Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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Você sabe que é gnóstico quando…

Você pode ser gnóstico e não sabe! Em dezembro de 2011 publicamos uma pequena lista de doze atitudes que indicariam quando uma pessoa tem predisposição a ser gnóstica. A lista tinha sido elaborada pelo escritor norte-americano Miguel Conner, apresentador do programa radifônico online Aeon Bytes Gnostic Radio e um pesquisador sobre as diversas escolas da filosofia gnóstica. Esse ano resolvemos elaborar a nossa própria lista: uma série também de doze itens onde são apresentadas atitudes, impressões, sentimentos ou insights que revelariam indícios de que uma pessoa teria uma certa predisposição ou atitude mental gnóstica.

Essa lista, ao mesmo tempo séria e irônica (esse mix intelectual faz parte da visão gnóstica) demonstraria o porquê da longevidade histórica do Gnosticismo e, ao mesmo tempo, porque despertou tanto ódio e perseguições das religiões institucionalizadas – e principalmente a Católica. Primeiro porque o Gnosticismo não é uma religião, doutrina ou filosofia plenamente sistematizada como bem definiu Stephen Holler: “uma certa atitude da mente, uma ambiência psicológica, um certo tipo de alma”. A atitude crítica, desconfiada que beira a paranoia e, algumas vezes, a insanidade, já torna alguém um “gnóstico”. Claro que não é uma consciência crítica comum, político-ideológica-partidária. É um ceticismo radical: por que a sociedade e a realidade são assim, quem as fez e com quais propósitos? E, a mais importante questão, o que o homem faz no meio de tudo isso?

Por isso atraiu o ódio das religiões e escolas filosóficas institucionalizadas: tal ceticismo não funciona muito bem com hierarquias e estruturas de poder, ainda mais aquelas cujos mandatários teriam sido nomeados pelo próprio Deus.

E segundo, talvez isso explique a longevidade e o interesse de diretores, roteirista e produtores da indústria do cinema pelas narrativas míticas e temas gnósticos. Muito embora Hollywood explore essa atitude gnóstica como mercadoria (heróis gnósticos com capas pretas e óculos escuros), esses mitos e temas do gnosticismo parecem se adequar a uma sensibilidade atual: metalinguística, crítica e irônica.

Vamos à lista. Se o leitor se encaixar em pelo menos um dos itens abaixo, pode se considerar com uma séria inclinação à visão de mundo gnóstica. E continuar a ser leitor do nosso blog!

1 – Você tem uma sensação de que nasceu muito tarde e que chegou no final de uma festa. Parece que no passado as coisas eram muito melhores. Uma estranha nostalgia de épocas que você não viveu começa a dominá-lo, a ponto de ficar fascinado com tendências vintage ou retro na moda, estética, arte e arquitetura.

2 – Depois de assistir aos filmes Matrix e Show de Truman, uma estranha sensação de desconfiança passou pela sua cabeça, mesmo por alguns segundos, de que as paredes poderiam ser projeções holográficas ou de que por trás delas haveria escoras e baldes de tinta.

3 – Você tem uma inexplicável atração por mulheres melancólicas ou com um olhar que expressa um sentimento de que perdeu uma ou duas coisas na vida – como fala aquela música de Neil Young I’ve Been Wait For You. E se, então, ela se chamar Sofia* será mais do que coincidência, será um evento sincromístico.

4 – Você tem um estranho fascínio por personagens perdedores e freaks, tanto na realidade quanto na ficção. Assistiu ao filme Veludo Azul (1986) de David Lynch e se apaixonou pelo universo de vilões derrotados liderados pelo enlouquecido Frank (Denis Hooper) e pela bela protagonista (Isabella Rossellini) pelos motivos explicados no item 3.

5 – No final do filme Beleza Americana (1999) em que Lester, já morto com um tiro na cabeça, faz um balanço de sua “estúpida vida” e fala que apesar disso “é difícil ficar bravo quando há tanta beleza no mundo” e diz que “um dia você saberá do que estou falando”, você engoliu em seco quando a tela do cinema ficou escura e os segundo posteriores foram experimentados como longos e tensos até aparecerem as primeiras letras dos créditos finais.

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Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

5 Comentários

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  1. caso perdido

    Mais um texto bacana do Wilson. Comecei a ler e me animei, pensei que tinha alguma salvação. Ponderando, não tem jeito mesmo. Sou ateu, materialista.

    Wilson, quase voce salva minha alma… rss 

  2. é possível alguém se encaixar em todas?

    pudesse eu saber distinguir alguma diferença entre elas……………

     

    sairia da quinta e entraria dupla mente na primeira e segunda, mas sem ter me encaixado anterior

    mente na terceira e na quarta

     

     

     

    talvez eu saiba como sair se entrar nova mente na quinta, talvez eu possa, talvez eu consiga, mas,

     

    perdido assim, não queira

     

     

    enfim, o que eu queria saber mesmo é se a minha sina já tem cura…rs

     

     

  3. Imagino que a maioria das

    Imagino que a maioria das pessoas aqui vai se identificar com pelo menos um dos ítens.

    Eu mesmo me identifiquei com alguns, como 1,2,7,8 e 11.

    De qualquer forma, a busca do conhecimento é uma jornada solitária. E o estudante atento deve procurar conhecer todos os variados caminhos disponíveis e também os indisponíveis, se é que eles existem.

     

  4. Os textos do Wilson (e o

    Os textos do Wilson (e o blog) são muito bons, é uma pena que não tenham espaço na grande mídia para mais leitores terem acesso.

    O que prejudica é exatamente essa fixação no gnosticismo e tentativa de encaixar qualquer assunto no tema. Os textos ganhariam e muito sem isso.

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