Sobre merecimento e a necessidade de entender a concepção real das palavras

Por Matê da Luz

Esta semana rolou um bafafá em torno de um quadrinho que fala sobre merecimento. Tome um tempo pra ler. 

 
Pela minha compreensão, o que o quadrinho apresenta tem um quê de perspectiva: normalmente olhamos as situações de dentro do nosso contexto em relação ao mundo exterior. “Sim, claro, de onde você quer que eu olhe? Esta é minha referência”. 
 
O que quero propor com este post é uma reflexão: será que, ao olharmos e sentirmos o mundo apenas deste ponto de vista interno, não estamos ignorando a imensa riqueza de possibilidades e, assim, reduzindo nossas próprias opções? 
 
Pense que você é um bem nascido, estudou em boas escolas, teve ajuda dos pais, amparo dos amigos e sofreu influências de todas estas pessoas e, então, tenha chegado a uma boa condição de vida. Mas que, de repente, sinta instalada uma enorme insatisfação com a vida. “Ingrato”, pode ser isso. Pode ser também que sua natureza esteja te avisando que está na hora de mudar o olhar – inclusive e especialmente sobre si mesmo. E então é hora de procurar o que te preenche ou, melhor ainda, o que te transborda. 
 
Merecimento, no dicionário, quer dizer “qualidade em função da qual se merece prêmio, apreço, estima etc. Valor, mérito, importância. Habilitações, habilidades, capacidades”. O que, de fato, inclui algum ou muito esforço e comprometimento para que se tenha ou, indo mais fundo, atitudes de coragem que façam valer sua simples existência – pra você mesmo, pro mundo e pros outros, numa ordem bastante saudável e cheia de méritos pra quem arrisca. 
Mariana A. Nassif

50 Comentários

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  1. Esse quadrinho é clássico e

    Esse quadrinho é clássico e retrata bem o que vem acontecendo no debate sobre meritocracia. Não se condena o “nascer bem”. A coisa é que para aqueles que sempre tiveram estrutura as coisas vieram mais naturalmente do que aqueles que não a tiveram. Até aí é chover no molhado. O ponto é a IDIOTICE de bradar aos quatro contos que conseguiu tudo por “Mérito”. Não há mérito na sorte de nascer em família que deu condições para “chegar lá”. Afinal, ninguém escolhe onde nasce.

  2. Isso é verdade, mas não se

    Isso é verdade, mas não se consegue chegar em uma sociedade totalmente igual. Condições totalmente iguais não existem.

    É preciso qualificar o debate. Nem por isso o mérito deixa de existir. Hà pessoas com e sem condições de vida que chegam em piores e outras em melhores condições, isso tudo devido a vários fatores, entre eles estão sim o esforço e o mérito próprio, que não pode ser excluido como uma das variáveis.

    O que a sociedade tem que tentar fazer é dar condições razoáveis  mínimas de igualdade na saúde de educação básica.

    Não é o que temos no Brasil, definitivamente. Precisamos de uma agenda para buscar essa convergência.

     

    1. Uhum…

      Daniel,

      Cuidado para não desqualificar o quadrinho. É claro que o mérito é importante e que existem exemplos diversos, para o bem e para o mal, nos dois casos (o bem e o mal nascido). Mas o que importa aqui é a REGRA GERAL, não as exceções. Enquanto regra geral, acho que o quadrinho vai bem.

      Outro ponto de atenção é com relação às “condições mínimas razoáveis de igualdade”, que você cita. Acho que ninguém é contra isso, mas o ponto a ser discutido é: considerando que estabelecer condições mínimas razoáveis de igualdade demora um bom tempo, o que fazer até lá?

      Abs 

      1. Se fala das cotas eu não sou

        Se fala das cotas eu não sou contra as cotas, sou a favor, sempre manifestei posição a favor delas aqui.

        O problema é que só o quadrinho não diz nada, pode inclusive suscitar interpretações absurdas. O que a autora dos quadrinhos sugere fazer ? Ela não diz nada.

        inclusive nas cotas há sim mérito. Ora, cotas, quaisquer que sejam, são reservas de vagas para determinados grupos, inclusive pode haver nota mínima. Ou seja, sem alguem mérito ou esforça mesmo com cotas, ninguem chega a lugar algum.

         

    2. Bem lembrado, Daniel, o

      Bem lembrado, Daniel, o quadrinho tem certa verdadezinha, mas o mais importante é o mérito. Isso é o mais importante na discussão, que o quadrinho simplesmente ignora. Afinal de contas, igualdade é algo inalcançável. Espíritos mais evoluídos merecem o astral superior e os menos evoluídos, o umbral.

       

      1. Que tal essa outra dica: não

        Que tal essa outra dica: não fazer galhofa, depreciar a opinião de outros é sinal de boa educação e da posse de princípios éticos. 

        O tempo que perdeste para publicar essa grosseria poderia melhor ser utilizado para opinar acerca do tema em foco. 

        1. Apoiado, nobre e preclaro

          Apoiado, nobre e preclaro senhor JB Costa. Que grosseria! Que falta de educação! Galhofa aqui não! Princípios éticos acima de tudo! A crítica deve ser aceita, mas sempre dentro da moralidade e do comedimento aceito na nossa tradicional sociedade. Ora, não podemos tolerar esses bárbaros histriônicos! Sem mais, passar bem. Alvíssaras!

           

        2. JB, concordo com vc em 95% dos casos, mas nesse aí nao

          Criticar fala vazia é importante. E nao vi grosseria nenhuma no comentário, apenas crítica. talvez levemente ferina, mas nao demais (e a web nao é um lugar para donzel@s de pele por demais delicada… ).

          1. Talvez seja muito sensível,

            Talvez seja muito sensível, Anarquista Lúcida. Acontece que NÓS(realce porque muitas vezes incido nessas ironias) fazemos uma leitura apressada do que lemos ou então não apreendemos o que nosso interlocutor quis expressar. Não seria mais lhano(êpa!) lhe pedir para ser mais claro etc? 

            Se o comentarista gasta seu tempo para expor uma opinião o mínimo que podemos fazer com relação a isso é não depreciá-la. Ao fazê-lo, atingimos a sensibilidade das pessoas.

          2. Sou contra baixaria. Mas acho que nao dá para exagerar

            Primeiro porque — nao é o caso do Daniel — às vezes há comentaristas que realmente merecem um “chega pra lá” (caso de comentários preconceituosos, sobretudo). E depois porque, francamente, quem tem sensibilidade demais e quer comentar na web, vai ter que aprender a ser um pouco menos sensível, a web nao vai mudar para evitar incomodá-los. 

            Repare, eu acredito que o Daniel ache que tenha dito alguma coisa, que nao perceba a platitude do que disse. Ele é um cara bem intencionado, sei disso. Mas o que disse é o mesmo que dizem todos os que querem ignorar a questao em pauta.Nao é o caso de lhe pedir clareza, ele foi claro… E acho que a crítica que recebeu foi na medida, nao foi forte demais.

          3. Eu não quis ignorar.
            Eu

            Eu não quis ignorar.

            Eu comentei sobre uma agenda de melhoria da educação básica porque é urgente que busquemos isso, está ate no lema do Governo “Patria educadora”.

            Existem também outros fatores, como politicas sociais, cotas, etc, que eu também sou a favor. Só não citei porque a grande maioria dessas políticas já existe e foi criada recentemente.

            E a sua proposta, qual é ?

          4. Falei do seu primeiro comentário, onde nao era disso q vc falou

            E sim da questao do  “mérito”.

        3. Obrigado JB.Realmente fica

          Obrigado JB.

          Realmente fica dificil entender para que o pessoal perde tempo botando esses memes..rsrs, vai entender….

          Acredito que seja falta de argumentos sobre o fundo, ai querem criticar a forma….

          Mas enfim, retornando ao tema do quadrinho. Eu penso que, no mínimo, ele ficou incompleto. O que a autora sugere que seja feito então ? Se for cotas eu sou a favor. Mas cotas não prescindem de mérito e esforço. Os que entram por cotas são sempre os melhores em algum grupo. Ai voltamos ao “problema’, são os melhores por uma séria de fatores, dentre os quais, claro que exsite também o mérito e esforço próprio.

          Tentar mudar a socieadade para que sejamos todos iguais ? impossível.

          Dai minha sugestão em o País ter uma agenda de melhoria da educação básica, aliada a políticas de transferencias de renda e sociais(bolsa família, luz para todos, fies, etc…) Essas políticas sociais e cotas ja existem, por isso que no comentário enfatizei a agenda da melhoria da educação básica. Parece clichê, mas qual é a outra opção ? Até agora, não vi ninguem dizer nos comentários.

          E essa, claramente, não é a agenda atual do Brasil.

          Todavia, se o objetivo dos quadrinhos for apenas dar argumentos para que quem ouça alguem dizer que chegou em tal posição exclusivamente por méritos próprios ai sim o quadrinho que é um clichê de algo óbvio e totalmente desnecessário.

          Pois é evidente que existem diversas outras variáveis inclusive antecedentes sociais para a posição social que todos nós nos encontramos hoje.

  3. Querem apostar…

    …que alguém (neste blog não é tão provável mas não impossível) vai mencionar “alguém-que-nasceu-em-condições-desfavoráveis-e-chegou-lá-pelo-próprio-esforço”, propagandeando tanto a excessão absoluta que ela vai parecer a regra – contradizendo o óbvio que tão claramente o quadrinho mostra?

    1. Já aconteceu. Veja o comentário do Quireza acima…

      Dá um desânimo… Isso é como o mito da “boa escola de antigamente”. Boa para quem, caras pálidas? Apenas 50% da populaçao chegava ao PRIMÁRIO, e desses só cerca de 30% (portanto 15% da populaçao) chegava ao fim da terceira série. Para os que sobravam a escola era boa…

    2. É assim que funcionam os
      É assim que funcionam os jogos de azar. E assim que a casa sempre ganha indeoendente de um ou outro felizardo.

    3. Luta de classes
      Daqui há pouco vai aparecer alguém dizendo que isso é culpa da Dilma e do PT!
      Que antigamente não tinha nada disso é blablabla.

  4. Algo a se pensar …

    Richard não é o culpado por Paula não ter oportunidades – mas querem que ele pague por crimes que nem se sabe se seus antepassados cometeram. Assim, querem que ele compense os erros e ainda se sinta satisfeito por isso.

    Deixemos de lado, por um minuto, o aspecto de reparação. Se retirardes da classe média para dar aos famintos, sem justificar de forma consciente o que eles ganham com isso, o que você consegue?

    Ódio. Nada mais do que isso.

  5. A maior mentira dos Neoliberais

    “As oportunidades são iguais para todos”.

    Nunca vi uma mentira maior do que essa. E o que é pior: muitas “paulas” da vida acreditam piamente nisso quando ouvem da boca dos “richards”…

  6. tem outra questão

    Tem outra questão a consiedrar, quem disse que a referência de ‘sucesso’ deve ser o Richard. Há um texto do Paulo Freire, quando atuava no Chile com camponeses, e analisava, que a referênica de liberdade do trabalhador subempregado era se tornar o capataz ou patrão. No fim das contas, a referência do oprimido é se tornar opressor. Para o sábio educador, essa não pode ser a referência se quisermos algo diferente do que se apresenta.

    Logo, a referência para a “liberdade” de Paula, não pode ser o mudo de Richard.

    Sobre os demais aspectos, concordo com a existência da desigualdade. Eu estudo  (a noite) e trabalho 8 horas por dia, e tem filho. Me sobra algum tempo para estudar. É a condição da maioria de meus colegas, nem por isso estou atrás daqueles que sairam do ensino médio a pouco, só estudam e aproveitam as oportunidades de estágio.

    A sociedade é desigual, espero que um dia sela seja menos desigual.

  7. tem outra questão

    Tem outra questão a consiedrar, quem disse que a referência de ‘sucesso’ deve ser o Richard. Há um texto do Paulo Freire, quando atuava no Chile com camponeses, e analisava, que a referênica de liberdade do trabalhador subempregado era se tornar o capataz ou patrão. No fim das contas, a referência do oprimido é se tornar opressor. Para o sábio educador, essa não pode ser a referência se quisermos algo diferente do que se apresenta.

    Logo, a referência para a “liberdade” de Paula, não pode ser o mudo de Richard.

    Sobre os demais aspectos, concordo com a existência da desigualdade. Eu estudo  (a noite) e trabalho 8 horas por dia, e tem filho. Me sobra algum tempo para estudar. É a condição da maioria de meus colegas, nem por isso estou atrás daqueles que sairam do ensino médio a pouco, só estudam e aproveitam as oportunidades de estágio.

    A sociedade é desigual, espero que um dia sela seja menos desigual.

  8. tem outra questão

    Tem outra questão a consiedrar, quem disse que a referência de ‘sucesso’ deve ser o Richard. Há um texto do Paulo Freire, quando atuava no Chile com camponeses, e analisava, que a referênica de liberdade do trabalhador subempregado era se tornar o capataz ou patrão. No fim das contas, a referência do oprimido é se tornar opressor. Para o sábio educador, essa não pode ser a referência se quisermos algo diferente do que se apresenta.

    Logo, a referência para a “liberdade” de Paula, não pode ser o mudo de Richard.

    Sobre os demais aspectos, concordo com a existência da desigualdade. Eu estudo  (a noite) e trabalho 8 horas por dia, e tem filho. Me sobra algum tempo para estudar. É a condição da maioria de meus colegas, nem por isso estou atrás daqueles que sairam do ensino médio a pouco, só estudam e aproveitam as oportunidades de estágio.

    A sociedade é desigual, espero que um dia sela seja menos desigual.

  9. Meritocracia fajuta

    Havia lido esse quadrinho e achei bem instigante. Imagino que o bafafá tenha sido dos que defendem a meritocracia fajuta dos bem-nascidos.

    Li também aqui – http://goo.gl/DHWjGQ – a dinâmica da bolinha de papel que é utilizada (segundo o autor) em faculdades de administração nos EUA para ilustrar as ideias de privilégio, oportunidade e mobilização social.

    Funciona assim: cada aluno ganha uma folha de papel e deve fazer uma bolinha para acertá-la em um cesto de lixo colocado na frente, embaixo do quadro.

    “Trata-se de uma metáfora: para subir às classes mais altas, tudo o que você precisa fazer é acertar sua bolinha no lixo, sem se levantar da cadeira”, diz o professor.

    Naturalmente, quem está atrás reclamará que os que estão na frente têm melhores chances. E é isso que acontece: muitos da frente e alguns poucos de trás conseguem acertar o alvo.

    É um retrato da sociedade americana ou brasileira: quem está na frente tende a achar que conseguiu subir por mérito e não pelo privilégio da sua posição inicial.

    Como reduzir essa desigualdade? Trazer gente de trás para mais perto do cesto por meio de políticas de cotas é um caminho. Porque no fundo diversificar a elite é o principal objetivo das cotas.

    1. Excelente essa dinâmica. Pra
      Excelente essa dinâmica. Pra ficar ainda mais realista, os primeiros da fila devem ser os priros a jogar e a cada acerto a cesta diminui de tamanho

    2. Excelente essa dinâmica. Pra
      Excelente essa dinâmica. Pra ficar ainda mais realista, os primeiros da fila devem ser os priros a jogar e a cada acerto a cesta diminui de tamanho

  10. A liberdade é a consciência

    A liberdade é a consciência da necessidade. Paula só poderá se libertar através do conhecimento que ela dificilmente terá. Conscientizar os outros é tarefa que se impõe aos que que desejam transformar a sociedade. Paula vai se conscientizar, com a ajuda de alguém (talvez de seus professores, se os fascistas legisladores não os perseguirem e os anularem com leis que reprimam seus deveres didáticos). E quando Paula se conscientizar, deverá  entender que, como diz o verso de JC de Mello Neto, “Um galo sozinho não tece uma manhã.” Ela terá que entrar para um partido político que certamente não será o PSDB, o  partido do Richard.

  11. O quadrinho é bem criativo.

    O quadrinho é bem criativo. Vale também pela discussão que pode suscitar. Há, mundo agora, enorme literatura que mostra que o “insucesso escolar”, por exemplo, é muita coisa além de “escolar”. Aliás, é muito mais nao-escolar do que escolar. Se voces quiserem uma dica de leitura interessante sobre o tema, procurem no google por David Berliner. Ele tem ótimos livros sobre a escola pública americana. E vários relatórios e artigos, disponiveis na rede, sobre os fatores não-escolares das dificuldades cognitivas e do “insucesso escolar”. Confronta aquilo que ele chama de “nossa empobrecida visão da pobreza” e nossas concepções sobre as políticas que podem diminuir as dificuldades escolares das crianças de classes populares.

  12. Muito boa a mensagem expressa

    Muito boa a mensagem expressa pelo quadrinho. Meritocracia. a depender do enfoque a ser dado pode ser um argumento falacioso, se não mesmo mentiroso.

    A condição básica e a priori para que possa ser posta à mesa não é exatamente a igualdade de condições na “partida” porque isso inexiste na Natureza, mas o que fizemos ou fazemos das nossas circunstâncias; das variáveis de que dispomos. É por esse viés que não existem propriamente no “jogo” da vida ganhadores ou perdedores. 

    O discurso da meritocracia é altamente ideológico no sentido vulgar desse termo. Geralmente é sacado ou para tentar justificar iniquidades sociais ou, o que é muito comum naqueles que ascenderam socialmente, para a auto exaltação. 

     

  13. No Brasil, meritocracia virou sinônimo de

    hipocrisia, é apenas mais uma maneira cretina de justificar o “sucesso” dos bem-nascidos e seus amigos e o fracasso de pretos/pobres.

  14. A luz no fim do túnel

    Olá debatedores,

    interessante  o quadrinho e muito bem feito. 

    Interpretando  o título que foi escolhido, creio que há mais de uma forma de entender a concepção real das palavras.

    Aliás, vou avançar um pouco para tentar compreender não apenas as palavras, os vocábulos isoladamente, mas as frases, orações, os textos, escritos e não escritos ( o desenho, as imagens escolhidas etc) .

    Nesse sentido, acho que um  problema subentendido encontra-se no último quadrinho , quando o Richard diz que está cansado de ver pessoas pedindo ajuda e sugere menos choro e mais trabalho. Além, é claro, de alguém lhe entregar justamente naquele momento, “algo”, de bandeja.

    Quem sabe esse “algo” não seria a festejada “mais-valia” heim? rsrss.

    Lado outro, o Richard, de acordo com os diversos textos contidos no quadrinho acima,tem  lá os seus méritos e penso que não se pode criticá-lo negativamente por isso. Ademais, qualquer crítica nesse ponto é, normalmente, tratada como  “inveja”.

    Todavia, o que ele disse ao final nos sugere o caráter imutável de todo o processo.  Há algo de “conservador” no ar. Ou seja, o tempo vai passar  e , “coeteris paribus”, seus descendentes estarão no futuro dizendo coisas semelhantes para os descendentes da(s) Paula(s) e assim, sucessivamente. Logo, não se pode concluir que “tudo que é sólido se desmancha no ar”. Ora, nem tudo. Berman equivocou-se na “interpretação” daquele outro texto.

    É certo que no “longo prazo” a depender de algumas políticas públicas adotadas no presente – e se forem mantidas – pode ser que lá na frente, lá no longo prazo, alguma coisa mude de forma consistente. 

    Mas, se olharmos para a história para tentar projetar algum futuro,  veremos que as mudanças são sempre cosméticas, reformistas, são perfumes ou  “botox”, Projeções com tais séries históricas não passam de “curvas de indiferença. E bota indiferença nisso. 

    Até mesmo a tal de “solidariedade” formalmente estabelecida depois da “bondade” humana da segunda grande guerra, fico ali, meio que no banho maria, meio que na “fria” até 1990. Na máximo uma “fraternidade” via “pilantropia”.

    Pensamento negativo? Pode ser.  Porém, tenham cuidado, um pensamento  positivo pode anular o negativo e não agregar nada, como nos ensina a “racionalidade” matemática, agravada pelo outro “pensamento negativo” da última moda, qual seja, a de que o estado deve mesmo é garantir a ordem, os contratos, dos direitos de propriedade. O resto, deixar para os “Richards” panelas da vida que eles sabem muito bem o que fazer.

    Nesse sentido, vou lhes dizer:

    não sou pessimista. Vejo uma luz no fim do túnel para as paulas da vida. Trata-se de  um trem de ferro vindo em sua direção.

    Em certos momentos, vejo um “museu de grandes novidades”, como diria o saudoso poeta.

    Pode-se  enriquecer o verso do poeta com  os  “méritos” acumulados em diversas “ilhas parasidícas” mundo afora, selic nas alturas e dollár flutuante!

     

    Saudações 

  15. Tao the King

    As três coisas que devemos cultivar em nós mesmos são: a humildade, a economia e a compaixão.

    As três coisas que devemos evitar em nós mesmos são: a ambição, a ilusão e o egoìsmo.

    Fica mole montar os dois arquétipos num quadrinho, um com todos os evitáveis e outro com todos os desejáveis e contigênciar ambos a um julgamento maniqueísta.

    Infelizmente, ou felizmente, o mundo é muito mais complexo do que isto.

    Em todo caso, a concentração pornográfica de riqueza levou a menor velocidade do dinheiro de todos os tempos no capitalismo ocidental, durma com um barulho desse…

    1. Ainda bem que alguém
      Ainda bem que alguém percebeu que uma tirinha não abordou toda a complexidade do tema. Estava aqui preocupado com seu uso em ambiente acadêmico.
      Até pensei que fosse o TCC de algum aluno de Ciências Sociais com mais talento para o desenho que para a escrita.

  16. Excelente

     Na minha sala de aula, quando estudei no ensino médio nos encontramos para confraternizar, vinte anos depois de formados.

    Os alunos que os pais ajudaram, pagaram faculdade, arrumaram estágio, subiram ao topo da pirâmide social. Se tornaram Engenheiros, diretores de empresas, advogados, Empresários etc. As vezes vejo alguns destes colegas andando com seus carros importados super caros.

    Os alunos que os pais não tiveram condições de ajudar  se tornaram mecânicos, atendentes de lojas, etc. A maioria não casou nem conseguiu comprar quase nada.

    O sucesso na nossa sociedade é 50% oportunidade e 50% talento e esforço. Sem oportunidade, a pessoa pode ser a mais talentosa do mundo, que não chega a lugar nenhum. E geralmente a oportunidade depende da família onde se nasce.

    Pior ainda, tem pessoas que são ajudadas pelos pais, e tendem a vencer na vida; Tem outras que os pais não tem condições de ajudar, mas pelo menos suprem a retaguarda finaceira da casa enquanto o filho estuda, estas ainda tem algumas chances de vencer, enbora menos chances. E os casos mais dificeis de todos é quando o filho tem de sustentar, cuidar dos pais seja por motivo de doenças ou outros motivos; quando o filho é o muro de arrimo da família e suatenta a família inteira nas costas sozinho. Nestes casos é muito difícil do filho ascender socialmente.

    Os mais ricos tem a ilusão de que subiram na vida por seu talento, sem imaginar que sem portas abertas por alguém, para eles,  não conseguiriam ir muito longe.

    1. Desculpe, mas a conclusão a
      Desculpe, mas a conclusão a que você deveria ter chegado de acordo com suas observações pessoais, é que o sucesso em nossa sociedade é 100% oportunidade, 0% esforço.
      Não é o que acredito, mas essa seria a conclusão baseada somente em sua experiência pessoal

      1. Na verdade não coloquei 100 %

        Na verdade não coloquei 100 % porque há excessões.  Alguns colegas, o pai deu tudo de mão beijada, e o filho não soube aproveitar. Teve um pai que  montou uma auto peças para os dois filhos e um destes vendeu a parte dele para o irmão, depois torrou todo o dinheiro, e agora foi trabalhar de balconista em uma outra loja.

        Então só oportunidade realmente não basta, mas a pessoa tem também de levar adiante o que os pais deram para os filhos.

        Por mais incrivel que pareça tem filhos de pais ricos que recebem tudo e não sabem aproveitar, e podem perder tudo o que receberam, caindo na pobreza.

        Nossa sociedade é muito estamental, a pessoa dificilmente muda da classe socia que nasceu para outra melhor. Mas para cair de classe é muito rápido, só um deslize.

        Então eu diria que o sucesso é 70% oportunidade, e 30% esforço e talento.

         

  17. Consigo enxergar 2 soluções basicas.
    O empreendedorismo por parte da burguesia e a educação.
    Chegar ao ponto de se considerar “ingrato” é uma fronteira perigosa dali em diante. Tédio é oficina do diabo.
    Renunciar à uma vida materialista nao chega a ser nenhum absurdo.
    Mas é evidente que fica a sensação de que a boiada de ter nscido em berço de ouro poderia ser usada a favor de um progresso, cultural, econômico, esportivo….
    Há tantas lições, tantos exemplos simples que o que acho que falta é exercirar a criatividade em vez de pertencer às finas classes.

  18. O quadrinho simplificou um

    O quadrinho simplificou um assunto bem complexo, mas concordo que vale para a reflexão.  Nem sempre tudo acontece como o quadrinho mostrou, embora na maioria das vezes devo concordar que sim.  

    A minha experiência pessoal não foi como no quadrinho, mas poderia ter sido, caso eu tivesse que tropeçar em alguma variável não favorável, por exemplo,  a doença de um dos meus pais, como foi desenhado.

    Cresci  e nunca pensando nas diferenças de oportunidades, isso até  chegar aos 35 anos, mais ou menos.  Hoje é estranho imaginar a  minha falta de visão para tudo que me cercava. Estudei em uma escola técnica com colegas pobres, ricos e classe média. Na época já sabíamos qual seria o destino automático de cada um de nós. O colega rico, depois de formado, iria trabalhar na empresa da família, o pobre precisaria provar para Deus e o mundo que fazia a diferença  para ser aceito e ascender na carreira. Achávamos isso natural, embora não justo.

     Alguns colegas preferiam ser colegas dos ricos do que dos pobres, isso já pensando nos benefícios de ter amizade com gente influente.  Não que não acreditassem em si, mas esta é uma  das características de muita gente – ser  um lambedor de botas, caso tudo mais falhe.  

    Muito mais tarde, lá pelos 35 anos, como escrevi, um fato um tanto bobo me chamou a atenção. Uma professora universitária nos contava da viagem que fizera com os filhos para os EUA.  Eram crianças ainda pequenas: a menina tinha cinco anos e o menino oito.  Ela nos contou dos museus, das galerias, teatros etc.  Nos contou da escola bilingui das crianças, daí elas já poderem se virar no país. Depois de tudo pensei que  quando chegarem aos 18 anos estarão muito mais bem preparados, pelo menos em tese, do que eu, caso fosse contemporânea das crianças.  Foi então que refleti sobre os valores sociais, sobre os esforços, merecimentos e  a sorte de nascer em certas famílias.   Então muita coisa por ser por sorte mesmo! Foi desde este fato que passei a entender que as coisas não se resume no esforço pessoal pura e simples. Cansei de ver gente se esforçando ao longo da minha vida, mas nem por isso alcançaram metade do posto de colegas mediocres, mas com família de posses.

    Mas existem vários aspectos que não foram abordados, mas também deveriam entram na reflexão.  Como mulher e pobre, muitas vezes foi mais difícil eu atingir um status do que colegas homens e pobres. No mundo do negócio,  nas vagas  mais interessantes,  a mulher vai precisar ralar mais para subir.  Quer dizer, as barreiras sociais são várias,  condição social é uma delas.

    Mas também esta reflecão merece um toque  filosófico.  Caso você dê R$ 50,00 para pessoas diferentes, cada um escolherá o que fazer de acordo com as suas necessidades presente e maturidade.  Um rico pode pegar este dinheiro e torrá-lo, pois sabe que terá mais amanhã. Um pobre precisará  guardá-lo para a realização de um sonho do futuro.  Dependendo, pode acontecer ao contrário: o rico guardar o dinheiro e o pobre gastar.  Moral da história:  ser pobre é uma condição desfavorável em princípio, mas não precisa chutar o balde por isso!

     

    1. É verdade.
      Muito bom texto.
      E

      É verdade.

      Muito bom texto.

      E existe também aqueles casos em que os filhos, geralmente de famílias mais ricas. se tornam verdadeiros vagabundos, não querem nem estudar e nem trabalhar, pois desde sempre tiveram tudo na vida.

      Crescem pessoas inseguras e sem auto estima. Incrivelmente há casos também que ter mais dinheiro atrapalha.

       

  19. Meritocracia …

    Meritocracia pressupõe oportunidades similares. Difícil falar de meritocracia na sociedade brasileira onde prevalece uma fabulosa desigualdade entre as pessoas. Chega a ser imbecil pensar que “todos são iguais perante a lei”. O nosso apartheid social tem sido bem sucedido. 

  20. Além disso tem o preconceito…

    Para um branco de família nobre no Brasil trabalhar é uma coisa indigna e como a sociedade brasileira continua escravocrata e racista é bem capaz de que ao longo da vida ele nunca tenha de trabalhar sério ( nem digo “ralar” como alguém pobre). Sendo assim ele nunca vai ser confrontado em sua visão de mundo. Vai virar um “coxinha” que bate panelas. Reclama apesar de trocar de carro todo ano, viajar para vários países do mundo, acordar as 9 da manhã pra cumprir horário em algum emprego de 4 horas diárias com salário de 10 mil reais. Nunca verá uma grande parte do mundo e do universo.

    Infelizmente este cara vai acabar em um cargo político e econômico importante e vai reforçar eternamente a vida boa dos inúteis filhinhos de papai – Vide o exemplo do candidato a presidente Aécio Neves, ele é um típico exemplo do que falei.

    1. Esse tipo de pensamento é tão

      Esse tipo de pensamento é tão discriminatório quanto o que voce cita no exemplo do quadrinho.

      Existe sim “filhinhos de papai” que nascem e se tornam empresários sem fazer quase nada. Porém , a grande maioria que bate panelas, está bemm focada no futuro. e apesar de ter oportunidades, trabalha e paga impostos em toca de nada. Porque nesse país não se tem nada. Não há escolas, não jhá hospitais, enfim retorno minimo. Um jovem menos abastado pode te mais dificuldade, mas as oportunidades estão aí para todos. Uma sociedade é feita de vários niveis de classe social. Há , como em todo lugar, os que mandam , os que obedecem e são felizes assim.

      O que não pode é achar que uns tem que trabalhar para os outros… Se eu trabalho mais e sou esforçada, mereço ganhar mais do que outro.

       

      O eemplo do texto existe mesmo. Mas refere-se a uma pequena parte da sociedade. A grande parte, trabalha e paga os impostos ( 30%)  e sustenta esse país…. e de quebra boa parte de políticos e empresáios corruptos. 

       

      O PT ( que eu não votei e não votaei JAMAIS)  foi uma grande decepção para muitos que nele depositaram uma esperança..   Patido cujjo interesse é mero político. Desempenho pífio. incompetencia foi sua marca em todos os n´veis. 

       

       

  21. Os nomes dos personagens dizem muito…(tinha de ser em inglês)!

    Richard – nome algo saxão- mesmo que a partir de uma raiz latina.

    Paula – nome comum e clara origem latina.

    Até aqui o anglicismo viralata da elite brasileira ganha do bom senso… Parece até aquelas latinhas de Coca-cola com o nome de pessoas…(Alguém já conseguiu achar seu nome nessas latinhas? Só se a pessoa se chamar Paul, Richard, Pamela ou George…)

  22. “Oquadrinho é intitulado “On

    “Oquadrinho é intitulado “On a Plate” ou “De Bandeja” – em português – e é um pequeno ensaio gráfico sobre privilégio e justiça social.

    A discussão sempre existiu e aqui no Brasil se acentuou na última década. Bolsa Família, FIES,Cotas, Auxílios previdenciários, etc., são siglas e expressões que permeiam quase toda conversa nos círculos sociais.

    O debate possui alguns pontos profundos e às vezes é difícil delimitar se existe apenas uma postura completamente correta. Entretanto, também existem falácias que parecem se propagar com o vento e, ao ecoar nas redes socais, acabamos por internalizá-las sem maiores questionamentos.”

    http://catavento.me/de-bandeja-voce-pode-ser-mais-privilegiado-que-imagina/

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