Investimento global em energia alternativa cai 12% em 2013

Da Agência Envolverde
 
Apesar da redescoberta pelos que ditam a tendência em Wall Street da importância dos mercados “verdes”, os investimentos mundiais em energias alternativas caíram 12% no ano passado. Um relatório da empresa de dados Bloomberg New Energy Finance mostra que os investimentos caíram tanto nos Estados Unidos quanto na China. Na verdade, para este país asiático foi o primeiro ano em uma década em que não houve crescimento nesse setor. Também caíram quase pela metade na Europa devido às medidas de austeridade.
 
O setor solar liderou a queda. Os preços dos painéis fotovoltaicos desmoronaram, provocando uma contração de 20% em toda a indústria. Entretanto, houve aumento na demanda por instalações solares em terraços, e os investidores se voltaram ao financiamento das companhias que as fabricam, dessa forma duplicando o valor do Índice global de Energia Solar MAC. Em maio, o grupo de investimentos Goldman Sachs acordou aportar mais de US$ 500 milhões em painéis solares fabricados pela empresa norte-americana SolarCity Corp.
 
“Por que a Goldman Sachs está investindo? Por que Warren Buffet investe? A resposta é que não são bobos. Há muito dinheiro a ser ganho aí” no futuro, explicou Michael Liebrich, chefe-executivo da Bloomberg New Energy Finance. “Para cada painel solar que se venda abaixo do custo, alguém está recebendo um painel solar barato. Estamos vendo o início de uma nova era nas tecnologias da energia, e as finanças estão fluindo. Esses chamativos acordos permitirão que seja muito mais fácil para o lote seguinte”, afirmou Liebrich.
 
O executivo conversou com a IPS por ocasião da sexta Cúpula de Investimentos sobre Riscos Climáticos, realizada no dia 14 na sede da Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova York. O encontro reuniu quase 500 investidores privados, administradores de fundos de pensão e banqueiros, que chegaram a duas conclusões fundamentais: a mudança climática deve ser enfrentada e há dinheiro suficiente para isso. Contudo, enquanto o setor das energias se consolida e amadurece, o ambiente de investimentos não dá respiro aos moradores em países de risco. No ano passado, houve um recorde de temperaturas altas na Austrália, houve inundações no Sudão do Sul e as Filipinas sofreram o pior tufão de sua história.
 
“Se não houvesse a mudança climática, de toda forma estaríamos avançando para matrizes de energia baixa em carbono”, afirmou Christiana Figueres, secretária executiva da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática (CMNUCC). “Mas o clima supõe um fator de urgência. Agora sabemos que se demorarmos para equilibrar a matriz mundial de energia poderemos enfrentar gravíssimas ameaças à economia mundial”, alertou.
 
Na 19ª Conferência das Partes da CMNUCC, realizada em novembro na capital da Polônia, foi criado o Mecanismo de Varsóvia para enfrentar as perdas e os danos associados à mudança climática. Acordado apenas alguns dias depois que o tufão Haiyan açoitou as Filipinas, o mecanismo é um veículo para destinar fundos aos países mais pobres que sofrem a carga dos desastres naturais associados com as crescentes emissões de carbono. Mas ainda não está claro como será financiado.
 
“Temos um período para fazer isso, e basicamente são os próximos dez anos”, ressaltou Figueres à IPS. Na próxima década “teremos que ser capazes de estabelecer um teto mundial para as emissões”, acrescentou. Apesar do consenso científico sobre as causas do aquecimento global, muitos países continuam subsidiando os combustíveis fósseis, que geram as principais emissões contaminantes, muitas vezes colocando em desvantagem as energias limpas quando estas poderiam competir em um mercado livre.
 
“Certas energias renováveis já são mais baratas do que os combustíveis fósseis, apesar de estes serem beneficiados com subsídios”, pontuou Figueres. “Assim, na verdade, são verdadeiramente competitivos. Mas o ponto é que não devemos deixar que sejam casos isolados em certos países”, acrescentou.
 
Em 2011, a Agência Internacional de Energia informou que os subsídios para fontes renováveis somaram naquele ano US$ 88 bilhões, contra US$ 500 bilhões para os combustíveis fósseis. E em 2013 o Fundo Monetário Internacional informou que “as subvenções para a energia alcançaram a impressionante cifra de US$ 1,9 trilhão em todo o mundo”, em sua maior parte destinados a combustíveis fósseis.
 
“A política é extremamente importante, porque justamente agora carecemos de um campo de jogo parelho entre energia limpa, uma indústria emergente com grandes benefícios sociais, e a dos combustíveis fósseis, altamente subsidiada e com impactos negativos”, opinou Mindy Lubber, presidente da não governamental Ceres, coorganizadora da conferência. “Políticas de governo completas que incentivem melhor as energias limpas e avaliem adequadamente os impactos dos combustíveis fósseis seriam de enorme utilidade para promover mais investimentos na energia limpa”, afirmou.
 
Vários bancos importantes dos Estados Unidos e da Europa, incluindo Bank of America, JP Morgan e Credit Agricole Corporate, adotaram voluntariamente pautas sobre a emissão dos chamados “bônus verdes” destinados a esforços de mitigação do aquecimento global. Fundos públicos de pensões no Estado da Califórnia e na Suécia já investiram em bônus semelhantes.
 
“As políticas de governo têm um papel fundamental, mas os próprios investidores devem trabalhar mais duro para priorizar os investimentos em energia limpa em todo tipo de ativos, incluindo o mercado de bônus e em projetos de investimentos diretos”, disse Lubber à IPS. “O estabelecimento de metas específicas para um portfólio de investimentos em energia limpa enviaria um forte sinal aos mercados”, ressaltou. 
Redação

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