Percival Maricato
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Quem ousa enfrentar o automóvel? Por Percival Maricato

Por Percival Maricato

O governo interino tem um novo plano para alavancar as montadoras de automóvel: envolver os bancos públicos para financiamento na troca de novos pelos antigos. O programa de renovação de frota deverá ser finalizado até o fim deste ano.

A iniciativa, batizada de “Programa  de Sustentabilidade Veicular”, tem o objetivo tirar de circulação veiculo antigos e substituí-los por novos. Os participantes ganharão um credito ao entregar o veiculo antigo, que será aproveitado como sucata. Isso resultaria em um aumento anual de 500 mil unidades no mercado interno. O pretexto a ser usado é que os novos são mais eficientes do ponto de vista energético e preservação de empregos.

O primeiro argumento é ridículo: o automóvel polui o planeta quando da fabricação, no uso e quando são abandonados. O segundo também não pode servir para manter essa atividade eternamente. E hoje em dia churrascarias de médio porte geram tanto emprego quanto uma fábrica de automóveis.


Está claro que o país fabrica mais automóveis do que o mercado necessita. As cidades e estradas estão saturadas de veículos e o correto era, em vez de estimular a produção, reduzi-la, gradualmente, transferindo recursos, mão de obra, tecnologia para a produção de transportes públicos eficientes, limpos, seguros. Pode-se dar prioridade as montadoras, se elas se propuserem a fazer essa  mudança de rumo.

Os automóveis ocupam amplos espaços e são usados para transporte individual ou de poucas pessoas, poluem, matam (são 60 mil mortos por ano no país, 900 mil ocorrências com vítimas), consomem imensa quantidade de energia, custam caro, são considerados obsoletos em poucos anos, exigem fabulosas fatias do orçamento das cidades, estados e da União.

Os governos de FHC, Lula e Dilma não tiveram coragem para começar essa alteração de rumo ou não a enxergaram. Ao contrário, permitiram a multiplicação de montadoras, desoneraram a mão de obra etc. Conter o automóvel muito menos virá do tímido e inseguro presidente interino. É um enfrentamento do qual a mídia quer distância, jamais irá corre o risco de perder a fortuna que as montadoras gastam em publicidade. 

Jaime Lerner, ex prefeito de Curitiba e Fernando Haddad, prefeito de São Paulo, estão entre os poucos políticos que ousaram restringir a circulação de veículos e privilegiar transportes alternativos (faixas de ônibus, bicicleta, no caso de Lerner o monotrilho, no de Haddad, aprovação do Uber, etc).

As eleições para prefeito pelas cidades do país, são ótima oportunidade de se exigir dos candidatos um posicionamento claro sobre essa questão: a prioridade na organização do espaço urbano continuará com o automóvel ou, finalmente, passará para os pedestres, a vida comunitária, os transportes públicos.

Percival Maricato

Percival Maricato é advogado

8 Comentários

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  1. Não sei não

    Algumas bobagens como esta de que “churrascarias de médio porte geram tanto emprego quanto uma fábrica de automóveis”. Este tipo de perecer sonhador derruba o que mais estiver correto no texto. E mais, em Coritiba o trânsito é mais organizado apenas. Desculpe, Percival.

  2. É A CADEIA PRODUTIVA…

    A indústria automobilistica é um agente multiplicador de empregos, renda, consumo de insumos e, principalmente, gerador de tributos e serviços de manutenção dos veículos.

    Mas, que mais ganha é o dono da indústria e o governo. Os carros são um lixo e pouco duráveis, além de consumir mais combustível do que a média mundial.

    Somos enganados pela propaganda, sabemos disso e ainda continuamos a comprar esses produtos.

    A culpa é toda nossa!

  3. Legado de JK

    Legado de JK: Rodoviarismo; culto ao automóvel; reinado das empreiteiras; criação de brasília, a ilha da fantasia que protege os políticos do povo.

    Mas que grande estadista!

  4. quem ousa….

    Realmente só nos faltam as penas…. Como é fácil lidar com as crianças da “Terra da Inocência”!!!! Que novidade esta deste governo em subsidiar os subsidios dos lucros astronômicos das montadoras de carros , para nos venderem suas “aberrantes medievais carroças”, aproveitamdo do 4.o maior mercado mundial, sem transferência de tecnologia, de cadeias de geração de empregos técnicos ou produção nacional (o que temos aqui são montadoras que usam de 20 ou 30 pessoas para retirar peças prontas de dentro das caixas e apertar meia dúzia de parafusos)  Não exigimos nada e levam tudo. Existe outra pátria onde a estupidez é exercida com tanta competência? Duvido. Nem em outra galáxia. Quanto a esta conversa “rosca sem fim” da esquerda, o contrário de mobilidade, de ciclovias, de segurança no trânsito não é a perseguição aos automóveis. É o não exercício de  POLITICA PÙBLICA,  que 30 anos de incompetentes que estiveram no governo depois da redemocratização, este pessoas de centro esquerda, os pseudo-progressistas, não produziram. Por que não tem ciclovias nas marginais na cidade de São Paulo? Porque não tem ciclovias nas rodovias que foram privatizadas com pedágios extorsivos? Por que um paulista não pode ir até Santos (cerca de 60 Km a partir de alguns lugares da cidade) usando bicicleta? Por que o Parque da Serra do Mar não tem trilhas (seguras e sinalizadas e  com apoio) de caminhada para quem quer praticar tal esporte ou ir à praia a pé? (por Parelheiros é cerca de 3 horas entre a cidade de São Paulo e o litoral). Por que damos tantas desculpas para incompetentes e incapacitados, que juravam lá nos anos de 1970 e inicio de 1980, que as politicas sociais definiriam o novo rumo de um país que saia da ditadura militar?  

  5. Fetiche

    Carros são ineficientes energéticamente e no transporte (levam poucos passageiros gastando muito e ocupando espaco).

    Mas transformaram o carro num fetiche. Tem que ter carro pra pegar mulher. Tem que ter carro para ter status. 

    Ter carro é chique, como era fumar nos filmes de Hollywood.

    Será preciso muito tempo para nos livrarmos desse vício que nos foi imposto. 

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