Governo vai cortar R$ 1,41 bi de projetos de ciência

 
Jornal GGN – Alterações nas fontes de financiamento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) deverão retirar R$ 1,72 bilhão do setor no ano que vem, segundo especialistas em orçamento e cientistas. Já o Ministério do Planejamento crê que o corte será de R$ 1,41 bilhão. As informações são do Correio Braziliense.
 
Uma mudança aprovada pela Congresso e sancionada pelo presidente Michel Temer altera a fonte de financiamento de diversos programas de Ciência e Tecnologia. A Lei Orçamentária afirma que é necessária a criação de outra para garantir os R$ 1,7 bilhão em projetos. Anteriormente, o Tesouro garantia o financiamento dos projetos. Para os especialistas, a situação será agravada em razão da PEC 55, que congela as despesas por 20 anos. 

 
 
De acordo com o Correio Braziliense, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) deve sofrer um corte de 66%, e estão ameaçados projetos como a Rede Nacional de Pesquisa (RNP).
 
Leia mais abaixo: 
 
Do Correio Braziliense
 
Governo cortará R$ 1,41 bi dos projetos de pesquisa e inovação
 
Eduardo Militão
 
Cientistas e especialistas em orçamento ouvidos pelo Correio apontam que uma mudança nas fontes de financiamento do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), na prática, vão retirar R$ 1,72 bilhão do setor em 2017. Nas contas do Ministério do Planejamento, a tesourada é de R$ 1,41 bilhão. 
 
A alteração está na Lei Orçamentária Anual (LOA) sancionada na terça-feira pelo presidente Michel Temer. Estão em risco projetos como a Rede Nacional de Pesquisa (RNP), laboratórios nacionais — como os de nanotecnologia – e 176 mil bolsas de pesquisadores de todo o país (veja quadro). Só no orçamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o corte é de 66%, de acordo com levantamento do jornal com base nos números da Lei Orçamentária.
 
A presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader, disse que a situação é “muito séria”. “É melhor pôr um anúncio em todos os jornais: ‘Mudem de país’”, afirmou, depois de reclamar da situação com o ministro da Ciência e Tecnologia, Gilberto Kassab. A pasta afirma apenas que “considera a possibilidade de que essa decisão seja revertida”. O Ministério do Planejamento — antes comandado pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR) e, agora sob a batuta de Dyogo Oliveira — também põe a responsabilidade no Congresso, embora a sanção da lei seja do Poder Executivo, e afirma que “é possível realocar as fontes de recursos conforme as prioridades de governo”.
 
 
A situação conflita com o que os brasileiros poderiam esperar receber de presente em 2017 na área de Ciência & Tecnologia. Em vez de propostas de criação de institutos e de aumento de investimentos, a medida age para suspender programas em andamento e impedir a expansão do setor. Série de reportagens do Correio mostra como os políticos poderiam presentear a sociedade no ano que vem com melhorias em áreas como saúde, educação e meio ambiente.
 
Origem desconhecida
 
Todo o problema acontece porque o Congresso aprovou e Temer sancionou uma mudança na origem do dinheiro para bancar uma série de programas da Ciência e Tecnologia. Antes, era o próprio Tesouro quem garantia que os projetos seriam financiados. Mas a Lei Orçamentária diz que é preciso criar uma outra lei para garantir que esse R$ 1,7 bilhão em projetos saiam do papel — mecanismo conhecido tecnicamente como “fonte 900”. Até isso acontecer, nada será pago a partir de 1º de janeiro.
 
O problema ainda é mais complicado por causa da PEC do Teto de Gastos, que congela despesas por 20 anos, avaliam Helena Nader, da SPBC, a presidente da Sociedade Brasileira de Física, Belitta Koiller, e dois especialistas em orçamento do Congresso. Para todos eles, é no mínimo “bem provável” que tudo se converta em um corte agora. O jornal apurou que, nos corredores do Legislativo, cogitou-se que essas verbas de origem a definir seriam extraídas da repatriação de dinheiro escondido no exterior — proposta criticada pelo Ministério Público por legitimar a lavagem de capitais e a corrupção e defendida por congressistas a fim de legalizar recursos de parentes fora do país.
 
Com a situação econômica do país, que pode ter um crescimento de PIB menor do que o previsto na Lei Orçamentária, mesmo projetos que tenham verbas garantidas pelo Tesouro podem sofrer cortes. “Um país que não consegue enxergar que a educação, a ciência e a tecnologia são investimentos não merece ser chamado de país”, protesta Helena. Para Belitta, a fusão do pasta de C&T com a de Comunicações, a vinculação de órgãos como CNPq e a agência espacial a uma diretoria “de Serviços Postais e de Governança” são indicativos da prioridade que o governo dá ao setor. “É lamentável, mas não é surpreendente.”
 
Para Helena, o presente que os brasileiros merecem neste novo ano que se aproxima é que o setor de educação e de C&T estejam fora dos limites da PEC do Teto. Para Belitta, é preciso que 200 projetos de institutos nacionais de tecnologia saiam do papel e que se garanta verba dos estados e da União para manter os 101 que estão em funcionamentos, nas mais diversas áreas, como oceanografia, nanotecnologia e física quântica.
 
Avaliação
 
O orçamento do MCTI é de R$ 7,3 bilhões para o ano que vem. O do CNPq, de R$ 1,6 bilhão, dos quais R$ 1 bilhão na chamada “fonte 900”. Em nota, o Planejamento diz que “avalia” as mudanças e que “pretende” revê-las analisando as receitas de cada ministério. A pasta diz que pode substituir a “fonte 900” por uma menos sujeita a cortes. Também é possível que saia do papel alguma lei para bancar as despesas básicas. E como tudo será pago a partir de 1º de janeiro? “Não é possível responder”, afirma o ministério. “No momento, não é possível estimar eventual prejuízo para o país em decorrência da citada mudança.”
 
Redação

7 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. afinal, educação é o caminho

    afinal, educação é o caminho do desenvolvimento… e pra q desenvolver? pra ler e interepretar um texto? pra fazer pergunta boa?

    magina…. precisa não. pro miSHELL pelo menos, não.

  2. Vamos só dar aula ano que vem

    E muita teoria por que pratica? Onde compraremos material de consumo, ração, equipamentos? E será que ele ao menos vai cumprir o acordo e liberar os recursos dos projetos aprovados no edital do CNPQ deste ano?

  3. Bolsas do CNPq

    De fato, parece grave a situação específica do financiamento de bolsas de estudo do CNPq.

    Na lei orçamentária anual para 2017, no item do orçamento do CNPq chamado “Formação, Capacitação e Fixação de Recursos Humanos Qualificados para C,T&I” a previsão orçamentária é de R$ 1.252.124.327,00 mas R$ 1.099.624.491,00 (88%) não tem previsão de origem dos recursos (a tal “fonte 900). Em princípio, isto quer dizer que não há recursos e que teria que se aprovar uma lei suplementar que indicasse uma fonte para eles.

    Para comparação, no orçamento inicial de 2016 foram destinados R$  1.579.961.300,00 para o mesmo item de recursos humanos. No entanto, deve ter sido liberado menos do que a metade.

    Coisa brava.

  4. sem cientistas…

    sem ciência, e consequentemente sem grandes feitos de engenharia ou com lava jato a todo vapor, já se pode prever, com máxima precisão, que os golpistas e os traidores foram pagos para causar o maior estrago possível ao Brasil.

     

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador