Tratamento experimental com células-tronco pode regredir sintomas de esclerose

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Uma nova técnica usada por cientistas para o tratamento da esclerose lateral amiotrófica (ELA), uma rara doença neurodegenerativa que atinge um em cada cem mil habitantes, se mostrou eficiente ao ser aplicada com uso de células-tronco.

Divulgado esta semana durante um congresso internacional na Nova Zelândia, o resultado se mostrou eficaz no tratamento do agrônomo Henrique Dias, de 68 anos, que foi diagnosticado com a síndrome em 2006 e, até a realização do tratamento, era incapaz de falar e de se locomover. Hoje, o paciente – o primeiro a ser testado com a nova técnica – recuperou parte das condições motoras.

“A melhora é lenta, mas o tratamento deu certo. É um negócio muito novo, mas para mim foi ótimo”, afirma Dias. Os hematologistas Adelson Alves e Elíseo Joji Sekiya, responsáveis pela pesquisa, alertam, no entanto, que os resultados obtidos no tratamento do brasileiro devem ser vistos com cautela, uma vez que o método ainda é considerado experimental. De acordo com eles, serão necessários pelo menos mais dois anos de pesquisa para atestar a eficácia definitiva do tratamento.

Os especialistas envolvidos no trabalho utilizaram duas técnicas inéditas para o tratamento. Uma delas foi a escolha da matriz no organismo para a retirada celular. Os pesquisadores escolheram as células mesenquimais (presentes no tecido adiposo e no cordão umbilical) em lugar das células hematopoéticas (extraídas da medula óssea). De acordo com os pesquisadores, as células mesenquimais são a aposta dos cientistas para o tratamento de doenças autoimunes como diabetes, mal de Alzheimer e esclerose múltipla.

As células foram coletadas da gordura do abdome do paciente por meio de um processo de minilipoaspiração para, em seguida, serem cultivadas no laboratório da Cordcell, um centro de pesquisas de terapia celular que também possui banco de armazenamento de células do cordão umbilical.

Tratamento

A segunda inovação no tratamento foi o método de infusão das células-tronco no corpo do paciente. A forma tradicional de tratamento com este tipo de material ocorria por meio da injeção direta nas veias do paciente, mas os pesquisadores resolveram aplicar as células-tronco pela via raquimedular, por meio do liquor (líquido do cérebro), diretamente no sistema nervoso. Os custos do estudo foram pagos pelo laboratório.

A primeira infusão com células-tronco foi feita em janeiro do ano passado. Nos seis meses seguintes, a equipe avaliou a segurança do procedimento, monitorando se o paciente apresentava alguma reação ou efeito colateral indesejado. Passado esse período, foram realizadas outras duas infusões, num intervalo de 30 dias. Atualmente, Henrique Dias conversa, caminha com ajuda, atende o celular e consegue segurar pequenos objetos.

Antes de iniciar o tratamento, os pesquisadores tiveram de solicitar permissão do Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) e da Justiça. Os órgãos acataram o pedido porque o estado do paciente era considerado terminal e não havia mais tratamento tradicional possível, a não ser os experimentais – como no caso de Dias.

Os resultados obtidos levaram os pesquisadores a pedir nova autorização ao Conep para realizar o procedimento em outros dez pacientes. “Houve melhoria significativa em relação ao quadro que ele estava, e isso foi muito animador para nós pesquisadores”, disse o hematologista Adelson Alves. “Esse foi um caso excepcional, mas existe essa luz no fim do túnel. É um indício de que estamos no caminho certo”.

A ELA é uma enfermidade progressiva e fatal, caracterizada pela degeneração dos neurônios motores, que são as células do sistema nervoso central controladoras dos movimentos voluntários dos músculos.

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Lourdes Nassif

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