Transição da umbanda pro candomblé, por Matê da Luz

Candomblé

Por Matê da Luz

Gosto de contar um tanto sobre o invisível que me cerca e, então, vou compartilhar aqui a experiência que tenho vivido na transição da minha religiosidade.

Antes de mais nada, conto que a principal diferença da umbanda pro candomblé, basicamente falando, é que uma lida com espíritos em evolução (as entidades) e a outra lida com energias relacionadas às forças da natureza (os orixás). Sim, na umbanda também existem os orixás, mas a forma de lidarmos com eles são mais diversas, menos íntimas do que acontece no candomblé. Existem, claro, diferenças mais profundas e vez ou outra até secretas, especialmente as que envolvem os rituais de corte de animais e ebós, praticados com naturalidade no candomblé e em quase nenhum momento na umbanda mas, como ainda não estou profundamente envolvida, não saberia detalhar estas experiências – ainda!

Daí que de uns tempos pra cá vem rolando no meu invisível uma movimentação de me encaminhar pra mais perto dos ifás ancestrais que envolvem o candomblé e eu, que confio de olhos fechados no meu caminho especialmente após retomar a vida pelas mãos e com o coração aberto e livre, não me amarrei. Sempre tive algum medo desse compromisso todo com o orixá – há quem diga que nos tornamos escravos do orixá quando nos deitamos para o santo – mas, de alguma forma, não me sinto mais assim, mas mais curiosa sobre essa relação e bastante afim de conhecer mais profunda e intimamente esta relação.

Na umbanda, sou médium de incorporação, o que trouxe um time de entidades que chamo “meu povo” pra bem perto de mim e que, com o ingresso no candomblé, já vem deixando saudade por aqui. As Marias que me acompanham não ficarão distantes, eu soube, apenas não farão mais parte da rotina, já que a energia do orixá é algo que transcende as almas. Este é um dos fatores que tem provocado alguma dor, aquela da saudade nostálgica, sabe?, de lidar com situações que nem aconteceram e das quais a gente sabe que vai sentir falta, mesmo que tenha escolhido com a mente aberta e consciente.

Meu primeiro passo pra dentro do ilê, como é chamada a casa de candomblé, se dará neste domingo próximo, num jogo de búzios que identificará a ligação do orixá comigo e com a casa e, quem sabe, solicitará algumas coisas que podem variar de preceitos de purificação a entregas de oferendas. Estou ansiosa e tranquila ao mesmo tempo, num mix de sensações que há tempos venho buscando. O conhecimento sempre foi alimento pra minha alma e, enfim, estar perto de um começo tão cheio de significados não poderia trazer sentimentos diferentes. Transições são períodos complexos, ainda mais quando acontecem em grandes blocos mas, pelo menos por aqui, esta mudança se faz necessária, naturalmente. 

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Mariana A. Nassif

7 Comentários

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  1. Longa estrada

      Sem fim, com muito mais espinhos que flores, tenha sempre em mente :

      Um Ilê, qualquer um não importa a Nação, é uma “familia”, e como qualquer familia, tem seus problemas, brigas, discussões, e o pior : Fococa, disse – me – disse, trairagem…..e demais pepinos que subsistem em nucleos familiares expandidos.

       Boa Sorte, bem vinda, que vc. tenha um auspicioso nascimento.

  2. Leia, procure, informe-se

        Não parece, mas é importante não apenas o que se aprende no “roncó” ou na “camarinha”, o que as ekédes lhe falam, tanto as de sala, como as de “cozinha”, ou as de “fundamento”, e até o que su Pai/Mãe lhe instrui através dos buzios ou do opelé de Ifá ( vc. ainda não conhece, mas irá conhece-lo, é tipo uma confirmação dos buzios ) – candomblé é hierárquico, como escrevi embaixo é uma “familia expandida”, um dos troncos de uma Nação.

         Humildemente lhe indico uma bibliografia, está em : http://www.fflch.usp.br/sociologia/prandi , pois o Prof. Reginaldo Prandi tem uma visão muito interessante, academica mas exata, tanto no site como em seus livros, do que significa o candomblé, algumas de suas tradições, ritos e origens..

  3. A muitos anos atrás a irmã da minha avó era uma grande mãe de santo ela migrou da umbanda para o candomblé é isso acabou com ela, ela ficou muito doente e debilitada e faleceu.

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