No Rio, um tesouro arqueológico no meio do caminho

De O Globo

Em meio às obras, um tesouro arqueológico

Se as grandes obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) não avançam no ritmo prometido pelo governo, as descobertas arqueológicas no rastro desses projetos parecem não ter limites. Dezenas de milhares de partes e objetos inteiros já foram encontrados nos canteiros das obras. No Rio e em Rondônia, há indícios que remontam a sete mil anos.

Um dos seis sambaquis (os sítios onde viveram os primeiros povos do litoral) encontrados levou a Petrobras a desviar o traçado da estrada de acesso ao Comperj. Estima-se que os sambaquis tenham quatro mil anos.

– Essa é a ocupação mais antiga da linha da costa. Os arqueólogos acreditam que outros sítios mais antigos tenham sido destruídos pelo avanço do mar – explica a arqueóloga Madu Gaspar, do Museu Nacional da UFRJ, coordenadora científica das pesquisas na região do Comperj.

Na área foram encontrados desde as famosas contas usadas pelos europeus para fazer escambo com os índios a cachimbos esculpidos usados pelos escravos. No município de Macacu foram encontradas ruínas de um convento e da vila Santo Antônio de Sá, que se desenvolveu ali em 1697, quando a região fornecia madeira e alimentos para a corte.

Responsável pelas escavações e pesquisas no Rio Madeira, na região onde está sendo construída a usina hidrelétrica de Santo Antônio, o arqueólogo Renato Kipnis, diretor da Scientia Consultoria Científica, afirma que a descoberta de sítios com concentração da chamada terra preta comprova a existência de populações de mais de sete mil anos. Há indícios de povos organizados, que já faziam algum tipo de agricultura, numa transição entre coletores e ceramistas.

– Não se tinha notícia de populações com essa datação na região – diz Renato.

Também foram encontradas gravuras rupestres em ilhotas que serão inundadas. Para estudá-las, a empresa recorreu a novos equipamentos, com scanners a laser, para fazer fotos e filmes em 3D das imagens. Muitas só ficariam expostas na baixa do rio.

Os achados de Santo Antônio se juntarão aos da usina de Jirau, também no Rio Madeira, em um novo edifício na Universidade Federal de Rondônia. As principais peças encontradas nas obras do PAC ainda farão parte de uma grande exibição a ser realizada no ano que vem no Palácio do Planalto.

Na usina de Teles Pires (na divisa entre Mato Grosso e Pará), as descobertas estão em fase de levantamento. Mas já está sendo criado um programa voltado para o turismo, expondo os objetos e recontando a história das diversas etnias da região. Segundo a arqueóloga Erika Gonzalez, o circuito começará a funcionar em fevereiro.

Luis Nassif

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