus assessores não os avisaram, aqui vale lembrar: “Eu avisei”!

  2. E mais do que isto, a visão dos primeiros sabras que criaram Israel era socialista. Os sabras foram criados nos Kibbutz e de lá construiram Israel, que ora esta sendo vitimada por governos sucessivos de direita dos dois lados da fronteira. Alimentados por um conflito que ambos os lados não cansam de alimentar. Bolsonaro tem aqui no Brasil o suporte de grupos nazistas, que insistem em recontar a história e é triste que parte da comunidade judaica dê apoio a este que está ai. Apenas mais ruido e incentivo a beligerância e a uma não solução, que vai mantendo no poder apenas os que vivem do conflito em ambos os lados.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador