O maior evento de 2017: Alpha Zero, por Gustavo Gollo

O maior evento de 2017: Alpha Zero

por Gustavo Gollo

O grande evento do ano de 2017 foi provavelmente o surgimento de Alpha Zero, um programa de xadrez que precisou apenas que lhe ensinassem as regras do jogo de xadrez para, em 4 horas, tendo treinado consigo mesmo – ou pensado no assunto –, conseguir superar os melhores programas de xadrez existentes e revolucionar a teoria do jogo, desdenhando os mandamentos básicos seguidos por seus melhores praticantes, como “apressar o desenvolvimento das próprias peças”.

Mas, que importância pode ter um programa de xadrez?

Programas de xadrez foram desenvolvidos com o intuito de investigar estratégias, mas esse é um objetivo secundário para o Alpha Zero. Aliás, este pode ser dito não se tratar, propriamente, de um programa de xadrez, mas de um programa de aprendizado. O objetivo fundamental da empreitada não residiu em aprimorar o jogo de xadrez, mas em desenvolver técnicas algorítmicas de aprendizado. O jogo de xadrez foi escolhido para o teste em virtude da facilidade de avaliação do conhecimento em pauta: os que vencem jogam melhor que os que perdem, outros conhecimentos raramente permitem avaliações tão claras.

Versões do programa de aprendizado devem, em breve, demonstrar suas habilidades em matemática, e em outros ramos do conhecimento humano, nos quais a avaliação de cada passo dado tende a não ser tão fácil quanto nos jogos.

Um ramo do conhecimento a ser explorado de forma especialmente bombástica em futuro breve será a programação de computadores. Desnecessário imaginar uma provável aptidão especial dos computadores para tal tarefa, de qualquer forma, a aptidão já demonstrada em jogos deve levar versões futuras do programa a superar programadores humanos na tarefa de programar. Quando isso ocorrer, ele poderá programar uma versão aperfeiçoada de si mesmo, que será capaz de melhorar a nova versão, e assim sucessivamente gerando uma inteligência estrondosa.

 

Uma peculiaridade do modo de jogar do Alpha Zero é o uso extremado da intuição. No mesmo tempo em que Alpha Zero analisa 80 mil jogadas, seu principal oponente, o antigo campeão entre os programas, o Stockfish, analisa 70 milhões de jogadas, quase mil vezes mais que ele. Intuitivamente, no entanto, Alpha Zero foca principalmente nos melhores lances.

 

A revolução gerada no xadrez prenuncia a efervescência a ser ocasionada em breve, pelo mesmo motor, em inúmeros campos do conhecimento. Suspeito que nosso modo, humano, de ver o mundo, tenha muitos pontos cegos, e que todo o nosso conhecimento esteja baseado em tais falhas, insuperáveis por nós mesmos. Se isso for verdade, as correções de erros básicos permitirão desenvolvimentos revolucionários bloqueados por tais equívocos. Mas o estrondo causado pela nova abordagem não dependerá disso, como visto no xadrez. De qualquer modo, novos conhecimentos oriundos de uma intuição diferente da nossa iluminarão tudo o que já vemos sob novos ângulos, e muito mais que isso.

A avalanche de conhecimentos corresponderá a uma biblioteca repleta de livros não compreendidos por nós. Teremos também os melhores professores, na figura do programa originador de tal sabedoria, ou de seu avatar. Mesmo assim, teremos que nos esforçar para compreender o que vier a ser explicado, do mesmo modo que precisamos estudar utilizando nossos livros, o que talvez venha a constituir um problema para as futuras gerações. Terá que ser mantido um certo culto à sabedoria, ou, em virtude das facilidades da vida, todos mergulharão em uma ignorância total, apesar da disponibilidade, ao redor, de enorme conhecimento. O conhecimento será sempre necessário para a elaboração de boas perguntas e escolhas sábias. Sabendo perguntar, e compreendendo as respostas teremos ao nosso dispor um gênio saído de uma garrafa.

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Redação

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