O debate da produtividade na América Latina

Rodrigo Medeiros

Em matéria da sua edição de 29/03/2014, a revista The Economist levantou uma questão importante para o Brasil. Afinal, a bonança externa acabou para as commodities? The Economist destacou a perspectiva do risco de um crescimento econômico medíocre na América Latina.

Durante o boom, o investimento nos países da América Latina chegou aos 25% do PIB, porém no Brasil ele girou em torno dos 18%. A maioria dos países pagou suas dívidas e acumulou reservas ao longo do boom das commodities. Seus sistemas bancários são inclusive menos dolarizados do que no passado. No entanto, há riscos cambiais e inflacionários no horizonte para a região com a provável normalização da política monetária nos EUA.

Uma desvalorização cambial poderá pegar as empresas latino-americanas que aproveitaram a onda do dólar barato para emitir títulos no exterior. A estimativa do estoque de títulos corporativos vulneráveis ao risco de desvalorização é da ordem de US$ 200 bilhões para cinco economias da região – Brasil, México, Colômbia, Chile e Peru. A maior ameaça mesmo é a forte desaceleração chinesa, sendo o risco mais elevado caso a China cresça abaixo dos 7% ao ano.

Mais do que uma passageira instabilidade econômica, a preocupação para a América Latina é com a perspectiva de baixo crescimento, ou seja, se 3% se tornarem a nova norma. Tendo vivido um clima de quase “pleno emprego” e contado com a expansão do crédito doméstico, a América Latina deveria olhar mais para as necessárias melhorias de produtividade. De acordo com The Economist, a produtividade é o calcanhar de Aquiles da região.

Entre os problemas levantados na matéria, a revista apontou a baixa qualidade da educação, uma infraestrutura econômica deficiente, o baixo dinamismo inovador nas firmas de diversos portes e a falta de competitividade, incluindo nos serviços. Outro problema é a grande informalidade, algo que efetivamente não contribui para a elevação da produtividade nas economias da região. No México, por exemplo, onde aproximadamente a metade da força de trabalho é informal, os trabalhadores tornaram-se menos produtivos em relação às últimas três décadas, apesar das inúmeras reformas econômicas.

A visão de que existem economias duais, uma parte com alta produtividade e ligada ao comércio mundial e a outra parte com baixa produtividade e alta informalidade, persiste na América Latina. Não se trata de algo simples de resolver ou equacionar, pois as firmas com baixa produtividade respondem por uma parcela expressiva dos empregos na região.

Para The Economist, resolver o problema da produtividade na região será bem mais complicado do que cortar os déficits fiscais. Portanto, os governos não podem mais se dar ao luxo de adiar reformas capazes de apoiarem ganhos contínuos de produtividade na região. O risco maior que os países da região enfrentam é ficarem presos entre o baixo crescimento e as pressões oriundas das expectativas de uma emergente classe média de renda. Após as impressionantes manifestações sociais de junho passado, deveríamos saber bem o que isso significa no Brasil.

Rodrigo Medeiros é professor do Ifes (Instituto Federal do Espírito Santo)

Rodrigo Medeiros

33 Comentários

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  1. Produtividade

    Rodrigo,

    Esta mania de querer colocar o patropi no mesmo saco de Colômbia, Peru, Chile, Bolívia, Nicarágua, Costa Rica, Jamaica e sei lá mais o quê é de uma animalidade ímpar, bem ao jeito desta The Economist, uma vez que são países que cabem com folga dentro de um Estado como Santa Catarina.

    O patropi só pode merecer este tipo de comparação com os dez maiores países do mundo, esta é a atual realidade.

    1. Comparações…

      Comparações fazem parte do jogo global – diplomacia, poder militar, acordos comerciais, estudos e pesquisas acadêmicas, investimentos, etc. Elas podem ser desproporcionais e/ou injustas em certos aspectos, porém existem. O Brasil tem um peso diferenciado na América do Sul, mas isso não pode ser uma licença para a complacência.  

      1. Comparações cabíveis

        Rodrigo,

        Obrigado pelo retorno.

        Não falei em complacência ou algo parecido, só disse que comparar banana com laranja ou maçã não leva a lugar algum, sendo este o mote da matéria.

        Comparações fazem parte do jogo, não há dúvida, mas é necessária uma dose de bom senso, e na reportagem a tal dose é igual a zero. Se a comparação, de acordo com a sua classificação, é injusta, então é comparação que não presta prá nada, não cabe tolerância, mas posicionamento firme contra a injustiça. Até aqui, estou partindo do pressuposto que você é comentarista efetivamente bem intencionado.

        A comunidade econômica britânica vem atacando sistematicamente o patropi através da sua mídia, e o motivo se resume a um negócio chamado pré-sal.

        Me admira que você ainda não tenha percebido esta intenção .

        Um abraço

         

        1. Ilusões perdidas…

          Desde “Ilusões perdidas” (1843), de Balzac, vem sendo bem difícil acreditar em jornalismo neutro. The Economist não esconde o seu lado do jogo. Quanto às comparações, elas fazem parte da vida, ainda que não gostemos (ou discordemos) de algumas delas.

          Cordialmente,

  2. Sensacional… falta de

    Sensacional… falta de competitividade, quer dizer na verdade maior abertura econômica ao capital internacional. Informalidade, que não contibui para a produtividade, de quem cara pálida? dos setores cartelistas e monopolistas? Conhecemos essa receita e ainda não no livramos dela nem 50%, chama-se neoliberalismo e beneficia somente a poucos.

     

  3. Acho super interessante essas análises como a doThe economist

    Sobre a América Latina diz:

    “a revista apontou a baixa qualidade da educação, uma infraestrutura econômica deficiente, o baixo dinamismo inovador nas firmas de diversos portes e a falta de competitividade, incluindo nos serviços.”

    Inquestionável, mas…

     

    E sobre o baixo crescimento americano, deve ser a alta infraestutura?

    O baixo crecimento Europeu, deve ser pela alta qualidade da educação?

    E a queda do crescimento Chinês?

    Do indiano?

    Da Rússia?

    Do Japão?

    1. Bolhas e outras coisas…

      Já ouviu falar em bolhas e Lehman Brothers? Conhece o novo padrão ouro chamado euro? Acordos de Plaza e Louvre?

    1. Mitos ajudam até certo ponto…

      Qualquer país tem os seus problemas. Alguns construíram mitos para abafá-los por um longo tempo. O humor do mercado já se mostrou historicamente instável e quem conhece um pouco de teoria pós-keynesiana entende os motivos. 

  4. O referencial da The Economist em 2011, 2012, 2013

    BRICs afundam na lama em capa da The Economist …

     

    exame.abril.com.br/…/brics-afundam-na-lama-em-capa-da-the-economis…‎

    26/07/2013 – BRICs afundam na lama em capa da The Economist …

     

    PIB nulo reflete desaceleração dos Brics, diz ‘The Economist’

     

    veja.abril.com.br/…/pib-nulo-reflete-desaceleracao-dos-brics-diz-econom…‎

    06/12/2011 –

     

    ‘The Economist’ já chama Brics de ‘mercados submergentes …

     

    blogs.estadao.com.br/…/the-economist-ja-chama-brics-de-mercados-submergentes… ‎20/07/2012

     

    1. Atire a primeira pedra…

      Quem não se equivoca? O debate público é um bom palco para o exercício cívico da democracia. Um erro e um acerto só podem ser verificados ex post facto.

    1. O debate de ideias…

      O debate público ganha quando se discute ideias e projetos, não quando se busca promover a desqualificação daquilo que nos contradiz. Há uma falácia no estudo da retórica que se chama “argumentum ad hominem”, algo muito comum no Brasil. 

      1. O denbate de ideias é diaria

        O denbate de ideias é diaria e constante aqui no blçog e delas participo cotidianamente.

        Mas, me recuso a debater matéria baseada em infoemações de uma revista que errou em tudo, como está logo abaixo:

        O referencial da The Economist em 2011, 2012, 2013

        ou as de cima:

        Em 2013 as pérolas da The Economist

        Que ilustra que os Brics estão em um mar de lamas quase ao mesmo tempo em que informa que:

        Brics foram 55% do crescimento da economia mundial, diz …

         

      2. Há outra falácia lógica que

        Há outra falácia lógica que se discute aqui: ‘argumentum ad verecundiam’. A questão aqui é se The Economist é o veículo correto para se fiar. Para mim, a revista britânica tem uma dificuldade crônica (eurocentrismo?) de análise de países emergentes. Brics (eita sigla) então… Agora, não resta dúvidas que deveríamos estar, principalmente em período eleitoral, discutindo caminhos para problemas sérios, como infra-estrutura, saúde, educação, sobretudo esta última, nosso gargalo mais complicado. Caberia a oposição apontar o dedo e ‘levantar’ o debate, mas daí, né?

        1. O importante é a qualidade do debate…

          Debates estão sendo feitos. Alguns fechados e outros públicos. Independente de quem for eleito(a) presidente, o importante é que o Brasil avance e vença a armadilha da renda média (subdesenvolvimento).  

  5. “Portanto, os governos não

    “Portanto, os governos não podem mais se dar ao luxo de adiar reformas capazes de apoiarem ganhos contínuos de produtividade na região.”

    Caro Rodrigo, que tipos de reformas seriam essas capazes de elevar a produtividade ?

    1. Não sou candidato…

      Boa pergunta para os presidenciáveis… Não sou candidato! Entretanto, precisamos pensar em como reduzir o inferno burocrático para cidadãos e firmas. Você conhece o relatório Doing Business?

      http://www.doingbusiness.org/data/exploreeconomies/brazil

      Existem outros temas que se encontram em debate. Reformas política, tributária e gerencial do Estado, por exemplo. Assuntos complexos. Certo?

      1. Obrigado pela resposta

        Obrigado pela resposta Rodrigo.

        Acho que até por coincidência já comentei várias vezes aqui no Blog que o Governo nos deve pelo menos uma proposta de melhorias, tipo facilitação de pagamento mesmo, da questão dos tributos. Nem digo redução de carga, que acho muito dificil. Precisaria fazer alguma progressividade nos tributos e algum incentivo para se empreender no país, principalmente às micro e pequenas empresas. Hoje em dia, o jovem é muito mais incentivado a buscar o serviço público do que qualquer outra coisa. Ai também entra a questão da reforma gerencial, que talvez seja o ponto mais díficil de todos. Só aprovar o fundo de previdencia pública ja foi uma batalha, mas muito importante para o Governo, imagine então o resto.

        Já comentei muito aqui que não adianta o Governo focar apenas nos programas sociais – que são muito importantes, mas não sao tudo – e esquecer outros temas relevantíssimos como estes citados.

          1. Muito bom o artigo Rodrigo.
            O

            Muito bom o artigo Rodrigo.

            O dificil é como proceder essas melhorias gerenciais no setor público. Se no Gov Federal já é dificil, imagina nos estaduais, e principalmente, nos municipais.

            Talvez um exemplo que pudessem seguir, inicialmente seria tomar como base, modelos de algumas estatais bem administradas, como BB e CEF, por ex, que melhoraram muito nos últimos anos e tem estrutura de funcionários parecida com o setor público, aonde há garantia de permanência no cargo. Outro caminho talvez seria buscar alguns exemplos de modelos de outros países mais bem sucedidos nestas áreas que nós. Realmente dá um bom debate.

          2. Baixa qualidade do serviço público? Comparado com o quê?

            “O Orçamento dos Brasileiros” fala muito em baixa qualidade dos serviços públicos, mas não mostra dado comprativo nenhum para provar o que seja baixa qualidade. Aliás, não apresenta qualquer bibliografia.

            E o que esperar de um “estudo” que começa citando o impostômetro?

          3. Baixa qualidade é quase um senso comum…

            Os institutos Ibope, Datafolha e Data Popular, por exemplo, já capturaram a insatisfação generalizada com os serviços públicos. Muitos questionam no presente o retorno dos tributos pagos em nosso país. A presidente Dilma reconheceu a necessidade de melhorias nos serviços públicos:

            http://youtu.be/ahEY59WxWRE

          4. Sim, há uma insatisfação. Mas

            Sim, há uma insatisfação. Mas qualidade custa dinheiro. Tendo uma arrecadação de 3 a 5 vezes menor do que a de países ricos, podemos ter a mesma qualidade dos serviços deles? Só o que o Reino Unido gasta per capita em Saúde é o mesmo que TODA a arrecadação brasileira, cerca de 4 mil dólares per capita.

            É evidente que temos que melhorar a qualidade de tudo. Sem dinheiro, temos que investir em eficiência com o pouco que temos. Mas, mesmo investir em eficiência custa dinheiro: pesquisa para achar as ineficiências, estudos e consultorias para dscobrir os processos mais eficientes, treinamento  para implementação. Tudo custa grana.

          5. É a política?

            Não acho que tenha solução mágica e/ou simples. O Brasil ainda é um país subdesenvolvido e encontra-se preso na armadilha da renda média. Como estamos quase em uma disputa eleitoral, o debate é bem oportuno.

  6. “Entre os problemas

    “Entre os problemas levantados na matéria, a revista apontou a baixa qualidade da educação, uma infraestrutura econômica deficiente, o baixo dinamismo inovador nas firmas de diversos portes e a falta de competitividade, incluindo nos serviços. Outro problema é a grande informalidade, algo que efetivamente não contribui para a elevação da produtividade nas economias da região.”

    Taí uma discussão, Rodrigo, que deveria estar (isso quer dizer que não vai estar) nas páginas dos jornaios e no debate eleitoral. Não sou contra aumento de produtividade, ora pois. Dado o nível de poupança temos mais e mais que focar nisso.

    Mas o que me preocupa é notar uma “ideologia” de produtividade que significa demitir, ou seja, cortar custos e aumentar horas extras não pagas sem investir nada em inovação. e, por conseguinte, em aumento da massa salarial. Como se os salários aqui já fossem muito altos. No setor de serviços, do meu ponto de vista é essa a regra.

    Além de fraude à Lei, é uma maquiagem no tal índice. Sobretudo porque, lembrando das formulações mais básicas sobre o crescimento do setor de serviços, sabemos quanto menos gente produz mais, mais gente que não produz (serviços) são necessárias para consumir. É claro que não estou incluindo o setor externo, senão fica mais dramática ainda essa maldita aposta nacional em encolher o setor industrial com décadas de cambio desfavorável…

    Gostaria de ouvir mais sobre o setor financeiro, por exemplo, que investiu bastante em novas tecnologias, demitiu e reduziu relativamente os salários; tudo quase ao mesmo tempo. Os lucros aumentaram, sem dúvida, mas o investimento aumentou?

    Ah, “a culpa é do governo”, sei, que drena a poupança privada.

    Mesmo se isso for verdade, por que com lucros trimestrais de bilhões e bilhões não se investe, por exemplo, em infra estrutura?

    1. Crescimento da produtividade não é downsizing…

      Aumento de produtividade não significa downsizing. Em algumas atividades econômicas, o incremento de trabalhadores se justifica até certo ponto e em outras não. Os gráficos ao final do artigo mostram que ocorreram ganhos de produtividade na América Latina. Ganhos diferenciados por setores.

  7. Produtividade

    Ok, temos que aumentar a produtividade. Mas para quê? Hoje a indústria está funcionando com uma imensa ociosidade (beirando os 30%) e mesmo assim o nível de estoque está aumentando. A verdade é que não há demanda para o que estamos produzindo. Será por conta do preço? Será por conta da qualidade? Será que nossos produtos são obsoletos?

    Estou focando na indústria porque a nossa agricultura bate recordes e recordes de produção (e cresceu 7% ano passado).

    1. Produtividade e competitividade…

      Capacidade ociosa é algo bem comum na indústria porque a demanda pode flutuar ao longo das sazonalidades e do próprio tempo. Se a capacidade instalada não for pressionada pelo aumento da demanda de consumo, novos investimentos não serão feitos. Você talvez conheça essa equação:

      Y = I + C + G + EL; onde o produto da economia (Y) é a soma de investimento (I) + consumo (C) + governo (G) + exportações líquidas (EL).

      Basicamente, pode-se dizer que o nosso problema de produtividade materializa-se na relação entre o baixo nível de investimento e o crescimento do déficit nas exportações líquidas. Alguns economistas dizem que é um problema de baixa taxa de poupança doméstica e de déficit de competitividade (infraestrutura, educação e instituições). Outros dizem que também tem algo a ver com o câmbio. Mas o que vem antes mesmo, poupança ou investimento? Não faz sentido radicalizar na questão da poupança porque as condições do crédito podem muito bem estimular ou não investimentos produtivos. No que tange ao câmbio, há questões inflacionárias em jogo. O assunto é complexo no quadro geral.

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