A volta das políticas industriais focadas, depois da era Bolsonaro, por Luis Nassif

Nova fase global: De um lado, a vulnerabilidade de países sem autossuficiência em produtos essenciais. De outro, as redes globais de fornecimento em xeque

Assim que o Brasil voltar à normalidade, com o fim do governo Bolsonaro, haverá mudanças relevantes nos modelos de inovação e de política industrial, em função das vulnerabilidades levantadas pelo coronavirus.

Nas últimas décadas, abandonou-se o conceito da mission oriented, ou seja, de política industrial voltada para objetivos estratégicos, que marcou o período de substituição e importações até final dos anos 80. Depois disso, as políticas industriais se desenvolveram de forma horizontal. Aprimoram-se mecanismos de financiamento à pesquisa, ao investimento, de criação de redes de pesquisa, e deixava-se à disposição do mercado de maneira aberta.

Por outro lado, a ideia em vigor era a de que as empresas só se fortaleceriam com economia aberta e possibilidade de se integrar às redes globais de fornecedores. Com câmbio apreciado em quase todo o período pós anos-90 e custo Brasil elevado, a abertura provocou uma enorme desindustrialização que começou no governo Fernando Henrique Cardoso e prosseguiu no governo Lula. A rigor, os únicos setores poupados foram as empreiteiras, porque se alavancavam com obras no mercado interno, ganhando fôlego para competir internacionalmente. E também a de proteína animal, devido ao potencial da pecuária brasileira.

As únicas tentativas de articulação Inter setorial – financiamento à inovação, financiamento a investimentos, identificação de elos fracos nas diversas cadeias produtivas – chegaram a ser desenhadas na ABDI (Associação Brasileira de Desenvolvimento Industrial), mas  foram interrompidas no período de centralização de Dilma Rousseff.

Agora se entra em uma nova fase global. De um lado, a crise mostrou a vulnerabilidade de países que não têm autossuficiência em produtos essenciais. De outro, colocou em xeque as redes globais de fornecimento.

Finalmente, expôs de maneira crua a falência dos modelos de terceirização da produção para outros países, enfraquecendo os mercados nacionais de trabalho e as redes de proteção social das potências centrais, como os Estados Unidos.

Nos próximos anos, impulsionado pela indústria 4D, e pelas vulnerabilidades estratégicas reveladas pelo coronavirus, haverá uma volta à casa. Ou seja, as empresas trazendo para perto de si o controle das linhas de produção.

Tudo isso produzirá impactos de monta no Brasil. O primeiro projeto focalizado, o Programa de Desenvolvimento Produtivo (PDP) do Ministério da Saúde, nascido nos laboratórios da Fiocruz, no governo Dilma, acabou suspenso no interregno tenebroso de Michel Temer. Visava justamente identificar as grandes vulnerabiulidades brasileiras nas áreas de medicamentos e equipamentos médicos, e valer-se do poder de compra do SUS (Sistema Único de Saúde) para acelerar a transferência de tecnologia para empresas braskleiras.

Agora, com a crise, voltam as cenas as políticas de desenvolvimento produtivo, nos modelos imaginado pela Fiocruz. O estudo “Políticas de Desenvolvimento Produtivo, Tecnológico e de Inovação”, de Rafael Leão e Luis Felipe Giesteira explora bem o tema. Tem outros tempos, havia críticas aos critérios de escolha dos setores a serem contemplados como estratégicos. Com o coronavirus, no entanto, as prioridades saltam à vista.

Segundo Mark Zachary Taylor, mencionado no trabalho, os setores que abrangem a segurança são a defesa nacional, a energia, alimentação e saúde.

Outros autores, estudaram o modelo asiático, no qual a definição dos setores buscou também a meta de transformação em potências produtivas e tecnológicas.

A discussão vai ser reaberta, pois será inevitável a volta das pol´ticas de desenvolvimento produtivo.

 

 

Luis Nassif

8 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. desculpe ..NADA será como antes ..apesar dos saudosistas como LUIZ NASSIF
    Hoje os direitos e proteções trabalhistas já são outros ..o salário MÍNIMO, por aconselhamento do BANCO MUNDIAL, não esta indo mais em direção aos de US$ 400,00. (lembrando que saiu de US$ 70 ao término do governo de THC).
    HOJE o BNDES já foi descapitalizado em no mínimo R$ 400 bilhões desde Temer ..hoje a Petrobrás já se desfez de estratégias essenciais a sua sobrevivência como com os gasodutos, refinarias, atuação pró ativa no envasamento de GNV etc..
    ..hoje as principais EMPREITEIRAS não mais existem ..muitos negócios, NEGÓCIOS, do Eike Batista já estão com os árabes ..hoje ainda temos o teto dos gastos ..o DESVIO nos objetivos e distribuição dos ganhos com a exploração do petróleo ..ENFIM..
    HOJE, no mundo, a CHINA tem um poder de escala IMBATÍVEL, que a faz produzir industrializados a preços ínfimos, quer por sua mão de obra, ou pela robotização descomunal que já tem implantada..
    Qual seja, pra ser novamente o que NUNCA, o que NUNCA fomos ..1o há que mudarmos de governo ..2o, há que convencermos os GOLPISTAS – militares e justicialeiros – que mais vale seguirmos o software power do que sermos aliados submissos dos EUA..
    ..e depois tentar tentar colocar nos trilhos a escolha por setores no BRASIL que sejam capazes de explorar ao máximo possível nossos recursos e diferenças diante de outras povos (as tais vantagans comparativas) ..sem isso convenhamos, é mais um ensaio, um devaneio sem consequência alguma
    ou seja, só falta TUDO…
    https://www.youtube.com/watch?v=6OeCwvEDGeI

  2. Não existe mais empresários industriais brasileiros, pois se existissem teriam expontaneamente transformado-se em importadores ou rentistas. Ao apoiar o Golpe de 2016 , eles escolheram a extinção.
    Será difícil esta retomada, como esperada por Nassif.
    Imagino que, com o retorno do PT, assistiremos a criança de muitas empresas estatais até que os empresários remanescentes reaprenderem a pescar.
    Outra opção seria a criação de cooperativas de trabalhadores industriais, que operariam a produção , como o MST faz. Se a burguesia capitalista industrial não quer, que os trabalhadores o façam.

  3. Nassif venho percebendo q alguns empresários estão acordando levemente do transe causado pela tão sonhada “REFORMAS”por parte deles,alguns começam a DESCONFIAR q não adianta ter ESCRAVOS q não possam comprar os seus produtos,eu comparo isso ao TRANSE da Lava jato e o combate a corrupção,eles demoraram cinco anos para perceberem q os “heróis”deles estavam acabando com os empregos/economia e destruindo os players brasileiros (estratégico,kkk) vc se lembra quando eu comentava e dizia”os EMPREOTÁRIOS brasileiros…”e aí eles de birra dobravam a aposta(kkkk) então eu dizia;Lava jato tá pouco precisa mais(kkk) nossos empresários protagonistas(suas sociedade secretas) são medíocres, limitadas,sem visão, não à toa os estrangeiros estão agora querendo substituir a elite brasileira pela elite estrangeira global,nossa elite é das cavernas/feudal,quem sabe teremos uma elite estrangeira mais moderna?(tipo uma com up grade)nossa elite preferiu perder algum dinheiro para não dar chances aos próprios brasileiros(desenvolvimento)de SUPOSTAMENTE competir com eles,só q se não darem chances p”os de casa”se desenvolverem quem vai se desenvolver são os outros(estrangeiros)e aí meus amigos os estrangeiros se fortalecerão e virão com td “pra degolar”sem dó, não é isso q tá começando a acontecer,desculpe empreotários mas os acho burros e com uma cultura medíocre e sem eficácia(a não ser para suas ostentações e vaidades)pronto,escreví!

  4. A maioria relativa do povo brasileiro preferiu escolher um psicopata para a Presidência da República.
    Porém, havia outro candidato que foi o ÚNICO a apresenta um Projeto Nacional de Desenvolvimento que priorizava a industrialização de 4 cadeias produtivas: saúde, agricultura, petróleo e defesa. Muito semelhante a Mark Zachary Taylor citado pelo Nassif. Esse outro candidato também foi o ÚNICO a apresentar propostas que regulamentariam o Sistema Financeiro com uma Auditoria da Dívida Pública, tributariam as grandes fortunas e também tributariam lucros e dividendos.
    Neste GGN, todos sabem quem é esse outro candidato.

  5. Acreditar em alguma retomada de desenvolvimento estruturado em alguma política industrial é como esperar Papai Noel.
    Uma análise fria dos números que comparam a estagnação (ou crescimento vegetativo) do lucro advindo da produção, desde a década de 70 do século passado, ao mesmo tempo que o PIB das finanças (anti-valor, juros) desde então alcançou 20 vezes a mais-valia acumulada, revela que essa volta ao passado é impossível.

    O modo de produção capitalista como organizador da vida social, e como indutor de desenvolvimento dos meios de produção está nos seus dias finais.

    Estamos a beira do buraco negro (mercado de capitais), e toda tentativa de compensação gravitacional é correspondida por uma força de atração muitas vezes maior que a empregada.

  6. Nassif, imaginar a velha indústria e seus capitães é no mínimo apontar para o abismo.
    Primeiro porque os capitães nunca passaram de reles cabo e, segundo, que a indústria por eles “conduzida” terminou na reserva de mercado da ITAUTEC da década de 80.
    A propósito, até aí, o itau era somente uma burocracia que aplicava depósitos à vista em títulos do governo e se beneficiou duplamente com os lucros de sua desdentada indústria de informática e com a informatização de conglomerado financeiro.
    Vamos voltar a terra e saber que no respirador (uma maquininha pueril), há um chipzinho que controla tudinho no processo e esse CHIPZINHO, vamos chocados descobrir, é fabricado unicamente em WUHAN!!!
    E aí!!!

  7. Meu caro Nassif, como seu admirador, não posso deixar de fazer a correção de um equívoco que você tem cometido algumas vezes. A Política de Desenvolvimento Produtivo foi imaginada e criada em 2008, durante o segundo governo do presidente Lula, sendo ministro José Temporão, e não no governo Dilma. Também não foi criada nos “laboratórios da Fiocruz”, mas na Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do MS. Aí foi criado o Grupo Executivo do Complexo Industrial da Saúde e iniciadas as Parcerias de Desenvolvimento Produtivo. Em 2010, no final do mandato de Lula, haviam sido criadas criteriosamente 28 parcerias.
    Cordialmente,
    Reinaldo Guimarães (ex-secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos entre 2007 e 2010.)

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador