Setor de energia espera mais diálogo com o governo

Jornal GGN – O discurso da presidente Dilma Rousseff após a vitória no último domingo sinalizou uma maior abertura para o diálogo com diversos setores da sociedade. As lideranças do segmento elétrico receberam bem a declaração.

A crise hidrológica vem pressionando as contas do setor, aumentando a dependência da geração de energia das térmicas, que custa mais caro para as distribuidoras. Executivos ouvidos pela Agência CanalEnergia esperam que as conversas com o governo possibilitem a criação de um novo acordo para o segmento de energia.

Dilma foi Ministra de Minas e Energia e certamente compreende o valor estratégico do segmento para a competitividade das empresas brasileiras. Foi ela que refinou o modelo de concessão por leilões para o setor, que garantiu o fornecimento, mesmo em tempos de escassez.

Também surgiu em seu governo o sistema de bandeiras tarifárias, que começa a valer no ano que vem e que pretende ajudar a organizar as contas das distribuidoras.

Os executivos esperam ajustes principalmente no mercado livre, que atende a demanda da indústria. Eles aguardam um convite da presidência para discutir os melhores rumos para os próximos anos.

Setor tem reação positiva a sinalização de diálogo de Dilma Rousseff

Por Sueli Montenegro

Da Agência CanalEnergia

A declaração da presidenta Dilma Rousseff de que está aberta ao diálogo com diferentes segmentos da sociedade foi bem recebida por lideranças do setor elétrico, que têm se queixado da falta de interlocução com o governo. O discurso conciliatório de Dilma foi feito na noite do último domingo, 26 de outubro, depois que o Tribunal Superior Eleitoral confirmou sua vitória nas eleições presidenciais. Consultados pela Agência CanalEnergia, representantes de alguns segmentos defenderam a necessidade de serem ouvidos na discussão dos problemas do setor, especialmente em relação a medidas para solucionar a crise financeira atual. 

“Eu, particularmente, me apego a essa possibilidade de melhorar o diálogo. Temos que recuperar o crescimento da indústria”, afirmou o presidente da Associação Brasileira de Investidores em Autoprodução de Energia, Mário Menel. O executivo disse que vê com otimismo o aceno da presidenta, pois ele pode conduzir a uma solução para o maior problema do setor atualmente, que é o descontrole do fluxo de caixa das empresas. “Não dá para esconder. Temos R$ 100 bilhões de passivo esse ano”, observou Menel. 

Para o presidente da Abiape, o governo terá de costurar um novo grande acordo do setor elétrico para resolver os problemas financeiros das empresas, a exemplo do que foi feito na década de 1990 com a Lei Eliseu Rezende. Como Dilma Rousseff foi reeleita, afirmou, caberia a ela convocar essa discussão. “Seria interessante que o governo tomasse a iniciativa e chamasse as associações para debater o futuro do setor elétrico nos próximos quatro anos”.

A sinalização contida no discurso da presidenta reeleita também causou boa impressão entre os representantes da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres. Em nota divulgada nesta segunda-feira, 27, a Abrace informa que está à disposição para apoiar Dilma “na tarefa de dar impulso à atividade econômica, em especial na recuperação da competitividade e da produção industrial”, e contribuir para o processo com a participação de técnicos e consultores, além de estudos e materiais produzidos pela associação nos últimos meses. “Acreditamos que a presidenta compartilhe a ideia de que a energia é um insumo estratégico para a economia e para a competitividade das empresas brasileiras e que o tema merecerá um lugar de destaque no planejamento do governo para os próximos quatro anos e também em prazo mais longo”, diz a nota. 

O presidente da Associação Brasileira de Geração de Energia Limpa, Charles Lenzi, considerou a declaração importante e lembrou que o momento atual é muito difícil para o setor. “Nada melhor que a união de todos para que a gente possa sair dessa situação. Vejo com muita expectativa [a sinalização] e, caso sejamos convidados, estamos dispostos a contribuir”, revelou. Lenzi acredita que seria necessário ter um conjunto de medidas que dêem estabilidade e atraiam novos investimentos em geração, transmissão e distribuição.

Prejuízos crescentes resultantes da falta de chuvas e da alta do Preço de Liquidação das Diferenças têm atingido distribuidoras e geradoras, que ficaram expostas por diferentes razões à compra de energia no mercado de curto prazo. No caso das concessionárias de distribuição, o vencimento de contratos de energia existente desde dezembro de 2012 e a geração intensa de energia termelétrica geraram uma conta de bilhões, que será coberta em parte pelo Tesouro e em parte pelo consumidor cativo ate 2017. Na geração, parte das empresas passou a contabilizar prejuízo bilionário com a compra de energia no mercado à vista para honrar os contratos, em razão de suas usinas estarem gerando abaixo da garantia física. Para autoridades do setor, no caso das geradoras há maior liberdade de gestão e, por isso, as perdas fazem parte do risco do negócio e não devem ser ressarcidas.

Do lado dos grandes consumidores, as reclamações estão relacionadas ao aumento de preço e à criação de cotas de energia das usinas com concessões renovadas exclusivamente para o mercado regulado. Segundo a Abrace, “conseguir reverter o movimento de alta do custo da energia, particularmente para as grandes indústrias, tornará mais competitivos os produtos nacionais e permitirá que a indústria recupere parte do mercado – tanto doméstico com global – perdido nos últimos anos”.

Para as três associações, será preciso a definição de uma agenda temática comum a todos os segmentos em 2015. A Abrace reconheceu a complexidade de equilibrar as demandas de investidores e consumidores. Charles Lenzi destacou que todas as associações, quando chamadas, serão parceiras do governo na busca de soluções para o setor eletrico.

Menel observou que além de questões como a gestão de recursos da Conta de Desenvolvimento Energético pelos próximos três a quatro anos, existem temas urgentes a serem discutidos nos proximos meses como o leilão A-1 de dezembro; a Portaria 455, que trata do registro de contratos e está suspensa pela Justiça; Preço de Liquidação das Diferenças; bandeiras tarifárias, que vão entrar em janeiro de 2015; e a situação de grandes indústrias do Nordeste cujos contratos de compra de energia não serão renovados pela Chesf no ano que vem.

 

Redação

10 Comentários

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  1. 22 novas centrais atômicas,

    22 novas centrais atômicas, como foi anunciado por Lobão no primeiro mandato de Lula.

    Sem isso, é mais do mesmo e crises serão frequentes. Um dia vai faltar… e neste dia, o PT perde seu projeto.

    1. O problema e o modelo

      O problema e o modelo industrial brasileiro.

      A siderurgia brasileira consome muita energia para produzir pouco valor agregado.

      1. tanto faz, nosso problema é

        tanto faz, nosso problema é falta de geração mesmo.

         

        Temos menos reatores nucleares que a Bélgica que é menor que o Piaui!

  2. Artigo no Cadernos EBAPE-FGV
    Relacionado a esse tema, replico aqui um comentário que coloquei no fora de pauta ontem sobre um artigo meu e de minha orientadora que foi publicado no Cadernos EBAPE da FGV O título do artigo é: Transparência e legitimação de objetivos institucionais em empresas estatais: um estudo de caso sobre a Petrobras   O resumo do artigo é o que segue: Este trabalho objetiva determinar até que ponto os objetivos estratégicos duplos das empresas estatais (financeiros e sociais) são legítimos e se refletem nas práticas de governança corporativa, responsabilidade social e transparência dessas empresas. O artigo evidencia que é legítimo as estatais perseguirem simultaneamente um duplo objetivo institucional que atende a várias responsabilidades corporativas. Através de análise das informações disponibilizadas em três portais da Petrobras, procurou-se identificar práticas de transparência e sua associação tanto com os mecanismos isomórficos relacionados ao processo de legitimação, quanto com o alcance dos duplos objetivos institucionais. Achados revelam que informações providas nos portais estão alinhadas a ambos tipos de objetivos institucionais, que as práticas de transparência atendem a pressões isomórficas coercitivas, normativas e miméticas, e que o perfil de pressões isomórficas atendidas se diferencia de acordo com o tipo de responsabilidade social e o público pretendido.O trabalho indica ainda que ameaças às práticas de transparência e à própria legitimidade podem vir de novas exigências de stakeholders, talvez a partir de novas possibilidades do uso de dados abertos disponibilizados nos portais.   O link para o artigo é: http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/cadernosebape/article/viewFile/9107/30360  

  3. O decreto já disse qual tem

    O decreto já disse qual tem que ser o papo:  se não quiser mais continuar com estiver, deve entregar tuto ao governo

  4. Energia demais

    Voltando a chover o normal temos energia dando soupa e os preços seriam menores. Estes especialistas boicotaram a Dilma e soltaram informação de apagões e energia mais cara agradando ao pig. E disso a Dilma conhece bem e vai dar uma resposta a eles. Espero que um puxão de orelhas bem dado.

  5. O problema da crise enegética

    O problema da crise enegética e a falta de chuva.

    A crise de abasteciemnto de água em São Paulo é falta de planejamento.

    Entendi.

    1. Investimentos e Obras

      2001 Apagão = Falta de planejamento

      2003 a 2014 Planejamento = Investimentos: 3 grandes hidroelétricas, além das de menor porte, 1 usina nuclear (Angra 3), integração do sistema e usinas eólicas.

      O que São Paulo fez para resolver o risco de desabastecimento de água?

       

    2. Acho que desenhando você entende melhor

      A falta chuva não está provocando nenhuma ameaça de racionamento ou desabastecimento de energia elétrica. Houve um planejamento mínimo e previdente – embora criticável, deve-se reconhecer que houve e propor sua correção –  que dotou o país de usinas térmicas a gás, que agora sustenta o suprimento energético no momento de precariedade do suprimento pelas usinas hídricas devido a estiagem.

      O lado adverso dessa situação é que a energia encarece, mas não falta, devido a conta do combustível. A energia das usinas hídricas pode ser substituída pela energia das usinas térmicas a gás. A energia do potencial hidráulico e da queima do gás são convertidas em energia elétrica e esta é fornecida aos consumidores. Mas no caso de suprimento de água para a população, não é possível fornecer outra coisa que não seja água, ninguém vai beber ou tomar banho com gás

      Não está ocorrendo a necessidade de política pública no país de racionamento forçado, de desligar bairros e cidades por vinte e quatro horas para evitar que o sistema elétrico entre em colapso, que o sistema inteiro caia e haja um blackout geral, popularmente chamado  de apagão. No caso do abastecimento d’água, São Paulo está na iminência do risco de adotar essas medidas radicais.

      Desde tempos imemoriais, o homem sabe que chuvas são sazonais e que há anos de secas e de inundações, que deve se prevenir e planejar sua existência para enfrentar a adversidade. Mas, liberais são avessos a políticas de planejamento, acham que isso é interferência indevida do estado, acreditam que os mercados por si só dão conta da conciliação do interesse público com o interesse de lucros privados, que o estado deve se abster da intermediação desse conflito e se despreocupar com o planejamento. O resultado da despreocupação com o planejamento foi visto com o racionamento e a ameaça de apagão na era FHC, agora assitiremos o racionamento e a falta d’água em São Paulo. Tudo isso acontece quando o interesse público é deslocado pelo interesse de distribuição de dividendos para acionistas privados.

       

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