Entidades de classe repudiam Marco Legal da Ciência e Tecnologia

Jornal GGN – Na primeira quinzena de janeiro, a presidente Dilma Rousseff sancionou o Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação, prometendo aumentar o dinamismo e diminuir a burocracia nas relações entre a iniciativa privada e os institutos públicos de pesquisa. Celebrado por agências de fomento, o texto é repudiado pelas entidades de classe, que não acreditam em solução fácil para o complexo problema da educação no Brasil.

Desde o começo das discussões, o Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes) reuniu suas associações estaduais e outras parceiras para denunciar o risco de desvirtuamento da função social das universidades e institutos de pesquisa. Para eles, o projeto privatiza a pesquisa pública, precariza as condições de trabalho dos docentes e isenta o governo de propor soluções reais, de médio e longo e prazo, sem sequer resolver nenhum problema no curto prazo.

“Ao invés de criar linhas de fomento específicas para isso, o governo cria uma legislação que coloca a infraestrutura pública, que já é insuficiente para fazer pesquisa básica, trabalhando para projetos de interesse comercial, a fundo perdido, que vão beneficiar, eventualmente, empresas multinacionais que têm milhões para fazer Pesquisa e Desenvolvimento no seu país e vêm aqui disputar a parca infraestrutura de Ciência e Tecnologia que a gente tem”, protestou Ciro Correia, ex-presidente do Andes e da Adusp (Associação dos Docentes da Universidade de São Paulo), professor do Instituto de Geociências da USP.

Além das críticas ao projeto, o professor traçou um panorama da educação no Brasil, fez comparações com os países desenvolvidos, explicou a lógica das fundações privadas de apoio às universidades públicas e questionou as decisões de uma organização partidária (o Partido dos Trabalhadores) que acolhia as preocupações sociais de esquerda e que trocou seu discurso por uma prática mais conservadora, de direita.

“Quando os movimentos sociais tinham o respaldo de um partido, havia condições de fazer algum controle das propostas do Executivo. Na hora que isso deixa de existir e você dispersa o movimento social organizado – até porque ele fica meio perdido, sem saber o que está acontecendo, porque quem aglutinava politicamente as suas bandeiras passa a fazer a antítese delas – você desconstrói consciência crítica no país”, afirmou.

Abaixo, a íntegra da entrevista:

Jornal GGN – Qual é o cerne da crítica a essa lei? É a submissão da pesquisa pública aos interesses privados?

Ciro Correia – Se fosse isso, era um problema grave, mas não é o principal. O governo vem insistindo nesses mecanismos legais que têm o objetivo principal de parecer que se está fazendo alguma coisa significativa na área de Ciência e Tecnologia, quando de fato a área de Ciência e Tecnologia do mundo inteiro funciona quando tem financiamento público adequado, regular, previsível, que permite fundamentalmente aos países fazerem ciência básica.

A hora que você tem ciência básica de qualidade, conhecimento novo, você gera tecnologia. A hora que você tem gente bem formada em quantidade no mercado, você tem condição de desenvolver empresas, novos produtos, patentes etc. É assim que as principais economias do mundo têm funcionado há muito tempo.

Agora, você pega um país como o Brasil, que não tem tido política adequada e contínua, seja na área da educação, para formar quem possa efetivamente trabalhar com ciência, seja no atendimento adequado à população no Ensino Superior, seja no financiamento à pesquisa. O país não encara esse problema e fica achando que com medidas que mudam de tempo em tempo é possível criar parcerias e produzir novo conhecimento, e produzir novos produtos, e produzir inovação, que vai agilizar a economia. É uma falácia sem fim. É bobagem.

E, além disso, eventualmente, cria problemas de você desconstruir o pouco que o país construiu de infraestrutura em Ciência e Tecnologia de qualidade que está fundamentalmente nas universidades públicas. As quais também têm tido orçamentos, infraestrutura e valorização de pessoal inadequados.

Então, a hora que você lê um projeto como esse, fica evidente que é um discurso vazio no qual o governo aparentemente procura resolver dois problemas sem ataca-los de fato. Ele não quer efetivamente investir mais recursos em Ciência e Tecnologia e quer que o que se tem de infraestrutura de Ciência e Tecnologia beneficie o setor privado que poderia ser alguma coisa importante para a economia.

Em vez de criar linhas de fomento específicas para isso, editais para patrocinar novas empresas e – aonde for o caso, por meio da legislação que já existe – fazer parcerias e convênios com as universidades para uma determinada área de conhecimento, ou para o desenvolvimento de um determinado setor, o que ele faz? Cria uma legislação que coloca a infraestrutura pública, que já é insuficiente para fazer pesquisa básica, trabalhando com um projeto de interesse comercial, a fundo perdido, para beneficiar eventualmente uma empresa multinacional que tem milhões para fazer Pesquisa e Desenvolvimento no país e vem aqui disputar, usar também a parca infraestrutura de Ciência e Tecnologia que a gente tem.

O governo não encara a questão de pagar adequadamente a carreira docente, a carreira de pesquisadores científicos dos poucos institutos de pesquisa que tem no Brasil. E daí ele vem querer permitir que por meio de parceria com o setor privado você complemente salário.

Jornal GGN – A justificativa da lei é que a atuação em projetos privados não vai mais atrapalhar a progressão de carreia do pesquisador público. Qual sua opinião, professor?

Ciro Correia – Isso é uma bobagem total e completa. Tudo bem, eles estão dizendo o seguinte: se você deixar o seu laboratório para se dedicar a um projeto privado, na hora de você prestar concurso, por força da lei, nós vamos reconhecer isso como uma atividade que vai contar para o seu currículo.

Agora, durante esse período, eventualmente, o pesquisador que estava desenvolvendo uma metodologia nova, ou estava desenvolvendo um programa que corresponde a uma área de investimento que não tem no país, ele pára de fazer isso para ir desenvolver como é que se faz um fio de telefone um pouco mais barato.

Isso em lugar nenhum do mundo desenvolvido é feito pela universidade. Isso é feito nas empresas. E para isso o governo precisa criar política específica, para esse tipo de problema. É função do governo cuidar sim, também, do setor produtivo. Mas cuidar do setor produtivo não significa desvirtuar aquilo que é responsabilidade privativa do Estado que é o direito à educação. E educação superior pressupõe infraestrutura de pesquisa adequada.

Jornal GGN – É viável, professor, nessas condições de competitividade, as quais a gente sempre ouve falar tão mal, a indústria possuir laboratórios próprios de Pesquisa e Desenvolvimento?

Ciro Correia – É claro que é viável. Só que não interessa fazer isso em uma economia como a brasileira, que continua a se comportar como economia periférica dos países mais desenvolvidos.

Por que as indústrias nos Estados Unidos investem em Ciência e Tecnologia? Porque tem um parque de conhecimento científico que foi criado há décadas, onde a universidade pública forma gente competente em quantidade suficiente.

E existem programas específicos do governo de financiar, ao longo de décadas, o desenvolvimento tecnológico nas empresas naquilo que é essencial para a economia americana ou para os seus interesses – muitos deles absolutamente censuráveis – no exterior, em termos de domínio tecnológico, de tecnologias que os beneficiavam em conflitos, em guerras, que tanto têm alavancado a economia americana ao longo dos anos.

Mas eles sabem lá que não vão fazer isso na universidade. Eles sabem que isso vai ser feito nas empresas. E que a universidade vai formar gente capaz de desenvolver novos produtos na vida profissional no setor privado. E que na universidade é preciso manter desenvolvimento de ciência básica, que alimente a sociedade no interesse público e não atividades comerciais competitivas em termos de mercado.

A hora que você mistura essas coisas você não resolve um problema e você desconstrói aquilo que construiu de formação de recursos humanos nas universidades. E é por isso que não funciona.

Agora, é por isso que as receitas do Banco Interamericano de Desenvolvimento e do Banco Mundial, que são repetidas à exaustão em discursos vazios neste país pelos órgãos oficiais e pela grande imprensa de que isso é a solução para a gente. Porque interessa a esses organismos centrais manter a nossa economia dependente dos produtos feitos lá fora. E é por isso que não se investe efetivamente no desenvolvimento de novos produtos em uma economia como a nossa.

Quais são os computadores brasileiros que você usa? Quais são os aparelhos de telefonia, que a gente usa, nacionais? Quais são os celulares de tecnologia nacional? Você acha que uma legislação como essa, que não cria um novo laboratório, que faz uma chamada geral de pesquisa financiada pela Finep e CNPq de R$ 200 milhões – que para o olho de qualquer leigo ou do grande público parece muito dinheiro, mas é nada. O custo de uma universidade como a Universidade de São Paulo, por ano, é de R$ 5 bilhões.

E daí você quer pegar essa infraestrutura pública, ou, a exemplo de uma universidade como Federal Fluminense [UFF], que ainda tem competência e infraestrutura para pesquisa, e colocá-la mesquinhamente voltada para interesse de uma empresa que quer desenvolver o novo fecho de uma caixa para colocar o produto dela no mercado com mais sucesso.

Isso vai consumir gente que foi formada para ampliar o conhecimento de como é que se desenvolvem novos materiais para fazer essa caixa ou qualquer outra. Vai descontinuar outros processos.

E como você paga mal o pesquisador e o docente que está na universidade, você coloca como atrativo o que ele vai ganhar, o quanto pagarem lá naquele projeto. Agora, o tempo é finito. Como é que você é um professor que se mantém atualizado, dá aula regular na graduação, orienta aluno de pós-graduação, faz o seu projeto para a FAPESP ou para a Finep e ainda presta consultoria para uma empresa para garantir o pão do dia-a-dia?

Vai falar isso em uma universidade americana para ver o que eles acham, ou europeia. Eles riem.

E a gente fica com esse discurso vazio aqui, reproduzindo, que temos um novo ‘Marco de Ciência e Tecnologia’. E com uma terminologia… o que é inovação? Dá uma olhada na definição de inovação. A mais frequente é: inovação é uma melhoria em um produto – isso não tem nada a ver com ciência, nem com tecnologia – que potencializa a sua valorização no mercado. Ou seja, quem faz inovação ganha mais dinheiro. Desde quando isso é ocupação de quem faz ciência em uma universidade ou em um instituto de pesquisa?

Jornal GGN – Então, inovação é um paradigma da iniciativa privada que tem pouco a ver com a pesquisa pública. Qual seria uma solução melhor para a competividade dessas empresas? Realizar uma ampla reforma tributária?

Ciro Correia – Pouco a ver não. Nada a ver.

Fazer reforma tributária para que o país, a administração pública, tenha recursos para financiar adequadamente a pesquisa básica nas universidades e financiar adequadamente, aonde interessar, pesquisa de caráter tecnológico no setor público ou privado e programas em algum setor que eles achem que precisa de alguma melhoria na área de patentes e produtos.

Quando eu falo da questão tributária, quanto que a economia americana, o governo, a administração pública americana, o orçamento público americano, representa em relação ao PIB dos Estados Unidos? Varia um pouco ao longo de décadas. Está por volta de 47%.

Quanto que os países europeus, França, Inglaterra, controlam do PIB na administração pública? Mais de 50%. Suécia, Noruega, Dinamarca: da ordem de 60%.

E o Brasil? 38%. E a grande mídia, os banqueiros, os grandes empresários e o agronegócio não cansam de falar que é insuportável a carga tributária no Brasil. E dessa carga tributária só cerca de 70% é imposto. Porque o que financia direito social na nossa legislação não são as contribuições e taxas. São os impostos. E os impostos, quanto significa no PIB do Brasil? Da ordem de 20%.

Então, se você quiser transformar rapidamente uma economia como a alemã, que é respeitada na área de Ciência e Tecnologia, que tem os seus produtos aceitos no mundo – ou a americana, ou a francesa – na realidade triste do Brasil é fácil: faz um programa de desoneração tributária lá, pára de cobrar imposto adequadamente que o Estado não vai mais manter saúde, educação desenvolvimento científico e tecnológico e rapidinho eles vão estar numa situação como a nossa.

Quer fazer o contrário? Faz uma reforma tributária. Cobra imposto, efetivamente, da propriedade rural. Propriedade rural é importante no Brasil? Eu estou com os dados aqui, oficiais, na minha mão, da receita de impostos do Brasil em 2013, que eram os últimos, há dois meses, consolidados pelo IBGE e pelo Portal da Transparência. Agora já devem estar lá os de 2014.

Se eu pego a receita de impostos, eu tenho aqui, sobre o comércio exterior R$ 36 bilhões, sobre o produto industrializado R$ 42 bilhões, sobre a renda – e renda da pessoa física, porque neste país não se cobra imposto de renda de pessoa física adequadamente – R$ 398 bilhões, sobre a operação financeira R$ 29 bilhões. Sobre a propriedade territorial rural? R$ 760 milhões. É troco. É nada. É ridículo. Porque nós somos como a Holanda? Nós não temos território? Não temos agronegócio? [risos].

Em vez de encarar esse tipo de problema, o governo fica fazendo propaganda, que causa esse alvoroço na mídia e que não dá em nada. Vamos financiar a educação, mas não vamos mexer na tributação.

‘Ah, nós vamos pegar o recurso do pré-sal, para 2020’… Na época, nós fizemos um documento na Adusp fazendo a análise do pré-sal se ele atingisse todas as metas do governo. Sequer aumentava em mais 0,3% a 0,4% do PIB o financiamento para a educação. E isso caso o percentual de royalties do pré-sal se o pré-sal atingisse todas as metas e se o preço do petróleo continuasse lá em cima.

Jornal GGN – Só que o preço do petróleo caiu vertiginosamente…

Ciro Correia – Isso. Mas mesmo que não caísse. Mesmo que não caísse.

Quanto que, em média, os países da OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico] investem em educação? De 6% a 8% do PIB. Quanto o Brasil investe hoje em educação, fazendo a conta como o governo faz, que está maquiada? 3,8%.

Jornal GGN – E a conta está maquiada por quê?

Ciro Correia – Porque eles põem construção de prédio, uniforme de criança, merenda escolar que não é investimento em educação.

Jornal GGN – O número real seria quanto?

Ciro Correia – No máximo 3,5%.

Outros países que eram como o nosso investiram há décadas muito mais de 10% do PIB na educação para se desenvolver, como a Coreia. A Coreia do Sul na primeira metade do século passado investiu durante três ou quatro décadas, 15%, 14%, 13% do PIB em educação.

Jornal GGN – Nós entendemos a necessidade desse investimento, mas isso não gera uma pressão inflacionária grande? No momento atual, de arrocho fiscal, dá para pensar nisso?

Ciro Correia – No momento atual… É o seguinte, tem que começar, não por essas bobagens, de fazer propaganda falando que agora nós vamos pegar nossa pequena infraestrutura de pesquisa para desenvolver produto barato e rápido para a empresa. Tem que começar a paulatinamente ter um projeto para aumentar o controle do Estado sobre a arrecadação, mudando ao longo dos anos o imposto de renda, das pessoas jurídicas principalmente, mudando a tributação sobre a propriedade territorial urbana e rural.

E daqui a dez anos, em vez de estar investindo 4% em educação nós vamos estar investindo 5%, depois 6%, depois 7%.

Jornal GGN – Quer dizer, fazer um plano de aumentar progressivamente a parcela do PIB destinada à educação?

Ciro Correia – À educação não, a todos os direitos sociais. Se nosso problema fosse só educação seria ótimo.

Jornal GGN – Em São Paulo houve uma campanha fortíssima contra o reajuste do IPTU proposto pelo prefeito Fernando Haddad. É uma briga grande essa…

Ciro Correia – É uma briga grande. Mas o resto é balela.

É a mesma coisa que eu falar o seguinte: ah, tem gente sendo mal atendida, na rua, com problema de saúde. Tem aqui em São Paulo, não tem? Vamos pegar o corpo clínico do HC [Hospital das Clínicas] e tirar eles lá de dentro, parar de fazer transplante de fígado, desenvolver técnica de trocar coração, e vamos pôr eles na rua para ver se resolve rapidinho problema de gente que está na rua.

Jornal GGN – Isso é uma analogia que o senhor está fazendo a esse marco legal da Ciência e Tecnologia?

Ciro Correia – É uma analogia. Vai resolver o problema? Não vai. Vai contribuir para o HC continuar a ser um hospital de ponta? Pelo contrário.

Vamos pegar todo mundo que está nas universidades públicas – que dão conta só de 8% da demanda de vagas no Ensino Superior, na média nacional, no estado de São Paulo menos do que isso – e vamos fazer como esse projeto propõe: obrigar os docentes a ficar trabalhando em projeto de parceria com direito de complementação salarial. Aí você desmonta todo o parque tecnológico e de ponta.

Jornal GGN – O projeto da lei justifica que isso traria patentes para a universidade pública, que seria mais uma forma de arrecadação…

Ciro Correia – Bacana. O orçamento da USP é R$ 5 bilhões. Pega o orçamento do Massachusetts Institute of Technology [MIT], dos Estados Unidos. Vai dar por volta de US$ 60 bilhões por ano.

Eles têm muita patente? São um dos que mais têm. Vai ver quanto que as patentes contribuem para o financiamento da instituição. É menos de 10%.

Suponha que o governo dos Estados Unidos faça a proposta: nós vamos diminuir o orçamento de vocês e vocês vão passar a viver das patentes que vocês conseguirem. Eles sabem que eles desconstroem aquilo com isso.

Essa lógica imediatista é perversa e estrutural de quem não quer encarar os problemas e não quer fazer política de médio e longo prazo. Se fosse uma solução imediata, ainda, você comemorava, mas não é. Você cria dois, três problemas e não soluciona nenhum.

Porque desconstrói, privatiza a instituição pública, e tem uma desculpa para não investir em política mais no longo prazo, você não mede a consequência da política.

Qual é o prazo normal de trâmite de uma patente? Três, quatro, cinco anos. Para depois ter desenvolvimento.

E nós vamos substituir, com as patentes que nós vamos eventualmente conquistar, a supremacia do desenvolvimento tecnológico e dos novos produtos que são colocados no mercado pela Europa, pela China e as outras economias asiáticas e pelos Estados Unidos?

A gente fica lendo essas coisas e dá vontade de chorar.

Jornal GGN – Em sua manifestação contrária ao projeto de lei, o Andes fala da tentativa de privatização da pesquisa pública. E quanto à situação atual? Congelamento de concursos, impedimento de novas contratações de docentes, redução de bolsa de pós-graduação, congelamento de salário. Qual é a situação atual da pesquisa pública no Brasil?

Ciro Correia – É de desvalorização e de desconstrução.

Tem outros problemas. Teto salarial ridículo no estado de São Paulo.  Não está congelado, o último reajuste foi há três anos atrás, saiu de R$ 20 mil e foi para R$ 21 mil e pouco.

Aí você pega alguém que fez a carreira inteira na universidade, que está no topo do conhecimento da sua área, e você paga R$ 20 mil para ele de salário. Você quer que ele saia da universidade. Quer que ele burle a sua dedicação ao setor público.

Jornal GGN – Quer dizer, ele vai para a iniciativa privada onde ele vai ser mais bem remunerado?

Ciro Correia – É. E daí ele deixa de formar gente, daí você está desconstruindo o que vai ser a nossa capacidade para os próximos anos.

E esse tipo de projeto é um incentivo. Esse marco é réu confesso de que quer transformar a universidade em uma prestadora de serviço imediato para promover a ‘inovação’ no nosso restrito parque comércio-industrial. Que vai continuar dependente das economias dominantes lá de fora, inexoravelmente, a menos que se mude significativamente o número de universidades, a qualidade, a diversidade de áreas etc.

Quanto a isso não se está fazendo nada. Nada. Então, o cenário não é promissor.

Jornal GGN – A lei, então, é em benefício das multinacionais e para prejuízo da pesquisa pública?

Ciro Correia – É isso. É aquela história de quando a FAPESP financiou a compreensão do genoma do amarelinho que dava na laranja. Mas foi o amarelinho que dava na laranja da Flórida.

Então, é o parque de infraestrutura de ciência brasileira contribuindo para resolver um problema dos fazendeiros da Flórida.

Para eles é bom, porque cria mais gente, mais conhecimento na área. Mas eventualmente nossa prioridade poderia ser outra.

Jornal GGN – Existe, além disso, algum risco de precarização do trabalho do pesquisador?

Ciro Correia – É claro que precariza. Porque o Estado se desobriga de pagar, continua pagando baixo o salário. Daí você presta serviço por meio dessas parcerias. Essas parcerias têm um tempo de vida curto e são absolutamente inconstantes.

Dali a três, quatro anos você perdeu um tempo de formação, seu salário continua lá em baixo, sua condição de vida continua depauperada e você não é um pesquisador com muita motivação.

Jornal GGN – Quer dizer, o pesquisador vira um freelancer do mercado?

Ciro Correia – Isso. Como quase tudo tem virado nesse país. E um governo como esse, que fazia essa crítica de outros governos, uma vez no poder, faz o mesmo tipo de propaganda e de política. É o fim do fim da picada.

Quando eu estava no Andes, lá atrás, quando solução para a educação era o pré-sal – e eu sou geólogo – a gente dizia que não ia dar certo. Em paralelo o governo estava fazendo o programa do Reuni [Reestruturação e Expansão das Universidades Federais] e do ProUni [Programa Universidade para Todos]. E a gente dizia que não ia dar certo.

Porque em vez de recuperar, ampliar, resgatar a infraestrutura das universidades, o que se queria era construir sala de aula e prédio novo para parecer que o governo estava investindo nas universidades. Daí eles diziam que tinha uma demanda emergente que precisava ser atendida. Legal, então, qual é o plano de médio prazo?

E ao ministro – circunstancialmente o nosso prefeito agora [Fernando Haddad] – se perguntava ‘Qual é o plano de médio prazo? O que você vai fazer para investir efetivamente nas universidades para que não precise em dois, três, cinco, dez, quinze, sei lá quantos anos, desse seu plano emergencial?’. Silêncio, constrangimento, fim da conversa. Por quê? Porque não tinha um plano. Como não tem agora.

A UNESCO [Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura] recomenda que qualquer país que queira ter uma economia saudável invista 2% do PIB, pelo menos, em Ciência e Tecnologia, no setor público ou privado, mas fundo estatal.  Quanto o Brasil investe? Todo o investimento está no setor público, nas universidades e nos institutos de pesquisa. E ele não dá 0,5% do PIB.

E tem algum discurso do governo reconhecendo que esse é um problema importante? Não tem.

Eu estou com os dados na mão dos fundos setoriais. Era a principal propaganda do resgate da Ciência e Tecnologia. Muito elogiado, maravilha. Quanto eles geraram de recursos do PIB? 0,04% do PIB. Não é 0,1. É 0,04% do PIB.

Jornal GGN – E o que compunha esses fundos? De onde vinham esses recursos?

Ciro Correia – De contribuição de diferentes setores produtivos. Agrário, petróleo, indústria química etc. A soma de todos os fundos, o montante total liberado pelos fundos setoriais em 2004 deu R$ 619 milhões, 0,035% do PIB. Em 2005, R$ 768 milhões, 0,043% do PIB.

Daí tinha a outra propaganda, que era o setor privado financiando o desenvolvimento científico e tecnológico. Aí você pega a distribuição de para onde esses fundos voltaram. Em média, 10% foram para instituições públicas e 90% para instituições privadas.

Entende? Não tem política pública nesse país. E a grande imprensa faz esse desserviço. Pega um aluno do Ensino Médio e põe ele para ver aquele discurso que está lá na página do Ministério da Ciência e Tecnologia, sobre o ‘novo marco de C&T’. Ele vai perceber que é um discurso vazio, de propaganda, de repetição de um mantra, que agora tudo vai ser diferente.

Jornal GGN – Professor, o senhor tem críticas bastante específicas à entrega da infraestrutura pública para a iniciativa privada. E o senhor baseia isso, principalmente, na sua experiência com as fundações de apoio. O que são as fundações de apoio? Qual foi essa experiência?

Ciro Correia – É outro exemplo que agora esse marco legal aprofunda a regularização, não a legitimidade, a regularização, porque é algo completamente irregular. Que é o seguinte: ficar intermediando projeto, administrando verba pública e prestando serviço privado com a infraestrutura pública das universidades.

Jornal GGN – Essas fundações são entidades privadas?

Ciro Correia – Elas são entidades privadas que não são entidades de ensino e que fazem algo que é vedado em qualquer república, que é a entidade privada substituir o gestor público na administração de recursos.

Jornal GGN – É uma terceirização da gestão?

Ciro Correia – É a terceirização da gestão e apropriação da infraestrutura.

É vedado à entidade pública dar curso pago no Brasil? É, está na Constituição. Mas elas fazem uma parceria com a universidade, criam um curso e cobram por isso.

Com isso privatiza a infraestrutura, os recursos humanos, o tempo de pesquisa dos docentes. Eles devolvem isso complementando o salário e se apropriam do resto.

Jornal GGN – Para ficar apenas no exemplo da USP, quantas dessas fundações existem na Universidade de São Paulo?

Ciro Correia – Então, a criatividade humana para desenvolver coisas que não são de interesse público é muito grande. O último levantamento nosso indicava 30 fundações.

Jornal GGN – 30 fundações, cada uma com os seus cursos pagos dentro da Universidade de São Paulo?

Ciro Correia – Seus cursos, seus projetos, suas terceirizações de uso de laboratório para atender demanda de alguém.

A gente costuma brincar com isso. Você é jornalista da Folha de S. Paulo? Cria uma ‘Associação dos Amigos da Folha de S. Paulo’, vai lá para a família Frias e diz o seguinte: ‘Nós fizemos uma associação para beneficiar o jornal. Em nome disso nós vamos usar as máquinas, a infraestrutura, para fazer um jornalzinho nosso’. E a família Frias vai falar: ‘nossa, que maravilha, que bacana, pode trabalhar à vontade’?  É assim que funciona?

Você vai para os Estados Unidos, eu estava uma vez na Universidade do Arizona – eu sou geólogo, a Universidade do Arizona está em um setor mineral importante, tem várias parcerias, de desenvolvimento de técnicas, de análises, que beneficiam o setor mineral etc.

Quando o reitor de lá, que vinha para cá com alguma frequência, leu alguma coisa sobre as fundações ele me perguntou: ‘Eu entendi direito? Tem um grupo de professores, associados com gente de fora da universidade que faz a contratação de um projeto, usa o laboratório da universidade e o dinheiro quando fica, fica 1% para a universidade e o resto complementa salário de docente e vai para o caixa dessa entidade que é uma entidade privada?’.

Eu falei ‘É isso’. Ele falou ‘Isso aqui é impensável. Se eu pegar US$ 1 de um projeto de US$ 5 milhões que o Instituto de Ciências da Terra fez para desenvolver análise mais barata para metais raros – mesmo que beneficie 500 empresas – para completar salário de quem quer que seja aqui dentro, eu que sou reitor vou preso antes de qualquer conversa. E depois vamos ver quem mais vai preso’.

Porque se justifica o interesse público desenvolver essa tecnologia, se isso foi aprovado pela universidade, se tem um grupo de empresas que também tem interesse nisso que contribuiu com dinheiro, o dinheiro vai para o laboratório, vai para a instituição, não vai para pagar salário de ninguém. Senão, a gente pára de olhar para aquilo que é interesse público e começa a ver aquilo que dá dinheiro, para a gente ter mais projetos que complementem o nosso salário.

Jornal GGN – Quer dizer, desvirtua toda a função social da universidade pública…

Ciro Correia – Toda a função social.

E tem mais. Não tem cláusula de sigilo. Por quê? Porque o conhecimento produzido na universidade tem que estar publicado e acessível a toda a sociedade.

Jornal GGN – Essas fundações têm cláusulas de sigilo e as patentes não ficam disponíveis, é isso?

Ciro Correia – Não. Se produzisse patente ainda era alguma coisa. Vai lá ver que patente produziu em parceria com fundação. Não tem patente nenhuma. O que foi produzido de patente nesse país foi com o esforço duro de décadas de gente que trabalha na lógica pública.

Há um artigo [contra o uso dos laboratórios de pesquisa universitária para desenvolvimento tecnológico industrial] do Sérgio Henrique Ferreira.

O Sérgio Ferreira é uma das pessoas que lá na década de 60 estava envolvido com um grupo de pesquisa de desenvolvimento de bloqueio de sinal neuronal para criar medicação para controle da dor. Um cara reconhecido no mundo inteiro.

Eu estive em uma mesa de debate com ele em Brasília em 2011. Os dois falando a mesma coisa. Que todo esse conhecimento de ponta, no mundo inteiro, sempre foi produzido diretamente ou consequência direta de pesquisa que começou em laboratório público com financiamento público.

Patente que tem nesse país no setor universitário não tem nada a ver com iniciativa privada nem com fundação privada. Isso dá sempre em venda de serviço barato, desvirtuando o setor público.

Quanto é que passa de dinheiro pelas fundações da USP? Pelo último levantamento que a gente fez, passa o equivalente a cerca de 50% do orçamento. Fica 1% lá na USP para a infraestrutura das próprias fundações. Mas elas consomem a capacidade de trabalho de 20, 30% da universidade, que deveria estar sendo paga por recurso público e trabalhando só no interesse público de forma pública.

Jornal GGN – As fundações consomem recursos do orçamento?

Ciro Correia – Não. Elas captam recursos, para usar a infraestrutura da universidade, equivalentes ao montante de 50% do orçamento. E se apropriam desse dinheiro a baixo custo (para elas) porque usam em uma infraestrutura que deveria estar servindo para atender muito mais gente de forma transparente.

Jornal GGN – E captam onde?

Ciro Correia – Com agências de governo, com empresas. Que pegam um departamento qualquer da USP para fazer um projeto de melhoria do fluxo de documentos em uma unidade qualquer do Banco Central, por exemplo. Serve para tudo e qualquer coisa.

Jornal GGN – As agências de fomento à pesquisa dizem que vão brigar agora para incluir no marco legal uma espécie de Lei Rouanet da Ciência, Tecnologia e Inovação. Uma forma de captar doações para a área em troca de incentivo fiscal. Qual sua opinião sobre isso?

Ciro Correia – Precisa ver o projeto de lei. Eu não conheço. Mas não parece coisa boa. Iria beneficiar quem já tem poder econômico na sociedade. O cara faz uma doação com a expectativa, na melhor das hipóteses, de se colocar em uma posição privilegiada para futuro tráfico de influência em função dos seus interesses.

Agora, você vai dizer, ‘eu sou contra doação’? Não. Eu não sou contra doação. Eu sou contra colocar, de novo, a miragem da doação como solução para fonte de financiamento, perene e regular. Uma alternativa para o Estado não precisar dar conta de suas obrigações.

Jornal GGN – E o que explica o apoio das fundações de amparo à pesquisa, que estão celebrando a lei como o novo Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação?

Ciro Correia – Difícil entender, né? Em parte, é consequência desse processo, que vem há décadas, de repetir esse mantra de que a solução dos problemas do país está na iniciativa privada, que o setor público é ineficiente, que o Estado tem que ser mínimo.

E que gera essa sociedade maravilhosa, que a gente vê, como é a sociedade brasileira, que tem os seus principais problemas resolvidos ou em via de solução. Não temos mais quase periferia miserável, tem educação para todo mundo [risos].

Enfim, isso é repetido ad nauseam. Cada vez mais a grande imprensa martela isso como sendo a solução o tempo todo, as pessoas vão se formando nesse ambiente e daí você vê gente ligada à área – a Sociedade Brasileira do Progresso da Ciência [SBPC], agências de fomento diversas – internalizando essa mensagem com um discurso como aqueles que estão disponíveis na mídia e no site do Ministério [MCTI], que deveria envergonhar uma pessoa que tem o compromisso com a devida fundamentação dos seus pontos de vista.

Quando eu falo da estrutura tributária perversa eu faço análise, vou atrás dos dados. Quando a gente critica as fundações da USP a gente mostra que os projetos não são de interesse público, não são de interesse da ciência, não formam gente adequadamente e apropriam a infraestrutura da universidade que seria mais bem usada para outro fim.

Isso é parte da fundamentação. Se não tem fundamentação, quer dizer, não vai dar em nada. Como não deu o pré-sal, como não melhorou as universidades o ProUni e o Reuni.

Jornal GGN – Que projetos nós tivemos que realmente atacaram o problema da educação no Brasil nos últimos anos? Apenas o ENEM [Exame Nacional do Ensino Médio] como vestibular único?

Ciro Correia – Que atacou o problema? Tem um monte de medidas que atacam problemas. Eventualmente não o problema central e não da forma mais eficaz.

Nos anos 60, 70 e 80, criar as agências de fomento foi algo muito importante. Tanto as federais quanto as estaduais.

Certas chamadas deram contribuições significativas de recursos para projetos em algumas áreas, como química fina, geociências, as iniciativas de mapeamento geológico financiadas pelo governo federal.

Enfim, em diferentes áreas – eu não conheço todas – você tem exemplos disso. Por isso a gente chegou aonde chegou. Mas a gente chegou aonde chegou com uma redução proporcional do oferecimento do acesso à universidade – de qualidade, que é a pública – pelo contingente de alunos formados no Ensino Médio. E isso é muito ruim para o país.

Então, você tem exemplos de legislações que contribuíram um pouco aqui e ali. Mas tudo que era essencial, como o esforço para discutir uma LDB [Lei de Diretrizes e Bases da Educação] na década de 90, foi para o ralo.

Acabou se aprovando uma LDB com metas orçamentárias menores do que os 10% do PIB e o governo Fernando Henrique Cardoso na época vetou todos os marcos de comprometimento econômico. Então, continuamos derrapando.

Aí você elege o governo Lula, que na época defendeu o marco, era contra a reforma da previdência porque desconstrói o setor público, e entra na mesma toada.

Então, nós não estamos em um círculo virtuoso. A gente está num ciclo de desconstrução crítica da sociedade, que vem desde a época da Ditadura.

Jornal GGN – Ter um governo dito de esquerda tomando essas medidas aumenta a aceitação ou diminui o combate a elas?

Ciro Correia – Você ter um governo de esquerda, que mudou o seu discurso e a sua práxis por uma prática conservadora e de direita, isso descontrói a mobilização social, que é a forma mais efetiva de controle das políticas públicas.

Essa é minha avaliação. Quando você tinha os movimentos sociais, com o respaldo de uma organização partidária que acolhia as preocupações sociais identificadas como de esquerda, você tinha mais condições de fazer um certo controle de empurrar as propostas do Executivo para um lugar mais favorável para as políticas públicas.

A hora que isso deixa de existir e você dispersa o movimento social organizado – até porque ele fica meio perdido, sem saber o que está acontecendo, porque quem aglutinava politicamente as suas bandeiras passa a fazer a antítese delas – você desconstrói consciência crítica no país.

Jornal GGN – O GGN conversou com o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Celso Pansera, assim que a presidente sancionou a lei. Ele disse que as áreas que constam na Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação são: biotecnologia, energia limpa, fármacos e nanotecnologia. São áreas que possuem grandes empresas multinacionais por trás e que vão se beneficiar desse projeto?

Ciro Correia – Eu não tenho conhecimento para afirmar com certeza. Mas eventualmente são áreas que teriam capital próprio para fazer pesquisa.

Agora, eu penso o seguinte: é obrigação do setor público formar gente e formar laboratórios de pesquisa em todas essas áreas, e nas demais também. O problema é que o país está perdendo terreno na sua infraestrutura no geral. E daí vem esses programas para beneficiar setores que já têm dinamismo para andar com as próprias pernas.

Jornal GGN – Setores que já são competitivos…

Ciro Correia – Isso. E aí você deixa de ter chamadas e editais públicos para áreas que eventualmente sejam mais prioritárias. Por exemplo, área de controle ambiental. Para o Brasil deixar de ser campeão de uma coisa deplorável, que é ser o país que mais usa agrotóxico por hectare do mundo.

E que nós vamos ter que pagar isso pelas próximas gerações, no sentido de reverter ou mitigar o dano ambiental que isso está causando. Para isso parece que não tem muita atenção governamental.

Leia também: O novo Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação

Leia também: Fundações de amparo à pesquisa celebram Marco Legal

Leia também, no anexo da reportagem, artigo do professor Ciro Correia sobre o Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação; e artigo do professor Sérgio Henrique Ferreira, mencionado durante a entrevista

Redação

34 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Só não entendi uma coisa.
    Copiando da entrevista do Prof. Ciro Correia tem uma resposta verdadeiramente enigmática.

    Jornal GGN – As agências de fomento à pesquisa dizem que vão brigar agora para incluir no marco legal uma espécie de Lei Rouanet da Ciência, Tecnologia e Inovação. Uma forma de captar doações para a área em troca de incentivo fiscal. Qual sua opinião sobre isso?

    Ciro Correia – Precisa ver o projeto de lei. Eu não conheço. Mas não parece coisa boa. Iria beneficiar quem já tem poder econômico na sociedade…..

    Parece que o Prof. Ciro, diferentemente do que um cientista deveria fazer, faz críticas a uma coisa que não conhece.

    Parece aquele comentário a espetáculos: Não vi , mas não gostei.

    1. A crítica do Ciro tem fundamento

      Veja como a Lei Roanet, ao invés de fomentar a geração de novas expressões culturais de qualidade, trazendo ao público talentos ocultos pela mídia, fica patrocinando shows do Caetano Veloso e outras figurinhas carimbadas. Nestes últimos anos, a melhor evolução parece ter sido o funk “ostentação”.

      Resultou o contrário do esperado, pois o chamado “setor privado” foi quem ganhou na divulgação, aproveitando-se dos famosos, ao invés deste setor privado ter colaborado com o surgimento de qualidade desde a base do nosso povo.

      Na pesquisa seria o mesmo, quanto mais rica a empresa dita “privada”, mais força terá para continuar mamando nas tetas do governo.

      1. Estamos entregando o país em doses de covardia
        Aêeee, garoto esperrrrrto!!!É exatamente isso aí que voce respondeu de forma muito didática..É um artifício malandro com verniz de “incentivo” que , na verdade,  visa tao somente a transferencia de recursos públicos para o setor privado, nada mais do que isso..Nao há inocentes nessa história toda. Dilma sabe extamente está se passsando: o Estado está sendo desmontado e de “produto” nacional só sobrará o pobre povo brasileiro para contar a historinha dessa pilhagem toda para as próximas geraçoes de desgraçados.À propósito, Lula agora se diz ser a esquerda da esquerda. Tá..Pela disposiçao desse atual governo, depois de tornar o BC independente pouca diferença vai ter esse discurso de esquerda/direita ou progressita/conservaor, porque com a chave do cofre nas maos privadas, na prática, qualquer um vai ser o mais do mesmo..A gente finge que leva a sério os descursos bonitos e recheado de baos intençoes. A pergunta que nao quer calar: com a prostaçao da Dilma o cenário é de entrega geral e irrestrita. Sobrará o que? É o que está sendo decidido hoje que refletirá no futuro, e o que eu vejo em atitudes governamentais é compatível com terra arrasada.

  2. Tentando Resumir (juro que tentei)
    Li todos os documentos colocados no post e, inclusive, o post anterior sobre esse tema. Cheguei a resumir alguns assuntos que espero possam contribuir ao debate.

    FUNDO POLÍTICO
    Depois de ter acompanhado o Marco Regulatório da mineração, que tem servido para bancadas ligadas à mineração (hoje encabeçadas pelo Deputado Quintão) barganharem com as mineradoras; seguindo pelo “mico” cometido pelo Ministro da Saúde, ao oferecer vacinas de graça contra o Zica Vírus, no final de 2015 (foi desmentido), há razões para acreditar que este balão do marco de Ciência e Tecnologia não passa de uma ação pirotécnica do político de plantão que encabeça o ministério, No caso, o Pansera (que sabe tanto de Ciência e Tecnologia como o Neymar) está mostrando serviço em ano eleitoral e, ainda, tentando justificar o apoio interesseiro do PMDB ao Governo, agravado pela opção do PMDB de iniciar “carreira solo” nas próximas eleições.
    Todos esses marcos, agora olhando mais de perto, “parecem” bem fundamentados ao considerar que existe algo errado na situação atual (como é o caso da especulação com direitos minerários, na mineração), mas, no fundo, aproveitam isso como “gancho”, para dar uma guinada em direção aos interesses de quem banca as campanhas, e que representam um reduzido grupo de sugadores do Estado, que dilapidam patrimônio público (de todos) em beneficio de interesses da globalização e que, pelo fato de operar dentro do Brasil, chamamos eles de “setor privado”. A rigor, com raras exceções, isso é o setor privado brasileiro.
    A repartição de pedaços do Governo via Ministérios, faz parte da prática política do Executivo, principalmente quando o povo não lhe outorga maioria suficiente para governar. Por isso, é importante relativizar a responsabilidade da Dilma e do PT dentro do espaço capturado pelo PMDB (e outros consorciados) dentro do governo, no caso, o ministério de C&T.
    Faço essa introdução para direcionar as críticas onde correspondem. Temos um governo de consórcio e, a maior parte desse consórcio, ainda é privatista e com pouco compromisso com o projeto de nação brasileira e com o bem-estar do seu povo
    .
    SITUAÇÃO ATUAL DA C&T (opinião muito pessoal)
    Não há um mar de rosas na situação atual, com fatores que devem urgentemente ser melhorados, como por exemplo:
    a) Distanciamento entre as atividades de pesquisa e a prática industrial em muitas das áreas que envolvem C&T. O Ciro Correia, que é geólogo, deverá reconhecer que, na área da mineração, este distanciamento é relativamente grande;
    b) Pesquisa por Pesquisa: teses como “a tonalidade da cor vermelha da pata esquerda do caranguejo do sul da Austrália”, não são raras de ver, dentro das nossas universidades (pelo menos o caranguejo poderia ser daqui do Brasil, não é?);
    c) Pesquisa Profana: Mecânico (sem diploma) no fundo de quintal desenvolveu motor movido a água (eu vi na TV, e o cara é do sul de Minas), mas, ainda não vejo onde está isso operando. Eu mesmo (apenas engenheiro) editei dois livros de engenharia aqui no Brasil, registrados com ISBN e, depois de extensas reuniões, em diversas universidades e faculdades, apresentando os livros, eles são encostados. Novos trabalhos dentro das universidades usam apenas como referencia os textos canônicos validados por gente “da casa” (efeito urso panda)
    d) Efeito Urso Panda: Anos atrás, um determinado Professor foi à Inglaterra e obteve doutorado em determinado assunto. Ele transfere esses conhecimentos a novos mestrandos ou doutorando, que se nutrem da mesma tese (sem comer outra coisa, assim como o urso Panda). Ou seja, gerações de cientistas se alimentam apenas de bambu. Conheço isso muito bem. Criam-se catedrais e paróquias, com legiões de “orientados” pelo professor ALFA, que chegou com a “novidade”;
    e) Cultura Tecnológica e efeito “torre de babel”: Complementando o item anterior, existem, em muitas áreas, as chamadas culturas tecnológicas, quase como religiões, do tipo aqueles criacionistas ou evolucionistas. Na área mineral, por exemplo, existem culturas diferentes na tecnologia, em países como Canadá, países escandinavos, Austrália e, anos atrás, era forte também a influencia dos EUA. Dependendo de onde o cientista fez o seu doutorado, o mesmo projeto pode ter caras absolutamente diferentes, fomentando a tecnologia torre de babel dentro do Brasil (são comprados equipamentos e sistemas de fabricantes daquele país, etc.). Dentro de uma indústria qualquer, são dezenas de opções de “comunicação” entre instrumentos (também diversificados demais), computador e sistemas de controle. Carros variados (sem sequer termos mais o nosso pé de boi da Gurgel), encarecendo o ambiente de peças de reposição e de oficinas de concerto. Dezenas de operadoras de comunicação que fazem o mesmo. Num mundo hipotético, de três grandes exércitos: EUA, China e Rússia, o “mercado” nos aconselha comprar um fuzil de cada país. È mais ou menos isso o que acontece quando grandes corporações estendem a sua luta de mercado dentro de nações que ainda “não definiram a sua melhor opção”, em qualquer coisa. Até na política, onde qualquer pensador da Europa é capaz de motivar a geração de um novo partido político aqui no Brasil, enquanto nos EUA, há 200 anos já definiram que o jogo político é apenas entre o Boi Garantido e o Caprichoso.
    f) Criatividade: Gente que trabalha como autônomo, com base em serviços ou produtos que envolvam tecnologia e, ainda, com dificuldades para pagar as contas no final de mês, ficam mais criativos que dezenas de professores universitários. Isso se contrapõe com a zona de conforto onde muitos pesquisadores vivem.

    O QUE PROPÕE O NOVO MARCO
    O novo marco, como aconteceu com outros “marcos”, enfrenta ou diz enfrentar um que outro problema evidente, mas, em compensação, incorpora uma pesada dosagem de neoliberalismo e esperteza política por trás de tudo. “Regular relações e reduzir distância”, são as palavras de ordem, a pele de cordeiro onde o Lobo se esconde. Ainda, com uma cenoura (cínica) na frente, de que haverá um ganho futuro com eventuais royalties.
    Neste assunto, concordo com quase todo o que muitos comentaristas deste blog já têm postado e, principalmente, concordo com as opiniões do Ciro Correia.

    ENTÃO, O QUE FAZER?
    O Governo deve, soberanamente, definir o seu rumo e suas prioridades. Naquele ambiente, aprofundar o investimento em ensino e, nesse caminho, a Pesquisa em C&T. O Governo deve entender e assumir que Brasil carece de um setor privado do nível que precisa.
    O Brasil, justamente pela sua inserção desfavorável no mundo global e, ainda, pela falta de grandes políticas públicas (considerando que muitos investimentos de governos militares e, ainda, diversas obras do PC são uma exceção), possui um dito “setor privado” que apenas lida, na prática, com o mundo global e não com o destino da nação.
    Pertencem ao “setor privado”, em forma significativa, algumas camadas de “integradores” entre as tetas do estado e a economia global. Escritórios de advocacia que se fazem chamar de mineradoras, lobistas e empresas de importação, além de outros atores.
    Não existe mais o grande empresário investidor na sua própria atividade ou talento pessoal (do tipo Gurgel, Antônio Ermírio, Barão de Mauá ou Eike Batista – este último derrubado pelo viralatismo), mas apenas empresário administrador de patrimônio privatizado pelo governo, preposto de fundos estrangeiros, ou de franchising de qualquer tipo. Cujo objetivo é apenas ganhar dinheiro e, tendo ganhado o suficiente, partir para Miami.
    É nesse setor privado que vamos entregar o nosso esforço de pesquisa?
    Acho que o Brasil deve saber primeiro o que quer e para onde vai, por exemplo, dentro de alguns comentários em torno da infraestrutura, algumas linhas de ação têm sido discutidas neste blog, como a implantação de polos de desenvolvimento regional, com base em fabricação de aço, seguindo pelos trilhos, vagões e locomotivas, etc. Outras ações, relativamente práticas e simples tem sido colocadas neste blog.
    É prematuro falar em coisas de alta tecnologia, para um país que ainda não saberia fabricar sequer uma luva para um astronauta.
    A minha proposta é de esquecer, por agora o “setor privado” e deixar que ele germine e cresça; que amadureça e salga das tetas, ora do governo ou das pobres velhinhas aposentadas que colocam o seu dinheirinho na Bolsa de Valores de Toronto, por exemplo.
    Assim o Governo deverá apostar em pesquisa de C&T pé de boi, onde o fruto dessa pesquisa venha a consolidar a cultura tecnológica nacional (ou até do Mercosul) e os vetores de desenvolvimento. Essas pesquisas nem patente precisam, pois não irão ensinar aos EUA para fazer uma nação, um trem bala, um alto forno, mas, ficarão integralmente levantando o Brasil, desde a sua base. Agora, como o “Marco” fala: biotecnologia, energia limpa, fármacos, nanotecnologia e aeroespacial, não há patente nenhuma que consiga deter a fuga desses trabalhos e conhecimentos para os nossos eternos colonizadores.
    Pesquisa de C&T para nós desenvolver o Brasil e o seu povo.

  3. Quanta bobagem acabo de ler aqui
    O sr. Circo critica o pré-sal kkk Deveria falar das aulas entediantes e de baixa qualidade dadas por muitos docentes, que têm colaborado fortemente para a alta evasão de estudantes das nossas universidades, causando um enorme prejuízo para o país.

  4. Sindicatos….

    O típico discurso de sindicalista, que deve passar bem longe de uma pesquisa, de um grupo de pesquisa, de orientação nem que seja de um mísero bolsista de Iniciação Científica.

    1. A maioria dos antisindicais nas Universidades são ‘biqueiros’.

      .Informações públicas disponiveis na internet do curriculo latters do Professor Ciro Teixeira Correia: Ciro Teixeira Correia tem doutorado em geologia é livre docente da USP , fez pós doutorado no Victorian Institute of Earth and Planet. Foi responsável pelo laboratório de fluorescencia e raios X do GMC e pelo laboratório Reos do laboratório de Pesquisas Geocronológicas. Teve pesquisar financiadas pela FAPESP e foi consultor da FAPESP, tem uma pesquisa em andamento com uma equipe de . Tem 25 artigos publicados em periódicos. Participou de de 7 bancas de doutorado e têm 9 orientações de iniciação científica no seu curriculum.

      Eu conheço muito bem a Universidade e sei porque vejo, que as pessoas que  são antisidicais na Universidade não orientam ninguém, não publicam artigos científicos,fazem ‘bico’ como professor universitário e vivem de mercadejar projetos de consultoria.

      1. André, não precisa encher tanto a bolinha do professor.

        Também por vício profissional fui olhar o curriculo do professor Ciro Correia e posso dizer que dentro da área das ciências da natureza ele tem um ótimo curriculo, porém para a área não é nada excepcional. Poderia dizer o porque não acho o seu curriculo excepcional, entretanto não estamos aqui discutindo o seu currículo, mas sim suas idéias, 

        Mas assim como não deves citar quem não aceita as políticas sindicais das centrais como a ANDES como quem faz “bico” como professor universitário, não deves citar o dito professor como o supra-sumo da sua área, ele é bom, mas também não é uma “Brastemp”.

        1. Quem tem o maior ….. para bater na mesa?

          As discussões que começam por desqualificar a pessoa  e não os argumentos , desqualifica a discussão. Como se vê a discussão passou a mostrar claramente os diversos interesses e pontos de vista que existem na Universidade. Mas ao invés de explicitar estes interesses, muitos partiram para a agressão,  É necessário se explicitar os conflitos e enfrentá-los e a simples ofensa não resolve. O maniqueísmo , de que estou com os bons e vocês com os maus não vai resolver .

          Internamente a universidade esta com o mesma polarização que vemos na sociedade. Alguns não gostam nenhum pouco das posições da Andes e ou sindicatos, alguns não gostam nenhum pouco das relações e das consequências  do dinheiro privado na Universidade, alguns não gostam da inserção da Universidade em ações sociais.  Alguns dentro da Universidade Publica defendem a privatização da Universidade , outros defendem a Universidade Publica Gratuita e de Qualidade. Alguns acham que a Universidade deve se transformar apenas num grande centro de pesquisas outros criticam a falta de empenho com a docência. Alguns defendem suas consultorias, e prestações de serviços seus trabalhos externos   e a utilização da Universidade nestas atividades.  Outros  defendem a independência e autonomia da pesquisa  e acham que a universidade é o local de produção de conhecimento básico e fundamental. Outros querem atrelar a universidade a criação de produtos e outros querem fazer das Universidades centros de pesquisa tecnológica.  Mas isto fica apenas no burburinho, incrivelmente são  poucos os  documentos mais profundos defendendo as diferentes posições.

          Todo este burburinho  não tem levado a um debate em profundidade. Como se viu nestes comentários a discussão se transformou  rapidamente na  seção: quem tem o maior ….. para bater na mesa!!!!  (Sendo que se esquecem  que nem sempre tamanho  é documento.)

          Chamo apenas a atenção que no interior desta balbúrdia  alguns ,utilizando os respectivos currículos, terminam sim indo para postos  próximos do governo , que respeitando o tamanho do documento,  aceita proposições  que muitas vêzes não vão muito além de interesses pontuais  de certos grupos.  Sem duvvida o desenvolvimento de Ciência e Tecnologia é um problema central no país. Mas o problema não se resolve sem mudanças significativas na sociedade e na Universidade, mas isto não se faz com decretos  e sem um debate profundo. Mas no momento o que menos se tem é um debate, o que estamos tendo exemplo aqui é a explosão do non sense. Como vimos o debate logo se transformou num debate sobre o tamanho dos documentos do sindicalista, comparado com o tamanho documento de um não sindicalista. Isto é muito raso, precisamos pautar e aprofundar a discussao.

          1. Caro Frederico.

            Primeiro não fui eu quem primeiro citei curriculo numa falácia tipo apelo a autoridade para validar argumentos, nem muito menos classifiquei pessoas “antisidicais na Universidade não orientam ninguém, não publicam artigos científicos,fazem ‘bico’ como professor universitário e vivem de mercadejar projetos de consultoria.” Numa agressão gratuíta aos que por um ou outro motivo não publicam.

            Simplesmente fiz até um elogio ao professor como portador de “um ótimo curriculo” que acho ser um elogio. Logo gostaria que revisaste o teu conceito como alguém que procura desqualificar alguém. O que posso dizer que na área da Geociências há esplendorosos currículos no Brasil de dar inveja a grandes centros de pesquisa do mundo. Mas tudo isto é mero detalhe.

            Pois, voltando o foco do problema, na minha avaliação um dos piores problemas da pesquisa no Brasil e mesmo em outros países desenvolvidos são os feudos criados nas instituições que drenam imensas fontes de recurso para equipamentos e laboratórios e são simplesmente tratados como propriedade particular de um ou um grupo de professores.

            Se os equipamentos são adquiridos com dinheiro de agências de fomento, são captados através de empresas interessadas em aplicações tecnológicas, usando a lógica de Deng Xiao-ping “não me importa a cor do gato mas o que importa é que cace ratos”. Vejo que o resultado da captação de recursos para laboratórios e equipamentos deveriam estar a disposição das universidades, institutos ou grupos de pesquisa, a medida em que os mesmos pertencem em última instância a dinheiro de impostos ou de renúncia fiscal.

            Este é o ponto básico de tudo, se um professor conseguir de uma empresa através de renúncia fiscal a compra de um equipamento ou a criação de toda uma estrutura este produto deveria estar a serviço do ensino, pesquisa e extensão, independente da origem do mesmo.

            O que acontece no Brasil, com dinheiro de agências de fomento (CNPQ,…) ou com fundos setoriais (vinculados a empresas) que o produto destes é largado na carga do Professor como o mesmo fosse um proprietário do equipamento ou laboratório, isto impede a vascularização de todo o ganho que se obtém com recursos do que lado que vier.

            Se ficássemos restritos aos financiamentos públicos, os problemas permaneceriam exatamente os mesmos, dobrando-se ou triplicando-se as verbas estas ficariam a merce da ação dos “falsos proprietários”, logo não acho que a discussão do recurso seja o verdadeiro problema.

            Quando entrei na Universidade em 1976 na realidade não tínhamos nenhum equipamento para fazer qualquer coisa e só conheci um professor na Escola de Engenharia da UFRGS, professor Joaquim Blessmann que tratava os instrumentos que ele havia conseguido via agência de fomento, como deveria ser tratado, ele emprestava-os a qualquer um que necessitava de forma criteriosa e cuidadosa (ele passava os manuais e uma semana após fazia uma prova para ver se o sujeito sabia operá-los sem estragar, quem passava levava emprestado os instrumentos e quem rodava ficava para segunda época!).

            O que falta na Universidade é uma estrutura de hierarquizada para a manutenção e uso dos equipamentos, pois se houvesse isto, como disse Deng Xiao-ping “não me importa a cor do gato mas o que importa é que cace ratos”.

          2. O tal tamanho!!!

            Caro Maestri

              Me desculpo, pois acho que como acionei o botão de responder, o meu comentário ficou parecendo ser dirigido exclusivamente a você. Com certeza não foi você quem começou a bradir curriculos, e como sempre seus comentários  tem sempre uma boa contribuição.  De fato meu comentário não se dirige a você, mas sim a um estado de coisas que parece permear as relações que andam bastante polarizadas na universidade. Essas relações tem criado problemas para uma discussão em profundidade sobre a universidade num tempo de transformação . A universidade em época de Lattes, muitas vezes confunde mérito e competência  numa determinada área , como mérito em tudo.Esta visão, junto com o discurso méritocratico tem gerado alguns Franksteins.  Um bom curriculo , que nem sempre é o maior,  mas sim o que mais contribuições fez  , deve ser parabenizado. Mas sabemos que um bom curriculo na área de Fisica ou Química, ou engenharia,não necessariamente  me autoriza a ditar a política científica nacional. Porém, isto tem ocorrido e ai começa o maior perigo, pois como você disse existe na Universidade a criação dos feudos, a criação dos donos de área e de laboratórios . Alguns destes,  quando num cargo que exije uma visão mais ampla de universidade e de política científica, cometem erros brutais. Os franceses tem um termo para isto, “Idiot-savant”, aquele que sabe tudo sobre um nada  e nada sobre o todo.

            Esta visão de autoridade científica baseada no curriculo,   está presente quando o governo e seus orgãos convidam colegas nossos para elaborar a politica científica. Não acredito que o marco legal tenha sido proposto sem a mão de diversos membros proeminentes de nossa comunidade.  Mas me parece que na universidade  o debate e a reflexão para além do que eu faço em minha sala ou em meu laboratório esta cada vez mais dificil.  E por isto o  marco legal proposto termina por refletir  certos interesses. Esta falta de um debate mais reflexivo e mais produtivo, vai esgarçar mais ainda o tecido da Universidade que no momento já parece uma  coxa de retalhos. Tudo isto é curioso, pois temos hoje uma massa crítica bem maior , com  mais pesquisadores ,  mais doutores,  mais laboratórios , maior competência,  mas também temos uma grande fragmentação de interesses,  mais patrões e muito mais objetivos. E tudo  tudo isto tem se decidido em pequenos feudos, como voce disse.

            Portanto meu desabafo é que a discussão de curriculo de fato nos leva a fugir do verdadeiro assunto e a consagrar certos poderes. Reitero que bons curriculos são importantes nas áreas específicas  mas não dão autoridade para tudo. 

            Um grande abraço amigo, e vou continuar lendo com atenção todos os seus posts.

    1. O assunto é simples….e veja
      O assunto é simples….e veja só o tamanho do contraponto.
      É muita linguiça para encher e passei.

      O cara é contra, porque sim. Okay
      Ele é um comunista desgostoso. Seria contra qualquer coisa de qualquer forma.

    2. Pois é…

      Não sei se é o deslumbramento do Nassif com essas soluções mágicas das ditas “parcerias público-privadas”, mas o ambiente por aqui em torno desse tema estava sufocantemente mistificatório no que respeita a mais essa bestial barbeiragem da Dilma. Eu já tinha cantado essa pedra, antes mesmo dessa merda desse marco legal ser sancionado:

      No apagar das luzes do ano legislativo, o maior saque à ciência brasileira

       

  5. Os conflitos internos do Marco Legal

    p { margin-bottom: 0.25cm; line-height: 120%; }

    A recente colocação do presidente da ANDES traz sem dúvida muitas questões pertinentes sobre o Marco Legal da Ciência e Tecnologia . Porem é importante deixar claro que este marco não foi engendrado apenas nos gabinetes do planalto e nem por membros de um partido. Este marco legal foi fruto de manifestações e consultas a membros renomados da comunidade científica e tecnológica. Isto não dá nem legitimidade nem lhe dá um caráter totalmente democrático, mas chamo atenção sobre isto pois a comunidade acadêmica tem que se responsabilizar pelo que faz. Mas é importane frisar que muitas vêzes parcelas desta comunidade utilizam a sua legitimidade científica para defender seus interesses mais pontuais. Muitos dos aspectos deste Marco Legal refletem os conflitos existentes hoje na Universidade e também reflete as relações de hoje entre Universidade e Industria. A Universidade tem crescido no entorno da pesquisa científica de qualidade. Para comprovar isto basta consultar os diversos relatórios de pesquisa das Sociedades científicas do CNPq, CAPES etc… Apesar da critica e do sempre presente muro das lamentações, a comunidade científica cresceu muito nos últimos anos e teve um aumento significativo nas suas verbas publicas. Por outro lado, nos setores mais próximos à tecnologia cresceu a pesquisa tecnológica de qualidade e também cresceu a prestação de serviços e a consultoria. A princípio, o contato com a produção e com a indústria pode ser vista como positiva e necessária, porém, o papel da pesquisa e desenvolvimento na indústria não cresceu como nas Universidades. Seria interessante se ter dados sobre as indústrias e empresas que investem em pesquisa e em inovação tecnológica, que é um termo pouco compreendido. Esta ausência de pesquisa e inovação nas indústrias cria uma lacuna muito grande.

     

    Da pesquisa básica, à pesquisa tecnológica, desta à criação de algo inovador, e a posterior transformação disto num produto viável industrial e comercialmente, exige uma cadeia de conhecimentos e esta cadeia exige uma massa crítica nas universidades e na indústria. No entanto nossa indústria raramente possui setores de desenvolvimento e pesquisa. No momento muitas delas importam uma tecnologia sofisticada , criada no exterior. A falta de quadros preparados faz com que esta indústria busque na Universidade pessoas que compreendam estas novas tecnologias. Porém , em geral buscam apenas a consultoria ou a resolução de problemas de utilização ou adaptação desta tecnologia e ou resolução de problemas particulares da produção. Em muitas ocasiões a indústria quer executar testes e ou análises de problemas específicos utilizando laboratórios equipamentos da Universidade. Equipamentos que em geral ela não compra nem mantém. Uma averiguação mostraria que pouquíssimos convênios e projetos firmados entre empresas e Universidade são de fato associados a pesquisa e desenvolvimento.( As exceções ficam com estatais que possuem em seus quadros pesquisadores, por exemplo a Petrobrás, Embrapa , Nuclebras, etc…)

     

    Consultoria ou prestação de serviços não é pesquisa tecnológica embora, as vezes, possa trazer uma pequena inovação, ou uma melhoria na produção e ou na qualidade. No momento se vê um crescimento muito grande desta atividade dentro das universidades, isto tem inclusive gerado novos interesses e também novos órgãos como fundações. As exigências de uma indústria tambem tem gerado conflitos com atividades acadêmicas. A relação com a indústria gera naturalmente um conflito entre duas formas distintas de administrar. A administração pública com seus critérios de prestação de contas , rubricas e uma certa morosidade devido a todos os trâmites, como licitações e outras coisas exigidas pela prestação de contas do dinheiro público. Do outro lado a maior “agilidade” da administração na indústria nem sempre é tão transparente assim. Adicionado a isto existe a sempre delicada questão sobre o que é financiamento da pesquisa e o que é financiamento do pesquisador.

    O crescimento desta atividade levou à criação de fundações que visaram sobretudo agilizar o processo administrativo, mesmo que burlando de forma “criativa” certas regras . As fundações cresceram tanto que em alguns casos se tornaram o sustentáculo de centros e institutos na Universidade. Isto gerou toda uma série de interesses, que nem sempre são acadêmicos. Algumas fundações são verdadeiras empresas, que utilizam fortemente a estrutura física e humana da Universidade. Algumas depois de algum tempo agem como sequer tivessem relações com a Universidade, e agem independente dos Conselhos Universitários. Mas mesmo assim funcionamento, a credibilidade e a infraestrutura continua vindo da Universidade, de seus laboratórios, de seus pesquisadores e de um forte financiamento público.

     

    A existência destas atividades congregou na Universidade uma quantidade grande de pesquisadores e professores que tem interesse na manutenção destas relações. Isto é, numa flexibilização administrativa e numa forma de legalizar e normatizar uma série de atividades que nem sempre são acadêmicas e que muitas vezes conflitam com as obrigações e funções do serviço publico na Universidade. Estas ações normatizariam por exemplo o recebimento de dividendos, consultorias etc… Isto também satisfaria os interesses de alguns Institutos de Pesquisa cujos pesquisadores não tem as vantagens do cargo de professores da Universidade .

    Foi o crescimento desta atividade que mobilizou tantos pesquisadores e professores na feitura deste chamado Marco da Ciência e Tecnologia. Provavelmente veremos que este marco não foi feito por um partido mas sim por este conjunto de interesses representados por alguns pesquisadores.

    Não tenho dados no momento,mas seria interessante levantar o quanto destas relações Universidade Empresa são de fato relações que vão produzir conhecimento novo. O quanto destas relações vão gerar tecnologias de ponta ou vão nos consagrar como consumidores de ciência e tecnologia.

     

    Não me é claro que este marco da ciência e tecnologia, nos traga de fato um avanço. O avanço só virá se continuarmos , como a Universidade já vem fazendo, a criar uma massa crítica. Isto é, um conjunto muito maior de pessoas que tenham a capacidade de se apropriar do conhecimento e gerar novos conhecimentos. Os elos da cadeia só se formarão com pessoas qualificadas. Isto implica também que os nossos empresários deixem de falar tanto contra o estado e passem eles mesmos a investir na formação de setores de pesquisa e desenvolvimento . Seria interessante também diversificar a pesquisa acadêmica com a formação de mais Institutos Tecnologicos Centros de Pesquisa. Apenas quando isto ocorrer e se isto ocorrer teremos uma relação mais produtiva entre Universidade e Empresas . A universidade deve ter relações com todo o resto da sociedade, inclusive com setor da indústria, mas tenho sinceras dúvidas sobre as relações que querem agora consagrar nesta lei. Para se ter uma boa relação tem-se que ter parceiros no mesmo nível. No momento temos uma indústria essencialmente consumidora de tecnologia sem pesquisa e sem um corpo de pesquisadores , mas com dinheiro para cooptar pesquisadores e através deles utilizar os equipamentos e infraestrutura da universidade e com um potencial de gerar conflitos e um desarranjo imenso no funcionamento da Universidade.

     

    Se faz necessário uma discussão mais aprofundada, poia o diabo se manifesta de diferentes formas , no momento chama atenção para os problemas da administração pública (que existem é claro) e para o grande problema do desenvolvimento de ciência e tecnologia, mas por traz disto existem interesses não tão manifestos assim e que podem transformar a Universidade num inferno acadêmico.

  6. O fracasso da P&D nacional

    O fracasso da P&D nacional – precisamos de algo novo.

    No Brasil, a ciência pouco vira produto? Sim, na história encontramos poucos casos. As poucas experiências que resultam em produto têm uma forte relação com a liderança empreendedora de seu mentor, que conseguem vencer as barreiras ao acesso ao mercado. Aqui, excelência acadêmica raramente sai dos laboratórios.

    Não temos empreendedores da ciência, pessoas que transformam o conhecimento em produtos e serviços que melhoram a qualidade de vida das pessoas e ao mesmo tempo criem uma indústria de alto valor. Se observarmos a história dos produtos de consumo, a indústria se forma junto com o produto capitaneada por um empreendedor científico.

    Ciência não é só produzir e preparar mão-de-obra especializada. A maior contribuição da ciência é ser o motor do crescimento econômico. Somente as invenções são capazes de melhorar a eficiência produtiva e a qualidade do atendimento das necessidades humanas. Neste sentido, a riqueza da sociedade surge do aumento da eficiência do uso de seus recursos.

    A pesquisa na agricultura foi um dos melhores negócios que a sociedade brasileira fez. São incontáveis os sucessos obtidos na produtividade e qualidade. Algodão, soja, milho são casos clássicos.

    Mas aqui, em terras tropicais, há é uma cultura institucional contra o empreendedorismo científico. Acredito que dois grandes motivos limitam a criação de riqueza com o conhecimento pela Pesquisa no Brasil. Um, é porque a pesquisa é feita por funcionários públicos e a outra é o modelo acadêmico de acesso aos recursos.

    A pesquisa, contratada e conduzida por funcionários públicos, está sujeita a desvios de conduta do agente, mais do que se contratada com agente privado, isto porque o prêmio do profissional não está relacionado ao sucesso do projeto. Se der errado, também é ciência. É só publicar um artigo científico, um “paper”, para justificar o consumo de recursos. Muitas vezes o projeto é encerrado, mas a equipe de profissionais continua consumindo recursos do Estado até o fim da aposentadoria.

    Pra que sair da zona de conforto das relações dentro do Estado? Fazer a ciência virar produto é desgastante. Há riscos, há demanda de investimentos, as relações econômicas são competitivas, surgem os custos fixos e seus prazos de pagamento. Fazer um produto ser aceito pelo público é estressante.

    Além disso, há uma visão dominante nos agentes financiadores de que não se deve usar recurso do Estado para pesquisa privada, dizem que é transferir riqueza ao particular, e isso “proíbe” a atividade de empreendedorismo em ciência com recurso do Estado. Os tribunais de contas vigiam cada centavo gasto. 

    Essa visão, que exclui o privado do acesso aos recursos públicos, só deveria valer para investimento em atividades de baixo risco, ou naqueles onde a pesquisa é uma fachada de atividade tradicional, ou seja, naqueles casos em que se escondem transferências patrimoniais ao privado em desconformidade com o interesse do Estado. Se as atividades forem dedicadas ao exclusivo cumprimento do objeto contratual e mantiverem-se alinhadas com o propósito, os agentes privados deveriam ter total acesso ao investimento público, para qualquer tipo de gasto, investimento ou custeio, porque é a opção mais eficiente para a sociedade.  A legitimidade está na busca do prêmio, o sucesso só será pleno quando for escolhido pelos consumidores, quanto o produto encontrar a demanda.

    Em pesquisa e desenvolvimento, o retorno para o Estado/sociedade não se deve fazer pela devolução direta dos recursos recebidos, mas sim de forma indireta, pela criação de atividades com valor e rendimento. O Estado vira sócio do “negócio”. Com os novos produtos cria-se valor nas cadeias produtivas, e com isso aumenta a geração de emprego, impostos e divisas futuras (royalties).

    Na pesquisa independente e privada, o alinhamento dos agentes aos resultados é imposto pelo limite de tempo e de recurso. Só há continuidade se houver fortes sinais de sucesso. O projeto tem de superar o teste da verdade, se transforma em negócio autossustentável. Na pesquisa pública, uma série de alíneas de custeio, principalmente de pessoal, se pereniza, não há como rescindir os contratos ao término da pesquisa.

    A segunda barreira ao investimento público em pesquisa independente é o modelo acadêmico de aprovação e avaliação das verbas. Tanto faz ser FINEP, FAPESP ou outras entidades de fomento, quase todas as linhas de pesquisa públicas exigem um “Doutor” na equipe, de preferência ligado à instituição pública de pesquisa. Projetos independentes também são penalizados por que as regras valorizam o nível de relacionamento institucional e a participação da pesquisa em linhas de estabelecidas e consagradas. Isto tudo resulta em pesquisas com alto efeito endogâmico e de baixo impacto na inovação. No processo de avaliação pelos pares (blind review), as idéias revolucionárias também são preteridas, muitas vezes pelo medo do desconhecido, estes avaliadores recusam avaliar imparcialmente a solução.

    Como um empreendedor de P&D pode conduzir um projeto se não tem recursos para seu sustento e cobrir os custos administrativos.

    Por isso, só se faz financiamento de pesquisa com entidades públicas porque se entende que o custeio do pessoal já é contemplata pela entidade.

    Na pesquisa há falta de competição, de compromisso com o resultado no mercado. O direcionamento é para uma pesquisa 100% avaliada por publicação, por critério meramente acadêmico. A sociedade se satisfaz com papers. A comunidade não tem regras alternativas para medir o valor do pesquisador pela capacidade de modificar a sociedade, ela o faz somente pelo número de citações. Vivem suas próprias boas regras. A comunidades de P&D pública esquece que o crivo de aprovação é o mercado. As ideias ficam nos laboratórios, não saem para o escrutínio público da demanda.

     

    Porque o Estado pode contratar músicos, descartando a licitação em razão da reputação do artista, mas não pode contratar empresa de P&D privada em razão do mérito do projeto? Pesquisa não é uma atividade burocrática, as linhas de pesquisa são obras pessoais, que surgem de ideias iguais aos dos artistas. Existem pesquisas medíocres e maravilhosas, irrelevantes e inovadoras. As avaliações são subjetivas. O critério deveria ser pelo mérito do projeto, tal como pela qualidade da música do artista.

    A legislação impede que a empresa de pesquisa oferte seu serviço por um preço, o regime é de subvenção, ai tem de ficar sujeita a padrões burocráticos de entidade pública.

    Para pesquisa não se pode usar recursos públicos para custeio das despesas pessoais do pesquisador privado, só pode haver investimento para compra de permanente e equipamentos. Para custeio de pessoal, só há modestas bolsas de estudo para candidatos sem outra atividade econômica, nem aula podendo ministrar. As regras dos financiamentos quase exigem que o pesquisador seja funcionário público.

    As entidades de fomento pressupõem que a pesquisa e o desenvolvimento de produto ao mercado deverão ser feita por empresa, que arcará com parte do custeio de pessoal. Acontece que há outras demandas de ideias e projetos que não se enquadram neste modelo, tal como é o caso da empresa independente de P&D, com objeto social de só fazer pesquisa, que não tem outras fontes de renda.

    A opção pelo investimento em pesquisa por funcionários públicos é um tiro no pé para o Estado. Isto não só é pela falta de compromisso com o resultado como também pela perenidade do custeio, ele vai continuar pendurado no Estado até à morte, mesmo que tudo que tenha pesquisado seja uma linha de conhecimento exaurida.

    A universidade pública sustenta uma estrutura de pesquisa ineficiente na alocação dos recursos. Desenvolve-se a ciência de laboratório, de bancada e às vezes de museu. É preciso admitir que as linhas de pesquisa têm vida útil. O compromisso deve ser pelo tempo de maturação do projeto, do potencial de criação de valor que a pesquisa ainda tem por contribuir no futuro. O pesquisador e o Estado devem ser recompensados pelos direitos de patente das criações.

    Nos EUA, grande parte da P&D se faz nas universidades. Mas lá, não há o viés de pesquisa pública. É pesquisa privada, com duração enquanto houver recursos e interessados. Acabou o interesse, surgiu coisa melhor, abandona-se a pesquisa. Se a ciência não vira produto para a sociedade, ela é uma ciência que só consome recursos da sociedade, fica sem cumprir a sua missão.

  7. Caracas, um festival de

    Caracas, um festival de numeros e percentuais… Desisto depois de um deles? o orcamento anual do MIT é de US$ 60 bilhoes. Assim não dá. As unviersidades americanas têm sites onde colocam suas finanças na tela – orçamentos, taxas e anuidades, etc. Nem é preciso muito esforço. Um pouco mais de esforço é preciso para saber que a o MIT, por exemplo, é quase um contratador de pesquisas com uma escola em anexo. E de que tipo de pesqusia? Pesquisa encomendada. Sim, encomendada, um bom pedaço do tal complexo industrial-militar. Alias´, já que se cita o MIT, é bom dizer que não é universidade federal (nem existe isso nos EUA) nem estadual (há muitas). É privada, sem fins lucrativos, com muito aporte público. Mas é privada.

  8. Em que planeta este senhor vive?

    O que vejo acontecer é que vários professores aproveitam os recursos dos projetos para revitalizar a infraestrutura dos laboratórios que estão sobre sua responsabilidade, laboratórios estes que estariam a mingua se dependessem dos recursos do governo. Os alunos cuja pesquisa nada tem haver com o projeto da empresa acabam se beneficiando dos equipamentos, reagentes, etc. É bom para todos. Será que ele acha que o dinheiro dos empresários é maldito ou está com dor de cotovelo por não conseguir desenvolver alguma parceria?

  9. ao mesmo tempo em que não há

    ao mesmo tempo em que não há mais condições de salário de pública ir além da miséria atual, quase 80% dos nossos estudantes de ensino superior estão na rede privada sem qualquer acesso as pesquisas, enquanto menos de 20% da rede pública tem quase 100% só para si. A lei permite  privada comprar um grupo de cientístas para trabalhar para esses  recbendo integralmente sua miséria da pública e uma gorda complementação da privada

    1. sinto muito

      mas a PUC é privada e tem pesquisa… tanto publica (via agência de fomento) como privada (via financimamento por empresa). A questão não é a instituição ser pública ou privada, a questão é a instituição mostrar que é capacitada para executar a pesquisa, dar conta do recado, emitir os relatórios com os resultados nos prazos. Tem toda uma contrapartida atrelada aos recursos. Sempre vão existir aqueles que vão ficar chorando e reclamando dos “privilegiados” e outros que correm atrás e fazem acontecer.

    2. Caro Lixeira do Saber.

      Favor parar de inventar números e dados, a única coisa que tem de coerente nas tuas postagens são os erros e a falta de qualquer indicação de onde saíram estes dados fantasiosos.

      Comentar no GGN não é igual a cenrtenas de locais onde se coloca qualquer coisa e ninguém contesta, o senhor só tem posto aqui informações falsas que não correspondem a verdade, não esqueça que temos aqui vários professores e pesquisadores, que ficam horrorizados com as besteiras escritas.

  10. de fato, só via coisas como

    de fato, só via coisas como venda de cursos de pósespecializações, essas fundações já estavam faturando mais de R$ 10bi ano sem prestar conta de nada e de  forma totalmente ilegal. E como não tem como evitar, é melhor legalizar.

  11. avaliações modestas apontam

    avaliações modestas apontam para uma roubalheira de uns 40% dos recursos da educação e, portanto, aumentar os recursos só irá elevar mais isso. Precisamos antes colocar mais recursos nesse poço de lema esperar que os nossos politicos sejam mais comportados.

    1. Poderia citar a fonte?

      Bobagens como esta jogadas ao vento são meras fofocas, e se o senhor deseja fazer fofocas escreva para sites de celebridades.

  12. O cenário ideal de pesquisa é
    O cenário ideal de pesquisa é aquele em que cientistas desenvolvem uma nova tecnologia E abrem empresa para explorará está NOVA tecnologia.

    Assim a nova tecnologia é incorporada a sociedade gerando RENDA que pague seu desenvolvimento.

    Mas o autor do artigo não quer ser cobrado, não quer dar satisfação, e tem raiva de quem dá. Ciência, para ele, apenas pela ciência. Então suas descobertas TEM QUE servir a toda a humanidade ou a ninguém.

    Meu caro comunista, eu não estou nem aí para vc. Mas eu quero a possibilidade de que o dinheiro investido no POÇO SEM FUNDO que é sua pesquisa tenha possibilidade de VOLTAR para a sociedade Pelo pgto de impostos. São questões práticos para quem, como nossa sociedade Como um todo, pensa nas contas do mês que vem. Eu sei que vc acha que nossa carteira é um poço sem fundo mas se de 50 anos de pesquisa, vc não abriu uma empresa, acho que talvez tenhamos escolhido a pesquisa errada.

    Sim, RESULTADOS PRÁTICOS! Vai ter que mostrar! Acabou a moleza!

    1. Em nome de qual Deus?

      Athos, meu querido

      Quem diabos pensa que é você para ditar o que é o “ideal” para o desenvolvimento do conhecimento humano????

      Você se acha Deus? Ou é só mais um obscurantista que fala em nome de algo que se crê Deus?

      Faz o seguinte: enfia esse seu utilitarismo de merda no rabo, e vá arrastar a sua mediocridade lá na laia dos imbecis convertidos às suas verdades impositivas, porque você dá sinais claros de não fazer a menor ideia do que seja ciência e conhecimento.

      1. Caro Ricardo, leia anais das academias inglesa e francesa de ..

        Caro Ricardo, leia anais das academias inglesa e francesa de ciências nos últimos séculos, o senhor ficará abasbacado com a quantidade de ciência utilitarista de merda.

        Com opiniões como esta idealizadas por mentes sonháticas que atrazam a ciência no Brasil.

        TODO O GRANDE CIENTISTA DOS ÚLTIMOS SÉCULOS fez pesquisa que chamarias utiltarista, começando com Galileu Galilei que começou a sua vida vendendo um telescópio aos mercadores de Veneza para eles enchergarem melhor se os navios de especiarias vinham cheios ou vazios.

        1. Ah! Petistas…!

          Pelo visto, um governista fanático e obtuso é capaz de defender qualquer coisa, até o reducionismo utilitarista como álibi para o saqueio privatista do conhecimento.

          …E ainda por cima apelando para um argumento de autoridade absolutamente imponderável! Os anais!… Ah! Os anais! Será que ele está se referindo àquela porção final do reto intestinal????? Que anais, cara pálida???? Vá blefar assim na estrumeira onde sua “intiligência” foi cevada!!!

          Ah! Petistas…!

          1. Se o caro amigo não sabe o que são Anais de Sociedades …

            Se o caro amigo não sabe o que são Anais de Sociedades Científicas darei algumas dicas para melhorar a tua capacitação.

            Primeiro se confundes a palavra Anais com uma parte do intestino chamado reto, coloco a definição primeiro em português da palavra ANAIS, copiada de uma das suas fontes principais de pesquisa, a Wikipédia.

            Anais (do latim annales, de annus,  ano) são, tradicionalmente, uma forma concisa de registro da história de um povo ou instituição, originalmente organizada ano a ano. O termo passou a designar, por derivação, qualquer publicação científica ou artística de frequência regular ou periódica, ou obra que registre memórias ou fatos pessoais.

            Segundo, se tu ignoras que a tradução correta do inglês de Proceedings of the Royal Society seja “Anais da Sociedade Real”, e talvez pense que a tradução de Proceedings é algo como Procedimentos ou qualquer coisa esdruxula do tipo,contribuo para o aumento do conhecimento do caro amigo.

            Terceiro, se a tua ignorância transcende a capacidade de traduzir títulos de periódicos importantes para a história da evolução da ciência, e com isto ignoras a quantidade de artigos dito “utilitaristas” que foram publicados no passado e ainda são publicados no presente, tomei o cuidado de recuperar alguma informação para diminuir o seu grau de ignorância.

            Para tanto dou como exemplo de uma revista técnica do início do século XX denominada “Annalen der Physik” em que nos diversos artigos “utilitaristas” eram publicados, e onde no ano de 1902, destacando somente dois artigos “utilitários” dos muitos que tem no periódico que são “Ueber elektrolytische Erscheinungen an der Grenzfläche zweier Lösungsmittel” de Ernst Hermann Riesenfeldstraße e “Ueber die Verwendung der Resonanz ber der drahtlosen Telegraphie” de Max Werner Karl Wien. os dois artigos são dois “utilitários”. O primeiro voltado para a indústria química e o segundo para a indústria de telecomunicações, nesta mesma revista eram intermeados artigos de pessoas “irrelevantes” como um tal de Albert Einstein, que publicou especialmente neste ano um dos seus primeiros grandes artigos científicos de sua carreira.

            Logo aqui fica mais claro para quem tem dificuldades de tradução da palavra “Annalen” em português significa “Anais”, definidos conforme o retirado da Wikipédia, não conforme a definição que tens na tua mente. Realmente, para quem talvez  esteja acostumado a publicar coisas não utilitárias, ou melhor coisas sem a mínima utilidade, estranhe que hajam grandes pesquisadores de nível internacional em toda a história que publicam artigos como estes voltados a setores fabris e utilitários.

  13. Utilitaristas e o atraso.

    Desde  sempre o desenvolvimento  da ciência básica foi um dos pilares do desenvolvimento das sociedades. Leio com tristeza vozes de um passado que só levam à submissão e dependência.  Os trabalhos téoricos e fundamentais de Maxwell não visavam diretamente uma utilidade, mas com certeza  o eletromagnetismo foi fundamental para criar as bases da tecnologia  moderna. A mecânica quântica foi criada a partir de perguntas fundamentais sobre o átomo . Perguntas que dificilmente estavam ligadas a algum tipo de aplicação imediata. Esta teoria teve que ser desenvolvida por décadas, e hoje com certeza é responsável por cerca 25% do PIB americano ( talvez este numero  esteja subdimensionado pois é antigo) . Bohr , Schroedinger, Heisenberg, Max Born e outros não estavam buscando uma utilidade   imediata  ou um produto.  Não se fez a mecânica quântica para produzir a nanotecnologia, a nano tecnologia nasceu por causa do conhecimento fundamental da mecânica quântica, desenvolvido em laboratórios e institutos teóricos de pesquisa pura.  Este tipo de oposição entre o puro e o aplicado está cada vez mais  questionável. Países que tentam subjugar a pesquisa a uma visão utilitária  se condenam.  Obviamente o Brasil  precisa criar mais institutos de pesquisa tecnológica que aproximem o conhecimento de sua utilização, porem isto deve vir no processo ,  e a partir de um conjunto de pesquisadores. Precisariamos também que as nossa empresas privadas  criassem setores de pesquisa e desenvolvimento. Para isto precisamos sobretudo é continuar incentivando  a nossa pesquisa e  formar  uma massa crítica cada vez maior. O mundo de hoje não se baseia em patentes ou segredos, se baseia essencialmente em capacidade de se apropriar do conhecimento.  Os países  mais avançados  possuem em suas instituições de pesquisa e empresas, uma massa crítica que é capaz se apropriar de qualquer conhecimento produzido no mundo, seja ele fundamental ou aplicado.  E esta é a diferença. Uma visão utilitarista da pesquisa  criando uma exclusividade para  este tipo de pesquisa fatalmente só nos leva a dependência .E além disto , olhando as diversas colocações acho que seria interessante que alguns dos comentaristas pesquisem um pouco mais sobre a quantidade  e qualidade de coisas aplicadas que já se faz no país. Nós temos setores avançadissimos na agronomia, na biotecnologia, em diversas áreas da engenharia. Apenas na Petrobrás temos pesquisadores de diversas áreas inovando cientifca  tecnologicamente. Temos na nuclebras  , na Embraer etc…  . E com certeza a maioria  ou a totalidade dos quadros destes setores se formou nas Universidades publicas. Portanto antes que destruam uma história , seria bom que se inteirassem sobre ela.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador